Geopolítica

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Geopolítica é a congruência entre demasiados grupos de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território, e anexar a geografia cotidiana com a história. Desta forma, Geopolítica é um campo de conhecimento multidisciplinar, que não se identifica com uma única disciplina, mas se utiliza principalmente da Teoria Política e da Geologia e Geografia ligado às Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas.

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O Governo da Colômbia e a Segunda Marquetalia-EB, grupo guerrilheiro que surgiu de uma dissidência das antigas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), anunciaram neste sábado (29) que concluíram o primeiro ciclo de negociações de paz, que ocorreu na Venezuela.

Após os diálogos, o grupo armado anunciou um cessar-fogo unilateral e ambas as partes prometeram trabalhar por uma "desescalada abrangente e gradual do conflito".

"A Segunda Marquetalia se compromete a não permanecer armada ou uniformizada nas capitais municipais e centros urbanos ou nas rotas terrestres e fluviais […]. Da mesma forma, está comprometido com a libertação das pessoas que deteve e com o respeito e garantias para a população civil", afirma o comunicado emitido conjuntamente no final desta fase dos diálogos.

No texto, as partes destacaram que no primeiro ciclo de negociações em Caracas houve um "atmosfera proativa e construtiva das duas delegações e o desejo permanente de chegar a acordos com o propósito de alcançar a paz para a Colômbia".

Da mesma forma, o documento oficial destaca que "as delegações do governo da Colômbia e da Segunda Marquetalia concordaram em medidas antecipadas para a desescalada abrangente e gradual do conflito nos territórios onde esta organização está presente".

O texto ainda afirma que ambas as partes apreciam o apoio e seguimento dos países garantes, Cuba, Noruega e Venezuela, do representante da Conferência Episcopal e do representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Ambas as partes solicitaram ao governo de Cuba que acolhesse, na segunda semana de agosto, o próximo ciclo de negociações.

Paz total

O diálogo permanente com os grupos armados é uma das políticas implementadas pelo presidente Gustavo Petro desde o início do seu mandato em 2022. O mandatário transformou a "Paz Total" em uma política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.

Petro negocia ainda com o Exército de Libertação Nacional (ELN), com o Estado-Maior Central (EMC) e outros grupos. Com o ELN o governo tem um cessar-fogo estabelecido até agosto. A última reunião entre os dois também foi realizada em Caracas, em maio. Após o encontro, as duas partes concordaram em ampliar a participação popular nas conversas pelo fim dos conflitos armados.

O objetivo é que as comunidades participem de forma ativa dos diálogos para a paz no país para um Grande Acordo Nacional para a "superação do conflito social, político, econômico e armado".

Já com o Estado-Maior Central, o governo estabeleceu um acordo de cessar-fogo desde outubro de 2023. Em janeiro, as duas partes prorrogaram a trégua até 15 de julho. Mas no mês passado, o EMC realizou ataques no Estado de Cauca que deixaram ao menos dois policiais mortos. O episódio levou a troca no comando do Exército da Colômbia e a instalação de um Conselho de Segurança permanente em Cauca. O governo da Colômbia anunciou no final de maio que vai realizar um novo ciclo de debates com o EMC em Bogotá de 20 a 26 de julho.

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Houve importantes mudanças em um Haiti devastado pela violência, mas ainda resta ver se ocorrerão os tão necessários avanços. O primeiro-ministro interino, Garry Conille, jurou seu cargo em 3 de junho. Conille, antigo funcionário das Nações Unidas que ocupou brevemente o cargo de primeiro-ministro há mais de uma década, foi o resultado da eleição de compromisso do Conselho Presidencial de Transição.

O Conselho foi formado em abril para assumir temporariamente as funções da presidência depois da demissão do líder de fato Ariel Henry.

Recrudescimento da violência

O Haiti viveu a violência intensa e generalizada de gangues desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021. Henry viu-se finalmente obrigado a abandonar o cargo quando o conflito se intensificou ainda mais. Em fevereiro, duas importantes redes de gangues uniram suas forças. Atacaram o principal aeroporto do Haiti, obrigando-o a fechar durante quase três meses e impedindo que Henry regressasse do estrangeiro.

As gangues assumiram o controle dos postos de polícia e das duas maiores cadeias do Haiti, libertando mais de 4 mil presos. A violência se intensificou em uma zona da capital, Porto Príncipe, até então considerada segura, onde se encontram o palácio presidencial, a sede do governo e as embaixadas.

Os cidadãos haitianos pagaram um preço muito alto: a ONU calcula que cerca de 2.500 pessoas morreram ou ficaram feridas devido à violência das gangues no primeiro trimestre deste ano, um assombroso aumento de 53% em relação ao trimestre anterior.

Henry, ilegitimidade e fracasso

A sociedade civil não sentirá falta de Henry. Em geral, considerava-se que carecia de legitimidade. Moïse anunciou sua nomeação pouco antes de seu assassinato, mas nunca foi formalizada, e depois ganhou uma luta pelo poder graças em parte ao apoio de Estados estrangeiros.

Seu mandato foi um fracasso estrepitoso. Foi quando as gangues pareciam a ponto de tomar o controle total de Porto Príncipe que Henry perdeu definitivamente o apoio dos Estados Unidos.

Agora, os Estados Unidos, outros Estados e a Comunidade do Caribe (Caricom) apoiaram o Conselho e uma força policial internacional dirigida pelo Quênia, que já começou a ser implantada.

Manutenção da resistência

Cabe esperar que os líderes das gangues mantenham sua resistência a estes avanços. O mais destacado, o ex-policial Jimmy Chérizier, exige participar das conversações. Mas isto parece uma pose. Chérizier gosta de apresentar-se como um revolucionário, do lado dos pobres contra as elites.

De fato, as gangues são depredadoras. Matam inocentes, e os mais pobres são os que mais sofrem. As atividades com que as gangues ganham dinheiro, como o sequestro extorsivo, a extorsão e o contrabando, beneficiam-se da frágil aplicação da lei e da falta de autoridade central.

Aos líderes das gangues convém maximizar o caos durante o maior tempo possível e, quando isto terminar, buscarão um acordo com políticos favoráveis, como já fizeram no passado.

A quem interessa as disputas políticas?

As disputas políticas convêm às gangues, razão pela qual é preocupante que a criação do Conselho requeira negociações extensas e prolongadas. O opaco processo caracterizou-se, evidentemente, pelas manobras interesseiras dos políticos em sua luta pela posição e pelo status.

O órgão resultante tem nove membros: sete com direito a voto e dois observadores. Seis dos sete procedem de formações políticas, e o sétimo é um representante do setor privado. Um observador representa grupos religiosos e o outro a sociedade civil: Régine Abraham, cientista agrícola de profissão, do Agrupamento por um Acordo Nacional.

A formação do Conselho foi seguida pouco depois pela chegada de uma força de frente da polícia queniana, a que se seguirão outras. Demorou muito para chegar. O plano atual de uma força policial internacional foi aprovado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2023.

Iniciativa queniana

O governo do Quênia tomou a iniciativa, oferecendo mil agentes, com um número menor procedente de outros lugares. Mas a oposição queniana obteve uma ordem judicial que impedia temporariamente a transferência. Henry estava no Quênia para assinar um acordo de segurança mútua a fim de evitar a sentença, quando o fechamento do aeroporto o deixou retido ali.

Muitos haitianos desconfiam, com razão, da possibilidade de que intervenham potências estrangeiras. O país tem um triste histórico de ingerências internacionais interessadas, sobretudo por parte do governo estadunidense, enquanto as forças da ONU não foram salvadoras.

Uma missão de manutenção da paz de 2004 a 2017 cometeu abusos sexuais e introduziu a cólera. Esta será a undécima missão organizada pela ONU desde 1993, e todas foram acusadas de violações dos direitos humanos.

A sociedade civil haitiana indica o longo histórico da polícia queniana de cometer atos violentos e abusos contra os direitos, e teme que não entenda a dinâmica local. Também se coloca a questão de se os recursos investidos na missão não poderiam ser melhor empregados equipando e apoiando adequadamente as forças do Haiti, que sempre estiveram muito mais mal equipadas do que as gangues.

As precedentes iniciativas internacionais fracassaram manifestamente na hora de ajudar a reforçar a capacidade das instituições haitianas para proteger os direitos e defender o Estado de direito.

É hora de ouvir

A sociedade civil haitiana tem razão ao criticar o processo atual por não estar à altura das expectativas. É impossível esperar que uma única pessoa represente a diversidade da sociedade civil haitiana, por mais que se esforce. E esta pessoa nem sequer tem voto: o poder de tomar decisões por maioria de votos está nas mãos de partidos políticos que muitos consideram que contribuíram para criar a desordem atual.

O Conselho é também uma instituição dominada pelos homens: Abraham é seu único membro feminino. Dado que as gangues utilizam habitualmente a violência sexual como arma, o Conselho não parece estar em boas condições para começar a construir um Haiti livre de violência contra as mulheres e as meninas.

E dado o papel das potências internacionais em sua criação, o Conselho, assim como a missão liderada pelo Quênia, expõe-se à acusação de ser uma intervenção estrangeira mais, dando lugar a suspeitas sobre os motivos daqueles que estão por trás dele.

Os últimos passos poderiam ser o começo de algo melhor, mas só se se consolidarem, avançando na direção correta. A sociedade civil está pressionando o governo para que faça mais: para que haja muito mais liderança feminina e mais participação da sociedade civil.

Quanto à missão dirigida pelo Quênia, a sociedade civil solicita que sejam estabelecidas salvaguardas sólidas em matéria de direitos humanos, incluindo-se a possibilidade de apresentar queixas caso a missão, como todas as anteriores, cometa abusos dos direitos humanos. Não deveria ser pedir muito.

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O parlamento argentino concedeu o primeiro triunfo legislativo ao presidente ultraliberal Javier Milei na madrugada desta sexta-feira (28/06) ao aprovar seu pacote de reformas econômicas, embora de forma mais restrita do que a versão original, após meses de debate.

Depois de uma longa sessão, que começou ao meio-dia de quinta-feira (27/06), a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou a “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos“, conhecida como “Lei Bases”, que o governo havia enviado inicialmente em dezembro de 2023, poucos dias depois da posse de Javier Milei como presidente.

O texto passou duas vezes pela Câmara dos Deputados, depois pelo Senado e novamente, desta última vez, pela Câmara dos Deputados. Em seis meses, passou de mais de 600 artigos para menos de 250.

A lei concede ao presidente poderes extraordinários para evitar passar pelo legislativo, por um período de um ano, propostas administrativas, econômicas, financeiras e de energia. E permite que o presidente avance com as reformas econômicas e do Estado.

Seis meses de disputas no Legislativo

Após seis meses de idas e vindas no Congresso, de muitas negociações entre o Executivo, o Legislativo e os governadores das províncias, além da pressão de vários grupos, o governo obteve sua primeira lei aprovada pelo Congresso. Agora, Milei poderá aprofundar seu controle sobre o Estado: poderá vender algumas empresas estatais, reestruturar órgãos públicos e terá maior flexibilidade para demitir funcionários públicos.

“Vamos dar ao governo do presidente Milei as ferramentas para reformar o Estado de uma vez por todas”, disse o líder do bloco governista, Gabriel Bornoroni, em seu discurso de encerramento.

A lei também inclui uma reforma trabalhista para o setor privado. Por outro lado, a lei cria um regime de incentivo para grandes investimentos, que concede amplos benefícios fiscais, alfandegários e cambiais para investimentos de US$ 200 milhões ou mais em determinadas áreas.

Os deputados também aprovaram um pacote tributário, que reduz a pressão do imposto sobre a propriedade pessoal e aumenta o número de assalariados que devem pagar o imposto de renda.

A lei dá ao governo o respaldo regulatório exigido por grandes investidores, mercados globais e organizações internacionais.

“Sucateamento”

Mas, para seus críticos, as reformas representam um desmantelamento do Estado, um retrocesso sobre os direitos trabalhistas, a entrega das riquezas do país e uma política fiscal que favorece os mais ricos.

“Trata-se de medidas feitas sob medida para os setores de poder concentrado na Argentina”, disse o deputado peronista Hugo Yasky em seu discurso, que considerou que a lei permite que o capital estrangeiro “venha e tome o petróleo e o lítio em troca de nada”, e que transformará o país em “um paraíso fiscal”.

Originalmente, a “Lei Bases”, que Milei lançou com pompa como a base do plano de seu governo, tinha mais de 600 artigos, mas depois que sua tramitação fracassou em fevereiro, foi reduzida a 238 artigos, que também foram modificados no Senado.

