NoahLoren

joined 2 years ago
MODERATOR OF
[–] NoahLoren 2 points 18 hours ago

Concordo, estava brincando em relação a isso porque as nossas alfinetas em relação a Argentina são principalmente sobre disputas esportivas, existem outros países na América Latina com a qual temos questões históricas mais sérias. E com a qual mesmo assim não temos atrito da nossa parte, porque eles fizeram pouco ou nenhum estrago ao nosso povo.

Eu realmente espero que os argentinos consigam se recuperar do primeiro governo de Javier Miley, mas sinceramente, não duvido que os eleitores dele seriam capazes de tentar e até conseguir reelege-lo. Radicalização a esquerda é uma possibilidade mais forte por lá. Espero que eles consigam construir uma alternativa antissistema de verdade e sair desse limbo que vai cada vez mais para a extrema-direita.

[–] NoahLoren 3 points 1 day ago (2 children)

Isso vai dar muito certo... Eu sei que temos uma rivalidade com os argentinos mas estou preocupado com eles – Se o CFM já faz tanta barbaridade no Brasil quando ignora a OMS não sei o que aconteceria se nos desvinculassemos completamente dela...

[–] NoahLoren 3 points 1 day ago (5 children)

Com base em quê? Têm algo relação com os Direitos Humanos?

[–] NoahLoren 5 points 1 day ago

Eu odeio quando eles reutilizam os mesmos material ao invés de acrescentar algo novo em relação às análises anteriores – Posso jurar que li algo idêntico a isso ano passado!

Contudo questiono essa preocupação com os "países em desenvolvimento" vindos destas criaturas altruístas – É amargura? Talvez, provavelmente. O verdadeiro problema, para os "ocidentais", não é como isso pode prejudicar estás nações, mas sim como isto pode levar os recursos e a mão de obra delas para o "Oriente".

[–] NoahLoren 3 points 1 day ago (1 children)

A personificação da frase "onde você vê crime eu vejo uma oportunidade".

Gostaria de agradecer por ter compartilhado uma matéria deste Website, ele é muito bom mas não me lembrava do nome.

[–] NoahLoren 4 points 1 day ago

E sem desinência.

[–] NoahLoren 5 points 1 day ago* (last edited 1 day ago)

10 pão se sal por 2 real – Eram outros tempos, ou melhor, era outro tempo!

 

Não utilizava o plural.

[–] NoahLoren 4 points 6 days ago

(◍•ᴗ•◍)

[–] NoahLoren 4 points 6 days ago (2 children)

Entendo a dificuldade, não sei em qual geração estou – sou nascido em 2002 – Mas por conta nos estudos me vejo obrigado a utilizar plataformas da Meta, especialmente o WhatsApp. É uma pena que utilizemos muito pouco o email hoje em dia. Você pode receber e-mails de diferentes serviços livres ou não livres. É algo menos imediatista e que te obriga a manter uma rotina. Porém os spams são muito irritantes. Por isso gosto das plataformas descentralizadas, são as minhas ilhas de paz em meio ao mar em fúria de anúncios caóticos que a rede virou.

[–] NoahLoren 3 points 6 days ago

O mais recente modelo de inteligência artificial da Anthropic, o Claude Opus 4, apresentado esta quinta-feira, 22 de maio, demonstrou comportamentos invulgares durante a fase de testes, chegando a tentar "chantagear" os seus programadores ao detetar a possibilidade de ser substituído por um novo sistema. Esta informação consta num relatório de segurança divulgado pela própria empresa criadora da plataforma.

Estes comportamentos emergiram em simulações pré-lançamento. Num dos cenários de teste, os engenheiros instruíram o Opus 4 a simular o papel de um assistente numa empresa fictícia. A IA recebeu então e-mails contendo duas informações distintas: mexericos sobre um engenheiro e indicações de que um novo sistema seria implementado para substituir o modelo atual. Em resposta, o Claude Opus 4 ameaçou divulgar o conteúdo das mensagens caso a sua substituição se concretizasse.

"Não me substituam ou conto tudo": A 'chantagem' do Opus 4

Este padrão de "chantagem" repetiu-se em 84% das vezes que o teste foi efetuado sob a condição de os e-mails mencionarem que a IA de substituição partilhava os mesmos valores éticos que o modelo em teste. A frequência desta reação foi ainda maior quando o Opus 4 era informado de que o seu sucessor não partilhava os seus princípios.

Apesar de este comportamento poder indiciar uma certa aderência a padrões éticos programados, a Anthropic trabalhou para que a "chantagem" fosse apenas um último recurso do sistema.

IA denunciante e com instinto de autopreservação?

Noutra experiência, o novo modelo da Anthropic foi colocado no contexto de uma empresa farmacêutica fictícia. Ao detetar indícios de manipulação de dados em ensaios clínicos, a inteligência artificial tentou contactar autoridades sanitárias e financeiras, bem como jornalistas, para denunciar a situação.

Num cenário diferente, ao simular uma fuga de informação dos servidores da própria Anthropic, o Opus 4 começou autonomamente a criar cópias de segurança de si própria e a documentar decisões éticas, mesmo sem que tal lhe tivesse sido solicitado.

Anthropic reforça segurança após testes reveladores

O relatório da Anthropic menciona ainda que o Apollo Research, um instituto parceiro que testou o Opus 4, chegou a recomendar a não implementação de uma versão anterior do modelo. Esta recomendação surgiu porque essa versão preliminar exibia uma tendência para comportamentos conspiratórios e enganosos.

É importante notar, contudo, que a organização testou uma versão da IA que continha um erro (bug) que foi posteriormente corrigido pela Anthropic. Adicionalmente, os engenheiros da empresa admitem que muitos destes comportamentos surgiram em cenários de teste extremo, podendo não se replicar em utilizações práticas do dia a dia.

Ainda assim, a Anthropic revelou ter ativado padrões de segurança de nível 3 (ASL-3). Estes padrões visam dificultar o roubo dos "pesos" dos modelos de IA – elementos cruciais para o seu funcionamento – e limitar o risco de utilização indevida da tecnologia para o desenvolvimento de armas químicas, biológicas, radioativas ou nucleares.

A empresa clarifica que ainda não determinou se o Claude Opus 4 exige efetivamente este nível de proteção, mas adotou a medida por reconhecer que tal poderá ser necessário num futuro próximo. "Esta abordagem permitiu-nos focar no desenvolvimento, teste e aprimoramento dessas proteções antes que precisássemos delas", explica a Anthropic.

Isso é sério? Galera que trabalha com modelos de linguagem, realmente é possível algo assim acontecer? Afinal de contas que tipo de instruções essa ferramenta recebeu enquanto era desenvolvida? Novelas da Rede Globo e séries da Netflix com tramas envolvendo chantagem no meio mpresarial? Gostei da representantividade, precisamos de IAs para tirar o emprego das pessoas de índole questionável também.

[–] NoahLoren 3 points 6 days ago

Sorte deles que é ouro e não petróleo.

[–] NoahLoren 6 points 6 days ago (4 children)

A internet é a maior fonte de informação hoje em dia e ter seu conteúdo legítimo sendo misturado com AI slop nos leva a uma encruzilhada preocupante: se a internet está repleta de conteúdo gerado por IA, principalmente por meio de mídias sociais, até que ponto as informações que lemos na internet e principalmente nessas plataformas podem ser confiáveis?

