Geopolítica

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Geopolítica é a congruência entre demasiados grupos de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território, e anexar a geografia cotidiana com a história. Desta forma, Geopolítica é um campo de conhecimento multidisciplinar, que não se identifica com uma única disciplina, mas se utiliza principalmente da Teoria Política e da Geologia e Geografia ligado às Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas.

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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, disse nesta sexta-feira (4) que Teerã "apoia os esforços" destinados a alcançar um cessar-fogo simultâneo no Líbano e na Faixa de Gaza, territórios atacados por Israel. A declaração foi feita durante a visita de Araqchi a Beirute, onde foi recebido pelo primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, e pelo presidente do Parlamento, Nabih Berri, aliado do Hezbollah.

"Apoiamos os esforços para um cessar-fogo, na condição de que, em primeiro lugar, os direitos do povo libanês sejam respeitados e que seja aceito pela resistência", disse Araqchi, referindo-se ao movimento Hezbollah.

"Em segundo lugar, deve ocorrer simultaneamente com um cessar-fogo em Gaza", acrescentou. Essa foi a primeira visita ao Líbano de um ministro iraniano desde o assassinato, em 27 de setembro, do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por um bombardeio israelense.

Araqchi especificou que discutiu o cessar-fogo com "as autoridades libanesas" e disse que as autoridades iranianas também estavam "em contato com outros países para estabelecer um cessar-fogo". "A República Islâmica do Irã sempre apoiou o Líbano, foi e continua sendo um apoio dos xiitas libaneses e do Hezbollah", sublinhou.

Tanto a França como os Estados Unidos, juntamente com outros países árabes e ocidentais, apelaram em setembro a um cessar-fogo imediato de 21 dias entre Israel e o Hezbollah, a fim de "dar uma oportunidade à diplomacia". Israel ignorou a iniciativa e intensificou os bombardeios contra o país vizinho.

Três hospitais no Líbano, um deles nos subúrbios ao sul de Beirute, anunciaram nesta sexta-feira (4) a suspensão das suas atividades devido aos bombardeios israelenses no país, segundo declarações da agência nacional de notícias ANI.

O hospital de Santa Teresa, próximo aos subúrbios ao sul da capital, anunciou que estava suspendendo os seus serviços devido aos ataques israelenses nas proximidades, assim como outros dois hospitais no sul do Líbano, informou a agência.

Aiatolá promete resistência

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, defendeu nesta sexta-feira (4) a ação com mísseis de seu país contra Israel e prometeu que seus aliados no Oriente Médio seguirão lutando.

Pronunciado em árabe e não em persa - idioma mais falado no Irã - esse foi o primeiro discurso do líder após o ataque e ocorre dias antes do genocídio em Gaza completar um ano na próxima segunda-feira (07).

"A resistência na região não retrocederá ante esses martírios e vencerá", acrescentou, referência aos assassinatos de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah. morto em 27 de setembro em um bombardeio israelense perto de Beirute, e de Ismail Haniyeh, chefe do Hamas, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.

*Com AFP

Edição: Leandro Melito

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O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, defendeu nesta sexta-feira (4) a ação com mísseis de seu país contra Israel e prometeu que seus aliados no Oriente Médio seguirão lutando.

Pronunciado em árabe e não em persa - idioma mais falado no Irã - esse foi o primeiro discurso do líder após o ataque e ocorre dias antes do genocídio em Gaza completar um ano na próxima segunda-feira (07).

"A resistência na região não retrocederá ante esses martírios e vencerá", acrescentou, referência aos assassinatos de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah. morto em 27 de setembro em um bombardeio israelense perto de Beirute, e de Ismail Haniyeh, chefe do Hamas, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.

Israel "não consegue prejudicar seriamente" o Hezbollah e o Hamas, afirmou, destacando que a luta do Hezbollah é um "serviço vital para toda a região".

Na terça-feira, o Irã lançou 200 mísseis contra o território israelense, uma resposta pela morte de Nasrallah e Haniyeh. Segundo a agência AFP, uma fonte próxima ao Hezbollah disse que Nasrallah foi enterrado "provisoriamente" em um local secreto por temor que seus funerais sejam alvo de outro ataque de Israel.

"A operação de nossas forças armadas há alguns dias foi totalmente legítima", declarou o aiatolá, indicando que foi "a menor" das represálias.

Tanto a França como os Estados Unidos, juntamente com outros países árabes e ocidentais, apelaram em setembro a um cessar-fogo imediato de 21 dias entre Israel e o Hezbollah, a fim de "dar uma oportunidade à diplomacia". Israel ignorou a iniciativa e intensificou os bombardeios contra o país vizinho.

Conselho de Segurança apoia Guterres

O Conselho de Segurança da ONU expressou nesta quinta-feira (4) apoio total ao secretário-geral da organização, António Guterres, declarado na véspera persona non grata por Israel, por não ter condenado imediatamente os ataques do Irã ao país na última terça-feira.

Sem mencionar Israel, os cinco membros permanentes do Conselho e os dez não permanentes sublinharam "a necessidade de todos os Estados membros da ONU terem uma relação produtiva e funcional com o secretário-geral, e de se absterem de qualquer ação que prejudique o seu trabalho e o de suas dependências".

*Com AFP e Al Jazeera

Edição: Leandro Melito

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Perda de legitimidade ou reestruturação? A Assembleia Geral da ONU realizada na última semana recebeu críticas tanto de líderes progressistas como de conservadores para o modelo de organização das Nações Unidas em meio a guerras, conflitos e, para alguns países, sanções econômicas. Para o bloco de países que vivem sob o embargo, a ONU tem sido ineficiente em combater essas medidas usadas de maneira ilegal, o que criou uma descredibilidade junto a uma parte considerável dos países-membros.

A aplicação de sanções está prevista na Carta das Nações Unidas, documento responsável pela fundação da ONU. De acordo com o artigo 41 do texto, esse tipo de medida deverá ser aprovado pelo Conselho de Segurança. Mas países como Venezuela, Cuba, Rússia e Irã são alvos de bloqueios econômicos e diplomáticos decididos de maneira unilateral por Estados Unidos e União Europeia, ou seja, receberam sanções sem que isso tenha sido aprovado pelas vias oficiais, o Conselho de Segurança.

De acordo com o Observatório Antibloqueio da Venezuela, 30 países estavam sancionados em todo o mundo até setembro de 2024. Ao todo, 31.150 sanções são impostas principalmente por EUA e UE, sendo 97% delas concentradas em 9 países e os outros 3% sobre 21 países. De acordo com o levantamento, a Venezuela é alvo hoje de 947 sanções. Quem lidera o ranking é a Rússia, com 22.230 medidas, seguida por Irã (2.726), Síria (1.360) e Ucrânia (1.187).

Para Sair Sira, analista político do grupo Missão Verdade, as sanções são usadas de maneira política e acabam descredibilizando a ONU e o Conselho de Segurança, que são os instrumentos com autoridade para aplicar esse tipo de medida.

“O fato de que os EUA estão usando as sanções como ferramenta da política exterior acelera esse processo de descrédito e de desconfiança nas instituições internacionais. Porque quando Bretton Woods criou o Banco Mundial e foi criado o Fundo Monetário Internacional, eles eram instrumentos da comunidade internacional. Hoje eles são instrumentos hegemônicos das potências para justamente aplicar essas medidas e controlar o sistema financeiro e a política econômica de outros países”, afirmou ao Brasil de Fato.

De acordo com ele, os Estados Unidos bloqueiam alguns países sem sequer usar os critérios definidos pela ONU, de desestabilização da paz internacional. Esse é o caso da Venezuela, que foi bloqueada pela política interna do país.

“Os critérios pelos quais se sanciona Venezuela e Cuba, por exemplo, não são porque eles colocam em risco a paz e a estabilidade internacional. É por algo maleável como democracia, direitos humanos. E digo maleável porque são conceitos vazios que eles preenchem. Ou seja, quando eles preenchem, eles instrumentalizam”, afirmou.

Líderes contestam

Depois de uma semana de debates, a Assembléia da ONU terminou com muitas críticas ao modelo de como estão organizadas as Nações Unidas. Uma das questões levantadas pelos chefes de Estado foi a falta de ação da ONU em questões cruciais como as guerras da Ucrânia e o massacre na Palestina.

Para os líderes do Sul Global, há uma divisão clara de narrativas com os países do Norte que querem impor uma agenda econômica. O chanceler venezuelano Yván Gil representou o presidente Nicolás Maduro no evento epara ele, além de uma oposição de ideias, é preciso que a ONU resgate os princípios fundamentais expressos na sua Carta de fundação.

“É hora de resgatar os princípios fundamentais expressos na Carta das Nações Unidas e honrar o fato de que esta organização está em nosso serviço, o povo, como afirma o seu estatuto. A Venezuela coloca a sua diplomacia bolivariana de paz a serviço da humanidade, avançando nessa direção como demonstra sua liderança diante do grupo de amigos em defesa da Carta da Organização das Nações Unidas”, disse em seu discurso.

A crítica ao papel da ONU partiu também dos setores mais conservadores. O presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei, disse que hoje a organização se tornou uma ferramenta para impor ideologia e, por causa disso, perdeu credibilidade junto aos cidadãos.

“Em algum momento e como habitualmente acontece com a maior parte das estruturas burocráticas que os homens criam, esta organização deixou de salvaguardar os princípios delineados na sua ação fundadora e começou a mudar. Assim, passamos de uma organização que perseguia a paz para uma organização que impõe uma agenda ideológica a seus membros em uma série de questões que compõem a vida do homem em sociedade”, afirmou.

A reforma no Conselho de Segurança da ONU também foi um tema discutido. Lula foi um dos líderes que tocou no assunto. O presidente brasileiro pediu a inclusão de outros países no Conselho de Segurança e um outro modelo que tome decisões mais efetivas. O grupo é composto por EUA, França, Reino Unido, Rússia e China e, nos últimos anos, encontrou desafios para a aprovar resoluções que ajudem a resolver conflitos no mundo.

Para Sair Sira, cientista político e analista do grupo Missão Verdade, a forma como o Conselho de Segurança é organizado ajudou a desgastar a imagem da organização com a comunidade internacional.

“Fundamentalmente a ONU é o Conselho de Segurança. É o órgão que tem mais relevância, preponderância de intervir em uma situação por meio de resolução. Por isso, o funcionamento da ONU exige que as grandes potências concordem e tenham consenso em uma posição para avançar. Em situações polarizantes como a que vivemos hoje, é difícil que vejamos Rússia e EUA estando de acordo em uma resolução que condena os ataques a Gaza ou a invasão ao Líbano”, disse.

A ONU, no entanto, nunca teve um papel de abarcar todas as nações e as diferentes posições sobre os conflitos globais. A organização surgiu depois da Segunda Guerra Mundial que teve União Soviética, EUA, Reino Unido e França entre os vencedores e as Nações Unidas foram criadas depois da Conferência de São Francisco com o objetivo de mediar os conflitos e estabelecer uma nova forma de organização multipolar.

Para Sair Sira, no entanto, essa estabilidade nunca foi alcançada durante os 79 anos da organização e a estrutura dificulta isso. A organização aprovou em 18 de setembro, por exemplo, o pedido de fim da invasão israelense em Gaza. Foram 124 votos para a aprovação do texto. De acordo com o pesquisador, há um peso simbólico em uma resolução como essa, mas em termos práticos o efeito é muito pequeno.

Ele também indica outro ponto a ser observado: a localização da sede da organização.

“As Nações Unidas não nascem do consentimento democrático de todos os países, nasce com a intencionalidade e o espírito do que EUA e União Soviética pensavam. Mas fundamentalmente os EUA. Não à toa essas discussões acontecem em solo estadunidense. Então o primeiro problema é esse: uma instituição criada sob os supostos parâmetros de garantir a paz e a estabilidade e nesses 79 anos essas coisas não se materializaram”, afirmou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Até hoje esses malditos bloqueios económicos não derrubaram nenhum governo.

Eles apenas dificultaram a vida da população dos países afetados por eles. E foram indiretamente responsáveis pela morte milhares de pessoas incluindo idosos e crianças.

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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse na terça-feira (1) que vai seguir tentando “uma saída pacífica” para a Venezuela. O mandatário participou da cerimônia de posse da nova presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum, e afirmou que o México se distanciou da mediação.

De acordo com o colombiano, a ideia era convencer a presidenta eleita a ter uma postura “mais ativa” em relação à Venezuela, mas a sinalização foi de retirada das discussões. “O México manterá a sua posição de não intervenção em qualquer assunto, vejo mais na posição de se retirar da discussão”, afirmou Petro. Durante o seu discurso de posse, Sheinbaum já havia dito que manteria uma política exterior de respeito à autodeterminação, não intervenção e solução pacífica de controvérsias.

O chefe do Executivo colombiano também conversou com o ex-presidente Andrés Manuel López Obrador. Segundo Petro, o ex-mandatário se mostrou distante da discussão, que agora terá somente Brasil e Colômbia na mediação.

“Obrador se distanciou desta operação conjunta, mas estamos tentando unir forças para tentar dar uma saída para a Venezuela, política e pacífica”, disse ele.

Brasil e Colômbia afinados

Petro e Lula tinham uma reunião agendada para essa terça-feira (1), mas o encontro não foi confirmado pelas duas chancelarias. Ambos já haviam tentado se encontrar durante a Assembleia Geral da ONU na última semana, mas por falta de agenda o encontro foi cancelado nos Estados Unidos.

Eles, no entanto, falaram antes da posse de Sheinbaum. Segundo Petro, Bogotá seguirá com a ideia de que “se não houver apresentação de ata não há reconhecimento do resultado”. Já Lula disse ter interesse que a Venezuela “volte à normalidade democrática”, e reafirmou a boa relação entre o Brasil e o país vizinho.

“É um país que tem 1.600 km de fronteira com o Brasil. É um país que eu quero que esteja em paz, mas é preciso criar condições para a gente conversar. Estamos agora com relação diplomática muito forte, O chanceler Mauro Vieira tem conversado com o chanceler da Venezuela, o da Colômbia. É preciso a gente encontrar um jeito da gente retomar uma convivência democrática” disse.

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, reafirmou as declarações de Petro. Em resposta, o chanceler venezuelano, Yván Gil, disse que não vai mais tolerar tentativas de interferência no processo interno venezuelano. “Chega de ingerências rudes e de procura de manchetes que só a direita paramilitar e fascista gosta, não vamos tolerar”, afirmou.