Para conseguir a aprovação, o governo retirou da lista de empresas a serem privatizadas a companhia aérea Aerolíneas Argentinas, os correios argentinos e a Radio e Televisión Argentina (RTA), que controla a TV Pública e a Radio Nacional.

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O que houve nesse dia 26 de junho na Bolívia ainda não foi um golpe de Estado. Foi um putsch fracassado dado pelo comandante das Forças Armadas, Juan José Zuñiga, de maneira improvisada, acreditando que seria apoiado pelos outros oficiais golpistas.

Mas Zuñiga se precipitou.

Ele havia declarado, dois dias antes, em uma entrevista, que não aceitaria uma nova candidatura de Evo Morales à presidência da República. Como a declaração causou uma enorme polêmica, o presidente Luis Arce anunciou que Zuñiga seria exonerado. Então, o militar se antecipou, organizou um grupo do Regimento Especial de Challapata “Mendez Arcos” e tentou invadir o Palácio do Governo.

Mas ninguém mais o acompanhou. Nenhum quartel se levantou, em nenhum lugar do país. Contudo, ao contrário do que pode se pensar, a polícia não desempenhou um papel preponderante na contenção do putsch. Embora ela também não tenha aderido à aventura de Zuñiga, ela é ainda mais reacionária que o exército e esteve na vanguarda do golpe de 2019.

Evo e o próprio Arce chamaram o povo a se mobilizar contra a tentativa golpista. Centenas de pessoas expulsaram os militares de Zuñiga da Praça Murillo, demonstrando combatividade como haviam feito aos milhares em 2019.

Mas foi menos a mobilização popular e mais a falta de iniciativa dos militares que levou ao fracasso do putsch de Zuñiga.

A Bolívia vive uma forte crise política, tanto entre a direita como entre o MAS. Aqueles que poderiam ser considerados os principais líderes da direita – a ex-presidenta golpista Jeanine Añez, que assumiu após o golpe de 2019, e um dos principais autores daquele golpe, o extremista Luis Fernando Camacho – estão na cadeia.

Um dos objetivos anunciados por Zuñiga era soltar Añez e Camacho, talvez justamente para que unificassem a direita golpista. O mais preocupante é que, na falta de líderes políticos, os próprios militares busquem encabeçar o golpe – como Zuñiga tentou fazer.

Ao contrário do que foi feito por Hugo Chávez na Venezuela, o MAS não conseguiu expurgar os oficiais golpistas das forças armadas. Não houve um expurgo em nenhum momento, nem durante os governos de Evo nem com Arce. Assim, as forças armadas bolivianas são altamente reacionárias e vinculadas com o imperialismo americano. Os agentes da CIA estão profundamente infiltrados entre os militares da Bolívia.

Se, por um lado, os outros oficiais não acompanharam Zuñiga, e a OEA – que havia patrocinado o golpe de 2019 – desta vez condenou o putsch, é reveladora a postura do governo dos Estados Unidos. Enquanto todo o mundo rechaçou o golpismo, o governo americano afirmou apenas que acompanhava a situação e pediu calma e moderação. Essa é uma clara sinalização de que os EUA estão envolvidos com as articulações de um golpe na Bolívia.

Parece que os oficiais bolivianos deixaram Zuñiga se queimar para testar as possibilidades de um golpe de verdade ser bem-sucedido. Como comandante das forças armadas, Zuñiga sabia que outros oficiais têm sérias inclinações golpistas e por isso ele fez a tentativa, caso contrário não teria sido tão ousado.

A crise da esquerda é ainda maior que a da direita. O MAS e os movimentos populares estão profundamente divididos entre as alas de Evo e de Arce. Morales apresentou nos últimos anos sinais de capitulação ao entregar Cesare Battisti a Bolsonaro e ao governo italiano, a participar da posse do próprio Bolsonaro como presidente e a aceitar que Arce fosse o candidato do MAS nas eleições ocorridas devido à pressão popular, que reverteram o golpe e retiraram Añez do poder.

Porém, Arce é um burocrata moderado que, principalmente na política interna, tem se comportado como uma espécie de Lenin Moreno boliviano, embora não tão direitista. Ele não tem poupado esforços para afastar Morales e seus aliados da liderança do MAS e assim tomar o partido para si. Tanto Morales como Arce pretendem se candidatar às próximas eleições presidenciais, e apenas um deles poderá representar o MAS. A luta interna, que já é extremamente conturbada, tende a se acirrar.

Não há como resolver a crise do MAS e reunificar o partido. A única solução favorável ao povo boliviano é o rompimento das bases e da ala esquerda com a ala direita e a formação de um novo partido, operário, socialista e independente, que atue ombro a ombro com a Central Operária Boliviana para impedir o verdadeiro golpe que está sendo preparado, expurgar as forças armadas dos seus elementos golpistas e pró-imperialistas e garantir o poder para os trabalhadores e camponeses bolivianos, que em sua maioria apoiam Evo Morales contra Arce.

A derrota dos impulsos golpistas na Bolívia é fundamental para se impedir os planos de golpe continental feitos pelo imperialismo americano, que já deram certo na Argentina e no Equador e que têm o Brasil como alvo principal, porque os EUA não podem tolerar o Brasil com um governo como este de Lula por muito tempo. Certamente os militares e a direita boliviana mantêm ligações com a extrema-direita de Milei e também com a extrema-direita brasileira. Milei impôs uma ditadura com o uso e o abuso da polícia e do exército na Argentina. Noboa imitou o argentino e fez o mesmo no Equador logo em seguida. Os generais continuam impunes no Brasil um ano e meio após o 8 de janeiro e o bolsonarismo segue com força.

A América Latina, infelizmente, é ainda hoje o “quintal” dos EUA. Diante da complicada situação internacional, especialmente na Ucrânia, no leste asiático e no Oriente Médio, com derrotas sucessivas, o imperialismo americano precisa assegurar o controle do continente. Esse é um dos poucos pontos em que Joe Biden e Donald Trump estão de acordo. Portanto, independentemente do que ocorra nas eleições americanas, a América Latina estará no olho do furacão daqui adiante.

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A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou “fortemente”, por meio da aprovação de uma resolução nesta quinta-feira (27/06), a tentativa fracassada de golpe de Estado na Bolívia, perpetrada pelo general golpista Juan José Zuñiga na última quarta-feira (26/06).

Durante assembleia realizada no Paraguai, a OEA expressou sua solidariedade com La Paz e apelou à denúncia de qualquer tentativa de desestabilização na região.

O primeiro ponto da resolução apresentada pela delegação do Chile e aprovada por aclamação na sessão plenária “condena veementemente o destacamento ilegal de unidades do Exército do Estado Plurinacional da Bolívia”.

O documento ainda classifica a insurgência militar como “uma ameaça ao regime constitucional e uma flagrante insubordinação às ordens expressas publicamente pelo presidente Luis Arce Catacora”.

Já o presidente paraguaio, Santiago Peña, que é receptor da reunião da OEA, fez um discurso de abertura da sessão e afirmou que a região “não é para regimes militares ou ditaduras”.

Antes da sessão plenária, o embaixador boliviano na OEA, Héctor Arce Zaconeta, detalhou os acontecimentos no país e destacou a mobilização da população e das organizações sociais que se convocaram à Praça Murillo, onde fica a sede do Executivo boliviano, em defesa da democracia.

O representante boliviano ainda agradeceu a aprovação unânime da resolução em defesa da democracia na Bolívia, de acordo com a Carta Democrática Interamericana e a carta fundadora da OEA.

Postura diferente de 2019

Em 2019, quando Evo Morales foi impedido de assumir a Presidência após se reeleger, a OEA chegou a convocar uma reunião do conselho permanente para discutir a “situação da Bolívia”.

Apesar da organização rejeitar, à época, “qualquer saída inconstitucional da situação” e pedir “respeito ao Estado Democrático” do país, a organização não resultou em ações democráticas.

Em um relatório final, a OEA, comandada então por Luis Almagro, apontou que as eleições que levaram à vitória de Morales sofreram “manipulação e graves irregularidades que impossibilitaram a validação dos resultados”.

Morales, impossibilitado de assumir o mandato e exilado no México, acusou a OEA de estar “ao serviço do império norte-americano”.

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A campanha para as eleições presidenciais do Irã terminou na quarta-feira (26) com sondagens indicando surpreendente vantagem marginal para o único candidato reformista, Masoud Pezeshkian. Os debates sobre o impacto negativo das sanções dos EUA na economia do país emergiram como a questão mais significativa da campanha.

Na pesquisa feita por agências governamentais uma semana antes da votação de 28 de junho, o conservador Saeed Jalili liderava com 3% sobre seu rival mais próximo, e outro candidato conservador, Mohammad Baqer Qalibaf. No entanto, entre os entrevistados que afirmaram que votarão nesta sexta, 28 de junho, Pezeshkian foi o líder claro, com mais de 22,5% de eleitores a seu favor, seguido por Jalili com 19,2%.

Jalili, o antigo negociador-chefe nuclear do Irã, foi apoiado por 22,5% dos entrevistados em geral, enquanto Qalibaf, o atual presidente do parlamento iraniano, foi apoiado por 19,5% dos entrevistados. Pezeshkian teve o apoio de 19,4% dos eleitores entre os entrevistados em geral.

Qalibaf foi apontado anteriormente como o favorito dos setores conservadores do país e liderava as pesquisas no início do processo eleitoral.

Outros três candidatos, Amir-Hossein Ghazizadeh Hashemi, Alireza Zakani e Mostafa Pourmohammadi, receberam um apoio insignificante dos eleitores nas sondagens, o que indicava que mais de 28% de todos os entrevistados ainda não tinham decidido em quem votar em 28 de Junho.

Outras pesquisas sugerem que Pezeshkian está na liderança, com mais de 24% dos eleitores a seu favor, com Jalili e Qalibaf disputando estreitamente a segunda posição. Se não houver um vencedor claro na sexta-feira, haverá um segundo turno na primeira semana de julho.

As pesquisas sugerem uma maior participação dos eleitores, com mais de 51% dos entrevistados afirmando que votarão.

A diminuição gradual da participação dos eleitores é uma das principais preocupações no Irã. Durante as últimas eleições presidenciais de 2021, a participação eleitoral foi de 48%. Caiu ainda mais para cerca de 40% nas eleições parlamentares do país no início deste ano. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, apelou às pessoas para votarem em maior número. Uma maior participação dos eleitores fortalece a legitimidade do sistema iraniano, disse Khamenei.

Condição da economia domina nos debates presidenciais

Cinco debates televisionados foram realizados entre todos os candidatos presidenciais durante a campanha. Os debates centraram-se principalmente na condição econômica do país, no renascimento cultural, na direção da sua política externa e no funcionamento eficiente do governo.

O impacto das sanções unilaterais americanas na economia do país, a alegada corrupção e o empoderamento da economia rural e a condição das mulheres surgiram como questões importantes nos debates. A maioria dos candidatos durante o debate tentou enfatizar que darão prioridade ao renascimento da economia rural e às exportações de petróleo.

Alguns candidatos ressaltaram a necessidade de reforçar as políticas de bem-estar do Estado iraniano para evitar o impacto adverso do desemprego e da inflação.

Apesar de ter uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo, a economia iraniana tem sofrido nos últimos anos devido ás numerosas sanções dos EUA após a sua retirada unilateral do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA na sigla em inglês) ou do programa nuclear iraniano.

O Presidente Ebrahim Raisi, que morreu no mês passado num acidente de helicóptero, tentou fortalecer as relações com a China, a Rússia e os países do Sul Global. Um dos principais objetivos desta política era minar o impacto das sanções. Levou a um aumento nas exportações de petróleo do Irã após anos, e ao país aderir a várias organizações globais e a melhorar as relações com os vizinhos.

Durante os debates, a maioria dos candidatos declarou que vão manter as políticas de Raisi, além de aumentar os parceiros, para driblar as sanções ilegais.

O Irã tem exigido a restauração do JCPOA. Reiterou as suas exigências na reunião recentemente concluída do Conselho de Segurança da ONU, que reviu a implementação da sua resolução 2231 de 2015, que suspendeu todas as sanções internacionais contra o Irã após a assinatura do JCPOA multipartidário.

Apesar de várias rondas de diálogo para relançar o acordo, os EUA recusaram-se a suspender as sanções. No início desta semana, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs uma nova ronda de sanções contra 50 entidades iranianas, aparentemente por envolvimento em atividades financeiras internacionais.