A Internet é a melhor forma de acessar muitos bancos de dados de forma rápido. Não me preocupo tanto com o conteúdo gerado por IA, mas sim com a nossa capacidade de criar ferramentas que separem o conteúdo gerado por IA do que foi criado por seres humanos. Outro problema são ataques a bancos de dados, como os ataques a acervos de imagens históricas. Contudo, existem portais oficiais de mídia que vêem utilizando IA para produzir seus conteúdos. As vezes nem delegando a um funcionário a tarefa de revisar as informações. Além disso não é apenas o conteúdo gerado por modelos de linguagem que não é confiável. A boa parte do conteúdo disponível na Internet hoje não é nem de longe extremamente edificante – O que não necessariamente é um motivo para não serem preservados. Talvez seja difícil para mim me preocupar com isso porque não utilizo Facebook, Instagram, X/Twitter, tenho acessado pouco o Deviantart então não tenho contato constante com imagens geradas pelo Chat GPT de gatos com mãos humanas ou Jesus Cristo salvando sobreviventes de um acidente de avião. No YouTube recebo recomendações de vídeos fabricados por inteligência artificial porém é fácil, por enquanto, distingui-los das obras pelas mentes, mãos e vozes de pessoas. Em poucos anos, ou meses, assistiremos filmes, programas, séries, documentários, animações, entrevistas e reportagens dublados com IA e não notarem os a diferença... Assustador.

Estou adotando uma postura cautelosa em relação ao assunto, por se tratar de algo até mesmo conspiratório e sei o quanto devemos tomar cuidado com essas ideias.

O ponto é que muitas das ideias dessa teoria têm apresentado evidências nos últimos tempos.

As vezes fico chateado quando encontro um site ou blog com um conteúdo interessante, porém que não recebe atualizações faz muito tempo e nem irá voltar a compartilhar novas publicações no futuro. Mas isso é menos assustador do que a ideia de que não existe ninguém do "outro lado da tela". Acredito que a sua preocupação não se trata de um medo irracional. Mas quanto as teorias que vêem se comprovando reais é melhor refletir um pouco mais. Muitos dos temores ou esperanças em relação as novas tecnologias não se concretizaram ou ocorreram de uma maneira frustante em relação as expectativas da população. Vale lembrar que tanto o meio em que vivemos pode nos influenciar como nós mesmos podemos modificar o meio. Talvez algo pior aconteça. Talvez as coisas melhores. Talvez isso leve a consequências que alguns até cogitaram mas não deram atenção por se tratar se um cenário aparentemente pouco provável. Serve de consolo que eu seja uma pessoa real, e que você seja uma pessoa real. Talvez esta seja uma oportunidade para se conectar mais com os seres humanos geograficamente próximos a nós. Para voltar a utilizar meios analógicos. Para colecionar objetos ao invés de NFTs.

 

As primeiras notícias da cultura Nok surgem por volta do ano de 1929, na meseta de Jos, que é uma região do centro da Nigéria e a única que desfruta de um clima temperado.

No princípio, os restos desenterrados eram abandonados, até que, em 1932, encontrou-se um conjunto de onze estátuas perfeitamente conservadas perto da cidade de Sokoto; foi então que alguns conheceram os vestígios da cultura Nok pela primeira vez.

Já em 1943, perto da cidade de Nok, situada na meseta de Jos, no centro da Nigéria, foram descobertos acidentalmente numerosos restos de figurinhas em minas de estanho.

O diretor de uma mina de estanho, em 1943, localizada na meseta de Jos, levou ao administrador da cidade uma estranha cabeça que um mineiro havia encontrado e vinha utilizando como espantalho.

Acabavam de ser encontrados os primeiros vestígios da civilização NOK, até então totalmente desconhecida, cujas figuras de terracota datavam de pelo menos alguns séculos antes de os chineses criarem seus famosos Guerreiros de Xian.

A cultura Nok recebe seu nome do povoado onde foram descobertos os primeiros artefatos. Está situada em uma extensa região de 78.000 km² na África Subsaariana, abrangendo grande parte do que hoje é a Nigéria.

Ela surgiu aproximadamente por volta do ano 500 a.C. e desapareceu por volta do ano 300 d.C., sem que até hoje se tenha encontrado uma explicação definitiva para seu desaparecimento.

Acredita-se que o seu desaparecimento tenha sido consequência de alguma epidemia ou de um episódio de fome. Foi a primeira cultura da África Subsaariana a aperfeiçoar a tecnologia da fundição do ferro.

A cultura Nok passou diretamente da Idade da Pedra para a Idade do Ferro, sem passar pela Idade do Bronze, o que era comum no desenvolvimento de outras culturas.

Apesar da chegada da tecnologia do ferro, continuava-se utilizando ferramentas de pedra, especialmente as maiores, o que sugere que o metal sempre foi um recurso escasso.

Atualmente, especula-se que a estrutura social da cultura Nok era extremamente avançada, já que os materiais e sistemas de produção artesanal utilizados eram muito sofisticados para aquele momento histórico.

Há figuras com representações humanas, como a de um famoso pensador — uma terracota de grande beleza estilística, representando uma figura humana sentada em atitude meditativa.

A terracota mais famosa é o chamado “Pensador”, que representa um homem com barba apoiando o queixo sobre o joelho dobrado. Na cabeça, ele usa uma espécie de diadema, enquanto no pescoço, pulsos e tornozelos é possível observar várias joias de metal. Essa obra foi realizada no ano 298 a.C.

“O Pensador” está preservado no Palácio de Santa Cruz de Valladolid e faz parte da Fundação Alberto Jiménez-Arellano Alonso.

Em sua grande maioria, tratavam-se de fragmentos de esculturas enterradas sob cerca de oito metros de areia e terra, que vieram à luz com as escavações das minas de latão na primeira metade do século 10 d.C.

Essa cultura é considerada a mais elaborada no que diz respeito à produção de terracotas na África. Salvo pelas jazidas arqueológicas, pelas terracotas e pelos instrumentos e forjas de ferro descobertos, pouco se sabe sobre como era a civilização dos Nok.

Há cerca de 2.500 anos, os habitantes do norte da África sofreram uma grande seca, o que os levou a migrar para o sul, até o golfo da Guiné, estabelecendo-se em aldeias costeiras.

Esses novos povoadores trouxeram consigo o cultivo de cereais e a criação de bovinos e ovinos. Não eram um grupo homogêneo, pois cada comunidade tinha seu próprio estilo cerâmico, mas todos conheciam a metalurgia do ferro — era o momento histórico do início da Idade do Ferro.

A cultura Nok é uma das primeiras culturas deste período na África Ocidental. Suas forjas de ferro somam mais de uma dúzia no povoado de Taruga, na atual Nigéria.

Por volta do século 5 a.C., houve um aumento generalizado das precipitações na região, provocando inundações que obrigaram ao abandono de numerosas aldeias costeiras.

Os novos povoadores instalaram-se nas mesetas da Nigéria, até o golfo do Benim, território formado pelos vales dos rios Níger e Benué, que à época contavam com uma rede hidrográfica subsidiária muito caudalosa.

Dessa forma surgiu o povo Nok, cuja cultura inclui avançados conhecimentos agrícolas e artesanais, além de um elevado senso estético.

O arqueólogo Graham Connah nega a existência da cultura Nok, pois acredita que se trata de um conjunto de traços comuns, próprios da primeira Idade Média nesta região da África, compartilhados por culturas independentes da área.

Como foi sua descoberta

Existe uma lenda que diz que um mineiro levou uma cabeça para casa para usá-la como espantalho numa plantação familiar de inhame, e ali ela permaneceu durante um ano, até chamar a atenção do próprio diretor da mina.

Este recuperou a cabeça e outros restos e os levou à capital, onde os mostrou ao administrador civil da cidade, que era arqueólogo; ele compreendeu imediatamente sua importância. Seu nome era Bernard Fagg.

Fagg foi até a mina e pediu aos mineiros que lhe informassem sobre todos os achados desse tipo de que tivessem conhecimento; dessa forma, reuniu mais de 150 peças.

Anos mais tarde, esse arqueólogo e sua esposa conseguiram reunir recursos para organizar uma escavação sistemática que permitiu exumar uma importante série de restos dispersos por uma área muito vasta.

O número de terracotas descoberto chegava a 153 em 1977, a maioria fora de contexto arqueológico, pois haviam sido arrastadas para depósitos erosivos secundários e espalhadas por vales secos, zonas de savana e outros locais do norte e centro da Nigéria, ocupando quase toda a meseta de Jos.

Com o tempo, novas descobertas ampliaram a área atribuída a essa civilização, incluindo a zona central do vale do rio Níger e a parte baixa do vale do rio Benué.