Brasil, Colômbia e México iniciaram uma articulação para mediar a situação da Venezuela e manter um canal de interlocução com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Os três governos publicaram duas notas conjuntas pedindo a publicação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) e não pela Justiça do país.

Depois, Andrés Manuel López Obrador disse que não falaria com Lula e Petro até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emitisse um posicionamento sobre as eleições do país. A Justiça venezuelana validou a reeleição de Maduro e confirmou os resultados do pleito.

Sem Obrador, Lula ligou para Petro para dar continuidade às negociações em torno da Venezuela. A conversa entre Lula e Petro surtiu efeito e os dois presidentes afinaram o discurso. O próprio assessor especial para relações internacionais do governo brasileiro, Celso Amorim, foi à Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal e afirmou que o governo brasileiro não reconhecerá nenhum governo sem a apresentação das atas eleitorais.

Os dois países chegaram a sugerir a realização de novas eleições, mas a proposta foi rejeitada tanto pelo governo quanto pela oposição venezuelana.

Atas na OEA?

Nesta quarta-feira (2), Jennie Lincoln, funcionária do Centro Carter, disse ter apresentado as “cópias originais das atas” à Organização dos Estados Americanos (OEA). As supostas cópias das atas foram recolhidas pela oposição durante as eleições. Segundo o grupo de extrema direita liderado por María Corina Machado, foram recolhidas 83% das atas de todos o país e a soma desse resultado daria a vitória ao candidato da Plataforma Unitária, Edmundo González Urrutia.

“Essas atas são elementos-chave, acabei de receber os originais. São atas originais da Venezuela , que possuem um código QR”, afirmou Lincoln. Ela, no entanto, ainda não apresentou as atas de maneira pública.

O processo eleitoral venezuelano passou por uma disputa judicial. A oposição contestou a eleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. Isso somado à denúncia de um ataque hacker pelo CNE, levaram Maduro a pedir uma investigação pela Justiça. O órgão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados detalhados alegando que houve um ataque hacker contra o sistema eleitoral. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) investigou os supostos ataques, recolheu todo o material eleitoral do órgão e ouviu 9 dos 10 candidatos que disputaram o pleito.

O opositor Edmundo González Urrutia não só não compareceu como também não entregou as atas que seu grupo disse ter recolhido.

Os opositores de Maduro divulgaram em dois sites uma suposta lista das atas eleitorais. Em um deles, o usuário digitava o seu documento de identidade e aparecia supostamente a ata eleitoral da mesa que aquele usuário votou. No outro, havia um compilado com os dados de todas as atas que a oposição afirmava ter.

Mas eles não publicaram a relação completa das atas na Justiça venezuelana e nem entraram com processo pedindo a revisão ou a impugnação dos resultados eleitorais.

Depois do processo movido por Maduro, a Justiça convocou todos os candidatos para prestarem esclarecimento sobre as eleições do país. Edmundo González Urrutia mais uma vez não se apresentou ao TSJ e enviou como representante o governador de Zulia, Manuel Rosales. Em discurso depois da seção, Rosales disse que a oposição "não precisa entregar nada" e exigiu a entrega das atas eleitorais pelo CNE.

Nesse meio tempo, o candidato derrotado nas eleições publicou nota nas redes sociais pedindo que militares do país "desobedeçam ordens" e "respeitem o resultado das eleições". No texto, Edmundo González autoproclama presidente da Venezuela. A Justiça validou o resultado do pleito.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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O mês de outubro de 2024 começa com Israel atacando militarmente quatro frentes, Líbano, Gaza, Síria e Iêmen. Nenhuma dessas operações é autorizada pela ONU ou outros órgãos internacionais, embora Tel Aviv tenha o aval que mais faça a diferença: o da maior potência mundial, os EUA.

Alguns cientistas políticos acreditam que um constante estado de guerra é fundamental para a manutenção de Benjamin Netanyahu no poder. O premiê israelense já era duramente criticado dentro e fora de Israel, mesmo antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro do ano passado, por planejar desestabilizar o equilíbrio entre os poderes ao tentar subjulgar a Suprema Corte ao Legislativo.

Já os enormes protestos contra ele do último ano foram motivados pelo fracasso em recuperar reféns feitos pelo Hamas. Esses analistas acreditam que, passada a união nacional gerada pelo combate a inimigos externos, Netanyahu perderá sustentação e corre risco, inclusive, de ser preso.

Militarmente o país é a única potência nuclear da região e investe mais que o dobro anualmente (cerca de US$ 19 bilhões ou R$ 103 bi) no setor do que o Irã, por exemplo (US$ 7 bilhões ou R$ 38 bi), mas o que torna o país incomparável regionalmente é sua enorme vantagem tecnológica (com recursos como o Domo de Ferro, que repele ataques balísticos e os mísseis Arrow) e sua aliança com os EUA e demais potencias ocidentais.

Mesmo assim, movimentos armados organizam resistência contra o que consideram ser a “ocupação sionista” no território, ocupando o lugar de defesa que não são exercidos pelas forças armadas convencionais. Entenda abaixo quem são e como atuam alguns desses movimentos:

Hezbollah

Criado no Líbano para resistir à invasão israelense de 1982 (Tel Aviv invadiu o vizinho para combater a Organização para a Liberação da Palestina, OLP, que tinha sede no país) o grupo é um misto de partido político, organização militar e movimento religioso xiita. Aliado e apoiado financeiramente pelo também xiita Irã, o Hezbollah já enfrentou e causou perdas significativas a Israel durante o conflito de 33 dias em 2006.

Calcula-se que o Hezbollah tenha entre 40 mil e 100 mil soldados, o que o torna a maior organização guerrilheira do mundo. Considerado um grupo terrorista pelos EUA e a União Europeia, o Hezbollah não tem apoio da maioria da população libanesa, segundo pesquisas (em especial após o ataque ao porto de Beirute em 2020, atentando não solucionado, mas que boa parte dos libaneses acredita ter sido obra do grupo), mas conta com forte apoio político da Síria e financeiro do Irã. Apesar disso, é a maior força militar do Líbano, país que conta com um exército fraco.

Desde o século passado o Hezbollah teve como objetivo declarado a destruição de Israel e vem lançando foguetes desde o sul do Líbano (seu reduto) em direção ao norte israelense com constância desde 7 de outubro, em solidariedade ao genocído sofrido pelos palestinos e seu aliado Hamas na Faixa de Gaza. Esses foguetes levaram milhares de israelenses a deixarem suas casas na região e os atuais ataques de Israel tem como justificativa alegada enfraquecer o grupo para permitir a volta desses cidadãos.

O recente assassinato por Israel do líder do grupo, Hassam Nasrallah, foi o estopim da crise atual, por gerar uma resposta balística do Irã e precipitar a invasão israelense do Líbanok.

Hamas

Surgido nos anos 1980 com ligações com o movimento egípcio Irmandade Muçulmana, desde o início se posicionou como um dos mais conservadores grupos palestinos, rejeitando a existência de Israel (posição abrandada em 2018, quando indicou aceitar a solução de dois estados e retificando ser antisionista e não antissemita), usando homens-bomba, rejeitando o Acordo de Oslo e abandonar a luta armada.

Com sede na Faixa de Gaza, o Hamas surpreendeu a comunidade internacional ao vencer – contra todas as estimativas – as primeiras e únicas eleições gerais palestinas, em 2006. Apesar de vitória ter sido considerada legítima, ela não foi reconhecida pelos EUA e União Europeia, que aprovaram o bloqueio do território palestino.

No ano seguinte, entrou em guerra civil contra o Fatah, levando a divisão dos palestinos, com o Fatah governando a Cisjordânia e o Hamas, Gaza. Desde então, além do bloqueio que asfixia os mais de 2 milhões de palestinos em Gaza, o grupo sofre com campanhas militares regulares de Israel, como em 2008-09, 2012, 2014, 2021 e a atual, desde 2023.

Esta última foi precipitada pela invasão do Hamas em território israelense em 7 de outubro, na operação que causou o maior número de baixas da história de Israel, cerca de 1,2 mil e fazendo mais de 200 reféns, muitos deles já declarados mortos.

É difícil precisar o número de combatentes da ala militar do grupo, as Brigadas de Al-Qassam, já que o Hamas aposta em guerra assimétrica, ou táticas de guerrilha urbana, com o uso de uma enorme rede de túneis para fuga e chegada de munições. Apesar de ser um grupo sunita, é também aliado do xiita Hezbollah e seu líder, Ismail Haniyeh, foi morto por Israel na capital iraniana, Teerã, em fins de julho.

Fatah

Principal grupo palestino, foi criado pelo maior líder do povo, Yasser Arafat, em fins da década de 1950. Secular e laico, tem postura mais branda em relação a Israel, mas se mostra incapaz de impedir as ilegalidades cometidas na Cisjordânia – território que governa desde a guerra civil com o Hamas em 2007 – como os constantes confiscos de terra.

As Brigadas de Al Acsa são seu braço armado, atuando mais contra civis israelenses. Um dos principais pontos de desacordo com o Hamas é o Fatah não se impor contra Israel.

Houthis

Grupo xiita ligado ao Hezbollah que atua no Iêmen, o país mais pobre do Oriente Médio. Surgido no final do século passado, participou ao lado da Al Qaeda dos levantes da chamada “Primavera árabe” que, no Iêmen, derrubaram o governo de Abdrabbuh Mansur Hadi, acusado de subserviência à Arábia Saudita e ao Ocidente.

Desde 2015, forças sauditas e de outros países do norte africano e do árabes combatem o grupo, que controla boa parte do território do Iêmen, incluindo a capital, Sanaa.

Guerrilheiros houthis declararam solidariedade aos palestinos de Gaza em 2023 e vêm atacando embarcações no Mar Vermelho rumo ao Canal de Suez, local estratégico onde passa cerca de 70% do comércio mundial. A atuação do grupo vem encarecendo esse transporte, prejudicando interesses dos EUA, maior aliado de Israel.

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As autoridades jordanianas enfrentaram críticas nesta quarta-feira (02/10) após o governo confirmar que suas forças derrubaram mísseis iranianos que tinham como alvo Israel na noite anterior. As informações são do Middle East Eye.

O Irã disparou pelo menos 180 mísseis contra Israel na última terça-feira (01/10); vídeos mostraram os projéteis atingindo diversas partes do país.

Em um comunicado da terça-feira, a Diretoria de Segurança Pública da Jordânia confirmou que suas defesas aéreas interceptaram mísseis e drones. “As Forças Aéreas Reais da Jordânia e os sistemas de defesa aérea responderam a vários mísseis e drones que entraram no espaço aéreo jordaniano”, dizia a declaração.

Após os ataques, autoridades jordanianas insistiram que a participação do reino era uma questão de autodefesa e proteção de sua soberania. “Esses mísseis não tinham como alvo a Jordânia, então por que estamos derrubando-os?” questionou o político Mohammed al-Absi, do Partido da Unidade Democrática.

“A posição da Jordânia é clara e permanente: não será uma arena de conflito para nenhum partido”, afirmou Mohammad al-Momani, porta-voz do governo e ministro de Estado para Assuntos da Mídia, em um comunicado, acrescentando que proteger os jordanianos é a “primeira responsabilidade” do reino.

No entanto, os comentários não foram bem recebidos na Jordânia, um país que abriga uma das maiores populações de refugiados palestinos. “Se a Jordânia vem em primeiro lugar, por que está sendo arrastada para uma confrontação que não é sua?” questionou Iyad al-Rantsis, um cidadão jordaniano, ao MEE.

“Por que o cidadão jordaniano está exposto a perigos em nome dos sionistas e de sua segurança?” ele indagou. “Além disso, por que a Jordânia está esgotando suas forças e economia derrubando mísseis que não são direcionados a ela?” acrescentou.

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O Hezbollah e as tropas israelenses travam combates no sul do país, enquanto Tel Aviv segue bombardeando Beirute e o número de mortes no Líbano decorrentes da incursão de Israel aumenta. Segundo informou a Unidade de Gestão de Desastres do país em contagem atualizada nesta quarta-feira (02/10), são 1.873, sendo quase 10 mil os feridos. Os dados de vítimas do Ministério da Saúde também excede mil mortos.

Por volta das 19h10 (no horário de Brasília), agências de notícias internacionais reportaram um novo bombardeio promovido por Israel à cidade de Beirute.

No campo de batalha, o grupo libanês tem enfrentado a infantaria e veículos blindados das Forças de Defesa Israelenses (FDI, como é chamado o exército do país) no Sul, perto da fronteira entre os dois países.

Segundo a Al Jazeera, os israelenses emitiram ordens de evacuação pouco antes de invadir as cidades da região, enquanto a resistência rechaça as incursões.

“Qualquer um que esteja perto de elementos, instalações e equipamentos de combate do Hezbollah está colocando sua vida em risco. Qualquer casa usada pelo Hezbollah para suas necessidades militares deve ser alvo”, declarou o porta-voz de língua árabe do exército israelense, Avichay Adraee, por meio das redes sociais.

O avanço foi confirmado pelo exército libanês, por meio de suas redes sociais, ao afirmar que “uma força inimiga israelense violou a Linha Azul aproximadamente 400 metros em território libanês nas áreas de Khirbet Yaroun e Odaisseh, e então se retirou após um curto período”.

10 mil libaneses foram feridos pelos bombardeios israelenses em Beirute A “Linha Azul” mencionada pelas forças do Líbano faz referência à fronteira e separa os dois países. O jornal ainda trouxe que o grupo de resistência libanês realizou os ataques contra as forças israelenses que cruzaram a fronteira responsáveis pelos seus recuos.

Baixas israelenses

Por meio de um comunicado, o Hezbollah reivindicou um ataque explosivo contra soldados israelenses que tentavam contornar uma região denominada Vila de Yaroun. A ação matou e feriu membros da FDI, no que se configurou como as primeiras mortes de soldados de Tel Aviv no mais recente no Líbano.

As mortes foram confirmadas pelas FDI, também nesta quarta. A primeira vítima foi o capitão Eitan Itzhak Oster, de 22 anos, que era um dos líderes da unidade de comando Egoz.

Os outros sete soldados falecidos foram Harel Etinger (23 anos), Itai Ariel Giat (23), Noam Barzilay (22), Or Mantzur (21), Nazar Itkin (21), Almken Terefe (21) e Ido Broyer (21).

(*) Com Ansa e TeleSUR

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Durante reunião no Conselho de Segurança, o representante de Israel na Organização das Nações Unidas, Danny Danon, afirmou que seu país irá reagir militarmente ao ataque sofrido nesta terça-feira (01/10), quando o Irã disparou 181 mísseis balísticos contra seu território.