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O republicano Donald Trump chamou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de “um péssimo palestino”, que não quer ajudar Israel a “terminar o trabalho” na Faixa Gaza. A declaração foi feita durante o primeiro debate entre os presidenciáveis, na noite desta quinta-feira (27). A eleição para a presidência dos EUA será realizada em novembro deste ano.

“Joe [Biden] não percebe que Israel quer continuar e que deve deixá-los terminar o trabalho. Ele não quer fazer isso. Ele se tornou um palestino. Mas eles não gostam dele porque ele é um péssimo palestino. É um palestino fraco”, disse Trump sobre o atual presidente, que nasceu nos Estados Unidos, diferente do que o republicano afirmou.

Ayah Ziyadeh, diretora do Americanos pela Justiça na Palestina e do Muçulmanos Americanos pela Palestina, criticou ambos os presidenciáveis em suas redes sociais.

"Alguém pode me dizer quem é o menor dos dois males?", perguntou em seu perfil no X. "Um é abertamente racista, quer deportar todos nós e acha que Biden não está sendo genocida o suficiente. O outro mal consegue funcionar, é uma cobra e conscientemente alimentou política e financeiramente um genocídio literal por 9 meses", disse.

O governo dos Estados Unidos historicamente financia o poderio militar de Israel. Desde o início do massacre contra os palestinos, em outubro do ano passado, quando Hamas acatou o território israelense, não tem sido diferente.

Em 2023, foram US$ 3,8 bilhões em ajuda militar enviados por Joe Biden a Benjamin Netanyahu, de acordo com o Al Jazeera. Desse montante, US$ 500 milhões foram para financiar o sistema de defesa de mísseis israelenses. Em abril deste ano, Biden assinou uma medida de auxílio de guerra de US$ 26 bilhões para Israel.

Logo após o início do conflito, Biden defendeu Israel. “Garantiremos que Israel tenha o que é necessário para cuidar dos seus cidadãos, cuidar de si mesmo e responder a este ataque. Não há justificativa para o terrorismo. Não há desculpa”, afirmou o presidente norte-americano.

Pelo menos 37.765 pessoas foram mortas e outras 86.429 ficaram feridas na guerra de Israel em Gaza desde 7 de outubro do ano passado. Já em Israel, o número de mortos é de 1.139, também segundo o Al Jazeera.

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Ao tomar conhecimento do início das movimentações de blindados militares e soldados das Forças Armadas reacionários da Bolívia, o presidente Luis Arce convocou bolivianos a se mobilizarem contra a tentativa de golpe de Estado. Rapidamente, conseguiu nomear um novo comando militar, tendo à frente o general José Wilson Sánchez Velázquez, que foi nomeado ao cargo de comandante das Forças Armadas. Arce, junto a outros ministros do governo, então, se dirigiu para o Palácio Quemado. Lá foi onde ocorreu o encontro entre o presidente e o general Zúñiga – que neste momento já havia tomado o Palácio Quemado, sede do governo.

Zúñiga afirmou que sua movimentação militar havia sido combinada dias antes em uma conversa reservada em que o presidente lhe revelou que seu governo passava por um momento difícil e que era preciso produzir um episódio para resgatar o apoio e legitimidade de seu governo.

Diferentemente de 2019, a postura da Organização dos Estados Americanos (OEA) não foi de apoio ao golpe. O Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, se pronunciou condenando a ação militar golpista: “O Exército deve submeter-se ao poder civil legitimamente eleito.” No que seguiram os opositores políticos do presidente boliviano, que também não apoiaram a tentativa de golpe de Zúñiga. Jeanine Añez, que está presa após ser auto-proclamada presidente interina em 2019 – após o golpe de Estado chancelado pelo USA via OEA – condenou o que chamou de “tentativa de destruir a ordem constitucional”. Luis Fernando Camacho, ex-governador da província de Santa Cruz (a mais rica do país) que também está preso após o golpe de Estado de novembro de 2019, afirmou que a ação era ilegal e inconstitucional, defendendo o governo de Arce.

Antes de 26 de junho, o governo de Luis Arce vinha enfrentando crises políticas e sua condução econômica estava sendo colocada em cheque. O principal aspecto da crise antes de 26 de junho girava em torno da exploração de lítio e da disputa com Evo Morales, que tem pretensões de eleger-se à presidência nas próximas eleições, previstas para 2025.

Imperialistas de olho no Lítio boliviano

O país tem a maior reserva de lítio do mundo, com cerca de 23 milhões de toneladas. A grande expectativa das classes dominantes bolivianas era discutir a forma concreta como se daria a exploração. Algumas perguntas que rondavam eram quanto de impostos seria cobrado, quais próximos acordos seriam fechados e quais superpotências imperialistas iriam ser beneficiadas com a possibilidade de exploração das riquezas minerais da Bolívia.

No início de 2024, a Bolívia fechou um acordo com a China para a extração direta de até 2.500 toneladas do recurso estratégico por um ano. Há expectativa de que a Rússia feche acordo semelhante.

Além disso, a Lei da Empresa Pública Nacional Estratégica de Sítios de Lítio Bolivianos (de número 928 de 2017) pretende priorizar a soberania nacional em todas as etapas da extração e produção.

Na semana passada, a Encarregada de Negócios da Embaixada do Estados Unidos na Bolívia foi convocada pelo ministério das Relações Exteriores do governo de Arce para prestar esclarecimentos. O governo queria detalhes sobre a “intromissão em assuntos internos sobre questões econômicas”. No mês passado, Laura Richardson, chefe do Comando Sul do USA, tratou da riqueza natural boliviana ao anunciar o novo “Plano Marshall” para a América Latina. “Olha para o petróleo. A Amazônia tem 31% da água doce do mundo, 60% do lítio, ouro, cobre e soja do mundo”, afirmou a imperialista ianque. Em 2020, Elon Musk, o imperialista sul-africano, defendeu que o Estados Unidos pode dar golpes em quem quiser, se referindo especificamente ao lítio, cujo maior comprador é sua empresa Tesla, que as utiliza nas baterias elétricas automotivas.

Arce e Evo: briga pela direção do governo

A crise política é outro aspecto do momento anterior a 26 de junho. Evo Morales se pronunciou denunciando a tentativa de golpe assim que iniciaram os movimentos de Zúñiga. O episódio extremo de uma tentativa de golpe militar de Estado foi responsável pelo raro momento em que Morales e Arce estiveram do mesmo lado nos últimos anos.

A busca de Morales por retornar à presidência da Bolívia (após ser presidente entre 2006 e 2019, ano do golpe de Estado que deixou 33 mortos, centenas de feridos e outras centenas presos) é um dos pontos principais da crise política boliviana.

O general Zúñiga afirmou, no início dessa semana, que prenderia Morales se este insistisse em concorrer às eleições mesmo estando inabilitado pela Justiça Eleitoral. Por conta da declaração, foi destituído pelo presidente Arce. Porém, o próprio Arce (que foi ministro da Economia durante o governo Morales) possui profundas divergências com o ex-presidente.

Assim que a OEA divulgou um relatório apontando fraude nas eleições de 2019 (corroborando com a tese da oposição derrotada), o golpe de Estado estava chancelado pelo Estados Unidos via OEA. Evo Morales saiu do país para o México, em exílio. Meses após, a autoproclamada “presidente” da Bolívia, Jeanine Áñez, junto da bancada do Movimento para o Socialismo (MAS) e os líderes oportunistas sindicais, assinaram, no dia 17 de novembro, um acordo de “pacificação”, de paralisação dos protestos populares contra o golpe militar e a realização de novas eleições.

Dentro do acordo, Evo Morales ficou impedido de participar das eleições presidenciais em 2020. Foi neste momento que Luis Arce saiu candidato e assumiu a presidência, após receber mais de 52% dos votos em uma campanha marcada pelo apoio de Arce a Morales.

Porém, ao assumir, Arce foi pressionado por Morales a realizar uma reforma ministerial, gerando uma crise política em 2021. Não cedendo às vontades de Morales, Arce passou a ser tachado como “direitista” dentro do partido de ambos, o MAS. No X Congresso do MAS, registrou-se a “autoexpulsão” do presidente Luis Arce e de seu vice, também do MAS, David Coquehuanca. Protestos nas ruas se sucederam ao episódio interno da disputa na sigla partidária. Eles foram violentos, com três mortos, 32 policiais feridos e 21 manifestantes presos com explosivos. Foram registrados, no período, um aumento do preço dos insumos básicos e escassez de alguns produtos em La Paz.

A grande questão para o governo de Arce é qual o próximo passo a ser dado. Não há ainda como definir se Evo Morales vai abrir mão de sua candidatura (algo difícil de se imaginar). Mas o presidente Arce certamente buscará pintar-se como o responsável por impedir um golpe militar de Estado.

Estou tentando trazer matérias sobre esse caso por jornais diferentes para diversificar a quantidade de informações e análises.

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Estados Unidos e Bolívia entram em campo neste domingo pela 1ª rodada da Copa América no estado de Dallas. Mas os dois países disputam fora do campo um recurso que é fundamental para a indústria estadunidense: o lítio.

A Bolívia tem a maior reserva do recurso no mundo. São cerca de 23 milhões de toneladas concentradas no sul do país. A região conhecida como salar do Uyuni forma um triângulo de grandes reservas com a Argentina – que tem 17 milhões de toneladas – e Chile – com outras 9,3 milhões de toneladas.

A demanda pelo minério aumentou vertiginosamente nos últimos anos depois do crescimento da produção de carros elétricos. A indústria depende do lítio para fazer baterias de alto rendimento para os veículos. Com isso, o preço do produto subiu e, em 13 anos, saltou de US$ 5 mil (R$ 27 mil) por tonelada do carbonato em 2010 para mais de US$ 80 mil em 2022. Em 2023, o preço caiu para US$ 23 mil no que especialistas entendem como resultado de uma queda nas vendas de carros elétricos na China.

Os Estados Unidos tentam controlar a produção de lítio do país para evitar a concorrência de China e Rússia na região. Isso ficou ainda mais claro durante uma conferência da Câmara dos Representantes dos EUA em março de 2023. A chefe do Comando Sul, Laura Richardson, disse que o triângulo do lítio é tratado como uma questão de "segurança nacional sobre o nosso quintal dos fundos".

O professor Paulo Niccoli Ramirez já havia exposto essa situação no livro O Golpe de 2019 na Bolívia – Imperialismo contra Evo Morales (Ed. Coragem, 2023). De acordo com ele, o país teve participação direta no golpe contra Evo Morales em 2019 e tinha no lítio o seu principal objetivo.

Já o governo boliviano tem adotado estratégias para manter o recurso sob produção estatal e fazer parcerias estratégicas com outros países que têm tecnologia para explorar o mineral. O Estado criou a lei 928, que prioriza a soberania nacional na produção de lítio com a participação integral da estatal YLB em todas as etapas da produção. Além disso, implementou a tecnologia chamada pelo governo de Extração Direta de Lítio (EDL), que é menos poluente e gasta menos água para limpar o lítio bruto.

A ideia do governo é que, ao longo do tempo, o próprio país tenha capacidade de produzir as ferramentas necessárias para a extração do lítio.

No plano de industrialização dessa cadeia produtiva, o país firmou em 2023 uma parceria com a China para ampliar a capacidade de produção anual do composto químico. O consórcio CBC - integrado pelas companhias chinesas Contemporary Amperex Technology Limited (CATL), Brunp e China Molybdenum Company Limited (CMOC) - estão responsáveis por instalar duas plantas de produção de carbonato de lítio nos salares bolivianos de Coipasa e Uyuni.

A empresa Uranium One Group, braço da estatal russa Rosatom, também assinou um projeto que aceita as condições do governo da Bolívia para fazer testes e projetos pilotos no país.

Com investimento de mais de US$ 1 bilhão (quase R$ 5,2 bilhões), cada planta teria capacidade de produzir 25 mil toneladas por ano de carbonato de lítio. Em 2022, a produção boliviana do mineral foi de apenas 600 toneladas segundo a YLB.

Para o economista boliviano Martin Moreira, o ideal é que o país tenha o controle sobre a produção e a relação com os EUA não é positiva neste sentido.

"Em primeiro lugar, devemos manter a soberania do país e fazer negócios com os Estados Unidos significa perder a soberania e aceitar condições. Nessas condições colocadas pelos EUA, procuramos não negociar com empresas que tenham as condições do país do Norte, mas podemos negociar com investidores que aceitem as condições do país quanto à exploração de recursos minerais estratégicos e não restrinjam a livre gestão da YLB como a empresa que vai orientar. A ideia é que as empresas dos outros países respondam a esta empresa estratégica boliviana", disse ao Brasil de Fato.