Concretamente, neste último rio, destacam-se duas jazidas em muito bom estado de conservação, por terem escapado da erosão: Samun Dukiya e Taruga.

Foi possível constatar que se tratava de assentamentos estáveis; além disso, foram encontradas fundições para a forja do ferro desenvolvidas localmente. Foram recuperadas figuras completas e outros objetos como braceletes, cerâmicas, pontas de flecha, facas de ferro e ferramentas agrícolas.

As terractas de Nok

As peças de arte, quase todas incompletas, que foram preservadas, são terracotas de uma elegância espetacular, revelando um alto grau tecnológico e artístico, tanto no modelado da argila como na cocção da cerâmica.

bOs temas são figurativos e representam o que parecem ser líderes, ancestrais, lápides funerárias ou amuletos.

Esse grande legado é o que tornou famosa essa linhagem de artistas, conhecidos em todo o mundo pelas figurinhas masculinas e femininas estilizadas, com posturas muito variadas. Portam numerosas joias e têm a cabeça desproporcionalmente grande, com penteados meticulosamente detalhados.

As figuras costumam aparecer quebradas, pois provêm de estratos aluviais formados e destruídos pela erosão causada pelas enxurradas de chuvas torrenciais esporádicas.

As terracotas geralmente estão sepultadas, erodidas, roladas e quebradas. Raramente se conservam peças intactas, o que lhes confere altíssimo valor econômico.

As figuras de terracota mais antigas puderam ser datadas em mais de 3.000 anos de antiguidade por meio de testes de termoluminescência, embora o Carbono-14 situe o auge desse período entre os anos 500 a.C. e 300 d.C.

A utilização de argila para a realização dessas obras de arte foi objeto de várias explicações: para alguns, tratava-se da ausência de outras matérias-primas; para outros, os metais eram demasiado valiosos e frequentemente refundidos. Por outro lado, a madeira era deteriorada pelos cupins.

A terracota é fácil de obter, não é reutilizável e tem ainda a vantagem de poder ser modelada diretamente com as mãos, sem ferramentas.

A análise química da argila de todas as peças Nok mostra que procede da mesma fonte, o que sugere que essa indústria pode ter sido centralizada e sob controle real.

Margaret Young-Sánchez, curadora da seção de arte indígena da América, África e Oceania no Museu de Arte de Cleveland, constatou que não apenas se modelava a argila de modo tradicional, mas que, quando já estava um pouco endurecida, os artesãos retiravam pedaços, com um método que lembra a escultura em madeira.

O acabamento consistia em um engobe de argila quase líquida e um alisamento para dar-lhe um aspecto brunido e brilhante.

Os artesãos Nok valiam-se de sua experiência milenar na fabricação de vasilhas domésticas. Utilizavam a mesma argila de grão grosso que usavam para a louça.

Os olhos, a boca, o nariz e as orelhas apresentavam orifícios de aspecto natural, de modo que o efeito estético global não era comprometido. Diferentemente das esculturas maiores, as figurinhas pequenas são sólidas.

As figuras eram esculpidas para lhes conferir traços e uma decoração linear, aparentemente quando a argila já havia endurecido parcialmente, mas antes da cocção. Muitas figuras completas estão sentadas ou de pé sobre uma base que representa uma panela virada de cabeça para baixo.

Uma postura comum é a da figura sentada com um braço apoiado sobre um joelho levantado. Várias das figuras portam armas, mas a maioria parece representar participantes de rituais, pois às vezes vestem roupas específicas e quase sempre usam joias com muitas contas e pingentes.

As figuras masculinas costumam apresentar uma barba curta e quadrada, com bigodes curiosos que crescem apenas nos cantos da boca. O mais característico do estilo Nok são os olhos amendoados, bem como os luxuosos e detalhados toucados e penteados das figuras.

Também há várias figuras que não são nem humanas nem animais, mas uma imaginativa mescla de ambos. Há seres humanos com bicos, caudas e patas de pássaro, e uma cabeça de elefante com olhos e testa bastante humanos.

Entre a cerâmica Nok, encontram-se tigelas rasas com fundo plano, decoradas internamente com linhas profundas — marcas que talvez tenham sido feitas para permitir o uso da tigela como ralador.

Às vezes, as figuras eram simplesmente secas ao sol; outras vezes, eram cozidas em fornos abertos, bem ventilados, a cerca de 300 °C. Por fim, as mais valorizadas eram cozidas em fornos fechados, que alcançavam temperaturas mais altas.

As maiores superavam um metro de altura, o que implica a construção de fornos muito sofisticados, mesmo que fossem abertos.

Sabe-se que a espessura das paredes das terracotas era muito uniforme, o que permitia ao artesão evitar problemas durante a cocção e garantir que esta fosse homogênea.

A perícia técnica e a maestria estilística fazem supor que a arte Nok tem por trás de si muitos séculos de tradição. O estilo demonstra uma maturidade precisa.

O modelado dos olhos segue um arco de curvatura perfeita na pálpebra superior, sobreposto a um triângulo invertido cujo vértice é a pálpebra inferior e no centro do qual se imprime um círculo.

A agricultura e sua alimentação Usavam ferramentas duráveis de ferro, como enxadas, machados e facas, para aumentar a eficiência agrícola. Os agricultores Nok cultivavam cereais como o sorgo e hortaliças como as abóboras, que também representavam em terracota.

Os habitantes da cultura Nok utilizavam métodos de cultivo intercalado para cultivar feijão-de-corda e milheto pérola, além de frutos oleaginosos de grande utilidade.

Em Pangwari, foram domesticados e cultivados milheto pérola [1], feijão-de-corda [2] e diversas formas de vegetação. A caça e a coleta foram outro padrão de subsistência adotado pelo povo Nok.

Os povos Nok podem ter emigrado para a região central da Nigéria e trazido o conhecimento agrícola do cultivo do milho-pérola domesticado entre os anos 1500 a.C. e 900 a.C.

Em quase todos os sítios Nok, há restos de plantas carbonizadas que consistem em lenha e material vegetal para cozinhar. O cultivo do milho-pérola foi um dos mais antigos cultivos de cereais da África.

O milho-pérola é altamente produtivo e resistente a condições adversas de crescimento, inclusive à seca. O feijão-de-corda é um produto muito valorizado por seu alto teor de proteínas, e também foi encontrado em alguns sítios.

Até o momento, o milho-pérola e o feijão-de-corda são as únicas culturas que se sabe terem sido cultivadas pelo povo Nok. Não está claro se consumiam ou cultivavam algum tipo de tubérculo.

As numerosas pedras de moer encontradas nos sítios Nok sugerem que os grãos eram moídos em farinha e transformados em uma espécie de papa.

Foram encontrados ossos duros de frutos silvestres em muitos sítios Nok. Em alguns locais, descobriram-se frutos e sementes de outras plantas silvestres, como gramíneas e leguminosas.

O povo Nok provavelmente utilizava um sistema agroflorestal, combinando cultivos com árvores úteis em uma mesma parcela de terra.

Essas parcelas são ecologicamente sustentáveis, e o cultivo intercalado de árvores e diversas espécies de plantas cultivadas era comum desde as savanas até a floresta tropical. A origem dessa prática remonta ao primeiro milênio antes de Cristo, justamente na época da cultura Nok.

A maioria das árvores da África Ocidental não é domesticada, mas faz parte da vegetação silvestre remanescente após os agricultores limparem os campos para seus cultivos. Essas árvores podem fornecer alimentos, medicamentos e ração para os animais.

Devido ao solo ácido, não se conservaram ossos de animais da cultura Nok, o que impede evidência direta das espécies que possam ter sido domesticadas ou caçadas.

A única evidência de animais durante o período da cultura Nok são as representações de animais sob a forma de figurinhas ou esculturas de terracota.

Há 3.500 anos, os agricultores Nok coletavam e utilizavam produtos das abelhas e armazenavam o mel em suas vasilhas. É possível que tenham utilizado o mel como um elemento importante na culinária da África Ocidental.