“Israel não vai ficar parado. Israel vai responder. E será decisivo e doloroso (…) estamos feridos. Mas não somos fracos”, comentou o embaixador israelense, segundo matéria do jornalista Jamil Chade, em seu blog no site UOL.

Em sua declaração, Danon também disse que o ataque mostra que o Irã é um “estado terrorista”, e que “após ataques contra 10 milhões de civis, Teerã teve audácia de mandar uma carta ao Conselho de Segurança dizendo que agiram respeitando o direito humanitário e que atingiram instalações militares”.

EUA pedem punição ao Irã

Na mesma reunião, a representante dos Estados Unidos, Linda Greenfield, afirmou que a ação iraniana “fracassou”, e questionou a carta enviada pelas autoridades da República Islâmica, especialmente no trecho em que dizem que o ataque foi motivado pelas agressões israelenses no Líbano e nos territórios palestinos – segundo Washington, os disparos desta terça configuram uma ação “não provocada.

Em seguida, a embaixadora norte-americana na ONU pediu aos demais integrantes do Conselho de Segurança que aprovasse uma resolução condenando o Irã pelo ataque ao território de Israel.

“Este Conselho tem a responsabilidade de colocar mais sanções contra o Irã. Se não fizer nada, que mensagem mandará? Temo que isso promova novos ataques”, frisou Greenfield.

Rússia denuncia Israel

A posição norte-americana contrasta com a da Rússia. O representante do país euroasiático na ONU, Vasily Nebenzya, fez uma alerta sobre a situação no Oriente Médio, dizendo que a região “está deslizando para uma guerra generalizada (…) mas o Conselho da Segurança só assiste, sem fazer nada”.

O embaixador russo também usou seu discurso para denunciar as medidas tomadas por Israel nas últimas três semanas, as quais Moscou consideram como causadoras da escalada da crise na região.

“No lugar de usar a diplomacia, Israel opta por força. E seus cúmplices norte-americanos estão em suas mãos, paralisando este Conselho de Segurança”, acrescentou Nebenzya, que também criticou os vetos dos Estados Unidos às resoluções propostas contra Tel Aviv desde o início do massacre na Faixa de Gaza.

Argélia critica ONU

Principal representante árabe na atual formação do Conselho de Segurança, a Argélia fez duras críticas a Israel e à própria ONU, pelo que qualificou como “carta branca” para que Tel Aviv cometa suas agressões nos territórios da Palestina e do Líbano.

“Precisamos acabar com a ocupação de terras árabes, no Líbano ou na Palestina, por parte de Israel”, exigiu o embaixador argelino na ONU, Amar Bendjama.

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O ministro do Exterior de Israel, Israel Katz, anunciou nesta quarta-feira (02/10) que decidiu declarar o secretário-geral da ONU, António Guterres, persona non grata e proibir sua entrada no país, por considerar que ele não condenou "de forma inequívoca" o ataque iraniano de terça-feira.

"Qualquer pessoa que não possa condenar de forma inequívoca o ataque atroz do Irã contra Israel não merece pôr os pés em solo israelense", afirmou Katz.

O Irã disparou mais de 180 mísseis balísticos contra Israel na terça-feira. Muitos foram interceptados em pleno ar mas alguns penetraram nas defesas antimísseis. Não houve registro de vítimas. O ataque ocorreu horas depois de Israel ter anunciado o início de sua ofensiva terrestre no Líbano. As operações terrestres no país vizinho começaram duas semanas após uma série de bombardeios contra a estrutura do grupo xiita libanês Hezbollah – incluindo um ataque aéreo que matou seu líder, Hassan Nasrallah – e marcam uma escalada significativa na ofensiva israelense contra a milícia.

Na noite de terça-feira, minutos após o ataque iraniano de mísseis, Guterres emitiu uma breve declaração fazendo referência apenas aos "últimos ataques no Oriente Médio" e condenando o conflito "com escalada após escalada" e reiterou a necessidade de um cessar-fogo. "Isto tem que parar. Necessitamos absolutamente de um cessar-fogo", escreveu, sem mencionar a ofensiva de Teerã.

Katz também acusou o líder da ONU de não ter denunciado as atrocidades cometidas pelo Hamas durante o ataque múltiplo de 7 de outubro e as "atrocidades sexuais cometidas" por seus milicianos.

"Este é um secretário-geral anti-Israel que presta apoio a terroristas, estupradores e assassinos", disse o ministro em nota. "Israel continuará a defender seus cidadãos e a manter sua dignidade nacional, com ou sem António Guterres", acrescentou.

Sanção contra membros da ONU e Lula Um relatório do Escritório de Direitos Humanos da ONU de 23 de fevereiro constatou que o grupo islâmico Hamas e outros grupos armados palestinos cometeram violações em larga escala do direito internacional em 7 e 8 de outubro, incluindo abusos, agressões sexuais e tortura.

Da mesma forma, em 24 de outubro de 2023, Guterres, em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, condenou o ataque do grupo palestino que deixou 1.200 mortos e 251 sequestrados, mas ressalvou que essas ações não surgiram do nada, mas após décadas de ocupação.

Essas declarações também provocaram indignação entre o governo israelense, que na época declarou a ONU persona non grata. "Recusaremos a emissão de vistos para representantes da ONU", retaliou o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan.

Essa não é a primeira vez que o ministro israelense do Exterior toma medidas contra líderes políticos que criticam as políticas de Israel. Em fevereiro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi declarado persona non grata após descrever a guerra em Gaza como um genocídio comparável ao Holocausto nazista.

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A visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, aos EUA na semana passada foi envolta de expectativa sobre a possível apresentação do chamado “Plano da Vitória” ucraniano ao presidente estadunidense, Joe Biden.

Além da sua participação na Assembleia Geral da ONU, Zelensky também se reuniu com os candidatos nas eleições dos EUA, Kamala Harris e Donald Trump, buscando garantir para o ano que vem o apoio da Casa Branca à Ucrânia na guerra com a Rússia. Mas as iniciativas não reduziram as incertezas sobre o futuro do conflito.

A viagem do presidente ucraniano aconteceu no contexto da discussão sobre a possibilidade de os EUA autorizarem a Ucrânia a usar armas ocidentais de longo alcance contra a Rússia. Este é, um dos principais pontos do chamado "Plano da Vitória” que Zelensky apresentou a Joe Biden.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o diretor do Instituto Ucraniano de Política, Ruslan Bortnik, explica que o plano de Zelensky carrega um caráter confidencial, por isso seus detalhes não foram amplamente divulgados. No entanto, o analista aponta que os principais pontos do documento já são de conhecimento comum.

Bortnik afirma que segundo diversas fontes do governo ucraniano, o plano de vitória consiste em medidas militares, políticas, diplomáticas e econômicas “necessárias para fortalecer a posição da Ucrânia” e forçar a Rússia a cessar as hostilidades.

Em particular, Zelensky teria apresentado aos EUA uma lista de alvos russos para serem atingidos com as novas armas de longa distância a serem fornecidas por Washington.

“Se fala em cerca de 150 alvos no território europeu da Rússia, em alvos militares, energéticos e logísticos, que a Ucrânia quer atingir usando armas de longa distância dos EUA, em primeiro lugar com mísseis Atacams, mas também as versões de longa distância dos Shadow Storm e dos franceses Scalp. Por enquanto, não parece que os EUA tenham concordado com isso”, afirma o pesquisador.

Segundo a revista The Times, entre os pontos deste plano estão o prosseguimento da operação das Forças Armadas Ucranianas na região de Kursk, garantias de segurança para a Ucrânia por parte do Ocidente e um pedido de “armas modernas específicas”, bem como assistência financeira internacional à Ucrânia.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, observou que a Rússia trata os pontos do “plano de vitória” publicado pela mídia com moderação. “Se surgir alguma informação de fontes oficiais, é claro que iremos estudá-la”, afirmou Peskov.

De acordo com Ruslan Bortnik, a principal tese da abordagem ucraniana nesta situação está baseada na lógica "me deem mais armas e nós forçaremos a Rússia a adotar as nossas condições". “É claro que nem todo mundo na própria Ucrânia acredita nisso, mas pelo menos a expectativa é que com essa tese seria possível aumentar o apoio à Ucrânia por parte dos EUA”, afirma.

Moscou, por sua vez, não demonstra sinais de ceder a quaisquer condições de Kiev ou do Ocidente. Pelo contrário, na mesma semana, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que a doutrina nuclear do país será alterada, flexibilizando as condições em que Moscou poderá realizar um ataque com armas nucleares, no caso de uma ameaça massiva contra o seu território.

Segundo ele, o documento passará a contemplar a possibilidade de um ataque nuclear retaliatório em caso de “informações confiáveis” sobre ataques massivos de “aeronaves estratégicas ou táticas, mísseis de cruzeiro, drones e aeronaves hipersônicas” contra o território russo.

Ao fim da viagem aos EUA, Zelensky volta para a Ucrânia sem grandes resultados. Não houve nenhum novo aceno sobre a autorização para ampliar os ataques à Rússia e, segundo fontes da Casa Branca, o chamado “plano da vitória” de Zelensky foi encarado com ceticismo pela administração de Joe Biden.

De acordo com uma publicação do Wall Street Journal, citando oficiais de alto escalão dos EUA e da União Europeia que tiveram contato com o documento ucraniano, o plano de Zelensky “não oferece um caminho claro para a vitória da Ucrânia, especialmente à medida que as tropas russas avançam no leste do país”.

A publicação aponta que a administração Biden manifestou preocupação com o fato de o plano não conter uma estratégia abrangente e ser “pouco mais do que um pedido reformulado de mais armas” e de autorizar ataques com mísseis de longo alcance.

Situação crítica no front

A dificuldade da Ucrânia em garantir as suas demandas no campo político e diplomático reflete diretamente a situação difícil que as forças do país enfrentam no campo de batalha. A última vez que a Ucrânia obteve um êxito militar concreto em sua reação à intervenção russa foi no final de 2022, quando o país conseguiu reassumir o controle de grande parte da região de Kherson, criando uma expectativa sobre uma contraofensiva em 2023.

As expectativas, no entanto, foram frustradas e a linha de frente se manteve praticamente estática. A partir do final de 2023, a Rússia retomou a iniciativa das ações militares e vem conquistando novos territórios na região de Donbass desde então.

Em um cenário de uma guerra de trincheiras, em que as partes apostam no esgotamento do inimigo, Moscou leva ampla vantagem, considerando a sua superioridade em termos recursos, artilharia e capacidade de reposição de tropas.

É esta conjuntura que impulsiona Volodymyr Zelensky a escalar a retórica na direção de ampliar o escopo da participação do Ocidente na guerra e buscar alterar de alguma forma o curso do conflito, atualmente desfavorável para a Ucrânia.

Neste cenário, o cientista político Ruslan Bortnik comenta que parte dos objetivos de Zelensky com o seu “plano da vitória” é manter o protagonismo e o controle sobre os diálogos a respeito de possíveis negociações, além de buscar “dar esperança à sociedade ucraniana e aos atores internacionais que querem o fim do conflito mais rápido possível”. Ou seja, em uma situação de aumento do desgaste internacional em relação à guerra, Zelensky busca “algumas garantias dos EUA para os próximos anos, ganhar tempo e escalar a relação entre Rússia e Ocidente para não haver diálogo sem a Ucrânia”, completa Bortnik.

Ataques a Brasil e China

Esta conjuntura explica em parte a retórica hostil com que o presidente ucraniano se dirigiu ao Brasil e à China durante o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, que ficou marcado, em particular, pelas críticas diretas aos esforços sino-brasileiros em buscar soluções diplomáticas para a guerra

O presidente ucraniano duvidou do ‘interesse real’ do Brasil de buscar a paz e classificou as propostas apresentados por Brasil, China e países africanos como "planos tímidos de resolução". Segundo ele, tais propostas ignoram os interesses e o sofrimento dos ucranianos e dão ao presidente russo, Vladimir Putin, "espaço político para continuar a guerra".

Em meados de maio, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta para promover negociações de paz que contassem com a participação da Ucrânia e da Rússia, visando uma "participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz". Na ocasião, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que tal proposta legitimaria a invasão russa em seu país.

“Talvez alguém queira um Prêmio Nobel na sua biografia política por uma trégua congelada em vez de uma paz real, mas as únicas recompensas que Putin lhe dará em troca são mais sofrimento e desastres. […] E quando a dupla sino-brasileira tenta se transformar em um coro de vozes, com alguém na Europa, na África, falando sobre uma alternativa para um mundo pleno e justo, surge a pergunta: qual é o real interesse? Todos devem entender que não se pode fortalecer o seu próprio poder às custas da Ucrânia”, disse Zelensky na ONU.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fala durante a Assembleia Geral das Nações Unidas na sede das Nações Unidas em 25 de setembro de 2024 / Michael M. Santiago / Getty Images / AFP

Na última sexta-feira (27), simultaneamente à assembleia da ONU, em Nova York, Brasil e China criaram um grupo de países do Sul Global para trabalhar em uma solução para a guerra. A iniciativa, liderada pelo assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim, e pelo chanceler chinês, Wang Yi, conta com 17 países emergentes, além da França, Suíça e Hungria, que participam como observadores.

Três países - Vietnã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia -, no entanto, não assinaram o documento. E o presidente ucraniano também já condenou a movimentação, reforçando o seu descontentamento com a visão diplomática do conflito promovida pelo Sul Global.

Desgaste com Partido Republicano

Além de tensionar a relação com os países do Sul Global, o presidente ucraniano também teve como resultado da turnê nos EUA o desgaste com o Partido Republicano. Apesar de Zelensky ter se reunido na última sexta-feira (27) com o candidato Donald Trump em tom diplomático, a relação foi marcada por ruídos . Ao longo da semana em que Zelensky esteve no país, Trump disse que a Ucrânia “está em ruínas” e defendeu que Zelensky faça concessões a Putin.

Durante o encontro, na frente dos jornalistas e ao lado de Zelensky, Trump destacou que está pronto para trabalhar em um acordo de paz e reforçou que tem um bom relacionamento com Putin, criando um clima tenso entre os dois. “Espero que tenhamos relações melhores entre nós”, interrompeu Zelensky, arrancando risadas de Trump.

No passado, o candidato republicano havia criticado várias vezes a continuidade do apoio financeiro e militar à Ucrânia. O diretor do Instituto Ucraniano de Política, Ruslan Bortnik, comenta que, de fato, “a Ucrânia perdeu o apoio bipartidário”.