A nacionalização da produção de recursos minerais em 2008 e, em 2017, a criação da YLB, permitiram que os investimentos e as exportações na área fossem voltados à estrutura pública do país. Para Moreira, isso resolveu grande parte dos problemas estruturais do país.

"Graças à nacionalização, os problemas estruturais da Bolívia puderam ser resolvidos, desde as infraestruturas até à saúde e à educação. Agora, o lítio é a nossa oportunidade de atrair investimentos e divisas para o país", disse.

O que outros países da região fazem com seu lítio

Diferente da Bolívia, no Chile e na Argentina o lítio não é nacionalizado. No Chile, parte dos parlamentares constituintes apresentaram, em 2022, propostas para regulamentar a mineração chilena de cobre, lítio, e acabar com as concessões privadas, determinando a soberania do Estado sobre essas explorações. As propostas, porém, foram rejeitadas pela Convenção Constitucional, e sequer chegaram à versão do texto final da primeira versão da nova Constituição, que também acabou sendo rejeitada em plebiscito.

O debate sobre a nacionalização do lítio na Argentina também ganhou força nos últimos anos, com propostas de criação de uma empresa estatal de lítio, discutidas em um país onde os bens minerais pertencem às províncias. O setor empresarial argentino, representados pela Cámara Argentina de Empresários Mineros (CAEM), Unión Industrial Argentina (UIA) e a Cámara Argentina de la Construcción (Camarco), tem se oposto à iniciativa.

Com 880 mil toneladas de reservas identificadas de lítio, o Peru se encontra em 13° lugar na lista da US Geological Survey (agência estadunidense responsável por recursos naturais). Dois meses antes do recente golpe contra Pedro Castillo, o chamado Bloque Magisterial de Concertación Nacional apresentou no parlamento peruano um projeto de lei para nacionalizar a prospecção, exploração e industrialização do lítio no país.

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Uma caravana de tanques e mais de cem soldados mascarados começaram a cercar a Plaza Murillo, sede política da Bolívia. Por volta das 14h30, os militares entoaram canções militares para incentivar seu objetivo: tomar o prédio do governo e “recuperar a Pátria”.

A mobilização foi liderada pelo general deposto e ex-comandante do Exército Boliviano, Juan José Zúñiga, que acusou o governo de Arce de promover um autogolpe.

Enquanto isso, as ruas da cidade de La Paz rapidamente se inundaram de pessoas que pretendiam voltar para suas casas, mas enfrentaram a ameaça de outro golpe militar, semelhante ao ocorrido em 2019, que forçou o ex-presidente Evo Morales (2006- 2019) a renunciar ao cargo, eles mudaram de ideia.

Zúñiga, que liderava a subversão, posicionou-se dentro de um tanque e tentou arrombar as portas do palácio presidencial, também conhecido como “Palácio Queimado”. Lá dentro estava o presidente Luis Arce Catacora.

Mas devido ao aumento da segurança, as portas permaneceram fechadas, obrigando Zúñiga a voltar ao seu tanque e redobrar as forças para arrombar à força a porta principal do edifício mais importante da nação andina.

“Nosso país não pode mais continuar assim, fazendo o que quiser. Estamos demonstrando o nosso descontentamento, vamos recuperar esta Pátria, chega de destruí-la, chega de empobrecer a nossa Pátria, chega de humilhar a nossa Pátria”, disse Zúñiga à imprensa.

Zúñiga é um ex-militar boliviano com longa carreira no Exército. De novembro de 2022 até sua recente demissão em junho de 2024, ocupou o cargo de comandante geral, responsável por liderar as operações militares da Bolívia.

Durante seu mandato, Zúñiga ocupou o posto de coronel e esteve à frente do regimento REIM-23 Max Toledo entre 2012 e 2013, sua carreira foi marcada por acusações de apropriação indébita de fundos públicos. Ele é acusado de supostamente desviar 2,7 milhões de bolivianos destinados a programas sociais como Renta Dignidade e Juancito Pinto. Por esse motivo, ficou preso por um período de sete dias.

Apesar destas acusações, Zúñiga continuou a ascender na carreira militar. Graças à sua atuação como Chefe do Estado-Maior e Brigadeiro-General, foi escolhido pelo Presidente Luis Arce para liderar o Exército como Comandante-General a partir de 1º de novembro de 2022.

“Eu sou seu capitão”

Depois que um grupo de aproximadamente quarenta soldados entrou no palácio presidencial na companhia de Zúñiga, o presidente Arce o enfrentou para tentar conter a insurgência militar.

“Como capitão, ordeno a todos os policiais militares que retornem imediatamente aos seus quartéis. General, não permitiremos que continue suas ações contra o povo boliviano”, declarou Arce com firmeza diante de Zúñiga.

Arce, um economista de sessenta anos, assumiu com autoridade a presidência da Bolívia em 8 de novembro de 2020. Sua experiência como Ministro da Economia e Finanças Públicas entre 2006 e 2017, e novamente em 2019, fez com que fosse reconhecido como o principal responsável pelo impressionante crescimento econômico do país durante o governo de Evo Morales

Desde 2006 até hoje, a Bolívia é governada pelo Movimento ao Socialismo – Instrumento Político pela Soberania do Povo (MAS-IPSP), fundado em 1997 pelas organizações sociais que compõem o Pacto de Unidade.

“As Forças Armadas pretendem reestruturar a democracia, torná-la uma verdadeira democracia, não de poucos, não de alguns proprietários que já governam o país há trinta, quarenta anos”, expressou Zúñiga à imprensa após a sua tentativa de assumir o poder e a casa do governo.

A libertação de Jeanine Áñez e Luis Fernando Camacho, identificados como os principais autores do golpe de Estado contra o ex-presidente Evo Morales em novembro de 2019, foi exigida por Zúñiga.

Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), 36 pessoas perderam a vida em diferentes regiões do país durante os conflitos daquele ano.

“Um pedido que recebi e que vamos cumprir é a libertação imediata de todos os presos políticos, vamos libertar absolutamente todos os presos políticos, de Camacho, de Añez, dos generais, dos tenentes-coronéis, dos majores que estão presos , esse é o pedido das forças armadas. Queremos restaurar a democracia, o povo não tem futuro e ao exército não falta coragem para garantir o bem-estar e o progresso do nosso povo”, disse Zúñiga.

Mobilizações e lesões

Durante a crise institucional, Arce nomeou uma nova liderança para as forças armadas. Um grande número de pessoas reuniu-se no palácio incendiado para mostrar o seu apoio ao governo Arce. Os militares tomaram medidas para conter os manifestantes, utilizando gás lacrimogéneo e erguendo barricadas.

Segundo declaração do Ministro da Segurança da Bolívia, Carlos Eduardo del Castillo, houve confrontos que resultaram em pelo menos nove feridos civis. A natureza e a gravidade dos ferimentos causados pelas balas não foram especificadas.

“Há civis que foram feridos com armas de fogo. Obviamente, os feridos nos mostram que não se tratava de um exercício, a desobediência ao poder das pessoas que residem temporariamente em nosso presidente, mostra que aqui o que eles procuravam era cometer novamente um golpe de Estado”, disse Castillo em uma conferência de imprensa.

Após a retirada dos militares, Zúñiga foi preso ao sair do quartel-general do Estado-Maior Boliviano. A Procuradoria-Geral da República formalizou a acusação criminal contra o general deposto e outros responsáveis por “uma tentativa fracassada de golpe de Estado e subversão da ordem constitucional vigente”, afirmou o Ministério Público num comunicado oficial.

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A OTAN anunciou nesta quarta-feira (26/06) a nomeação do primeiro-ministro holandês em fim de mandato, Mark Rutte, como seu novo secretário-geral, em um momento crítico devido à guerra na Ucrânia e ao possível retorno de Donald Trump à presidência dos EUA.

Rutte, 57 anos, assumirá o cargo em 1º de outubro, substituindo o norueguês Jens Stoltenberg, e recebendo o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte em um momento particularmente delicado.

“O Conselho do Atlântico Norte decidiu nomear o primeiro-ministro Mark Rutte como o novo secretário-geral da Otan”, anunciou a aliança depois que os embaixadores dos países membros aprovaram a nomeação.

Os líderes da OTAN deverão referendar a eleição na cúpula a ser realizada de 9 a 11 de julho em Washington.

“Construtor de consenso”

Quase imediatamente, Stoltenberg saudou a nomeação de Rutte com uma mensagem de congratulações na rede X. “Ele é um líder forte e um construtor de consenso. Desejo a ele todo o sucesso. Sei que deixo a Otan em boas mãos”, afirmou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a liderança e a experiência de Rutte “serão cruciais para a aliança durante esses tempos difíceis”.

“Estou ansiosa para trabalhar com você para fortalecer ainda mais a parceria UE-OTAN”, acrescentou.

Líderes de outros países da OTAN parabenizaram o holandês. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, por exemplo, escreveu na plataforma X: “Caro Mark Rutte, parabéns! E boa sorte como secretário-geral da Otan. Raramente nossa aliança foi tão importante como é hoje. Sua experiência, conhecimento em política de segurança e habilidades diplomáticas vieram para o lugar certo. Uma boa escolha para a liberdade e a segurança”.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, declarou estar confiante de que Rutte dará continuidade “ao excelente trabalho de Stoltenberg para fortalecer para manter a OTAN forte e unida”.

Ulf Kristersson, chefe de governo da Suécia, novo membro da Otan, descreveu Rutte como um “líder extraordinário”.

O secretário-geral da OTAN tem a função principal de coordenar os processos de coordenação política entre os aliados e garantir que o consenso possa ser alcançado mesmo em questões difíceis. Como também pode fazer propostas de ação, ele desempenha um papel decisivo, especialmente em tempos de crise ou conflito.

Desde o início de sua campanha, Rutte conquistou o apoio dos principais membros da Otan, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.

A corrida pela nomeação ao cargo pendeu a seu favor na semana passada, depois que o único candidato restante, o presidente romeno Klaus Iohannis, desistiu de suas aspirações e declarou seu apoio a Rutte.

Além disso, o líder holandês ganhou o apoio de dois países abertamente hostis à sua indicação, a Hungria e a Turquia.

Grandes desafios

O experiente líder holandês, que chefiou o governo de seu país por 14 anos, é visto como um líder capaz de administrar a aliança em tempos de grandes desafios.

Enquanto enfrenta o espectro de um possível retorno do ex-presidente dos EUA Donald Trump à Casa Branca após as eleições de novembro, Rutte também terá que lidar com a ameaça do líder russo Vladimir Putin no flanco oriental.

Um firme aliado da Ucrânia, Rutte liderou uma iniciativa para fornecer ao país caças F-16 como forma de ajudá-lo a combater a invasão russa.

Como chefe da OTAN, ele desempenhará um papel fundamental para convencer os países da aliança a continuar apoiando a Ucrânia.

O chefe de gabinete do governo ucraniano, Andrii Yermak, disse na plataforma social X que a “liderança e a dedicação de Rutte aos princípios democráticos” são “cruciais para o nosso futuro compartilhado”.

A guerra na Ucrânia revigorou a OTAN, que estava lutando para encontrar um propósito após o fim da Guerra Fria, e levou as nações europeias a aumentar seus gastos com defesa.

Agora, Rutte terá que garantir que a OTAN esteja em condições de lidar com a ameaça estratégica que, de acordo com a aliança, a Rússia representará nos próximos anos.

Seu maior desafio, no entanto, poderá ser manter a OTAN unida se Trump voltar a ocupar a presidência dos EUA. Durante seu mandato, Trump foi um forte crítico da aliança e chegou a considerar a retirada dos EUA da aliança transatlântica.

Em sua campanha de reeleição, Trump voltou à carga, afirmando que incentivaria a Rússia a fazer “o que quiser” com os países da OTAN que não gastam o suficiente em defesa.

Rutte terá que seguir os passos de Stoltenberg, o ex-primeiro-ministro norueguês que liderou a OTAN durante uma década crítica para a aliança. O inflexível e, às vezes, robótico Stoltenberg foi amplamente elogiado por manter a unidade e fortalecer a aliança durante um período tumultuado.

Rutte será o quarto holandês a ocupar o cargo de secretário-geral da Otan, OTAN de Dirk Tikker (1957-1963), Joseph Luns (1971-1984) e Jaap de Hoop Scheffer (2004-2009).