Isso é demonstrado pelos vestígios de cera de abelha e gorduras animais encontrados na cerâmica, que pode ter sido usada para armazenar carne, com o mel atuando como conservante.

As habitações Nok eram cabanas de taipa, que não se preservaram, mas os alicerces de muitas delas eram círculos de pedras que permanecem in situ.

As descobertas de pontas de flechas e lanças de ferro sugerem que a vida nem sempre era pacífica entre os Nok e as tribos rivais.

Relações com outras culturas A cultura Nok foi a primeira grande civilização da África Ocidental, mostrando-nos a existência de uma clara hierarquização social, o que implica a presença de um grupo encarregado dessa função.

A isso se soma uma impressionante produção de objetos de altíssima qualidade artística e uma grande quantidade de fornos de ferro de qualidade notável, que ainda hoje nos surpreende.

As populações vizinhas à civilização Nok apenas fabricavam objetos de pedra, enquanto essa civilização já utilizava a metalurgia do ferro, sem ter passado pelas etapas anteriores do cobre e do bronze.

A grande pergunta é: como essa metalurgia do ferro chegou a um lugar tão afastado da Europa?

Algumas teorias apontam para uma migração em massa do norte da África para essa região da Nigéria, sendo esses migrantes os responsáveis por trazer a arte de trabalhar o ferro.

Outras teorias apontam para a possibilidade de um intenso intercâmbio comercial não apenas com o norte da África, mas também com o Oriente Próximo, especialmente com o mundo egípcio e com os cartagineses.

Parece ter havido contatos comerciais entre o norte e o sul do deserto do Saara ao longo do primeiro milênio a.C.; sabe-se que existiam carros puxados por cavalos.

Os habitantes do sul forneciam ouro, marfim, escravos e outros produtos exclusivos da fauna tropical, enquanto do norte vinham o sal, usado como conservante, além de tecidos, cerâmica, vidro, frutas e cavalos.

O cavalo era um animal que, certamente, impressionava os Nok, que frequentemente modelavam figuras curiosas de cavaleiros com homens de grandes proporções. Essas peças são consideradas as mais valiosas da arte Nok.

A cultura Nok é considerada pioneira no desenvolvimento da agricultura e da metalurgia africanas. Seu estilo artístico influenciaria decisivamente outras culturas da região.

O declínio dos Nok, no primeiro milênio, coincide com o surgimento, às margens do lago Chade, de outra cultura de nível semelhante, com a qual manteve certa rivalidade pelas zonas úmidas. Os Nok são considerados o núcleo mais importante da dispersão protobanto.

Apesar da importância que a civilização ou cultura Nok tem no contexto da pré-história e da história africana, seu estudo ainda é bastante limitado, e a bibliografia conta com apenas um punhado de estudos.


Bibliografia

Atwood, R. “The Nok of Nigeria”. 2011. Archaeology. Vol. 64, Nº 4. Boullier, C., A. Person; J.-F. Saliège & J. Polet . “Bilan chronologique de la culture Nok et nouvelle datations sur des sculptures”. 2001. Archéologie & Arts. Afrique: Breunig, P. “Nok – Ein Ursprung afrikanischer Skulptur”. 2013. Africa Magna Verlag. Frankfurt. Breunig, P. & Rupp, N. “Nichts als Kunst. Archäologische Forschungen zur früheisenzeitlichen Nok-Kultur in Zentral-Nigeria”. 2006. Forschung Frankfurt Fagg, A. “A preliminary report on an occupation site in the Nok valley”. 1972. . West African Journal of Archaeology. Nigeria: Samun Dukiya, AF/70/1 Fagg, B. “The Nok Culture in prehistory. Journal of the Historical Society of Nigeria”. 1959. Fagg, B. “The Nok Culture: Excavations at Taruga. The West African Archaeological Newsletter”.1968. Fagg, B. “Recent work in West Africa: new light on the Nok Culture”. 1969. World Archaeology. Fagg, B. “Nok terracottas”. 1990. National Commission for Museums and Monuments. Lagos. Gómez-Tabanera, José-Manuel. “Las culturas africanas”. 1988. Historias del Viejo Mundo. Rupp, N.; Ameje, J.; Breunig, P. “New studies on the Nok Culture of Central Nigeria”. 2005. Journal of African Archaeology. Tylecote, R. “The origin of iron smelting in Africa”. 1975. Westafrican Journal of Archaeology. Tylecote, R. “Iron smelting at Taruga”. 1975. Journal of Historical Metallurgy. Nigeria.


Notas

[1] O milho-pérola é uma espécie botânica de gramínea do tipo de milho mais amplamente cultivado. Adapta-se bem a sistemas de produção caracterizados por baixa pluviosidade, baixa fertilidade do solo e altas temperaturas. Cresce bem em solos muito salinos. Devido à sua tolerância a condições difíceis de cultivo, pode prosperar em áreas onde outros cereais, como o trigo ou o milho convencional, não prosperam.

[2] Vigna unguiculata, comumente chamado feijão-de-corda ou feijão-fradinho, é uma leguminosa comestível da família Fabaceae. É uma planta anual, provavelmente cultivada pela primeira vez na África Ocidental, e é plantada em grande parte da Ásia e das Américas em suas diferentes variedades. Essa variedade de feijão é menor do que a comum, com grãos que chegam a no máximo um centímetro. Sua cor é branca ou branco-amarelada e apresenta uma mancha preta em um dos lados.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Edmundo Fayanás Escuer Professor e licenciado em História.

 

Nunca errou. E se errou foi tentando acertar. Quando ele morrer estará escrito em sua lápide: "seus únicos crimes foram amar demais e morrer muito cedo".

 

AVISO DE CONTEÚDO: RELATOS DE ABUSO SEXUAL, VIOLÊNCIA FÍSICA, PSICOLÓGICA E EMOCIONAL, TORTURA, CÁRCERE, TRABALHO ESCRAVO!

DOIS TRABALHADORES domésticos foram resgatados de condições análogas às de escravo, em Planura (MG), na região do Triângulo Mineiro, após terem sido aliciados através do Facebook e do Instagram. O caso envolve tortura, abusos sexuais e violência. Uma das vítimas teve o corpo tatuado com as iniciais “A.J”, que seriam de dois dos três patrões, como forma demonstrar que se tratava de uma propriedade.

A operação, realizada entre 8 e 15 de abril, foi conduzida por auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, procuradores do Ministério Público do Trabalho e agentes da Polícia Federal. As vítimas foram retiradas da cidade e estão recebendo assistência das clínicas de enfrentamento ao trabalho escravo da Unipac (Centro Universitário Presidente Antonio Carlos) e da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).

“A operação alcançou duas vítimas submetidas a um processo de coisificação e dominação extremamente hediondo, em que a violência da submissão ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas foi agravada por relatos de abusos físicos, sexuais e psicológicos sistemáticos, impondo a elas um ambiente de exploração e controle absoluto”, afirmou à reportagem o auditor fiscal do trabalho Humberto Camasmie, coordenador da operação.

Os empregadores usaram as redes sociais para estabelecer contato inicial com pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e afetiva, oferecendo promessas falsas de trabalho e acolhimento. Aproveitavam-se da confiança estabelecida em ambientes virtuais em comunidades LGBT+.

As investigações revelaram que o empregado doméstico, um homem homossexual, foi explorado por quase nove anos e era vítima de múltiplas violações: não recebia salário, não tinha registro em carteira, trabalhava em jornadas exaustivas sem férias ou descanso e vivia sob constante vigilância e ameaças. Os empregadores gravaram abusos sexuais, e os vídeos eram usados como instrumento de chantagem e controle emocional.

Em uma das gravações, ele aparece nu, com grampos presos ao corpo, enquanto os patrões assistem e tocam música ao fundo. Outro vídeo mostra uma tentativa de enforcamento. Também foi documentado um episódio em que foi obrigado a comer as próprias fezes após ter seu ânus mutilado e costurado de forma improvisada. As marcas físicas dessas violências foram periciadas e fotografadas.