“Ficou a impressão que a Ucrânia está fazendo uma aposta especificamente nos democratas e na vitória de Kamala Harris. Mas se Kamala Harris não vencer, a liderança ucraniana pode enfrentar tempos muito difíceis em relação aos EUA”, afirma.

Neste cenário, o pesquisador afirma que o resultado da turnê do presidente ucraniano “foi acompanhada por todo um espectro de conflitos”: com os republicanos e com os países do Sul Global.

Segundo ele, a escalada na retórica com o Sul Global “possivelmente está associada à situação político-militar que se encontra agora a Ucrânia, em que cada dia é tragicamente decisivo”.

É possível que seja um preço que a Ucrânia tenha que pagar pela manutenção do apoio da Casa Branca, sejamos honestos. O conflito com os republicanos e a rejeição ao plano da China e do Brasil, pode ser que seja o preço exigido à Ucrânia pela Casa Branca para a manutenção desse apoio. Por isso são essas duas crises que surgiram […] É uma bagagem muito pesada com a qual o presidente [Zelensky] está voltando para casa”, completa.

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O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta segunda-feira (30), por unanimidade, ampliar mais por um ano o mandato da atual Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MSS) no Haiti. Dessa forma, a força liderada pelo Quênia poderá operar no país até 2 de outubro de 2025.

A resolução, adotada por unanimidade, expressa “profunda preocupação com a situação no Haiti, incluindo violência, atividades criminosas e deslocamento em massa”.

O projeto de resolução foi apresentado pelos Estados Unidos e pelo Equador. Na minuta que circulou antes da votação, foi proposta que a atual Missão Multinacional de Apoio à Segurança fosse transformada em uma missão formal de manutenção da paz da ONU, de modo que não dependesse mais de contribuições voluntárias, como acontece atualmente, e tivesse financiamento estável da ONU.

Mas não houve consenso, pois tanto a Rússia quanto a China se opuseram à mudança do caráter do MSS, aprovada há um ano, mas que só começou a ser implantada no Haiti em junho deste ano.

No entanto, não houve consenso, pois tanto a Rússia quanto a China se opuseram à mudança do caráter da MSS, que foi aprovada há um ano, mas só começou a ser enviada ao Haiti em junho deste ano.

Ao tomar a palavra, o embaixador adjunto da China, Geng Shuang, declarou que “as missões de paz não são uma panaceia”. Assim, ele argumentou que Pequim se opõe à transformação da operação, pois isso “apenas interferiria na implementação do mandato da missão”.

“A ONU enviou várias operações de manutenção da paz ao Haiti, mas os resultados nunca foram satisfatórios e as lições aprendidas foram extremamente profundas”, disse ele, referindo-se aos 15 anos em que o país foi ocupado por forças policiais internacionais.

Entre 2004-2019, a ONU implementou duas “missões de paz” consecutivas no Haiti, sob comando militar brasileiro: a MINUSTAH (2004-2017) e a MINUJUSTH (2017-2019), que, longe de cumprir o objetivo de “estabelecer a paz” e “estabilizar o país”, acabaram sendo acusadas de cometer graves violações de direitos humanos contra a população haitiana.

O diplomata russo ressaltou que são “as armas americanas que inundaram o Haiti”, em referência às armas usadas por gangues criminosas traficadas dos EUA. Ele disse que assistência militar, por si só, não resolverá os graves problemas que o país enfrenta.

A atual Missão Multinacional de Apoio à Segurança, que está no país há menos de quatro meses, precisa de tempo para se estabelecer, disse ele. Até que isso aconteça, acreditamos que é prematuro planejar qualquer transformação na presença internacional, ou qualquer mudança”, afirmou.

Crise no Haití

Haiti enfrenta uma das crises humanas mais profundas de sua história. O Programa Mundial de Alimentos (“WFP”) alertou na segunda-feira (30) que cerca de 5,4 milhões de haitianos, metade da população, estão em uma situação de fome. Sendo que, dois milhões dessas pessoas estão em níveis emergenciais de fome, sofrendo de desnutrição severa, que espalhou várias doenças pelo país. O WFP classificou essa situação como “a pior emergência alimentar do Hemisfério Ocidental”.

Somente no primeiro semestre deste ano, pelo menos 3.661 pessoas morreram no Haiti, de acordo com um relatório do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgado na semana passada. O relatório observa que o número de mortes entre janeiro e junho, incluindo 100 crianças, mostra que os “altos níveis de violência” do ano passado continuam.

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Na noite desta terça-feira (1), o Irã lançou um ataque com dezenas de mísseis contra Israel em resposta ao assassinato de Ismail Haniyeh (Hamas) e Hassan Nasrallah (Hezbollah). Em comunicado, o Corpo da Guarda Revolucionária do Irã afirmou que iniciou os ataques a alvos militares sionistas, bem como quartéis-generais de inteligência no norte de Tel Aviv. O Irã advertiu ainda que caso Israel responda, enfrentará ataques mais violentos. “Em resposta ao assassinato de Ismail Haniyeh, Hassan Nasrallah e o comandante Nilforoshan, atacamos o coração dos territórios ocupados”, disse a Guarda Revolucionária do Irã em seu comunicado.

Segundo Al Mayadeen, pelo menos 400 mísseis foram disparados. Sirenes continuam soando por toda a Palestina ocupada enquanto a resposta iraniana é iniciada. Pelo menos duas pessoas foram mortas em decorrência do ataque iraniano.

Mais cedo, um ataque a tiros foi reportado em Tel Aviv. A operação é destacada como uma “operação de martírio” e dois palestinos armados abriram fogo contra diversos alvos em Tel Aviv, deixando pelo menos 10 mortos e dezenas de feridos.

O presidente imperialista, Joseph Biden, declarou que os Estados Unidos estão preparados para ajudar Israel a se defender de ataques de mísseis iranianos e proteger os militares americanos na região.

Em breve traremos mais informações.

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Na última sexta-feira (27), um ataque das Forças Armadas de Israel em Beiture, capital do Líbano, matou Sayyed Hassan Nasrallah, então líder do grupo armado libanês Hezbollah.

Apenas nesse bombardeio – Israel segue atacando a capital libanesa e massacrando civis – pelo menos seis pessoas morreram e mais de 90 ficaram feridas.

A morte de Nasrallah, figura central na resistência libanesa, intensificou o conflito entre Israel e o Líbano e pode desencadear uma nova fase no conflito, com o Irã, aliado do Hezbollah, indicando que pode se envolver diretamente.

Nasrallah: Ofensiva de Israel “nos fortalecerá”

Em 19 de setembro, cerca de uma semana antes do ataque sionista que matou Nasrallah, o líder fez um discurso em que agradecia ao povo libanês e ao mundo pelas expressões de solidariedade frente a operação de Israel que detonou pagers no Líbano. Destacando a gravidade da ação, afirmou:

“O inimigo ultrapassou todos os limites, regras e linhas vermelhas, sem se importar com nada, nem ética, nem legalmente.”

A intenção de Netanyahu, prosseguiu Nasrallah, era matar 5 mil em um único minuto, sem se importar com quem seria ferido, o que pode ser resumido como “um ato criminoso, uma operação terrorista em grande escala, um genocídio, um massacre”.

A liderança destaca que o ataque não afetaria a estrutura, a vontade, a determinação, a capacidade e o sistema de controle do Hezbollah: “Pelo contrário, isso nos fortalecerá, nos dará mais solidez e presença. Tenha certeza disso”.

Nasrallah denunciou ainda as ações colonialistas de Netanyahu em direção à fronteira do Líbano e o genocídio palestino, reafirmando a urgência de “parar a agressão e a guerra contra o povo de Gaza” e advertindo que “o ajuste de contas virá”.

Ao fim do pronunciamento, o então dirigente alertou que Netanyahu e demais chefes do Estado sionista “estão levando sua entidade para o abismo, para a ruína, segundo seus próprios termos”, qualificando-os como uma direção “torpe, imprudente, egoísta, narcisista e descontrolada” que “levará sua entidade a uma fossa profunda”.

A seguir, confira o discurso de Hassan Nasrallah na íntegra:

Agradecemos a todos os que doaram sangue nas distintas zonas do Líbano, ao ponto de dizer-se que o que aconteceu terça-feira foi a maior campanha de doação de sangue na história do Líbano.

Agradecemos a todos os que se ofereceram para transferir feridos, porque como viram, os feridos foram transportados em ombros, em autos ou em motocicletas. Também agradecemos a todos os que manifestaram sua disposição para doar órgãos de seus corpos.

Obrigado a todos os médicos que abriram as portas de seus consultórios de maneira gratuita, dia e noite. Agradecemos a toda nossa gente nobre no Líbano, a nosso querido povo libanês em todas as regiões, que se solidarizou, mostrou compaixão e expressou sentimentos sinceros, sem importar considerações sectárias, políticas, conflitos ou disputas existentes.

Agradecemos a todos os líderes solidários, desde os presidentes até as referências religiosas e políticas, aos ministros, deputados, partidos, correntes políticas, elites e às instituições midiáticas, sociais, culturais, sindicais, entre outras.

Das bençãos deste sangue puro e desta opressão que experimentamos durante estes dias, é que presenciamos novamente no Líbano uma epopeia humana e ética de grande magnitude, tanto em nível nacional como humanitário, que não tínhamos visto em muito tempo. Isto é parte das graças de Deus Todo poderoso e das bendições deste sangue e destes sacrifícios.

Também devemos agradecer aos países que se apressaram em oferecer seu apoio e enviaram equipes médicas, materiais e remédios. Agradecemos o governo do Iraque e a República Islâmica do Irã, que também enviou um avião para transferir dezenas de feridos, que foram evacuados ontem; e chegarão outros aviões.

Também agradecemos ao governo da Síria, que nos abriu as portas de seus hospitais e permitiu a transferência de vários feridos para os hospitais de Damasco.

Agradecemos a todos os países que entraram em contato com o governo libanês e expressaram sua disposição de oferecer apoio.

E agradecemos todos aqueles que condenaram este horrendo crime israelense, desde os países do mundo, os partidos, movimentos, instituições e elites, em especial as forças do Eixo de Resistência na Palestina, Iêmen, Iraque, Síria, entre outros.

O que aconteceu terça-feira, vocês já sabem, e descreverei brevemente como introdução, porque o assunto é bem conhecido por vocês. O inimigo detonou milhares de celulares e os fez explorar simultaneamente. Nesta operação, o inimigo ultrapassou todos os limites, regras e linhas vermelhas, sem preocupar-se em absoluto com nada, nem ética nem legalmente.

As explosões ocorreram em alguns hospitais, já que alguns dos portadores dos dispositivos trabalhavam em hospitais, farmácias, mercados, lojas, residências e inclusive em automóveis nas vias públicas, onde havia muitos civis, mulheres e crianças.

Seu objetivo era atacar os membros e combatentes do Hezbollah, mas acabaram afetando a todo o entorno em que se encontravam, utilizando um dispositivo civil que é utilizado por uma ampla gama de pessoas na sociedade, não só por nós.

Os portadores destes dispositivos estavam em hospitais, farmácias, nas ruas ou em suas casas.

Depois, quarta-feira, repetiram o ataque detonando também outros dispositivos de comunicação sem fio, sem importar-se onde se encontravam seus portadores, sem distinguir se aqueles que os levavam estão em um hospital, em uma casa ou em uma farmácia, já fosse que os tivessem consigo ou que os tivessem deixado em uma mesa.

Como resultado desta agressão, houve dezenas de mártires, entre eles crianças, mulheres e civis, e milhares ficaram feridos com feridas de diversa gravidade. As cifras reais serão reveladas com o tempo, já que há muitos irmãos e muitas pessoas que entraram no hospital e logo receberam alta, isto é, há pessoas que ainda não foram contadas, e há quem foi contabilizado duas ou três vezes. De todo modo, com o tempo se conhecerá a cifra exata; mas o número é muito grande.

O inimigo supõe —falaremos das intenções do inimigo— que o que aconteceu foi algo distinto. Ao atacar este conjunto de dispositivos, que discutiremos em detalhe, o inimigo calcula ou sabe que seu número supera os 4.000 dispositivos, e supõe que estes 4.000 dispositivos estavam distribuídos entre os irmãos e irmãs do Hezbollah, em diferentes unidades e instituições.

Ao detonar estes dispositivos, sua intenção deliberada era, segundo seus próprios cálculos, matar 4.000 personas em um único minuto.

Se quiséssemos resumir a situação e reduzir as cifras, diríamos que ao longo de dois dias, em um minuto terça-feira e em um minuto na quarta-feira, o inimigo israelense pretendia matar não menos de cinco mil pessoas em dois minutos, sem nenhuma consideração por nenhuma norma humanitária.

Não se preocupava onde mataria nem como o faria, e também levou em conta que, mesmo se alguns ficassem feridos, aproveitaria o estado de confusão que prevaleceria e a capacidade dos hospitais para atender estes feridos, supondo que muitos deles morreriam.

Podemos chamar este ato criminoso de uma operação terrorista de grande magnitude, um genocídio, um massacre. Adotaremos o termo “Massacre da terça-feira” e “Massacre da quarta-feira” para os massacres da terça e da quarta-feira, para somá-los aos grandes massacres do inimigo no contexto geral do conflito existente com este inimigo desde a criação, desde o aparecimento desta célula cancerígena em nossa região, este mal absoluto em nossa região.

Um genocídio, uma agressão massiva contra o Líbano, seu povo, sua resistência, sua soberania e sua segurança. Crimes de guerra, ou uma declaração de guerra, podem chamá-lo como quiserem, e têm todo o direito de chamá-lo como preferirem por sua magnitude genocida.

Por exemplo, quando um ex subchefe do Estado Maior diz que o que ocorreu no norte durante os últimos meses é a primeira derrota histórica de “Israel” no norte, outros afirmam que, sem dúvida, o Hezbollah logrou avanços estratégicos nessa zona.

Os que falam de conquistas estratégicas, estão falando de uma derrota histórica. Dizem que temem pelo norte, que estão falando de uma faixa de segurança dentro da entidade, dentro da Palestina ocupada, na fronteira norte, pela primeira vez em 70 anos.

Estão mencionando o nível de deslocamento forçado, as perdas econômicas na indústria, na agricultura e no turismo dos colonos e de “Israel” no norte. Estão falando de uma batalha de auxílio, de um desgaste do “exército”, o “exército” inimigo, na frente norte.