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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse esta quarta-feira (26/06) que só aceitará ter uma reunião bilateral com seu homólogo argentino, Javier Milei, após este pedir desculpas “a mim e ao Brasil”.

A declaração aconteceu durante uma entrevista ao portal UOL. Segundo o mandatário, Milei “falou muita bobagem” sobre ele nos últimos meses.

“A Argentina é um país que eu gosto muito, é um país muito importante para o Brasil, o Brasil é muito importante para a Argentina, e não é um presidente da República que vai criar uma cizânia entre o Brasil e a Argentina. O povo argentino e o povo brasileiro são maiores que os presidentes”, frisou Lula.

As palavras do presidente aludem a declarações feitas por Milei durante sua campanha eleitoral, em 2023, quando chamou Lula de “comunista” e “corrupto”, e assegurou que, em seu governo, a Argentina romperia relações com o Brasil – medida que não se confirmou em seus primeiros sete meses de governo.

Resposta da Casa Rosada

As declarações de Lula foram rapidamente respondidas pelo porta-voz da Presidência da Argentina, Marcelo Adorni.

Em uma coletiva na Casa Rosada, o funcionário assegurou que o presidente Javier Milei não pedirá desculpas a Lula.

“Nós respeitamos as pretensões do presidente Lula, mas o presidente Milei considera que não cometeu nada pelo que tenha que se arrepender, ao menos até agora”, afirmou Adorni.

O porta-voz acrescentou que o governo argentino considera que não há rusgas entre os dois países atualmente e citou a recente reunião do G7 como exemplo. “Durante o evento, na Itália, não houve uma reunião bilateral (entre Lula e Milei), mas se encontraram de forma casual e se cumprimentaram cordialmente, como devem fazer dois presidentes de nações que tem tanto em comum”, completou.

Foragidos bolsonaristas

Nesse mesmo trecho da entrevista, o presidente brasileiro abordou o tema dos bolsonaristas que pediram asilo na Argentina após serem condenados pela Justiça brasileira por terem participado da tentativa frustrada de golpe de Estado no dia 8 de janeiro.

Segundo o mandatário, o tema está sendo tratado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pelo diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que estão negociando diretamente com as autoridades argentinas.

“Se esses caras não querem vir, que sejam presos lá, que cumpram a pena na Argentina”, comentou Lula, após afirmar que as conversações entre representantes dos dois países sobre esse tema têm avançado cordialmente, apesar das discrepâncias ideológicas entre os governos.

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Ao conhecido geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) é atribuída a semeadura da geopolítica como a conhecemos hoje: uma seara de análises, reflexões e diretrizes para a ação política de Estados e governos, ainda que o termo “geopolítica” nunca tenha aparecido em seus escritos. A proposição do nome coube a um dos inúmeros alunos e discípulos de Ratzel, o sueco Rudolf Kjellén (1864-1922). Se uma busca pelas origens etimológicas estivesse em questão, sequer precisaríamos ir muito longe, já que no texto em que pela primeira vez fala em “geopolítica” (o artigo Estudos sobre os limites políticos da Suécia, de 1899, publicado na revista conservadora Ymer, v. 3, p. 283-331), Kjéllen não só faz referência a uma das mais famosas obras de Ratzel (Geografia Política, 1897) como fala sobre “colocar em prática” suas sugestões. Inicialmente uma combinação de termos, a “geopolítica” de Kjéllen é melhor apresentada em seu livro Estado como forma de vida, obra publicada em 1916 e pela qual ficou conhecido.

Discípulos ratzelianos à parte, a paternidade da geopolítica é atribuída a ele não sem motivos. A maioria dos manuais sobre o assunto costumam iniciar por Ratzel, pois seu papel foi fundamental na história da geografia moderna (fundamentalmente europeia) e vai além. História, etnologia e geografia articulam-se a todo tempo em seu pensamento para formar não menos que uma história global da humanidade ou até uma teoria da história.

Boa parte de sua obra foi escrita durante o processo de formação do Estado alemão moderno e especialmente no período bismarckiano de consolidação desse Estado. E a despeito de quaisquer relativizações que são bastante presentes nos estudos sobre Ratzel, não é possível separar por completo seu pensamento de uma certa posição de “conselheiro do príncipe”, embora, justiça seja feita, ele nunca tenha cumprido individualmente nenhuma posição de Estado. Em seu caso, os conselhos vieram em forma de teoria, muitas vezes uma complexa fundamentação teórica do projeto imperial alemão (e falaremos disso ao longo dessa série). Longe de um discurso panfletário vulgar, a obra de Ratzel está atrelada ao desenvolvimento histórico da Alemanha: uma nação em luta para se unificar em seu atraso diante das demais potências europeias, cujo capitalismo já se desenvolvera em imperialismo, e que corriam muito à frente na partilha colonial do mundo, da qual a Alemanha não era mais que uma espectadora em segundo plano.

A disposição dos povos sobre o planeta terra e seu desenvolvimento político, a formação dos Estados, sua expansão e o estabelecimento de fronteiras, a dominação colonial, etc.: todos esses temas e outros vários aparecem em Ratzel. Mas, como dito, não trata-se de um mero autor panfletário, antes o contrário: possui uma obra gigantesca que só pode ser apresentada com muito cuidado, já que várias tentativas de fazê-lo acabaram por enviesá-lo (como é o caso da escola francesa, sua oponente de teto de vidro) e suas reivindicações levaram a caminhos conhecidos (Haushofer e a geopolitik nazista-alemã, por exemplo).

Para tentar entender sua importância e papel na formulação das bases fundamentais da geopolítica, nos últimos tempos me lancei a um estudo mais aprofundado de sua vida e obra. A partir de um extenso roteiro de estudos, do recurso a biografias e aos escritos do próprio Ratzel (a maior parte deles não disponível em português), espero que ajude aqueles que, como eu, estejam interessados no primeiro nome que aparece nos manuais de geopolítica, dos mais vulgares e sintetizados à quase falsificação, aos mais completos e aprofundados. Se o conteúdo não agradar, que este esforço ao menos encurte os caminhos do leitor: a sequência de artigos inaugurada agora serve também como um levantamento bibliográfico cuidadosamente conduzido. Aqui veremos um Ratzel que extrapola as obras pelas quais é mais conhecido, sempre que possível apontando informações relevantes sobre edições, traduções e sobre a disponibilidade do material mencionado.

Por fim, um último aviso: dentre as biografias de Ratzel que pude consultar, a que melhor me serviu (e de onde foram tiradas todas as informações biográficas que constam aqui) foi a Friedrich Ratzel: a biographical memoir and bibliography, publicada em 1961 pela geógrafa britânica Harriet Grace Wanklyn (disponível on-line, em inglês). Sua segunda parte é um riquíssimo levantamento bibliográfico da obra do autor alemão e compila não só seus livros publicados em vida como uma grande variedade de artigos, muitos deles essenciais para entender aspectos de seu pensamento que não são abordados nas obras principais. Sem mais delongas, iniciemos o percurso.

No início, as ciências naturais

Ratzel nasceu em 1844 na cidade alemã de Karlsruhe, capital do Grão-Ducado de Baden, um Estado alemão independente até que, em 1871, a colcha de retalhos germânica foi unificada sob a forma do Império Alemão, com a Prússia à frente. Filho do Kammerdiener do grão-duque, uma espécie de gerente da equipe pessoal, Ratzel muito cedo teve acesso à grande biblioteca do palácio onde o pai trabalhava, estando desde a infância rodeado pelo ambiente político e intelectual da aristocracia do pequeno Estado à margem do rio Reno.

Já aos quinze anos tornou-se aprendiz de um boticário, desempenhando a profissão por quatro anos na Alemanha, dois anos na Suíça e depois novamente na Alemanha. Foi nesse ofício que pela primeira vez teve contato aprofundado com a botânica e a história natural. Aos vinte e um começa a estudar zoologia em Heidelberg, depois em Jena e finalmente em Berlim. Em 1868 termina a tese necessária para concluir sua formação em zoologia, o estudo Contribuições para o estudo anatômico e geral dos Oligochaeta (grupo de animais cujos mais conhecidos são as minhocas).

Seu primeiro livro foi publicado no ano seguinte em Leipzig, na época o maior centro de publicação e venda de livros no mundo. Com o nome Ser e devir do mundo orgânico (disponível on-line, em alemão) é um longo tratado de mais de 500 páginas sobre a história da vida na Terra em termos biológicos e também culturais. O subtítulo da obra, inclusive, a apresenta como “uma história popular da criação”. Já no prefácio (s.p.) ele resume a que se propõe:

“Oferecemos aqui ao público uma representação do ser e do devir do mundo orgânico, baseada nas mais recentes pesquisas. O que é dito neste livro sobre a relação dos organismos com a massa inorgânica, sobre a criação das plantas, dos animais, do ser humano, sobre as provas invocadas por certas teorias da criação, representa em todos os lugares o ponto de vista mais atual da ciência. Mas não quisemos apresentar este ponto de vista como algo acabado, impô-lo como um dogma vazio; ao contrário, tentamos deixar os fatos falarem tanto quanto possível. Deveria desenrolar-se na mente do leitor, em traços breves, o mesmo processo que a ciência da história da criação passou, e ele deveria, por fim, convencer-se do poder dos fatos, concordando plenamente, com pleno entendimento, com as conclusões teóricas que foram colhidas após longo trabalho em nosso tempo.”

Uma vez que a obra jamais fora traduzida para outras línguas, precisei recorrer a uma tradução própria de seu sumário e introdução para conseguir um panorama geral. O que pude encontrar foi um livro dividido em quatro seções ou capítulos englobando desde as diferenças entre seres orgânicos e inorgânicos, passando pela visão geral de todos os organismos vivos até a história da teoria evolutiva da criação de Darwin (avaliando antes as teorias de Cuvier, Lyell, Lamarck e outros autores), as disputas em torno do materialismo e até mesmo a teoria de Kant e Laplace sobre a origem do sistema solar. Ao que parece, essa nada reduzida obra foi a única publicada no período em que as ciências naturais ocupavam o primeiro plano de suas atenções.

Os anos iniciais da vida intelectual de Ratzel são pouco discutidos pelos estudiosos que costumam abordá-lo, e isso realmente faz algum sentido. Não foi como um zoólogo que ele veio a se destacar, mas é digno de nota que, em seu percurso inicial nas ciências naturais, constituiu uma verdadeira apreensão quase enciclopédica de tudo que havia sido desenvolvido até então nesse ramo da ciência europeia, boa parte dela acumulada em anos de incursões e experimentos nas colônias na África e na Ásia, tema do qual falaremos mais à frente. Basta, nesse primeiro momento, que se tome nota de que esse período deixou marcas em tudo que foi produzido ao longo de sua vida, de sua teoria do Estado e dinâmica das populações no globo terrestre às classificações etnográficas dos povos de todo o mundo.

Do jornalismo geográfico ao campo de batalha

Uma vez encerrados seus estudos em zoologia, Ratzel passou a trabalhar com o naturalista francês Charles Martin em uma viagem de campo para o mediterrâneo. Para financiar seus estudos, ofereceu alguns relatos dessa viagem para o Kölnische Zeitung, um famoso jornal de língua alemã publicado diariamente na cidade de Colônia. Nessa mesma época (entre 1869-1870) ele recebe uma proposta de trabalho no Museu de História Natural de Stuttgart, mas declina em favor da proposta de um trabalho permanente como correspondente de viagem do jornal, em nome do qual parte para a Itália. Essas viagens acabam cumprindo um papel primordial: é em campo aberto, como observador e correspondente jornalístico que Ratzel paulatinamente se aproxima da geografia, até que por fim seus escritos deixam o zoólogo em segundo plano, abrindo espaço para o geógrafo que ganhou fama ainda em vida.

Esse “jornalismo geográfico” é atravessado e de certa forma interrompido em 1870 pela crise franco-germânica, que culmina na guerra franco-prussiana e na unificação alemã. É um período que evidencia um Ratzel que em vida nunca se escondeu, mas que geralmente é mencionado apenas de passagem: um ativo defensor do expansionismo alemão, cuja atividade de intelectual público voltou-se para o embate contra aqueles que, na opinião pública, levantaram suas vozes contra o conflito e contra questões caras à disputa, como a anexação da Alsácia-Lorena. Mas mais do que empunhar a pena como arma militante, Ratzel tomou parte também na mais óbvia e produtiva forma de concretização de projetos políticos: a violência dos Estados. No verão de 1870, voluntariou-se para combater na guerra franco-prussiana. Acabou servindo na infantaria de Baden por alguns meses e foi ferido duas vezes, até ser dispensado com condecorações, em razão de um ferimento na cabeça.