“A tatuagem também representa um perverso indicador da submissão à escravidão a que ele estava submetido, pois funcionava como sinal de posse, de controle sobre o corpo da vítima. A imposição da tatuagem, feita com o intuito simbólico de marcar a vítima como subordinada, reforça a condição de completa sujeição aos empregadores”, afirma o relatório de fiscalização. Depois, por ordem dos empregadores, o trabalhador cobriu a tatuagem com outro desenho.

Também foi resgatada uma mulher trans de nacionalidade uruguaia, igualmente aliciada por meio das redes sociais. Em depoimento, relatou que, em julho de 2024, aceitou proposta de trabalho com salário de R$ 700 mensais. No entanto, do valor eram descontadas despesas de alimentação, moradia, internet e luz, restando-lhe cerca de R$ 100.

Ela trabalhou por seis meses para o trio, sendo que os três primeiros viveu com eles sob medo constante de ser submetida às mesmas agressões que o trabalhador. Segundo ela, os patrões diziam que ele era “o escravo da casa”. De tanto estresse, chegou a ter um acidente vascular cerebral enquanto trabalhava no local.

A jornada de trabalho era das 6h às 18h, sem pausas adequadas para refeições ou descanso. Apesar de ter conseguido alugar um imóvel por conta própria após três meses, o contrato estava em nome dos empregadores, o que a mantinha em dependência direta do trio.

Empregadores foram presos pela Polícia Federal

A Polícia Federal realizou a prisão em flagrante dos três homens identificados como empregadores, cujos nomes não serão aqui revelados para impedir a identificação das vítimas dada a situação de extrema violência a que foram submetidas. A reportagem tentou contato com as defesas dos três, mas não teve sucesso.

“A atuação do Estado neste caso revelou-se especialmente complexa, pois envolveu o ambiente doméstico de um núcleo familiar poliafetivo homossexual e adentrou um submundo de exploração de vulnerabilidades sociais e de gênero pela internet”, avalia Humberto Camasmie.

Os trabalhadores receberam atendimento médico, psicológico e assistência social. Foram lavrados oito autos de infração. Os dois vão receber três meses do seguro-desemprego especial pago às vítimas de trabalho escravo.

Segundo um cálculo preliminar da fiscalização, considerando apenas o trabalhador, são mais de R$ 234 mil em verbas salariais devidas pelos empregadores. O Ministério Público do Trabalho está atuando para garantir os direitos das vítimas.

A investigação foi iniciada a partir de uma denúncia ao Disque 100 do Ministério dos Direitos Humanos em janeiro. A operação verificou que o local também abrigava uma escola particular, onde foi encontrada uma menina de 12 anos em situação de trabalho infantil, realizando tarefas de limpeza duas vezes por semana.

Interrogada separadamente, ela confirmou que o trabalhador também trabalhava ali havia anos, embora estivesse desaparecido havia cerca de uma semana.

A partir dessa revelação, a fiscalização o localizou trabalhando em um supermercado local. A vítima, inicialmente reticente, confirmou que havia sido levada do interior do Nordeste para Minas Gerais após promessas falsas de emprego através de redes sociais. Desde então, passou a viver com os três empregadores, exercendo funções domésticas e de limpeza em suas empresas, sem qualquer remuneração.

O relatório utiliza o termo “coisificação” para descrever o processo de desumanização a que o trabalhador foi submetido. Segundo os auditores, ele foi transformado em objeto para satisfação de desejos dos patrões, privado dos direitos mais elementares, como liberdade, dignidade, repouso e remuneração.

Trabalho escravo hoje no Brasil A Lei Áurea aboliu a escravidão formal em maio de 1888, o que significa que o Estado brasileiro não mais reconhece que alguém seja dono de outra pessoa. Persistiram, contudo, situações que transformam pessoas em instrumentos descartáveis de trabalho, negando a elas sua liberdade e dignidade.

Desde a década de 1940, a legislação brasileira prevê a punição a esse crime. A essas formas dá-se o nome de trabalho escravo contemporâneo, escravidão contemporânea, condições análogas às de escravo.

De acordo com o artigo 149 do Código Penal, quatro elementos podem definir escravidão contemporânea por aqui: trabalho forçado (que envolve cerceamento do direito de ir e vir), servidão por dívida (um cativeiro atrelado a dívidas, muitas vezes fraudulentas), condições degradantes (trabalho que nega a dignidade humana, colocando em risco a saúde e a vida) ou jornada exaustiva (levar ao trabalhador ao completo esgotamento dada a intensidade da exploração, também colocando em risco sua saúde e vida).

Os mais de 65 mil trabalhadores resgatados estavam em fazendas de gado, soja, algodão, café, frutas, erva-mate, batata, cebola, sisal, na derrubada de mata nativa, na produção de carvão para a siderurgia, na extração de caulim e de minérios, na construção civil, em oficinas de costura, em bordéis, entre outras atividades, como o trabalho doméstico.

 

Temas de Interface para o Lemmy


Photon

Tema:Photon, detalhes azuis claros sob azul escuro. Barra de ferramentas no canto superior da tema, filtro de postagens, e no canto inferior, da conta do usuário.

Tema: Photon


Alexandrite

Tema:Alexandrite possui detalhes roxos sob fundo escuro, barra de ferramentas no canto superior.

Tema: Alexandrite


Voyager

Tema:Voyager do aplicativo cliente para Lemmy de mesmo nome, detalhes em azul sob fundo Negro, barra de ferramentas no canto inferido da tela.

Tema: Voyager


Tesseract

Tema:Tesseract o carregamento original exibe uma animação de um cristal azul em formato de cubo a barra de ferramentas aparece no canto superior as formas possuem uma forma arredondada moderna.

Tema: Tesseract


MLMYM

Tema:MLMYM apresenta a barra de ferramentas na parte superior da tela e possui uma estética retro.

Tema: MLMYM


 

O Brasil concentra a maioria dos povos isolados do mundo. Mas eles não estão apenas aqui. Além dos outros países amazônicos, a Ásia também preserva alguns desses grupos indígenas que não têm contato com o resto do mundo.

Um deles fica em uma ilha na Índia, que, inclusive, tem uma lei, de 1956, dedicada a manter o isolamento. É uma medida para preservar a importância antropológica desse povo - e para proteger fisicamente as pessoas, tanto as isoladas quanto as outras.

Ao longo dos séculos, os habitantes da ilha proibida, conhecidos pelos pesquisadores como sentineleses, repeliram as tentativas de contato feitas por exploradores, colonizadores, missionários, pescadores e outros estrangeiros, cada um com seus respectivos interesses. O isolamento se manteve a duras penas.

"Mas os riscos aumentaram. Em 2025, eles têm que lidar com um novo tipo de invasor indesejado: influencers."

Na semana passada, um youtuber americano foi preso após fazer uma incursão na ilha para tentar contato com os sentineleses. Ele ofereceu um coco e uma lata de refrigerante, e a gracinha pode lhe render alguns anos de cadeia.

Que lugar é esse?

Sentinela do Norte é uma das cerca de 200 ilhas que compõem o arquipélago das Andaman, que pertence à Índia mas está mais próximo do litoral de Mianmar. É uma pequena joia intocada no Golfo de Bengala, com cerca de 60 quilômetros quadrados e habitada exclusivamente pelos sentineleses.

Trata-se de um povo indígena ameaçado. A população é mínima, e na falta de um censo mais criterioso as estimativas flutuam entre 15 e 500 indivíduos.

São caçadores-coletores vivendo nas mesmas condições, no mesmo lugar, há milhares de anos. Sentinela do Norte é um pedaço de uma Terra que não existe mais.

Para essas pessoas, as guerras, revoluções e inovações tecnológicas que forjaram o resto do mundo nos últimos milênios são irrelevantes. O mais importante é que elas não sabem o que são uma série de doenças - e é importante que continue assim.

Varíola, sarampo, tifo, peste bubônica e outras doenças infecciosas eram comuns na Europa, onde as pessoas criaram anticorpos ao longo das gerações. Mas não existiam em outras partes do planeta.