Por isso, todas as forças que transferiram para o norte em 8 de outubro, apesar da pressão que tinham em Gaza, não foram enviadas a Gaza. Inclusive na Cisjordânia, levaram tropas de Gaza, mas não tiraram nenhuma do norte, porque enfrentam uma verdadeira ameaça no norte. Têm uma frente real no norte e um problema com as forças.

Há dois dias, um dos meios de comunicação israelenses informou que, devido à escassez de tropas, estão treinando um grande número de marinheiros em táticas de infantaria para preparar as forças de que necessitam nesta frente.

Suas expressões indicam: “Perdemos o norte”.

Os gritos da população do norte durante 11 meses geraram uma enorme pressão que agora levou Netanyahu e todos os demais a dizerem: “Avante, enfoquemos no norte e resolvamos o problema do norte”.

Um dos principais elementos de pressão sobre a entidade inimiga nesta batalha, uma das principais frentes de desgaste junto a outras, é a grande e decidida frente iemenita, tanto no mar Vermelho, como no mar Arábico ou no oceano Índico, o apoio popular semanal, os mísseis, sendo o último deles o míssil “Palestina”, e também a frente iraquiana.

Não há dúvida de que esta frente libanesa é uma frente de grande pressão, e é ainda uma das cartas chave de negociação da resistência palestina hoje para alcançar os objetivos e deter a agressão.

Terça-feira à tarde, horas depois da agressão, chegaram mensagens por canais oficiais e não oficiais que diziam claramente: “Nosso objetivo com este ataque é que deixem de apoiar Gaza e que interrompam os combates na frente libanesa. Se não se detêm, temos mais”. E quarta-feira chegou este “mais” que nos prometeram na terça.

De modo que o objetivo está claro, o objetivo é evidente. Alguém poderia pensar mais além e dizer que este ataque foi um golpe preparatório que seria seguido, horas depois, por uma ampla operação militar.

Isso é questionável, mas pelo menos o que se pode confirmar, e isto foi o que nos comunicaram, e também o que foi informado às autoridades oficiais no Líbano, é que o objetivo deste ataque era esse, e, de alguma maneira, houve uma reivindicação israelense do que ocorreu com o objetivo de dobrar a Resistência, fazer com que se renda, que detenha suas ações, que se retire desta batalha.

E, claro, há alguns países ocidentais que estão dispostos a oferecer-nos uma saída, uma espécie de acerto no Conselho de Segurança, dizendo que se aplique a Resolução 1701, e assim pararíamos o conflito, deixando Gaza, seu povo, sua resistência, a Cisjordânia, a Palestina e toda a luta a seu destino.

Assim, tudo o que sacrificamos, todos os mártires, os esforços e os enfrentamentos duros e sangrentos deste ano teriam sido em vão; e não podemos permitir-nos fazer isso.

Então, o objetivo deste ataque, no contexto em que se deu, tanto terça como quarta-feira, era separar as duas frentes e deter a frente libanesa.

A resposta vem dos mártires, em nome das famílias dos mártires, dos feridos nos hospitais, daqueles que perderam seus olhos e suas mãos, de todas as pessoas que resistiram com paciência, lealdade e firmeza, aqueles que assumiram a responsabilidade de cumprir este dever ético, humano e religioso de apoiar Gaza, que está sendo submetida a um genocídio, assassinatos em massa, fome, sede, doença e assédio.

Dizemos a Netanyahu e a Gallant, que iam destituir, mas que parece que vai ficar, dizemos ao governo inimigo, ao exército inimigo, à sociedade inimiga: a frente libanesa não se deterá antes de cessar a agressão contra Gaza.

Apesar de todos estes mártires, de todas estas feridas e de toda esta dor, disse e digo claramente: sejam quais forem os sacrifícios, sejam quais forem as consequências, sejam quais forem as possibilidades, seja qual for o horizonte para o qual se dirijam, a resistência no Líbano não deixará de apoiar e respaldar o povo de Gaza, o povo da Cisjordânia e os oprimidos nesta terra sagrada.

E esta é a primeira resposta. Esta é a primeira resposta: neutralizar os objetivos. O inimigo assassinou, feriu e exerceu sua brutalidade, mas, acaso logrou seu objetivo? Não logrou nenhum objetivo.

Hoje também quero assegurar-lhes que esta estrutura não se viu afetada nem abalada. Não balançou nem vacilou. De fato, lhes direi mais, graças a Deus Todo poderoso, ao esforço acumulado, à benção dos mártires e aos sacrifícios dos combatentes, feridos, líderes e quadros em todos os níveis desde 1982 até hoje, esta estrutura é de tal fortaleza, solidez, capacidade, equipamento e coesão que uma grande atrocidade deste tipo não pode desestabilizá-la.

Podem estar tranquilos. A todos os amigos e simpatizantes preocupados no mundo, o que é compreensível dado que o sucedido é enorme e significativo, quero assegurar-lhes de um lugar de conhecimento e de responsabilidade, e não de arrogância em absoluto.

Nossa estrutura, graças a Deus, é grande, forte, sólida e coesa; nossas capacidades são vastas e nossas preparações são altas. O inimigo deve saber que o sucedido não afetará nossa estrutura, nossa vontade, nossa determinação, nossa coesão, nossa capacidade, nosso sistema de comando e controle, nem nossa preparação e presença nas frentes.

O objetivo era separar as frentes, e isso não acontecerá. Se o objetivo era desestabilizar o entorno, não poderão lográ-lo. Até agora alguns israelenses reconheceram que, ainda que tenham um alto nível de inteligência tecnológica, o que fizeram revelou ao mundo que são extremamente torpes; não são capazes de alcançar seus objetivos.

Até o momento, o inimigo não compreende a profundidade moral, cultural e espiritual deste entorno, desta Resistência e desta gente, assim como o nível nacional e a estrutura da Resistência.

O último segmento é uma continuação. Nas últimas semanas, começou-se a falar do norte, da transferência de peso para o norte, da frente norte, da guerra no norte e da pressão.

Claro, os discursos variam: alguns falam de um aumento na intensidade militar, outros de uma guerra quase completa, alguns de dias de combate, e outros exageram e falam de uma guerra total.

Não quero entrar em uma análise detalhada deste tema, já que o tempo dirá, e na realidade não é necessário. Os dias revelarão estas verdades.

Mas tudo o que se está dizendo sobre o norte tem um objetivo. Quanto a nós, o mais importante é o objetivo: neutralizar e derrotar o inimigo impedindo que logre seu objetivo. Esta é a essência da batalha da resistência e da resistência popular ao longo da história.

Então, qual é o objetivo que o governo inimigo declarou e com base no qual autorizou Netanyahu para a frente norte? O objetivo é devolver os colonos ao norte de maneira segura. Este é o objetivo.

Além disso, acrescentaram um quarto objetivo aos três que já tinham declarado e que estavam relacionados com Gaza: o de devolver aos colonos ocupantes da Palestina o norte da Palestina ocupada, a zona fronteiriça com o sul do Líbano.

Podes lograr este objetivo? Tu, Netanyahu, isto é, ontem ele estava um pouco exaltado. Bem, tu e todo o teu exército, teu governo e tua entidade, este é um desafio.

Nós o aceitamos desde 8 de outubro, e hoje também aceitamos este desafio. E digo a Netanyahu, a Gallant, ao “exército” inimigo e à entidade inimiga: não poderão devolver aos habitantes do norte o norte, nem aos colonos ocupantes as colônias no norte. Façam o que fizerem, não poderão.

O único caminho, como dissemos desde 8 de outubro e agora, a ponto de concluir o ano (da guerra), reiteramos, é deter a agressão e a guerra contra o povo de Gaza e a Faixa de Gaza, e por extensão, contra a Cisjordânia. Este é o único caminho. Não há outro.

Nem o aumento da escalada militar, nem os assassinatos, nem as execuções, nem uma guerra total poderão levar os colonos de volta à fronteira, jamais, se Deus quiser.

Pelo contrário, o que empreenderão só aumentará o deslocamento dos colonos no norte e afastará a possibilidade de um retorno seguro para eles.

Este torpe, o comandante da região norte, sugere criar uma faixa de segurança dentro do território libanês. Primeiro, desejamos que entrem em nosso solo libanês; desejamos isso.

Sabem por que? Porque na fronteira, em suas posições fortificadas, os tanques mal se movem. De modo que, uma oportunidade histórica que esperamos, porque sem dúvida terá grandes repercussões nesta batalha.

Acaso acreditas que se entras e estabeleces uma faixa de segurança, a resistência se concentrará unicamente nessa faixa e se dedicará exclusivamente a combater nela?

Não. Se entrarem na faixa de segurança, a resistência continuará atacando os sítios militares, as bases militares, os centros militares, assim como os assentamentos, em resposta aos ataques contra os civis no norte da Palestina ocupada. Esta faixa de segurança se expandirá e se tornará um lodaçal, uma armadilha, uma emboscada, um abismo e um inferno para teu exército.

Bem vindos se desejam vir a nosso solo. Encontrarão diante de vocês centenas daqueles que ficaram feridos na terça e na quarta-feira. Estes, hoje mais decididos do que nunca, estão comprometidos a seguir resistindo, combatendo e desgastando teu exército.

Não há dúvida de que a agressão que se levou a cabo é uma agressão significativa. Como mencionei no contexto de meu discurso, é sem precedentes. Será respondida com um severo ajuste de contas e com uma justa represália, tanto nos lugares onde se espera como nos inesperados.

No entanto, dado que esta nova batalha tem aspectos ocultos, permitam-me hoje mudar o enfoque. Não falarei sobre o tempo, a forma, o lugar nem o momento. Deixem o tema e a notícia para o que verão e ouvirão. Este ajuste de contas virá, e sua natureza, magnitude, forma ou lugar, definitivamente manteremos reservados, no círculo mais restrito possível, porque estamos na fase mais precisa, sensível, profunda e importante.

Estejam todos seguros de que o desenlace desta batalha será uma vitória histórica e divina. Netanyahu, Gallant, Ben-Gvir e Smotrich estão levando sua entidade para o abismo, para a ruína, segundo seus próprios termos. Esta direção torpe, imprudente, egoísta, narcisista e descontrolada levará sua entidade a uma fossa profunda.

  • Discurso de Hassan Nasrallah tomado de Cuba en Resumen.
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Até que seja publicado o decreto presidencial com a versão atualizada dos Fundamentos da política do Estado em matéria de dissuasão atômica, documento que se costuma chamar de Doutrina Nuclear da Rússia e que deve estar de acordo com a Estratégia de Segurança Nacional e a Doutrina Militar, não será possível saber até que ponto os “ajustes” anunciados na última quarta-feira (25) pelo chefe do Kremlin, Vladimir Putin, de fato modificam a atitude russa para o eventual uso de seu arsenal.

Por enquanto, em sua breve intervenção, vale mencionar que Putin em nenhum momento fez afirmações categóricas no sentido de que a Rússia usaria imediatamente suas armas nucleares se qualquer uma das circunstâncias mencionadas na quarta se concretizasse. Ele deixou entrever que não exclui recorrer ao seu arsenal atômico, o que por ora deixa mais perguntas do que respostas.

Questionado pelos repórteres, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, esclareceu na quinta-feira (26) que a doutrina nuclear continua em vigor: “Agora foram formulados ajustes em um documento. Peço que escutem com atenção: são os fundamentos da política do Estado em matéria de dissuasão atômica. Trata-se de um documento que, junto com outros que chamamos extraoficialmente de doutrina nuclear, determina nossa conduta nessa área. E ontem (quarta-feira) o presidente mencionou os principais ajustes”.

Perguntado sobre quando se prevê que esses ajustes entrarão em vigor ou se a versão atualizada da Doutrina Nuclear da Rússia será publicada, Peskov respondeu: “Neste momento, não sei”.

O porta-voz sublinhou que a necessidade de ajustar o documento é “um aviso aos países hostis (Estados Unidos e seus aliados da aliança norte-atlântica) sobre as consequências de sua participação em um ataque contra nosso país por diferentes meios, não obrigatoriamente nucleares”, em alusão à possível autorização que se debate neste momento sobre o uso de mísseis de longo alcance em território russo.

Para Peskov, as mudanças se devem, entre outras razões, “à confrontação sem precedentes” provocada pela participação direta do Ocidente, incluindo potências nucleares, no conflito da Ucrânia.

Analistas comentam estratégia nuclear da Rússia

Alguns analistas militares — Yuri Fiodorov e Serguei Auslender, por exemplo — se perguntam até que ponto o Kremlin está disposto a atacar uma potência nuclear, o que inevitavelmente teria uma resposta igualmente devastadora.

Eles assinalam que a Rússia lança sua advertência sem detalhar o que considera um “ataque massivo” ou quando uma “ameaça crítica” à sua soberania seria criada. Também apontam que é preciso compreender o que o chefe do Executivo russo quis dizer quando enfatizou que, “tendo informações confiáveis” de que um ataque nuclear contra a Rússia foi iniciado, começaria um contra-ataque em questão de minutos.

Já para o analista Anatoly Nesmiyan, as declarações de Putin teriam relação com o recente teste do míssil balístico intercontinental Sarmat. Ele explica que, apresentado em 2018 como a futura arma mais poderosa do arsenal russo, com 10 ogivas nucleares capazes de destruir o mesmo número de cidades do inimigo, apenas um teste foi bem-sucedido, em abril de 2022, e, no entanto, sete meses depois, sua produção em série começou. “A reunião sobre a Doutrina Militar foi uma espécie de operação para encobrir” essa questão, que “debilitou o argumento sobre a permissão ocidental de empregar seus mísseis de longo alcance contra nosso território”, sugere.

O magnata Konstantin Malofeyev, um dos principais patrocinadores da Igreja Ortodoxa Russa, publicou em suas redes sociais: “A maioria russa apoiará o comandante-chefe (Putin) nessa difícil decisão e daremos 48 horas à população civil para abandonar o local que será devastado por nossa arma nuclear tática. E por fim será desferido um golpe devastador e vitorioso contra a Ucrânia ocidental(…) para que nos próximos 30 anos cresçam nesse terreno de russofobia e terroristas apenas plantas radioativas”.

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O octogenário presidente estadunidense Joe Biden levou quase um ano para dizer que deve-se evitar uma guerra total no Oriente Médio, depois de vários dias de brutais ataques israelenses contra o Líbano, a Síria e o Iêmen, e quase um ano depois que Israel lançou uma operação de extermínio contra a população palestina de Gaza.