Alguns dos seus artigos na imprensa da época podem ser encontrados na seleção Ilhas de felicidade e sonhos, publicada em 1905, um ano após sua morte (disponível on-line, em alemão). Nesses escritos podemos encontrar depoimentos sobre o entusiasmo dos jovens alemães com a guerra, relatos do que viu nos hospitais enquanto tratava seus ferimentos e polêmicas com outras figuras ou veículos de alguma forma críticos aos “interesses alemães” em jogo naquele momento histórico.

De volta às atividades como correspondente do Kölnische Zeitung, Ratzel passou os dois anos seguintes novamente em campo. Em 1871, percorreu o Império Habsburgo escrevendo relatos sobre os Cárpatos (a ala oriental da segunda mais longa cadeia de montanhas da Europa), especialmente sobre a Transilvânia e a Bucovina, e ainda no mesmo ano esteve nas planícies húngaras e em Budapeste. No ano seguinte, 1872, viajou pelos Alpes e pela Itália. Uma seleção de seus artigos de viagem foi publicada por ele em dois volumes com o nome de Dias de viagem de um naturalista. O volume um surgiu em 1873, com o subtítulo Cartas de um zoólogo no Mediterrâneo: cartas do sul da Itália, e o volume dois em 1874, como Descrições da Transilvânia e dos Alpes (disponíveis em um mesmo arquivo on-line, em alemão).

Em exercício semelhante ao que fiz em relação ao seu primeiro livro publicado, traduzi o sumário e prefácio de ambos os volumes. A partir disso pude mapear os temas e direcionar as atenções. São cerca de sessenta textos escritos de 1868 a 1871, relativamente curtos e no estilo de escrita leve pelo qual o jornalismo de Ratzel ficou conhecido na época. No caso do volume um, voltado aos textos da viagem pelo mediterrâneo, o grande assunto é o mar: compilam-se nele escritos sobre a vida marinha, a ligação humana com o mar, o clima mediterrâneo, etc. Algumas exceções à temática geral são dignas de nota, como no caso do artigo Divisão do trabalho, onde, depois de uma pequena introdução sobre a “divisão do trabalho, não só no domínio social, mas também em todos os outros domínios da atividade humana, no grande dos assuntos mundiais e no pequeno de um ramo da economia”, Ratzel fala sobre a possibilidade de encontrar “seus vestígios em todos os lugares onde a vida pulsa”, e para isso recorre a uma longa descrição fisiológica dos órgãos e funcionamento do corpo de animais como ratos, caracois e baleias, atribuindo à natureza certa “divisão do trabalho” na engrenagem da vida.

No volume dois encontram-se desde materiais sobre temas econômicos e matérias primas até descrições do clima e outras características geográficas dos Alpes. Um que foge aos temas gerais e possui importância especial é o texto 1848-1852, escrito em 1871. Nele Ratzel analisa a revolução de 1848 e a reação que se seguiu com as atenções voltadas para os saxões na Transilvânia, cujo direito à autonomia e organização independente foi sufocado pela repressão do tsarismo russo, tropa de choque da reação europeia. Trata-se de um texto interessante para observar seu pangermanismo, característica que lhe acompanha por toda a vida e figura como verdadeiro plano de fundo de todo o conteúdo político de sua obra.

Os dois volumes da variada seleção de textos é apresentada pelo prefácio de Ratzel como feitos não “diretamente para instrução, nem para entretenimento, mas principalmente para inspirar e revitalizar o amor pela natureza”, desejando “ao leitor que se dedica a este livrinho momentos agradáveis de leitura”.

Esse primeiro Ratzel viajante, bem como seus “escritos políticos” durante a guerra franco-prussiana, ainda são objeto de pouca atenção entre os que o estudam. Um mergulho atento nesse material certamente revelaria bastante coisas desconhecidas ao público brasileiro, já que até hoje não contamos com traduções completas sequer de suas obras principais, quem dirá de coletâneas de textos avulsos. Manifesta-se então um problema que é comum ao estudo de qualquer autor estrangeiro: na ausência de traduções em nossa língua, limita-se o público àqueles que podem recorrer a outras traduções ou ao original, abrindo portas para que o único contato de muitos com determinada obra seja a leitura de intérpretes e intermediários.

Observando sua vida em retrospecto, o período que vai dos anos iniciais até a publicação de seus Dias de viagem encerra a era de um Ratzel cuja fama, alcance e objetos de estudo ainda se restringiam às fronteiras europeias e principalmente alemãs, a despeito de exceções pontuais. Mas isso está prestes a mudar: em 1874, ainda como correspondente do Kölnische Zeitung, Ratzel parte para uma viagem aos Estados Unidos, México e outros países da América Central, naquela que se tornou a viagem mais importante de sua vida em termos pessoais, profissionais, políticos e principalmente intelectuais. Para uma dimensão do impacto dessa viagem sobre ele, basta mencionar que foi com base na experiência nos Estados Unidos e no estudo da expansão territorial do país, do genocídio dos povos indígenas, do trato estadunidense para com o vizinho México e principalmente a partir do contato da doutrina americana do destino manifesto que Ratzel elaborou um dos conceitos que mais tarde ganharia contornos muito conhecidos: o conceito de Lebensraum ou espaço vital. Trataremos disso em um próximo escrito.

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Os bombardeios israelenses continuam na Faixa de Gaza, enquanto o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, viaja aos Estados Unidos para tratar, entre outros assuntos, dos atrasos na entrega de armas norte-americanas ao país. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou neste domingo (23/06) que a “divergência” entre Tel Aviv e Washington a respeito das armas “será resolvida em um futuro próximo”.

“Há cerca de quatro meses, houve uma queda considerável nas entregas de armas dos Estados Unidos para Israel. Recebemos todos os tipos de explicações, mas a situação não mudou”, ressaltou Netanyahu. “À luz do que ouvi nos últimos dias, espero e acredito que esta questão será resolvida num futuro próximo”, afirmou, durante reunião com ministros do seu governo.

Enquanto a relação entre Netanyahu e a Casa Branca vive um novo episódio de tensão, Yoav Gallant partiu para Washington para, segundo ele, “discutir os acontecimentos em Gaza e no Líbano”. A frente norte de Israel, juntamente com o Líbano, tem sido palco de uma escalada de fogo entre o exército israelense e o grupo armado Hezbollah, um aliado do Hamas. A retórica beligerante dos dois lados tem aumentado o receio de uma guerra em grande escala.

“Nossos laços com os Estados Unidos são mais importantes do que nunca. Nossas discussões com autoridades norte-americanas são cruciais para [a continuação da] guerra”, disse Gallant, em um comunicado.

Maior manifestação em Tel Aviv desde o início da guerra

No plano interno, a pressão aumenta em Israel, onde dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se no sábado (22/06) à noite para denunciar a condução da guerra pelo primeiro-ministro e pedir a libertação dos reféns ainda detidos em Gaza. No total, 116 reféns ainda estão em poder do Hamas, 41 dos quais morreram, segundo o exército de Israel.

Em Tel Aviv, mais de 150 mil pessoas, segundo os organizadores, gritavam slogans contra o governo de Netanyahu, exigindo eleições antecipadas. Foi a maior mobilização popular desde o início do conflito.

“A única maneira de conseguir mudanças aqui é derrubar este governo, expulsar os extremistas”, disse Maya Fischer, uma manifestante de 36 anos. “É hora de acabar com a guerra, trazer de volta os reféns e salvar vidas, tanto do lado israelense quanto do palestino.”

As negociações para um cessar-fogo estagnaram e Netanyahu diz que continuará a ofensiva até à destruição do Hamas, que considera um grupo terrorista. O premiê afirma que Israel está envolvido numa “guerra pela sua existência”.

Bombardeios em Gaza

Segundo testemunhas, os bombardeios mais recentes atingiram novamente o leste, o oeste e o centro da cidade de Rafah, no sul de Gaza. Os ataques aéreos ocorreram na cidade de Gaza (norte) e tanques bombardearam o campo de Nousseirat (centro).

Aviões de combate realizaram ataques no sábado contra “dezenas de alvos terroristas na Faixa de Gaza, incluindo estruturas e infraestruturas militares”, relatou o exército israelense, citando “operações direcionadas” em Rafah. “Os terroristas foram eliminados em combate corpo a corpo e por disparos de franco-atiradores e drones” no centro de Gaza.

A guerra foi desencadeada por um ataque do movimento palestino Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, durante o qual 1.194 pessoas morreram e 251 foram sequestradas e levadas para a vizinha Faixa de Gaza.

Israel prometeu destruir o Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007 e lançou uma grande ofensiva contra o território palestino, sitiado desde 9 de outubro pelo exército israelense. As operações militares no enclave deixaram até agora 37.598 mortos, a maioria civis, conforme o último balanço do Ministério da Saúde do Hamas.

A ONU afirma que a ofensiva israelense causou um desastre humanitário com ameaça de fome. Mais de um milhão de pessoas estão constantemente em movimento na esperança de encontrar um lugar seguro na Faixa de Gaza e “nenhum lugar é seguro”, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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Nas últimas semanas manifestantes do setor trabalhista da Bolívia têm saído às ruas em protesto contra a crise econômica no país, que se reflete principalmente na inflação e na escassez de dólares.

Segundo uma matéria publicada pela agência de notícias Associated Press (AP), neste domingo (23/06), uma multidão de vendedores ambulantes em La Paz encerrou sua marcha de quase 100 quilômetros “com um apelo que convocou anos de raiva crescente sobre as reservas cambiais perigosamente esgotadas do país”.

“Podemos mudar o país porque somos o motor da produção”, disse Roberto Ríos Ibáñez, secretário-geral da Confederação de Comerciantes da Bolívia. “O governo não ouve. É por isso que estamos nas ruas.”

No final de maio, o veículo alemão DW relatou que “caminhões e barricadas, transportadores de cargas e comerciantes bloquearam diversas estradas que ligam a Bolívia ao Peru e ao Chile para denunciar a falta de dólares e a falta de divisas que o governo nega”. Além disso, registraram-se bloqueios nas principais vias em La Paz, Oruro e Santa Cruz.

Na ocasião, em entrevista, o vendedor Teodoro Gonzales, de 50 anos, criticou o governo ao afirmar que “nosso presidente (Luis Arce) diz que há dólares, mas nunca vemos, nem mesmo nos bancos, não há dólar para comprar”.

De acordo com a recente matéria da AP, o presidente boliviano, Luis Arce, e seu antigo aliado, ícone da esquerda e ex-presidente, Evo Morales, “lutam pelo futuro do fragmentado Movimento ao Socialismo (MAS) da Bolívia” antes das eleições previstas para 2025. E, em decorrência da atenção à luta política, o governo teria “paralisado os esforços para lidar com o crescente desespero econômico”.

Em 2019, o então primeiro presidente indígena da Bolívia, Morales concorreu a um terceiro mandato do qual saiu vitorioso. No entanto, foi contestado por alegações de fraude. O episódio desencadeou protestos em massa e levou o mandatário a renunciar e a sair do país.

Depois que um governo interino assumiu o cargo por meio de um golpe militar, o sucessor escolhido por Morales, Luis Arce, venceu as eleições com a promessa de campanha de restaurar a prosperidade da Bolívia, que já foi a principal fonte de gás natural da América Latina.

No entanto, o início da gestão na presidência em 2020 seguiu-se da pandemia do coronavírus, o que prejudicou todo o aparato econômico do país.

Após retornar do exílio, ainda muito popular entre as comunidades indígenas e trabalhadores sindicais, no ano passado Morales anunciou planos para concorrer às eleições de 2025, “colocando-se em rota de colisão com Arce, que deve tentar a reeleição”, como diz a AP.

“Enquanto isso, com a crise de caixa negando acesso a dólares para pagar fornecedores no exterior, comerciantes bolivianos produziram cenas extraordinárias na fronteira com o Brasil e o Peru ao clamar para comprar a moeda norte-americana a preços inflacionados nos países vizinhos”, afirma o veículo.

Crise no MAS

Os aliados de Morales no Congresso boliviano têm frustrado as tentativas de Arce de assumir dívidas que aliviariam a pressão econômica.

A Bolívia tem um tesouro de lítio, mas os legisladores não concedem a aprovação ao presidente para permitir que empresas estrangeiras o extraiam, uma vez que querem que os recursos naturais beneficiem a população nacional, e não as empresas mineradoras transnacionais.