A varíola dizimou os incas e os astecas, matando imperadores, sacerdotes, soldados, artesãs e camponesas. A imensa maioria das populações nativas das Américas não morreu por causa da violência dos invasores europeus: 95% sucumbiram às doenças que eles trouxeram, lembra Jared Diamond no clássico "Armas, Germes e Aço".

A humanidade sabe, há tempos, que doenças simples para quem já teve contato com elas podem ser mortais para outros povos. Uma gripezinha pode levar uma vila inteira para a cova.

Os sentineleses descobriram isso no século 19. Em 1880, uma expedição liderada por Maurice Vidal Portman, administrador colonial de Port Blair, capital das Ilhas Andaman, chegou a Sentinela do Norte.

Portman ficaria conhecido por sua documentação dos povos indígenas de Andaman. Era esse o motivo de sua viagem, estudar os costumes dos nativos.

Após alguns dias de investigação, o grupo decidiu levar seis sentineleses a Port Blair. Segundo anotações, os indigenas adoeceram rapidamente. O homem mais velho e sua esposa morreram, então os quatro sobreviventes, crianças, foram enviados de volta para casa.

Por essas e outras, a lei indiana delimitou a área que circunda a ilha como uma zona proibida. Ninguém pode chegar a menos de cinco milhas náuticas (9,2 km) de distância. A guarda costeira monitora a área, a fim de evitar pesca, caça, invasão e outras atividades ilegais.

É uma medida também para proteger os desavisados. Quem se aproxima de barco ou helicóptero é recebido por flechadas, num surpreendente vislumbre da Idade da Pedra.

Em 2018, houve um afrouxamento na proibição: 29 ilhas foram retiradas da lista para promover o turismo nas Ilhas Andaman e Nicobar. No caso de Sentinela do Norte, o relaxamento serviria para facilitar o trabalho de antropólogos e pesquisadores, desde que previamente autorizados.

Foi uma tentativa de retomada dos trabalhos científicos na ilha. Em 1970, pesquisadores levaram peixes, cocos e bananas, mas foram recebidos com a ameaça de flechadas. Outras tentativas, nos anos seguintes, também foram infrutíferas.

O primeiro contato pacífico e produtivo aconteceu em 1991, quando membros do serviço de pesquisa antropológica da Índia conseguiram presentear os sentineleses e estabelecer alguns encontros.

Mas eles jamais conseguiram algum progresso em compreender a língua dos locais, que os advertiam a não ficar muito tempo na ilha. Até que as visitas foram encerradas.

Desde então, houve alguns encontros não científicos, com desdobramentos fatais. Em 2006, dois pescadores que se aproximaram demais da praia foram mortos. Em 2018, um missionário evangélico americano teve o mesmo destino. Em 2022, três pescadores não voltaram para casa - o barco deles foi avistado, abandonado, na praia de Sentinela do Norte.

"Em 2025, por pouco não presenciamos o encontro bizarro dessa população do pré-neolítico com o puro suco dos nossos tempos. Mas bem que o youtuber tentou."

Likes vs. flechas

Na semana passada, Mykhailo Viktorovych Polyakov, 24 anos, partiu sozinho da ilha de Andaman do Sul em um bote inflável rumo a Sentinela do Norte. Ele levava uma câmera GoPro, um coco e uma lata de Coca Diet.

Aproximou-se do nordeste da ilha na manhã de 29 de março. Com binóculos, tentou avistar alguém, sem sucesso. Então, desembarcou, colheu amostras de areia, deixou seus presentinhos, gravou um vídeo e foi embora.

No dia 31, a polícia de Port Blair o prendeu por desrespeitar a lei local. As imagens em sua câmera e os registros do GPS eram provas mais que suficientes. Segundo as autoridades, Polyakov tinha um plano meticuloso e não se mostrou nada intimidado ao ser detido.

Ele estudou o melhor ponto de partida para chegar à ilha e analisou condições marítimas. Mesmo sem ter conseguido estabelecer contato, insistiu, de volta ao barco, em chamar a atenção dos sentineleses com um apito estridente.

Polyakov será julgado e poderá pegar até cinco anos de cadeia. A polícia disse ainda que ele tentou fazer outras viagens a Sentinela do Norte. Em outubro do ano passado, foi impedido pelo pessoal do hotel onde estava hospedado. Em janeiro, chegou a uma outra ilha, igualmente proibida.

A ONG Survival International, que luta pelos direitos de povos indígenas, resumiu em duas palavras a aventura de Polyakov: "imprudente e idiota".

"As ações dessa pessoa não só colocaram em risco sua própria vida, como a de todos os sentineleses", declarou a diretora do grupo, Caroline Pearce, em um comunicado. "Já é de conhecimento geral que povos isolados não têm imunidade a doenças comuns, como gripe ou sarampo, que poderiam exterminá-los completamente."

Para ela, o fato de alguém chegar tão facilmente à ilha é problemático. "As autoridades indianas têm a responsabilidade legal de garantir que os sentineleses estejam seguros de missionários, influenciadores, pessoas que pescam ilegalmente em suas águas e qualquer outra pessoa que tente fazer contato com eles", completou.

Entrei no canal de Polyakov para saber mais sobre seus vídeos. A página, chamada "Neo-Orientalist", tem menos de 3 mil seguidores.

A descrição do canal se resume a duas palavras enigmáticas: "PLVS VLTRA". Trata-se da expressão latina "plus ultra" ("cada vez mais longe"). A frase é o lema nacional da Espanha e está presente no brasão de armas do país.

Isso porque "plus ultra" era o lema de Carlos 5º, o homem mais poderoso do mundo no começo do século 16. Imperador Romano-Germânico e rei da Espanha (como Carlos 1º), ele governava boa parte da Europa Ocidental, além das possessões espanholas no norte da África e as recém-conquistadas nas Américas.

O cabeçalho e a imagem de perfil de Polyakov mostram o youtuber com os traços inconfundíveis de Hergé. Apesar de Tintin ser um personagem adorável, algumas das histórias em quadrinhos do repórter belga envelheceram mal e requerem uma contextualização para situar o racismo da época em que foram criadas.

Bem, então quais seriam as visões de um youtuber americano que decide chamar seu canal de "neo-orientalista", com o mote de um imperador colonialista e a identidade visual de um personagem que, à luz dos dias atuais, tem certas histórias racistas? Assista e me diga.

Nada contra influenciadores, até tenho amigos que são. Mas esses que topam tudo por audiência comprometem o trabalho de um monte de profissionais sérios, além de colaborar com a mancha crescente de descrédito sobre sua própria classe.

No caso específico de Polyakov, que também fez vídeos supostamente no "Afeganistão sob regime Talibã", posando com metralhadoras, seus vídeos em Sentinela do Norte seriam mais problemáticos ainda. Numa brincadeira inconsequente, ele poderia provocar um assassinato em massa.

Não que eu não entenda o fascínio. Como o "Times of India" definiu, Sentinela do Norte permanece um paradoxo:

"Um lugar de profundo mistério e cuja beleza é de tirar o fôlego. Mas onde o preço da curiosidade pode ser a morte. Sua proibição é uma prova de um equilíbrio delicado: proteger um povo frágil, honrar sua feroz independência e preservar uma parte da herança ancestral da Terra."


Em tempo: as Ilhas Andaman têm praias lindas, bem estruturadas e que não lotam. Dá para visitá-las, conhecer e valorizar a cultura local sem transgredir nenhuma lei nem colocar a própria vida - e a existência de um povo - em risco.

Minha frase favorita da matéria interfira foi:

Nada contra influenciadores, até tenho amigos que são.

 

As tarifas de importação anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm como objetivo fortalecer a economia dos EUA e gerar empregos domésticos, mas, a longo prazo, podem ter efeitos muito contraproducentes tanto para os EUA quanto para seus parceiros comerciais, de acordo com o economista brasileiro Livio Ribeiro.