Tudo isso deixa dolorosamente claro que Israel está decidido a levar a barbárie até suas últimas consequências, inclusive a uma guerra total com um potencial arrasador de destruição material e humana, com o apoio de Washington e disso que chamam de Ocidente. E parece também indubitável que ninguém o deterá.

Nos últimos dias, Israel lançou sua campanha de extermínio contra lideranças de governos e grupos islâmicos que apoiam o povo palestino em sua tentativa de sobreviver ao genocídio. Em um bombardeio que deixou danos em 30 km ao redor de Beirute, suas forças armadas assassinaram Hassan Nasrallah, secretário-geral do partido-grupo chiita libanês Hezbollah. No mesmo ataque morreram outros comandantes deste grupo, assim como um general da Guarda Revolucionária do Irã.

Netanyahu ordenou a carnificina justo antes de dirigir-se à Assembleia Geral da ONU, onde mostrou sua arrogância e a lógica fascista que guia seus atos. Disse que não se deterá diante de nada para consumar seus objetivos de dominação e advertiu o mundo de que não há lugar que os recursos militares israelenses não possam alcançar.

Nenhum líder ocidental abandonou a sala enquanto Netanyahu se jactava de que assassina e seguirá assassinando quem quiser. Washington, a União Europeia, seus aliados e satélites, aplaudem o delírio bélico de Israel, como fez o presidente Joe Biden ao declarar que o assassinato de Nasrallah foi um ato de justiça.

Netanyahu voltou a comprovar que tem luz verde dos “faróis da democracia e dos direitos humanos” do Ocidente para massacrar milhares de crianças com mísseis, balas, tanques e a cruel morte por fome.

Desde que iniciou a destruição de Gaza, morreram 52 israelenses em mãos do Hezbollah e mais de 1.500 libaneses em mãos de Tel Aviv. Em um só dia, 23 de setembro, Israel massacrou dez vezes mais pessoas das que perderam em 12 meses, além das décadas de bombardeios arbitrários e crimes de guerra atrozes como sua participação nos atos genocidas de Sabra e Shatila.

Embora ambos os lados estejam armados, a pavorosa desproporção entre seu poder de fogo e o número de baixas torna impossível caracterizar como uma guerra o que é um massacre.

O nazisionismo apoiado por Biden Cada dia parecem mais alucinantes as semelhanças entre a Alemanha nazista e o governo de Israel. Seus cidadãos são doutrinados desde a primeira infância no ódio racial e na desumanização do povo que decidiram exterminar; mantêm milhões de pessoas em campos de concentração que depois convertem em centros de extermínio, impõem castigos coletivos, disparam deliberadamente contra civis inermes, ignoram de maneira flagrante a soberania de outros países.

E, assim como a Alemanha nazista em seu caminho para a barbárie, Israel conta com a cumplicidade do Ocidente. Ninguém espera que os Estados Unidos deem passos para o restabelecimento da paz: a declaração é preparatória para seu próximo encontro com o genocida Netanyahu, chefe do regime nazisionista israelense, depois que o governo de Washington apoiou o assassinato de alguns dos mais altos dirigentes do grupo chiita libanês Hezbollah mediante bombardeios da força aérea israelense.

Biden não parece preocupado pelo fato de o Líbano ter alcançado em poucos dias cerca de um milhão de deslocados internos pelos intensos bombardeios israelenses, no que o primeiro-ministro Najib Mikati considerou “a maior” onda de deslocamentos na história do pequeno país mediterrâneo.

Os Estados Unidos foram o principal instigador histórico – e muitas vezes perpetrador direto – das guerras no Oriente Médio, para sustentar com todos os recursos bélicos, econômicos, políticos e diplomáticos, as atrocidades que as forças de Israel cometem na região, começando pelo genocídio em curso da população de Gaza.

Israel já assassinou mais de 40 mil palestinos na Faixa de Gaza, onde centenas de milhares foram feridos. Mais de dois terços dos habitantes de Gaza se viram submetidos a deslocamento forçado e os desaparecidos somam dezenas de milhares. Estes graves crimes de lesa humanidade foram cometidos, em sua maioria, com aeronaves, munições e tecnologia facilitada pelo governo de Washington.

Os Estados Unidos são o principal suporte militar de Tel Aviv, com dezenas de bilhões de dólares em assistência, além do manto protetor do veto de Washington no Conselho de Segurança das Nações Unidas para impedir qualquer resolução destinada a deter ou atenuar o sofrimento dos habitantes de Gaza.

O britânico George Orwell, em seu assustador 1984, imaginou um regime totalitário que tinha como método de controle o duplo discurso e o duplo pensar, aplicados pelo Ministério da Verdade para manipular e desinformar a sociedade mediante mensagens que afirmavam exatamente o contrário da verdade: daí o adjetivo orwelliano para designar o duplo discurso que inverte de maneira deliberada o significado da linguagem.

As expressões de Biden são hipócritas e cínicas, e por demais orwellianas: manipulam a verdade e a realidade sobre um regime nazisionista com o propósito de continuar e acentuar o massacre em Gaza, na Cisjordânia ocupada e no Líbano, além de estender as hostilidades para o Irã e o Iêmen.

A tentativa de Biden de mostrar uma vontade fictícia de impulsionar a paz quando vem apoiando com toda sorte de recursos a desorbitada violência genocida de Israel mostra que a mentalidade orwelliana está presente tanto no partido Democrata como no Republicano estadunidenses.

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Todos os grandes meios de comunicação ocidentais, controlados pelo aparelho de desinformação e propaganda de Washington, estão realizando uma enorme cobertura jornalística (ou melhor, “jornalística”) das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

O país é retratado como um bastião da democracia e da livre escolha dos cidadãos. No entanto, esse paraíso está sendo ameaçado por um dos concorrentes, que seria uma aberração e uma anomalia do sistema norte-americano.

Logo, as duas tentativas de assassinato contra tal candidato são justificadas pelo clima tenso e pela polarização incentivada por ele. Ao mesmo tempo, ele – Donald Trump – tem usado essas ocorrências como arma propagandística contra seus rivais, apresentando-se como vítima de um regime controlado pelo Partido Democrata que acabou com o sonho americano.

Os dois lados têm utilizado todas as ferramentas de última geração para colher as mínimas vantagens sobre os adversários. A mais utilizada é a propagação de fake news. Mas Kamala Harris e os democratas têm sido blindados da maioria das denúncias pela imprensa que é ligada a eles.

De fato, Trump, apesar de ser um absoluto demagogo, tem razão ao indicar que os EUA vivem uma espécie de regime ditatorial. Só que isso não se deve exatamente aos democratas e não é algo novo. Os EUA sempre foram uma ditadura, ao menos desde que se tornaram uma potência capitalista.

Em duas ocasiões apenas a panelinha bipartidária não conseguiu fazer dobradinha no resultado final das presidenciais. E isso já faz muito tempo. Muito tempo mesmo: em 1860 e em 1912. Como apresentado em outro artigo, ao menos metade dos estadunidenses gostaria de ter um terceiro partido minimamente competitivo, porque os outros são mera fachada para encobrir o sistema bipartidário claramente antidemocrático.

O sistema funciona basicamente assim: os grandes banqueiros e industriais se reúnem para decidir quem deverá representar seus interesses no Salão Oval da Casa Branca. Como os interesses não são exatamente os mesmos – alguns querem mais dinheiro para seus negócios do que para os dos outros –, e como é preciso fingir diante de uma população de mais de 300 milhões de pessoas que esses cidadãos também têm algum direito, então dois candidatos são escolhidos para a disputa.

Nos últimos anos, Donald Trump – um desses grandes empresários – conseguiu angariar apoio em um setor da burguesia para ser um desses dois candidatos. Como ele fala umas groselhas que muita gente gosta de ouvir (e que têm sentido para muita gente falida em todos os sentidos), isso incomoda os empresários mais poderosos.

A elite dos capitalistas dos Estados Unidos prefere Harris a Trump. O aparato que controla a política e o Estado americano é formado basicamente pelos setores de finanças, indústria bélica e tecnologia de ponta. Uma olhada no financiamento das duas campanhas demonstra que a balança ainda pesa para a candidatura democrata.

O dinheiro investido, tanto de forma oficial quanto por debaixo do pano, é quem decide quem será eleito. O eleitor só vai na onda. O monopólio dos grandes meios de comunicação noticia apenas as candidaturas democrata e republicana – como os eleitores irão conhecer os outros candidatos, para votar neles? As redes sociais controlam as discussões e os conteúdos a serem vistos – o Google é o maior financiador da campanha de Harris; Apple, Oracle, Amazon e Facebook também investem pesado na democrata, enquanto Microsoft também deposita uma grana em Trump.

Não há espaço para nada diferente.

O único espaço seriam as ruas. Mas lá a ditadura é ainda mais brutal. Milhares de ativistas têm sido detidos nos últimos meses por realizarem protestos políticos. A principal área de atuação política dos Estados Unidos, como um verdadeiro império global, é a política internacional. E muito das discussões entre os dois candidatos têm sido sobre isso. Nas ruas, o povo também tenta entrar nas discussões – já que nas redes canais, páginas e perfis tanto de indivíduos como de organizações e mesmo de veículos de imprensa têm sido excluídos. Mas os estudantes de dezenas de universidades estão sendo agredidos e detidos pela polícia por se oporem ao genocídio que as armas e o dinheiro dos EUA facilitam em Gaza.

Essa repressão nas ruas – exercida em pleno mandato dos democratas – é aplaudida por Trump e os republicanos. Mas Trump que se cuide, pois as duas tentativas de assassinato que sofreu foram executadas por pessoas que não estão gostando das palavras alegadamente pacifistas do candidato a respeito da guerra na Ucrânia.

Aliás, quem não defende a guerra dos EUA e da OTAN na Ucrânia contra a Rússia tem sido alvo preferencial da censura nestas eleições. Vários renomados funcionários e comentaristas políticos têm sido coagidos pela polícia e pelo FBI devido a suas posições políticas, como foram os casos de Scott Ritter, Dan Kovalik e Dimitri K. Simes. Ou então do historiador judeu Ilan Pappé, interrogado ao chegar nos EUA devido à sua opinião crítica sobre Israel.

Nestas eleições, imposição de candidatos, controle da opinião pública e ampla repressão contra dissidentes têm sido elementos essenciais da festa da democracia nos Estados Unidos.

Esse é o país que quer dar lição de democracia ao resto do mundo.

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As primeiras projeções divulgadas na noite deste domingo (29/09) apontam para a vitória do Partido da liberdade (FPÖ), de extrema direita, na eleição legislativa na Áustria. No entanto, apesar do resultado, a legenda dependerá da formação de uma coalizão se quiser integrar o governo. O projeto encontra resistência em razão da personalidade do líder do FPÖ.

Segundo as projeções publicadas após o final da votação, o FPÖ, liderado pelo controverso Herbert Kickl, deve conquistar 29,1% dos votos, o que representa 13 pontos a mais que nas eleições de 2019. O conservador Partido popular austríaco (ÖVP), do atual chanceler Karl Nehammer, deve alcançar 26,2% dos votos, seguido do Partido social-democrata (SPÖ), de centro esquerda, com 20,4%.

Em um contexto de ascensão dos partidos radicais na Europa, a legenda fundada por antigos nazistas registra resultados melhores do que apontavam as pesquisas.

O FPÖ foi criado a partir da Federação dos Independentes, formação fundada após a Segunda Guerra Mundial por ex-nazistas. O primeiro líder do partido (1956-1958) foi Anton Reinthaller, um ex-general da SS.

Manifestações

Logo após o anúncio dos resultados parciais, manifestantes se reuniram diante do Parlamento austríaco com cartazes e faixas contra a extrema direita.

Se os números se confirmarem, o partido de extrema direita sai do pleito em posição de força para formar uma coalizão pela primeira vez na Áustria desde a Segunda Guerra Mundial. Mas para isso a legenda terá que encontrar um parceiro.

A aliança mais provável seria entre o FPÖ e o ÖVP, sendo os conservadores do governo os únicos que se mostraram abertos a um acordo com a extrema direita. Os dois partidos compartilham posições comuns sobre regras de imigração mais rígidas e cortes de impostos. No entanto, o radicalismo de Herbert Kickl pode ser um obstáculo.

Kickl, que assumiu a direção da legenda de extrema direita em 2021, conseguiu reestabelecer a imagem do partido, arranhada após um escândalo de corrupção envolvendo seu antigo chefe e então vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, em 2019, graças a uma postura radical, tanto no conteúdo quanto na forma.

Ele usa termos que são referências veladas à linguagem nacional-socialista, assume posições pró-russas, defende posições cada vez mais extremas sobre a imigração e pede uma “orbanização da Áustria”, em alusão ao líder húngaro Viktor Orbán. O chefe da extrema direita, que ficou conhecido do grande público ao se tornar o porta-voz do movimento antivacina durante a pandemia de covid-19, repete constantemente o seu desejo de ter uma “Áustria fortaleza”.

Mas o radicalismo que fez Kickl ganhar fama pode impedi-lo de se tornar chanceler. Karl Nehammer, líder dos conservadores, o partido que poderia unir forças com o FPÖ para governar, não exclui totalmente negociar com o FPÖ, mas já disse que recusa qualquer tipo de diálogo com Herbert Kickl.

Alexander Van der Bellen, o atual presidente austríaco e ex-líder dos Verdes, também expressou suas reservas em relação ao FPÖ e, em particular, seu líder. O chefe de Estado já avisou que não é obrigado a entrar em um acordo. “É uma prática estabelecida, mas, até onde eu sei, não está na Constituição”, disse ele no ano passado.

O FPÖ integrou o Executivo pela primeira vez em 2000, o que gerou protestos no país e sanções da União Europeia.

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A última usina de carvão do Reino Unido fecha as portas oficialmente nesta segunda-feira (30/09), encerrando o uso do combustível em sua produção de eletricidade.

A usina localizada em Ratcliffe-on-Soar, entre Derby e Nottingham, deve ser completamente desmontada “até o final da década”, segundo a empresa alemã de energia Uniper, proprietária do local. Ela será transformada em um “centro de tecnologia e energia livre de carbono”.

Capaz de fornecer eletricidade para dois milhões de residências, a usina recebeu uma remessa final de carvão de 1.650 toneladas no início do verão, o suficiente para abastecer 500.000 residências por oito horas.