Por outro lado, o atual mandatário considera o impasse um “boicote econômico” que tem como objetivo subverter sua presidência.

De acordo com a AP, as tensões que atingem o partido governista MAS oferecem à oposição uma “primeira chance válida” de chegar ao poder desde que Morales conquistou uma maioria eleitoral sem precedentes em 2005.

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A hegemonia do dólar no sistema econômico mundial faz com que transferências entre países, quase sempre, precisem ser intermediadas por bancos dos Estados Unidos, mesmo que a nação norte-americana não esteja envolvida no processo de forma direta. Por exemplo, caso uma transferência seja feita do Brasil para o Peru, os reais virarão dólares para depois serem transformados em sol peruano em transações que demoraram pelo menos dois dias.

Diante desta soberania imposta, um grupo de economistas da América Latina, incluindo antigos membros de Bancos Centrais dos países da região, e para “ir além da retórica internacional”, sugeriram uma via alternativa para a dominância da moeda norte-americana. Foi o que declarou Andrés Arauz, ex-diretor do Banco Central do Equador, durante o Festival de Ideias, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na quinta-feira (20/06) e organizado pela Internacional Progressista (IP), Transforma-Unicamp e Phenomenal World.

“Precisamos do Pix Sul. No Brasil, todo mundo adora o pix, e precisamos aplicar esse conceito na região”, disse Arauz durante o painel “Dominância do dólar e mutações da hierarquia monetária internacional”.

Para tornar a proposta viável, o também ex-ministro do Conhecimento do Equador explicou a necessidade dos países latinos terem uma instituição financeira como base e, assim, facilitar as questões de transferências imediatas.

“A região já tem um banco central, o FLAR (Fundo Latino-Americano de Reservas), na Colômbia. O Brasil, apesar de ainda não fazer parte, pode se filiar a ele e pedir para que aja como um ponto para pagamentos em tempo real”, explicou.

Em relação à unidade contábil usada, o economista que estudou o sistema de pagamento mundial afirmou que o “Sul” pode ser usado, inclusive como uma possibilidade de criação de crédito.

Hegemonia do dólar

Arauz expôs a ideia ao lado de outros dois participantes: o professor de Política da Universidade da Virgínia Herman Mark Schwartz e o docente de Economia da Universidade Bucknell Matías Vernengo.

Em comum acordo, os palestrantes declararam não acreditar na decadência do dólar como moeda central do sistema econômico mundial. Para Arauz, a hegemonia do dólar para o futuro próximo vai continuar. “Quem entrou nas entranhas desse sistema sabe que ele vai persistir por bastante tempo”, avaliou.

Assim, na análise do equatoriano, o Pix Sul seria uma “vantagem sob o sistema tradicional” diante da hegemonia do dólar, que não deve eliminar a moeda norte-americana, mas sim criar uma “competição para evitar a privatização e externalização das reservas internacionais”, que obrigatoriamente são feitas em dólares atualmente.

Arauz explicou que uma “grande parcela dessa hegemonia acontece não porque o dólar é a unidade contábil, mas sim porque as transações internacionais são feitas em bancos dos EUA”.

Segundo ele, os bancos norte-americanos agem como instrumentos para criação de crédito, “podendo congelar, descongelar, censurar e forçar o planeta inteiro a cumprir um poder hegemônico e político”. Para Arauz, tudo isso é feito de forma “institucionalizada e de propósito”.

Por sua vez, Schwartz avaliou que o sistema global financeiro é unificado, “de forma que o dólar é dominante e âncora, funcionando quase como um dinheiro estatal desse sistema”. O professor da Universidade da Virgínia explicou que além das transferências serem feitas na unidade norte-americana, quase toda a fatura do comércio internacional também usa a moeda.

“Sabemos que há um império porque tem essas características: hierarquia, assimetria e heterogeneidade. Hierarquia porque grande parte dos dólares no mundo não são criados por bancos que estão nos EUA, e isso é um grande problema. Assim, um banco fora do território norte-americano fazer empréstimos em dólar é assimétrico. E heterogeneidade porque nem todos os países têm acesso aos mesmos acordos: há países que são melhor tratados que os outros, havendo quatro tipos de acordos de crédito segundo suas proximidades aos EUA”, disse.

Por isso, os países que não têm reservas de câmbio e dependem do Fundo Monetário Internacional (FMI) estão em “grave apuros” e “não gostam desse sistema”. “Assim, tentam criar fluxos e formas alternativas”, afirmou.

Mencionando o BRICS, Schwartz não se mostrou confiante quanto às iniciativas do bloco para mudar o sistema financeiro unipolar. Ele questionou até que ponto há um interesse coletivo entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para criar um novo fluxo, mencionando o “colapso” de acordos entre os países membros, como as negociações de petróleo entre Índia e Rússia.

“A discussão da desdolarização não é nova. Nos anos 1940 e 1950 já se falava sobre isso. Já se via que esse sistema monetário era disfuncional e precisava mudar. Mas é muito difícil mudar a hegemonia porque tem impactos estruturais”, concluiu.

Já o economista argentino Vernego reconheceu que a hegemonia imposta pelo dólar é prejudicial a países como Cuba e Venezuela, mas não prevê “nenhuma mudança significativa na hierarquia monetária internacional em um futuro razoável”.

“A permanência dessa hegemonia precisa ser analisada. Há ainda um poder muito grande para manter o dólar como principal moeda. Ele não vai parar de ser hegemônico, mas sim precisamos pensar em formas de superar essas questões”, avaliou.

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A Ucrânia planeja cortes parciais de energia elétrica ao longo de todo o dia, nesta segunda-feira (24/06), em todo o país, anunciou neste domingo (23/06) a operadora Ukrenergo, explicando que a rede elétrica passava por sérias dificuldades após ataques “massivos” russos.

“No dia 24 de junho, todas as empresas regionais de distribuição de eletricidade implementarão cortes de energia planejados” ao longo do dia, anunciou a operadora no Telegram. O país, cuja infraestrutura elétrica foi fortemente danificada pelos ataques de Moscou, é forçado a prever este tipo de restrição. Porém, até recentemente, os cortes aconteciam em intervalos de tempo mais curtos, durante os picos de consumo.

A operadora Ukrenergo informa que estas medidas foram necessárias porque o consumo de eletricidade “aumenta no início da semana” e a rede está enfraquecida por “ataques massivos russos”. Nos últimos três meses, as centrais elétricas foram alvo de oito ataques em grande escala, segundo o Ministério da Energia da Ucrânia.

O exército russo destruiu metade da capacidade energética da Ucrânia, avalia o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Kiev apela aos seus aliados para que ajudem a reconstruir a sua rede elétrica, um projeto que requer investimentos significativos. Além disso, a Ucrânia aguarda mais equipamentos de defesa aérea para combater os bombardeios russos.

Rússia acusa EUA após ataque na Crimeia

Enquanto a população na Ucrânia enfrenta as consequências da guerra, como a falta de energia, a Rússia acusou neste domingo os Estados Unidos de serem “responsáveis” por um ataque ucraniano que matou três pessoas e feriu cerca de uma centena na Crimeia, península anexada por Moscou, que denuncia o uso de mísseis ATACMS americanos fornecidos a Kiev na operação.

“A responsabilidade pelo ataque deliberado com mísseis contra civis em Sebastopol [cidade na Crimeia] cabe principalmente a Washington, que forneceu estas armas à Ucrânia”, bem como às autoridades de Kiev, disse o Ministério da Defesa russo num comunicado de imprensa. “Essas ações não ficarão sem resposta”, acrescentou.

Sebastopol, uma grande cidade portuária, é frequentemente alvo de ataques por abrigar o quartel-general da frota russa no Mar Negro. De acordo com o exército russo, cinco mísseis ATACMS de longo alcance foram lançados pelas forças ucranianas, quatro dos quais foram “interceptados”.

Em abril, Washington anunciou que tinha enviado mísseis desse tipo para a Ucrânia, que há muito tempo solicitava armamento para poder atacar atrás da linha da frente. Nem a Ucrânia e nem os Estados Unidos comentaram sobre o ataque a Sebastopol.

Ao mesmo tempo, ataques russos deixaram um morto e dez feridos, incluindo dois adolescentes, neste domingo, em Kharkiv, a segunda cidade da Ucrânia, informou o governador regional, Oleg Synegoubov. Moscou nega ter alvos civis na Ucrânia e garante que ataca apenas estruturas ligadas ao exército.

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Um áudio vazado do ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, revelou que o governo está envolvido em um plano sigiloso que prevê mais controle de Tel Aviv sobre a região da Cisjordânia ocupada.

De acordo com uma reportagem do jornal The New York Times (NYT) publicada nesta sexta-feira (21/06), a gravação do discurso, com duração de aproximadamente 30 minutos, sugere que o objetivo de Israel é anexar a Cisjordânia e impedir com que ela se torne um Estado palestino.

“Estou dizendo a vocês [colonos], é megadramático […] essas mudanças alteram o DNA de um sistema”, afirmou o integrante da coalizão de extrema direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, num evento realizado em 9 de junho.

De acordo com o NYT, a Suprema Corte de Israel decidiu que o domínio israelense sobre o território “equivale a uma ocupação militar temporária supervisionada por generais do exército, e não uma anexação civil permanente”.

Nesse sentido, o ministro das Finanças teria delineado “um programa cuidadosamente orquestrado para tirar a autoridade sobre a Cisjordânia das mãos dos militares israelenses e entregá-la aos civis que trabalham para Smotrich no Ministério da Defesa”, acrescentando que fases do plano já foram introduzidas nos últimos 18 meses.

“Será mais fácil de engolir no contexto internacional e jurídico”, disse Smotrich, acrescentando que um sistema civil foi criado separadamente “para que não digam que estamos fazendo anexação aqui”.

Netanyahu está “conosco”, disse ainda o ministro durante seu discurso.

O NYT afirma que, durante décadas, o Supremo Tribunal de Israel tem considerado o controle de Tel Aviv sobre a Cisjordânia ocupada como uma “ocupação militar, supervisionada por um general sênior, que está em conformidade com as leis internacionais aplicáveis a territórios ocupados”.

Embora a coalizão de extrema direita do atual governo questione o termo “ocupação”, ela também nega que o território tenha sido anexado permanentemente pelas autoridades civis de Israel.

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A guerra na Faixa de Gaza tem sobrecarregado a economia israelense e, consequentemente, “frustrado” os líderes empresariais da nação, que consideram entrar na política “para salvar Israel de uma profunda crise econômica”.

As informações são da agência Bloomberg que, por meio de uma reportagem publicada neste domingo (23/06), revelou a possibilidade do conflito chegar a custar aproximadamente US$ 67 bilhões até 2025, ou quase 15% do Produto Interno Bruto (PIB) anual.

“O PIB per capita caiu em 2023 pela primeira vez em oito anos, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, e o governo está a caminho de sofrer um de seus maiores déficits orçamentários do século em 2024”, afirma.

Segundo o veículo, os principais líderes empresariais israelenses têm realizado discussões “secretas” referente a alternativas, incluindo a formação de um novo partido, para reverter a crise econômica. Em paralelo, um fórum de 200 grandes empresários pressiona Tel Aviv exigindo eleições antecipadas.

“Metade das empresas listadas no índice TA-35 da Bolsa de Valores de Tel Aviv estão representadas, incluindo os CEOs dos quatro maiores bancos”, detalha a Bloomberg.

Em entrevista à reportagem, o empresário Eyal Waldman, integrante do fórum, afirmou a necessidade de “derrubar [Benjamin] Netanyahu”.

“Agora estou trabalhando para adiantar a data das eleições”, declarou, acrescentando que o grupo empresarial está tentando convencer os legisladores do gabinete do primeiro-ministro israelense a derrubar a coalizão. “O atual governo é inimigo do Estado”.

Waldman chegou a se reunir com altos funcionários norte-americanos, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, bem como o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron. Segundo o empresário, as autoridades expressaram frustração com o governo de Netanyahu, embora a perspectiva de substituí-lo não tenha sido explicitamente mencionada.

Na semana passada, o fórum de líderes empresariais israelenses declarou por meio de uma carta aberta que as eleições antecipadas são necessárias como “um voto indiscutível de confiança” e alertou que o futuro de Israel está ameaçado.

De acordo com a Bloomberg, muitos do setor encontraram uma causa em comum na tentativa de derrubar Netanyahu. A reportagem diz que “eles se uniram em torno da preocupação de que o governo está gastando muito com assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada e com os ultraortodoxos, enquanto não obriga o serviço militar para estudantes religiosos”.