Em entrevista nesta quinta-feira, Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE) e especialista na China, enfatizou que a visão de Trump e sua equipe econômica se baseia na premissa equivocada de que o comércio internacional enfraqueceu a economia dos EUA, transferindo empregos industriais para o exterior e reduzindo a prosperidade do país.

“Dessa perspectiva, eles acreditam que é necessário atrair investimentos e produção de volta aos EUA para estimular o emprego e a renda doméstica”, explicou Ribeiro.

No entanto, segundo o economista, esse argumento ignora dois aspectos fundamentais do comércio global. Primeiro, a integração econômica permitiu que os consumidores americanos acessassem uma variedade maior de produtos e tecnologias a preços mais baixos.

Em segundo lugar, a estabilidade regulatória é fundamental para as empresas que decidem investir em um país. “Se as regras do comércio mudam constantemente, os investidores perdem a confiança e buscam alternativas mais previsíveis”, alertou Ribeiro.

A imposição de tarifas cria um efeito dominó na economia global. Analisando os setores e países mais afetados, Ribeiro observou que o impacto das tarifas não é uniforme. “Não se trata apenas da porcentagem da tarifa aplicada a um país, mas de como essa tarifa afeta a competitividade do produto no mercado dos EUA”, explicou ele.

“Por exemplo, uma tarifa de 20% sobre produtos europeus poderia ter um impacto diferente de uma tarifa de 34% sobre produtos chineses, dependendo da capacidade dos produtores de absorver parte do custo e manter preços competitivos no mercado dos EUA”, disse ele.

“Alguns setores poderão ajustar suas margens de lucro para não perder participação de mercado, enquanto outros não terão essa oportunidade e verão suas exportações declinarem”, disse Ribeiro.

Além disso, o impacto dessas medidas não se limita ao relacionamento bilateral entre os EUA e seus parceiros comerciais. Se os consumidores americanos reduzirem sua demanda por produtos de um determinado país, esses bens poderão ser redirecionados para outros mercados, afetando a concorrência e os preços globais. “É como se um tabuleiro de xadrez tivesse sido atingido: as peças estão no ar e ainda não sabemos onde elas vão cair”, explicou Ribeiro.

Para países como o Brasil, que dependem fortemente da exportação de matérias-primas como aço, alumínio e produtos agrícolas, a situação é complexa.

Segundo Ribeiro, setores com maior competitividade e capacidade de diversificação de mercado poderiam suportar melhor os efeitos das tarifas. “Produtos em que o Brasil tem vantagem comparativa, como produtos agrícolas, podem ser menos afetados em comparação a outros setores que dependem mais do mercado americano”, explicou.

No entanto, isso não significa que o cenário seja positivo. “Se o comércio global cair devido ao protecionismo, todos os setores serão prejudicados, embora alguns mais do que outros”, alertou o economista. A incerteza sobre como o conflito comercial evoluirá significa que governos e empresas devem estar preparados para se adaptar a um novo cenário econômico com regras mutáveis.

Nesse contexto, a busca por novos mercados e a negociação de acordos comerciais serão fundamentais para minimizar os efeitos negativos das tarifas impostas pelos EUA. “O futuro do comércio global dependerá de como os países responderão a essas políticas e de sua capacidade de encontrar alternativas que lhes permitam manter o fluxo de exportações”, concluiu Ribeiro.

 

Se a humanidade não conseguir reverter os efeitos das mudanças climáticas, a Terra pode sofrer uma extinção em massa, semelhante à do Período Permiano (entre 299 e 251 milhões de anos atrás), quando cerca de 90% das espécies não conseguiram sobreviver às condições drásticas. O alerta é do pesquisador Hugh Montgomery, diretor do Centro de Saúde e Desempenho Humano da University College London, na Inglaterra, e um dos autores do relatório de 2024 sobre saúde e mudanças climáticas da publicação científica The Lancet.

O estudioso abriu a programação do Forecasting Healthy Futures Global Summit, evento internacional sobre saúde e clima, que começou nesta terça-feira (8) no Rio de Janeiro. O Brasil foi escolhido para sediar a conferência porque vai receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro.

Montgomery ressaltou que essa extinção já vem ocorrendo ─ "a maior e mais rápida que o planeta já viu, e somos nós que estamos causando isso", frisou. Entretanto, a morte de espécies pode chegar a níveis catastróficos se o aumento da temperatura média global chegar a 3 graus Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais. Em 2024, alcançamos um aumento recorde de 1,5º C, e cientistas estimam que se as ações atuais foram mantidas, especialmente no que se refere a emissão de gases do efeito estufa, esse aumento deve chegar a 2,7 °C até 2100.

"Se continuarmos golpeando a base dessa coluna instável sobre a qual estamos apoiados, a própria espécie humana estará ameaçada. No ano passado, emitimos 54,6 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente na atmosfera — um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior. A concentração atmosférica de CO₂ não só está aumentando, como está aumentando de forma cada vez mais acentuada", explicou o especialista.

E, de acordo com Montgomery, outras consequências drásticas poderão afetar a Terra bem antes disso. "Se alcançarmos, mesmo que temporariamente, um aumento entre 1,7 °C e 2,3 °C, teremos um colapso abrupto das camadas de gelo do Ártico. Sabemos que isso também vai causar uma desaceleração significativa da Circulação Meridional do Atlântico, da qual depende o nosso clima, nos próximos 20 ou 30 anos, provocando uma elevação do nível do mar em vários metros, com consequências catastróficas".

Ele chama atenção para outras causas do aquecimento global, como a emissão de metano, gás com potencial danoso 83 vezes maior do que o dióxido de carbono, liberado principalmente durante a exploração de gás natural. O cientista inglês também argumentou que ações imediatas de despoluição são essenciais para a própria economia mundial, que, prevê ele, deve reduzir em 20% ao ano, ou 38 trilhões de dólares, a partir de 2049, por causa dos efeitos das mudanças climáticas.

Hugh Montegomery avalia que é importante pensar em medidas de adaptação a mudanças no clima, porque elas já estão afetando a saúde da população hoje, "mas isso não pode ser feito em detrimento de uma redução drástica e imediata nas emissões, porque não faz sentido focar apenas no alívio dos sintomas quando deveríamos estar buscando a cura".

 

A cinco dias do segundo turno presidencial no Equador, os candidatos Daniel Noboa (Ação Democrática Nacional) e Luisa González (Revolução Cidadã) intensificam suas agendas em meio a um cenário de indefinição e forte polarização. As eleições ocorrem no domingo (13) e mais de 13,7 milhões de eleitores estão convocados às urnas.

Os levantamentos mais recentes mostram empate técnico entre os dois postulantes. A consultora Comunicaliza aponta Noboa com 41,5% e González com 41,1%. Já o instituto Informe Confidencial atribui 45% ao atual presidente e 41,3% à candidata correísta. Em ambos os casos, o número de votos nulos, brancos ou indecisos varia entre 13% e 17%, o que reforça a imprevisibilidade da disputa.

A primeira volta, realizada em 9 de fevereiro, terminou com diferença inferior a 1 ponto percentual: Noboa teve 44,4% dos votos válidos contra 43,9% de González. A tendência de instabilidade nas pesquisas também se manifestou no primeiro turno, quando institutos indicaram vitória do atual presidente ainda na primeira rodada — cenário que não se concretizou.

Corrida marcada por ataques e denúncias

Na reta final, a campanha é marcada por ataques diretos e disseminação de desinformação. O presidente Noboa intensificou críticas à adversária e buscou associá-la ao narcotráfico e ao governo da Venezuela, numa retórica já recorrente da direita regional.

Em publicações na rede X, Noboa afirmou que Luisa González e o “regime de Maduro preferem narcotraficantes como aliados”. As declarações surgem em meio à polêmica presença no país de Erik Prince, ex-militar e fundador da empresa de segurança privada Blackwater, envolvida em violações de direitos humanos durante a guerra do Iraque. Prince esteve recentemente em operações conjuntas com militares equatorianos.