O fechamento do local, inaugurado em 1967, é um passo simbólico para Londres, que pretende descarbonizar totalmente sua eletricidade até 2030 e, em seguida, alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

O Reino Unido torna-se, assim, o primeiro país do G7 a abolir oficialmente esse tipo de combustível. A Itália fixou como meta 2025, a França 2027, o Canadá 2030 e a Alemanha 2038. Japão e Estados Unidos não definiram uma data específica.

O fechamento “marca o fim de uma era”, mas também promoverá a criação de empregos no setor de energia, escreveu em um comunicado o governo britânico, que lançou um plano de energia verde neste verão.

“O resto do mundo deve seguir o exemplo”

O carvão foi um dos principais ingredientes do desenvolvimento econômico do Reino Unido entre o século 19 e a década de 1990. Esse tipo de energia, extremamente poluente, representava quase 70% da eletricidade do país na década de 1980, mas caiu para 38% em 2013, 5% em 2018 e 1% no ano passado.

Os britânicos compensaram com gás natural, um combustível fóssil apresentado como menos poluente e usado desde 2023 para produzir um terço da eletricidade. Cerca de um quarto vem da energia eólica. A energia nuclear é responsável por 13% do fornecimento.

O Reino Unido implementou regulamentações rígidas a partir da década de 1990, devido à poluição. O fim da economia manufatureira também reduziu a importância do carvão.

“O lugar (do carvão) está agora nos livros de história”, disse Tony Bosworth, da ONG Friends of the Earth. “A prioridade agora é desenvolver o enorme potencial de energia renovável do Reino Unido o mais rápido possível.”

“A Grã-Bretanha deu um exemplo para o resto do mundo”, disse Doug Parr, do Greenpeace Reino Unido. Como parte de seu plano de energia verde, Londres pretende criar uma empresa pública, a Great British Energy, com sede em Aberdeen, no leste da Escócia, para investir em turbinas eólicas flutuantes, energia das marés ou energia nuclear.

Na mesma linha, o governo nacionalizou recentemente a operadora britânica de rede elétrica ESO, responsável por regular o equilíbrio entre oferta e demanda de eletricidade, por £ 630 milhões (€ 746 milhões), para conectar novos projetos sustentáveis de maneira mais eficiente.

A primeira usina a carvão do mundo, criada por Thomas Edison, foi inaugurada no centro de Londres em 1882.

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Após o resultado das eleições austríacas no último domingo (29/09), que consolidou o avanço do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), protestos contra uma coalizão de extrema-direita foram marcados para a próxima quinta-feira (03/10), em Viena.

A manifestação está prevista para às 18h, em frente ao parlamento. O movimento responsável, que já reuniu milhares de pessoas no passado, volta à cena política sob o lema “Es ist wieder Donnerstag” (É quinta-feira novamente!) em uma tentativa de frear a ascensão do FPÖ ao governo.

“Estamos lutando por um mundo de solidariedade, uma sociedade que olha para frente e não volta para o último milênio em passos largos”, declararam os organizadores do protesto. A postagem no Instagram convocando a população para os atos já foi visualizada mais de 600 mil vezes até agora, segundo o jornal austríaco Die Presse.

As manifestações, conhecidas como “Donnerstagsdemos“, ou manifestações de quinta-feira, têm um histórico significativo na Áustria. O movimento teve início há quase 25 anos, em 2000, quando 150 mil pessoas protestaram na Heldenplatz contra a primeira coalizão entre o Partido Popular Austríaco (ÖVP) e o FPÖ.

Os protestos também foram retomados em 2018, quando a coalizão entre os dois partidos foi refeita sob a liderança de Sebastian Kurz, do ÖVP, e Heinz-Christian Strache, do FPÖ.

ÖVP busca manter relevância em meio ao avanço do FPÖ

Liderado pelo atual chanceler Karl Nehammer, o ÖVP comemorou seu desempenho no último domingo, apesar de ter alcançado apenas 26,5% dos votos – mesmo não sendo o vencedor, a celebração, ainda segundo o Die Presse, parecia a de um partido vitorioso.

Partido vencedor, o FPÖ, liderado pelo controverso Herbert Kickl, conquistou 29,2% dos votos, enquanto os social-democratas de centro-esquerda ficaram em terceiro lugar, com 21%

Funcionários do partido, conforme o jornal, consideraram o resultado positivo, dado o contexto. “Eles simplesmente não esperavam que o Partido da Liberdade fosse tão forte”, disseram.

Caso o FPÖ forme uma coalizão, será a primeira vez que a extrema direita governará a Áustria desde a Segunda Guerra Mundial. “É preciso dar crédito a Herbert Kickl por isso”, reconheceram integrantes do ÖVP, atribuindo parte desse sucesso aos canais de conspiração na internet, como alguns encontrados no Telegram.

"Dilemas de coalizão no partido de Nehammer: SPÖ ou FPÖ?"

Agora, o ÖVP enfrenta um dilema: formar uma coalizão com o Partido Social-Democrata (SPÖ) ou com o FPÖ.

Embora as negociações pareçam, conforme o Die Presse, inclinadas ao SPÖ, o partido mantém cautela em relação ao “cartão azul” – uma referência à possibilidade de aliança com o FPÖ.

“Não devemos deixar de lado o cartão azul”, alertou um representante empresarial ligado ao ÖVP, enfatizando que o FPÖ ainda pode ser necessário, caso as negociações com o SPÖ fracassem.

A resistência a uma coalizão com o FPÖ se deve, em parte, às divergências ideológicas, especialmente em questões relacionadas à imigração: enquanto o ÖVP defende regras claras de migração e integração, o FPÖ defende a perseguição de solicitantes de asilo.

As manifestações da quinta-feira buscam impedir a formação de uma nova coalizão entre o ÖVP e o FPÖ, e sinalizam uma resistência crescente às forças de extrema direita.

Com as negociações em curso, a possibilidade de uma coalizão entre o ÖVP e o SPÖ parece, segundo o veículo, a opção mais viável para garantir a posição de chanceler a Karl Nehammer, mas o “cartão azul” permanece na mesa como um recurso estratégico.

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O Tribunal Penal de Paris começou a julgar nesta segunda-feira (30/09) a líder de extrema direita Marine Le Pen, seu pai Jean-Marie Le Pen, o partido Reunião Nacional (RN) e 24 de seus integrantes. Todos são acusados de terem desviado verbas destinadas à bancada da sigla no Parlamento Europeu, entre 2004 e 2016, ao contratarem assistentes para trabalharem em assuntos do partido em vez de exercerem suas devidas funções na casa. A legislação europeia proíbe que auxiliares trabalhem para a sigla.

O julgamento deve durar até 27 de novembro, mas a sentença somente será publicada em 2025. Antes do início a audiência, a líder ultraconservadora declarou à imprensa local que não havia “desrespeitado nenhuma regra” e que estava “serena”.

Marine Le Pen passa a ser julgada por desvio de fundos públicos e cumplicidade. Por outro lado, o tribunal judicial não contará com a presença de seu pai, fundador da sigla, nas audiências em decorrência de sua idade avançada e “deterioração do estado de saúde”. Jean-Marie Le Pen tem 96 anos.

Entre os réus no processo também estão o atual vice-presidente do RN, Louis Alliot, o ex-número 2 da sigla Bruno Gollnisch, o deputado e porta-voz Julien Odoul, 12 assistentes parlamentares e quatro assalariados da sede do partido na região parisiense.

Investigações

As investigações começaram em 2015. Na ocasião, o Parlamento Europeu informou que havia encaminhado ao escritório antifraude da União Europeia possíveis irregularidades cometidas pelo partido Frente Nacional (como era chamado o atual RN) em relação a salários destinados a assistentes parlamentares.

Com as apurações, foi constatada a existência de empregos-fantasma na sede do partido na região parisiense, além de assistentes e seguranças com salários pagos com dinheiro do orçamento europeu. De acordo com o jornal Le Monde, “havia um esquema organizado a serviço das finanças do partido de extrema direita”. Para defender sua inocência, Marine Le Pen chegou a dizer que “todos fazem isso”.

No entanto, a líder de extrema direita acabou sendo indiciada em 2017 por “quebra de confiança” e “cumplicidade”, processos reclassificados como “desvio de fundos públicos”.

Os réus respondem a acusações de desvio de verba pública, encobrimento do crime e cumplicidade. O Parlamento Europeu estima os seus prejuízos financeiros em € 3 milhões (aproximadamente R$ 18,2 milhões), mas cobra o ressarcimento de € 2 milhões.

Embora nunca tenha admitido irregularidades, durante as investigações o partido de extrema direita já reembolsou € 1 milhão do dinheiro desviado dos cofres europeus.

Marine Le Pen corre o risco de ser condenada a dez anos de prisão, uma multa no valor de € 1 milhão (mais de R$ 6 milhões), e pode ficar inelegível por cinco anos. De acordo com o portal de notícias France Info, a perspectiva de uma condenação à prisão pode frustrar os planos políticos da deputada de concorrer à eleição presidencial em 2027. Já o jornal L’Humanité diz que “o futuro político de Marine Le Pen pode ser decidido dentro dos muros do tribunal criminal de Paris”, tratando-se de um “julgamento histórico”.

Vale lembrar que o RN também é alvo de uma investigação preliminar aberta em julho pelo Ministério Público de Paris sobre suspeita de irregularidades no financiamento da campanha presidencial de Marine Le Pen em 2022.

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O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva realizou encontros com a nova presidente do México, Claudia Sheinbaum, e Andrés Manuel López Obrador, que deixará oficialmente o cargo do Executivo nesta terça-feira (01/10).

A reunião ocorreu de forma separada, no âmbito da cerimônia de posse realizada no Palácio Legislativo San Lázaro, na Cidade do México.

“Comitiva brasileira ao lado da nova presidenta do México, Claudia Sheinbaum, desejando um ótimo trabalho e o fortalecimento das relações entre Brasil e México”, escreveu o mandatário por sua conta na plataforma Bluesky.

No encontro com López Obrador, participaram chefes de Estados de vários países, entre eles: Johnny Briceño, primeiro-ministro de Belize; Xiomara Castro, presidente de Honduras; Miguel Díaz-Canel, presidente da Cuba; Gustavo Petro, presidente da Colômbia; Gabriel Boric, presidente do Chile; e Bernardo Arévalo, presidente da Guatemala.

“Reunião com o amigo e presidente mexicano López Obrador no seu último dia de mandato. Além do Brasil, presidentes de Belize, Honduras, Cuba, Colômbia, Chile e Guatemala estiveram presentes. 🇧🇷🇲🇽”, declarou o presidente brasileiro.

Lula desembarcou no país no domingo (29/09) para acompanhar a posse de cerimônia. Na segunda-feira (30/10), participou do “Fórum Empresarial México-Brasil”, um encontro que contou com cerca de 400 empresários brasileiros e mexicanos, e discutiu-se a expansão do comércio e dos investimentos entre as nações.

De acordo com o Itamaraty, as relações comerciais entre Brasil e México superaram os US$ 14 bilhões (R$ 85 bilhões) durante os anos de 2020 a 2023. Ele retorna à Brasília logo depois da solenidade.

Sheinbaum, de 61 anos, ganhou as eleições presidenciais em junho com cerca de 60% dos votos. Ela se torna a primeira mulher eleita a ocupar o cargo do Executivo no México, e governará o país até 2026. Sheinbaum assume a cadeira de Andrés Manuel López Obrador, considerado um dos principais aliados do mandatário brasileiro no cenário internacional.

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O ex-primeiro-ministro da Holanda Mark Rutte foi oficializado nesta terça-feira (01/10) como novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em uma cerimônia na sede da entidade em Bruxelas.

O holandês expressou forte apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia e disse não estar preocupado com o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, se dizendo apto a colaborar com qualquer um dos candidatos.

Rutte, que substitui o norueguês Jens Stoltenberg, agradeceu a confiança dos 32 países que integram a aliança militar, após receber o apoio inicial dos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, mesmo tendo em seu histórico como premiê a marca de ter investido pouco em defesa durante seu mandato.

Sob Rutte, a OTAN deverá manter as mesmas prioridades que já vinha tendo, como promover o apoio à Ucrânia, pressionar os países-membros a gastarem mais com defesa e fazer com que os EUA continuem envolvidos com a segurança da Europa.

Desafios

Ele assume a aliança, fundada em 1949, em meio a temores de uma escalada das agressões russas na Ucrânia, após mais de dois anos de uma guerra. “Não é possível haver segurança duradoura na Europa sem uma Ucrânia forte e independente”, sublinhou Rutte, em pronunciamento ao Conselho do Atlântico Norte, o órgão responsável pelas tomadas de decisões na OTAN.

A guerra e a ameaça de revanchismo contra a OTAN por parte de Moscou renovaram o propósito da aliança estabelecido durante a Guerra Fria de atuar na proteção de seus Estados-membros.

Segundo analistas, uma das maiores tarefas do novo secretário-geral será convencer os Estados-membros a fornecerem mais soldados, armas e recursos, de modo a cumprir por completo os novos planos de defesa da aliança.

“Precisamos fazer mais em termos de nossa defesa coletiva e poder de dissuasão. Temos de investir mais, preencher as lacunas de nossas capacidades e tentar atingir todas as metas que a OTAN estabeleceu até aqui”, disse Rutte.

Dez anos de transformações

Os dez anos de Stoltenberg à frente da OTAN foram marcados por transformações na aliança militar, com a adesão dos quatro membros mais novos: Montenegro, Macedônia do Norte, Finlândia e Suécia, sendo que os dois últimos abandonaram uma longeva tradição de neutralidade após a invasão russa da Ucrânia.

A mediação de Stoltenberg das adesões das duas nações escandinavas, que enfrentaram forte resistência da Turquia, é considerada uma de suas grandes conquistas.

Em sua carta de despedida, o norueguês destacou entre seus maiores êxitos o envio de tropas da aliança para o Leste Europeu, o aumento da produção industrial em defesa e o fato de 23 Estados-membros dedicarem em 2024 ao menos 2% de seus Produtos Internos Brutos (PIBs) aos gastos com defesa, sendo que, em 2014, apenas três países cumpriam essa exigência.

Eleições nos EUA

Na cerimônia de posse nesta terça-feira, Rutte disse que não estava preocupado com as eleições presidenciais americanas, em novembro, e se disse capaz de trabalhar com qualquer um dos possíveis vencedores, no pleito disputado entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris.