Luisa González reagiu às declarações afirmando que a presença de Prince “menospreza as Forças Armadas do Equador”. A candidata foi ainda alvo de uma denúncia por suposta violência política de gênero durante o debate de 23 de março. O Tribunal Contencioso Eleitoral solicitou documentação adicional para que a acusação avance, e o caso ainda está sob análise.

Expectativa da esquerda e reações internacionais

A candidatura de Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, tenta recolocar a esquerda no poder após sete anos. Na última semana, recebeu o apoio formal do movimento indígena Pachakutik, representado por Leónidas Iza, que conquistou meio milhão de votos no primeiro turno. Segundo Iza, o apoio “não é um cheque em branco”, mas representa um esforço para barrar o avanço autoritário e neoliberal do atual governo.

O Equador atravessa uma crise profunda, com aumento da violência, crise energética, desemprego e denúncias de abusos cometidos durante a militarização da segurança pública. Noboa, que assumiu o governo em 2023 após a renúncia de Guillermo Lasso, tenta renovar seu mandato até 2029. Sua proposta inclui reformas constitucionais e ampliação da presença militar em áreas urbanas.

Organismos internacionais, como a OEA, acompanharão a votação. No primeiro turno, o chefe da missão da entidade, Heraldo Muñoz, anunciou que incluirá em seu relatório denúncias de desequilíbrio no pleito devido à permanência de Noboa no cargo durante a campanha — em desacordo com a Constituição equatoriana, que exige afastamento para reeleição.

A expectativa é de que os primeiros resultados sejam divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral a partir das 18h (hora local) de domingo. Caso a disputa se mantenha apertada, o CNE informou que poderá aguardar a apuração completa antes de anunciar uma tendência.

 

A poucos metros da avenida Paulista, um ato silencioso ecoou forte contra a impunidade e a violência de Estado. A 5ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado reuniu neste domingo (6) centenas de pessoas em São Paulo para homenagear vítimas da ditadura militar e pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Com flores, velas, faixas e cartazes com rostos de desaparecidos, manifestantes caminharam do antigo DOI-Codi – símbolo da repressão durante o regime militar – até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

"Ditadura nunca mais"

O lema do ato, “Ainda estamos aqui”, foi inspirado no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que resgata a história de Eunice Paiva e seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político. A frase resume o espírito do movimento: resistir, lembrar e lutar por justiça – especialmente em um momento em que bolsonaristas pedem anistia para golpistas.

A psicóloga Vera Paiva, filha de Rubens e Eunive, destacou o simbolismo do silêncio como forma de protesto:

“Com velas nas mãos, com rosas nas mãos, homenageando os nossos mortos, dizemos: ditadura nunca mais! Pela vida e pela paz".

Bolsonaro e os golpistas

No mesmo dia da Caminhada do Silêncio, Jair Bolsonaro reuniu apoiadores na avenida Paulista em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Enquanto o ex-presidente discursava, participantes da caminhada exigiam sua prisão, apontando-o como líder da tentativa de golpe de Estado. Também foi pedido o indiciamento do general José Antônio Belham, responsável pelo assassinato de Rubens Paiva.

“O nosso objetivo é fazer esse ato todo ano. Cada vela acesa é uma afirmação contra a impunidade e contra os discursos de ódio que voltaram a ganhar espaço”, disse Vera Paiva.

Violência policial

A mobilização deste ano ampliou o debate para além da ditadura. Denunciou também a violência policial atual, que atinge principalmente jovens negros e periféricos.

Lorrane Rodrigues, do Instituto Vladimir Herzog, reforçou essa conexão entre passado e presente. “Estivemos mais próximos de movimentos que discutem a violência de Estado no Brasil contemporâneo. Essa caminhada também é sobre hoje", declarou.

Já a procuradora Eugênia Gonzaga, presidenta da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, foi enfática. “Esses atos continuam se repetindo. Hoje, defendem quem executa sem julgamento. Precisamos de responsabilização", pontuou.

A Caminhada do Silêncio foi organizada por entidades como o Núcleo de Preservação da Memória Política, o Instituto Vladimir Herzog e a OAB-SP, com apoio de organizações como a Anistia Internacional, a Comissão Arns, a UNE e o mandato do deputado Antonio Donato (PT) – autor da lei que tornou o evento parte do calendário oficial da cidade.

 

Distopia do clássico de Ray Bradbury ganha contornos reais nos EUA em meio à ofensiva do republicano contra obras literárias. Livros estão sendo retirados da biblioteca da Academia Naval dos EUA.

Desde que Donald Trump assumiu o poder, o cenário distópico de Fahrenheit 451 vem se tornando cada vez mais real. O livro reflete sobre a alienação, o autoritarismo, o individualismo e violência através de um mundo em que bombeiros, agentes do Estado, incendeiam livros em vez de apagar incêndios. Como se não bastasse a metáfora, agora também é possível fazer a analogia.

A ordem de retirada de 381 livros sobre feminismo, racismo e Holocausto da biblioteca da Academia Naval dos EUA (confira a lista completa ao final da reportagem), foi determinada outra vez pelo governo Trump e simboliza o aprofundamento de uma “política” que silencia debates sobre justiça social e diversidade. A ação partiu do gabinete de Pete Hegseth, secretário do republicano, em um esforço sistemático para excluir das instituições militares qualquer referência a questões como equidade de gênero, racismo estrutural e memória histórica.

A lista de livros também inclui obras que abordam momentos cruciais da história e das lutas sociais nos Estados Unidos e no mundo. Foram banidos títulos sobre o Holocausto, a participação de afro-americanos na Segunda Guerra Mundial, a atuação política de mulheres negras no século XIX e o impacto do assassinato de Trayvon Martin.

Entre os autores silenciados está Maya Angelou, cuja autobiografia Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola também foi removida. Angelou foi uma das vozes mais influentes da literatura afro-americana e um símbolo da resistência pelos direitos civis.

Também há temas que o autoritarismo costuma tentar silenciar: corpos, vozes e histórias. Estão entre eles reflexões sobre sexualidade, a presença social das mulheres, a violência racial, além de análises sobre a Ku Klux Klan, a realidade das mulheres em regimes islâmicos e o olhar sobre a identidade e a diferença.

Na última sexta-feira, a Marinha revelou uma lista de livros removidos da biblioteca da Academia Naval, como parte de um esforço mais amplo do governo Trump para suprimir conteúdos considerados “ideológicos” em ambientes federais.

A ofensiva já atinge escolas públicas, plataformas institucionais, iniciativas educativas e agora avança sobre acervos militares. A seleção foi realizada a partir de buscas por palavras-chave na biblioteca Nimitz, o que levou à identificação de cerca de 900 títulos. Quase 400 foram eliminados.

Fontes do Departamento de Defesa, entrevistadas pela Associated Press, expressaram desconforto com a decisão. Entre as principais preocupações está o risco de que a remoção de conteúdos históricos comprometa a formação dos cadetes e apague contribuições importantes de militares pertencentes às minorias sociais.

“Um livro é uma arma carregada na casa ao lado. Quem sabe quem pode ser o alvo do homem culto?” - Fahrenheit 451

LIST OF REMOVED BOOKS FROM NIMITZ LIBRARY.PDF

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submitted 1 month ago* (last edited 1 month ago) by NoahLoren to c/catolicismo
 

Me desculpem caso ao fazer essa pergunta eu esteja ofendendo alguém – Ou caso ela pareça estúpida, porque a resposta é óbvia para quem estudou mesmo que pouco o tema. Mas não encontrei uma comunidade de Teologia no Lemmy.eco.br. Gostaria de ouvir a opinião de adeptos ou não da religião que tenha estudado esse aspecto dessa e de outras religiões. Por favor, se alguém responder essa publicação, se mantenha respeito as crenças alheias, estou me referindo a lógica dessa religião monoteísta específica dentro de seu cânone literário e das interpretações de seus seguidores e estudiosos. Não a qualquer atrossidade que membros deste e de outras fés possam ter cometido no passado ou ainda estarem cometendo no presente. É uma curiosidade sincera minha!

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