“Conheço bem os dois candidatos”, disse o holandês. “Trabalhei com Trump durante quatro anos. Ele nos levou a gastar mais [em defesa]”, afirmou. “Atualmente, estamos em um nível de gastos muito mais alto do que quando ele assumiu [a Presidência dos EUA]”, observou Rutte. “Kamala Harris tem um histórico fantástico como vice-presidente. É uma líder altamente respeitada, portanto, estarei apto a trabalhar com ambos.”

O período em que Trump esteve à frente da presidência dos Estados Unidos (2017-2021) foi marcado por ataques e cobranças dos aliados europeus – especialmente a Alemanha – sobre o que ele considerava gastos insuficientes dos demais governos em defesa, além de questionamentos ao princípio de defesa coletiva no qual a entidade é fundamentada.

Rutte será o quarto holandês a ocupar o cargo de secretário-geral da OTAN, depois de Dirk Tikker (1957-1963), Joseph Luns (1971-1984) e Jaap de Hoop Scheffer (2004-2009).

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Nesta terça-feira (01/10), o México realizará sua cerimônia de transição presidencial, que marcará o fim do período de Andrés Manuel López Obrador e o início do mandato de Claudia Sheinbaum, primeira mulher que exercerá o cargo de presidente do país.

Obrador conclui seu “sexênio” – como os mexicanos chamam o período presidencial no país, que dura seis anos – com recorde de aprovação, segundo as diferentes pesquisas que foram publicadas nos últimos dias.

Segundo a consultora Oraculus, o líder do partido Movimento de Regeneração Nacional (Morena) termina seu governo com 74% de aprovação da cidadania. O número é significativamente superior ao do segundo colocado, Ernesto Zedillo (1994-2000), que teve 67% de aceitação ao final do seu período.

Mesmo em meios tradicionalmente desfavoráveis ao seu governo, a imagem positiva do governo de Obrador é evidente. Na pesquisa publicada nesta segunda-feira (30/09) pelo ultraconservador diário El Financiero, o fundador do Morena aparece com 68% de imagem positiva. Desta vez, o número é inferior ao de Zedillo, que terminou seu mandato com 69% de aprovação nessa pesquisa.

Vale recordar, porém, que o mandato de Zedillo é um dos mais polêmicos da história do México, devido aos muitos casos de corrupção envolvendo o governo, que terminou com uma contradição, já que a alta aprovação do presidente nas pesquisas se chocam com o fato de que ele não conseguiu eleger seu sucessor, Francisco Labastida, derrotado por Vicente Fox (2000-2006), da sigla de extrema direita Partido da Ação Nacional (PAN), e pior, essa derrota marcou o fim do período de 71 anos no poder do Partido Revolucionário Institucional (PRI), de centro-direita.

Vale recordar, porém, que o mandato de Zedillo é um dos mais polêmicos da história do México, devido aos muitos casos de corrupção envolvendo o governo, que terminou com uma contradição, já que a alta aprovação do presidente nas pesquisas se chocam com o fato de que ele não conseguiu eleger seu sucessor, Francisco Labastida, derrotado por Vicente Fox (2000-2006), da sigla de extrema direita Partido da Ação Nacional (PAN), e pior, essa derrota marcou o fim do período de 71 anos no poder do Partido Revolucionário Institucional (PRI), de centro-direita.

‘Consciência tranquila’

Em sua última coletiva antes de deixar o poder, na manhã desta terça-feira, Obrador disse que deixa o cargo “com a consciência tranquila”.

“Missão cumprida! Creio que conseguimos concluir neste período menos do que nós gostaríamos, mas muito mais do que as pessoas esperavam de nós, e tenho certeza que este projeto não termina aqui, vai seguir, essa é a minha maior satisfação”, frisou o mandatário.

Durante a sua última “manhanera”, como ficaram conhecidas suas tradicionais coletivas realizadas em quase todas as manhãs – com transmissão nas redes sociais, onde costuma registrar altos índices audiência –, Obrador evitou falar da polêmica pela ausência de representantes da Espanha na cerimônia de transição. Em vez disso, enfatizou a presença de sete presidentes da América Latina, entre eles o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

“Me reuni com os presidentes Bernardo Arévalo (Guatemala), John Briceño (Belize), Xiomara Castro (Honduras), Díaz-Canel (Cuba), Gustavo Petro (Colômbia), Lula da Silva (Brasil) e Gabriel Boric (Chile). Agradeci a eles pela solidariedade com o México, seu povo e seu governo, e pela promessa de manter os laços de união conosco no novo governo que se inicia”, comentou.

Sobre o mandato da futura presidente Claudia Sheinbaum, Obrador afirmou que não pretende fazer comentários a respeito do novo governo.

“A minha opinião só importa até hoje, enquanto ainda sou presidente. O que acontecerá a partir de amanhã é responsabilidade da doutora Claudia (Sheinbaum), que recebeu quase 36 milhões de votos (59,8% dos votos válidos), portanto ela tem o respaldo das pessoas e para conduzir o país e este projeto que iniciamos em 2018”, afirmou, em uma de suas últimas frases como presidente do México.

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Nesta terça-feira (01/10), a China celebrou os 75 anos do triunfo da revolução socialista. Nos últimos dias, festejos aconteceram em diversas partes do país, incluindo as Regiões Administrativas Especiais de Macau e Hong Kong.

Na manhã desta terça, foi feito um hasteamento da bandeira especial na Praça Tiananmen. A cerimônia ocorre todos os dias desde o 1° de outubro de 1949, quando Mao Zedong apertou um botão e a bandeira da República Popular da China foi hasteada pela primeira vez no país de forma automática. O filme Meu Povo, Meu País ( lançado em 2019, para comemorar o 70º aniversário do estabelecimento da RPC), mostra a história do engenheiro que construiu o mecanismo para automatizar o hasteamento.

No dia primeiro de outubro de 1949, foi realizada em Pequim a primeira reunião do Comitê Central do Governo Popular. Às três da tarde desse dia, o líder Mao Zedong anunciava diante de 300 mil pessoas na Praça Tiananmen, em Pequim, a fundação da República Popular da China (RPC).

Desde esse momento a China mudou muito, apesar de continuar sendo um país em desenvolvimento. Em 2020, a China anunciou a erradicação da extrema pobreza no país e afirmou que desde o processo de Reforma e Abertura, em 1978, o país tirou 850 milhões de pessoas da pobreza.

De toda a redução da extrema pobreza feita durante esse período no mundo, a China foi responsável por 75%, segundo dados do Banco Mundial.

Esse último processo fez parte da chamada primeira meta centenária. Desde 1997, sob a liderança de Jiang Zemin, foram estabelecidas as duas metas centenárias: a primeira se referia ao centenário do Partido Comunista da China (1921-2021); o objetivo para esse momento era a de construir uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos.

A segunda meta tem a ver com o centenário da RPC (1949-2049). O objetivo neste caso é que a China tenha se tornado um “país socialista moderno próspero, forte, democrático, culturalmente avançado e harmonioso”.

O que disse Xi Jinping

O presidente chinês deu dois discursos nos marcos das comemorações, um durante a cerimônia de entrega das medalhas nacionais e títulos honorários da República Popular da China, onde a presidenta Dilma Rousseff se tornou a primeira brasileira a obter a honraria. O outro foi na chamada recepção comemorativa do 75º aniversário da fundação da RPC, que contou com a participação de centenas de pessoas de todo o país, além de convidados dos corpos diplomáticos, no Grande Salão do Povo em Pequim. O Brasil de Fato esteve presente em ambos.

No primeiro Xi Jinping homenageou os heróis do país e conclamou o país a “atender às novas exigências do desenvolvimento dos tempos, aprender novos conhecimentos, dominar novas habilidades, amar e se concentrar no que faz, ser dedicado e diligente e se esforçar para se tornar um especialista”.

Além de heróis militares, os reconhecimentos foram concedidos para pessoas destacadas em suas profissões, como o economista Zhang Zhuoyuan, com o título de Contribuidor Destacado em Pesquisa Econômica, a atriz Tian Hua, com o título Artista do Povo, e Lu Shengmei que recebeu o título de Trabalhadora da Saúde Popular.

O reconhecimento de Shengmei, por exemplo, foi por seu “compromisso de longa data de melhorar a assistência médica em regiões menos desenvolvidas” e “por ter liderado esforços para promover práticas de parto mais seguras e reduzir a mortalidade infantil” em sua região.

Xi Jinping finalizou seu discurso chamando o país a criar uma “nova história” e no final agradeceu a presidenta Dilma Rousseff. “Nos últimos 75 anos, tivemos muitos velhos amigos e bons amigos no mundo que compartilham os mesmos objetivos e estiveram com o povo chinês nos bons e maus momentos. A sra. Dilma Rousseff, que hoje recebe a Medalha da Amizade, é uma representante destacada entre eles”.

Dilma por sua vez afirmou que “o compromisso assumido pela China com a reforma e abertura não apenas permitiu a retirada de centenas de milhões de pessoas da pobreza como contribuiu de forma significativa para o crescimento econômico e estabilidade globais”.

Modernização chinesa e centralidade do Partido

O segundo discurso esteve centrado nas tarefas para trabalhar pela modernização de caráter chinês.

Xi Jinping descreveu quatro condições para a garantia da modernização chinesa, a adesão à liderança do Partido; ao socialismo com características chinesas (onde incluiu o aprofundamento e expansão da Reforma e Abertura); à abordagem centrada no povo; e ao caminho do desenvolvimento pacífico.

O mandatário chinês afirmou que “a reunificação completa da pátria (…) é a tendência geral, a grande causa e a vontade do povo”. Ele havia mencionado antes o desenvolvimento da política de “um país, dois sistemas”, referentes às Regiões Administrativas Especiais de Macau e Hong Kong, mas que também foram ideadas pelo líder Deng Xiaoping para Taiwan. Também falou em garantir um alto grau de autonomia e de garantir as políticas de “povo de Hong Kong governando Hong Kong” e “povo de Macau governando Macau”.

Taiwan

Em discursos em geral de Xi, Taiwan sempre está presente. Desta vez ele afirmou que “Taiwan é o território sagrado da China”. A “reunificação completa” se refere em boa parte a recuperar a ilha. Esse objetivo também é importante para a meta de “rejuvenescimento da nação chinesa”, que pode se resumir a ideia de superar as mazelas provocadas ao país durante o chamado século da humilhação, que vai desde a Primeira Guerra do Ópio, em 1839 até o triunfo da revolução em 1949. Nesse período, a China perdeu Taiwan.

Embora não haja um planejamento ou cronograma público em relação à reunificação com Taiwan, isso deveria acontecer no processo da segunda meta centenária, mencionada acima. Em um discurso em 2019, Xi Jinping afirmou que “A reunificação da pátria é uma missão sagrada que a história confiou à nossa geração”.

O Exército estadunidense vem insistindo na especulação de que existiria um plano chinês para recuperar Taiwan em 2027. O lado chinês afirma que isso vem sendo feito para criar uma “atmosfera de guerra” na região.

Multipolaridade e América Latina e Caribe

O chefe da Missão da América Latina e Caribe e embaixador do Uruguai na China, Fernando Lugris, conversou durante as comemorações com o Brasil de Fato. “A China se tornou um parceiro econômico fundamental de boa parte das economias da região, e é por isso que nós, países da América Latina e Caribe, nos somamos às comemorações do 75º aniversário em Pequim e aproveitamos esta ocasião para pensar no futuro das parcerias estratégicas integrais entre nossos países da América Latina e Caribe e a China”.

Junto a outros grandes países do Sul Global, como o Brasil, a China tem insistido na necessidade de reformar as instituições internacionais para que reflitam a realidade geopolítica atual. China e Brasil têm trabalhado juntos esse ano em uma proposta para solucionar politicamente a crise na Ucrânia.

Para Lugris, esse é um dos destaques em relação às parcerias entre os países latino-americanos e caribenhos e a China.

“Um dos elementos fundamentais do diálogo entre a América Latina, o Caribe e a China é a defesa do multilateralismo e também do sistema de paz e segurança internacional”.

Ele afirma que o gigante asiático e nossa região, sendo uma zona não nuclear, deve defender um novo sistema internacional onde a paz e a segurança “estejam no centro dos nossos trabalhos”.

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Claudia Sheinbaum tomou posse como nova presidente do México, em cerimônia realizada nesta terça-feira (01/10), no edifício do Congresso Nacional, na Cidade do México.

Cientista e ex-prefeita da capital – cargo que exerceu entre dezembro de 2018 e junho de 2023 –, ela foi eleita em junho passado com 59,8% dos votos, ela se tornou a primeira mulher a exercer o poder no país em 214 anos de história independente.

Em seu discurso de posse, a nova mandatária mexicana prometeu “enterrar de uma vez por todas o fracassado modelo neoliberal” no país, e fez elogios ao governo do seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador.

“(Obrador) iniciou o projeto para desmontar o fracasso liberal e também as estruturas da corrupção e dos privilégios que assolavam o país, um projeto que nasceu da fecunda história do México, do amor ao povo e à honestidade. Nós o chamamos de ‘humanismo mexicano’”, frisou a presidente.

Como primeira mulher a governar o México, Sheinbaum afirmou que “durante muito tempo as mulheres foram anuladas, muitas de nós ouvimos quando crianças uma versão da história pela qual queriam nos fazer acreditar que o rumo da humanidade era decidido apenas pelos homens (…) hoje sabemos que as mulheres participaram dos grandes feitos da história mexicana.

Em seguida, a mandatária enumerou diferentes mulheres que participaram da história mexicana, como a artista Frida Khalo e a líder sufragista Elvia Carrillo, mas terminou essa parte do discurso com uma homenagem às “mulheres anônimas, aquelas que participaram das diferentes revoluções, mas tiveram seus nomes apagados, aquelas que construíram estes 214 anos da nossa história, as mulheres indígenas, as trabalhadoras domésticas, aquelas que saem de suas aldeias para sustentar o resto de nós. As mulheres anônimas que de sua casa, das ruas ou de seus locais de trabalho, lutaram para ver esse momento”.

A cerimônia de posse contou com a presença de sete presidentes latino-americanos: Bernardo Arévalo (Guatemala), John Briceño (Belize), Xiomara Castro (Honduras), Díaz-Canel (Cuba), Gustavo Petro (Colômbia) e Gabriel Boric (Chile), além do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

A ausência mais destacada foi a do presidente espanhol Pedro Sánchez, que não viajou à Cidade do México em solidariedade ao monarca do país, Felipe VI, cujo convite foi condicionado a um pedido de desculpas oficial do Reino da Espanha pelas violações aos direitos humanos dos povos indígenas durante a colonização, o que foi negado.

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