A saída do líder da oposição Benny Gantz do governo neste mês, as disputas internas sobre a condução da guerra em Gaza e o sistema de alistamento militar ultraortodoxo foram fatores que aumentaram as conversas sobre uma votação antecipada.

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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pronunciou-se nesta sexta-feira (21/06) sobre sua denúncia ao governo norte-americano de Joe Biden por supostamente reter remessas de armas a Israel. Em entrevista ao site de notícias Punchbowl, o premiê alegou que tentou resolver a questão em particular durante meses. No entanto, não obteve sucesso.

“Tentamos, em muitas, muitas conversas tranquilas entre nossos funcionários e autoridades norte-americanas, e entre mim e o presidente, tentar resolver essa diminuição da oferta”, contou Netanyahu. “Senti que me manifestar no ar era absolutamente necessário após meses de conversas tranquilas que não resolveram o problema.”

Questionado, a autoridade israelense avaliou que o problema da suposta lentidão no envio de recursos bélicos poderia ser resolvido “instantaneamente” e apenas “com boa vontade”

O atrito entre a autoridade e a Casa Branca começou na terça-feira (18/06), quando o premiê publicou um vídeo criticando a postura “inconcebível” dos Estados Unidos (EUA) por suposto bloqueio no envio de armas e munições a Tel Aviv.

Na publicação, alegou que a questão havia sido, inclusive, discutida durante sua última reunião com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e que o diplomata havia garantido que Washington trabalharia “dia e noite” para remover “esses gargalos”.

Segundo o jornal The Times of Israel, os comentários do aliado israelense teriam “chocado” o governo Biden, que rebateu ao afirmar que não sabia do que essas falas se tratavam.

“Nós genuinamente não sabemos do que ele está falando”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, na ocasião, acrescentando que “houve um carregamento específico de munições que foi pausado” devido aos temores de que ele seria usado na ofensiva contra Rafah, no sul de Gaza, mas garantindo que “não há outras pausas ou retenções no lugar”.

Na quinta-feira (20/06), ainda em clima de tensão, a Presidência norte-americana disse que o vídeo do premiê é “profundamente decepcionante”, tendo em vista que “não há outro país que tenha feito mais ou continuará a fazer mais do que os EUA para ajudar Israel”.

“Estou falando sobre o que é necessário agora para vencer a guerra em Gaza rapidamente e evitar uma guerra no Líbano que, na ausência de tal correção, os riscos dela eclodir estão aumentando”, afirmou Netanyahu, em entrevista ao Punchbowl.

Ao The Times of Israel, uma autoridade israelense relatou que a decisão do premiê de expor publicamente suas queixas havia sido contestada pelos seus principais assessores, o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e o conselheiro de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, que estiveram em Washington na quinta-feira para reuniões com seus homólogos norte-americanos.

Planos pós-guerra

Em entrevista ao site Punchbowl, Netanyahu foi questionado sobre as críticas do governo Biden referente à sua recusa em planejar adequadamente uma gestão em Gaza num cenário pós-guerra.

“Acho que teremos que ter uma desmilitarização sustentada, que só pode ser feita por Israel contra qualquer esforço terrorista ressurgente”, respondeu Netanyahu. ”Acho que tem que ter uma gestão civil para coordenar não só a distribuição de ajuda humanitária, mas também a administração civil. Isso tem que ser feito com a cooperação de um patrocínio interárabe e assistência de países árabes”.

Segundo o The Times of Israel, numa entrevista anterior, o premiê havia mencionado a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos como parceiros em potencial, o que teria resultado numa “reação feroz” das nações. Ambos insistiram que não participariam da estabilização de Gaza no pós-guerra sem um caminho para um futuro Estado palestino. Netanyahu, no entanto, rejeitou a ideia categoricamente.

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Em resposta ao ataque de drone israelense que matou um de seus comandantes, o Hezbollah bombardeou o norte de Israel com cerca de 45 foguetes nesta quinta-feira (20/06).

Por meio de comunicado, o movimento libanês apoiado pelo Irã e aliado ao Hamas confirmou o lançamento dos dispositivos contra uma base militar próxima à comunidade de Zar’it, no norte de Israel. Esclareceu ainda que se tratou de uma retaliação ao assassinato de Abbas Ibrahim Hamza Hamada, morto na cidade de Deir Kifa, no sul do Líbano, na manhã do mesmo dia.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) detalharam que 25 foguetes foram direcionados à Galileia Ocidental durante a tarde, enquanto outros 20 foram disparados na mesma área uma hora depois. Não houve feridos ou danos materiais causados pela ofensiva.

Morte de Abbas Ibrahim Hamza Hamada

Abbas Ibrahim Hamza Hamada, também conhecido como Fadl Ibrahim, foi assassinado em um ataque de drone na cidade de Deir Kifa, no sul do Líbano.

Segundo as IDF, ele era o oficial de operações de uma unidade regional do Hezbollah baseada na cidade de Jouaiyya, no sul do Líbano, próxima a Deir Kifa.

Os militares afirmaram que o comandante era responsável pelo planejamento e execução de ataques contra Israel, ao mesmo tempo em que comandava as forças terrestres do Hezbollah em Jouaiyya.

Ainda de acordo com o exército israelense, nos últimos meses, Hamada “avançou o entrincheiramento do Hezbollah no sul do Líbano, enquanto tentava melhorar o combate terrestre da organização”.

Escalada de tensões

As últimas semanas foram marcadas por uma escalada de tensões na área transfronteiriça entre o Líbano e Israel.

Na terça-feira (18/06) o exército de Tel Aviv anunciou a aprovação de planos operacionais para uma ofensiva direcionada ao território libanês e ameaçou o Hezbollah para uma “guerra total”. No dia seguinte, o líder do grupo, Hassan Nasrallah, rebateu declarando que nenhum lugar em Israel estará seguro caso suas autoridades optem pela provocação.

“Continuaremos apoiando Gaza e estamos prontos para tudo. Não temos medo. Nossa exigência é clara: um cessar-fogo completo e permanente em Gaza”, esclareceu Nasrallah na quarta-feira (19/06), por meio de um discurso televisivo.

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A Armênia declarou oficialmente nesta sexta-feira (21/06) que reconhece o Estado da Palestina, tornando-se o país de número 146, entre os 193 membros da Organização das Nações Unidas (ONU), a realizar este gesto.

A decisão foi divulgada pelo Ministério de Relações Exteriores do país, em um comunicado no qual o governo armênio expressou que “nossa posição tem sido consistentemente a favor de uma mediação pacífica e abrangente para a questão palestina, e apoiamos a solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino”.

📢 #Armenia recognizes State of #Palestine

🔹Our position has consistently been in favour of a peaceful & comprehensive settlement of the Palestinian issue, & we support the “two-state” solution to the Israeli-Palestinian conflict.

Reaffirming our commitment to int’l law &… pic.twitter.com/SoF7KLLGr7

— MFA of Armenia🇦🇲 (@MFAofArmenia) June 21, 2024

“Reafirmando nosso compromisso com a lei internacional e os princípios de igualdade, soberania e coexistência pacífica dos povos, a República da Armênia reconhece o Estado da Palestina”, completou a nota.

Por sua parte, a porta-voz da diplomacia armênia, Ani Badalyan, disse que “a República da Armênia rejeita categoricamente os ataques às infraestruturas civis, a violência contra a população civil e a tomada de civis como reféns durante o conflito armado, e está alinhada às exigências da comunidade internacional para a sua libertação incondicional”.

Com a decisão da Armênia, já são nove os países que fizeram o gesto de reconhecer o Estado palestino desde o início do atual massacre promovido pelas forças de Israel contra a população palestina da Faixa de Gaza – que já resultou na morte de mais de 37 mil civis, a maioria mulheres e crianças.

O primeiro país a adotar essa decisão nos últimos nove meses foi Barbados, em medida tomada em abril passado pela primeira-ministra Mia Mottley. De lá para cá, o mesmo gesto foi feito por Jamaica, Trinidad e Tobago, Bahamas, Irlanda, Espanha, Noruega e Eslovênia.

Ademais, a ONU trabalha em um projeto para a aceitação da Palestina como membro pleno da entidade, mas a iniciativa está bloqueada devido ao fato de que ela requer a aprovação do Conselho de Segurança, instância onde os Estados Unidos, maior aliado internacional de Israel, possui poder de veto.

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Ao menos 25 pessoas foram mortas e 50 ficaram feridas na sexta-feira (21/06) num ataque israelense direcionado a um campo de refugiados em Al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza, perto da cidade de Rafah, de acordo com as agências humanitárias e autoridades sanitárias do local.

Uma reportagem do jornal The New York Times publicada neste sábado (22/06) relatou que Al-Mawasi é uma zona classificada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) como “segura”, já que ela passou a abrigar aqueles que fogem dos combates em Rafah.

Segundo a matéria, os militares israelenses afirmaram em seu inquérito inicial sobre não ter mostrado “nenhuma indicação” de possível ofensiva no local. No entanto, imagens registradas “deixaram claro que houve”, de fato, um ataque.

Em rede social, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou que o bombardeio “provocou uma afluência massiva de vítimas ao hospital de campanha da Cruz Vermelha” e detalhou que seus voluntários contabilizaram 22 mortos e 45 feridos no ataque. Posteriormente, o Ministério da Saúde de Gaza informou que 25 pessoas morreram e 50 ficaram feridas.

Segundo Marwan Al-Homs, coordenador do hospital de campanha da Cruz Vermelha, a maioria das vítimas desse ataque foram mulheres e crianças, bem como alguns homens jovens.

A Cruz Vermelha também afirmou que os projéteis caíram a poucos metros do seu escritório e perto das residências situadas em Al-Mawasi, “cercada por centenas de pessoas deslocadas que viviam em tendas”. A organização classificou o bombardeio como um “grave incidente de segurança”.

A cidade de Rafah, que faz fronteira com o Egito e já foi considerada o “último abrigo humanitário” dos palestinos, tem sido alvo principal da campanha militar do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desde o início de maio, sob a alegação da existência de militantes do Hamas.

Com a intensificação das operações de Tel Aviv em Gaza, em 7 de outubro de 2023, um milhão de pessoas deslocadas de outras partes do enclave se concentraram na região. Porém, atualmente, elas se encontram novamente fugindo dos ataques de Israel. Muitos palestinos foram para Al-Mawasi, onde grupos de ajuda humanitária afirmaram ter restado condições de abrigo, saneamento, água e alimentos.

Os bombardeios continuam ainda neste sábado. A emissora catari Al Jazeera informou hoje que pelo menos 42 pessoas foram mortas por uma nova ofensiva israelense ao bairro de Tuffah, na cidade de Gaza, e ao campo de refugiados de Shati, onde palestinos deslocados do norte do território foram instruídos a buscar refúgio.

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As forças armadas russas lançaram um novo ataque contra infraestruturas elétricas ucranianas durante a madrugada deste sábado (22/06). A Rússia já destruiu metade da capacidade energética da Ucrânia, segundo Volodymyr Zelensky, e os apagões são cada vez mais frequentes no país.

“As instalações [da operadora ucraniana] Ukrenergo, nas regiões de Zaporíjia (sul) e Lviv (oeste) foram danificadas”, declarou o Ministério da Energia ucraniano, especificando que dois funcionários ficaram feridos e foram hospitalizados em Zaporíjia.

Segundo o ministério, este é o oitavo ataque “massivo” às centrais elétricas ucranianas nos últimos três meses, forçando a imposição de cortes de energia frequentes.

As autoridades ucranianas indicaram na quinta-feira (20/06) que a infraestrutura energética, incluindo uma central elétrica, foi danificada por um grande ataque noturno russo que deixou sete de seus funcionários feridos.

Kiev pede ajuda ocidental para reconstruir sua rede

Ao aumentar ataques, a Rússia destruiu metade da capacidade energética da Ucrânia, segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Na quinta-feira, ele pediu a instalação de painéis solares e unidades de armazenamento de energia “em todas as escolas e em todos os hospitais, o mais rapidamente possível”.

O diretor-geral da operadora DTEK, Maxime Timchenko, alertou que a Ucrânia corre o risco de “enfrentar uma grave crise neste inverno” se seus parceiros ocidentais não se mobilizarem.

Kiev pede aos países ocidentais ajuda para reconstruir sua rede elétrica, um projeto que requer um investimento significativo, e a fornecer mais equipamento de defesa aérea para combater os bombardeios russos.

Nesse contexto, Washington decidiu dar prioridade à Ucrânia sobre outros aliados no fornecimento de mísseis utilizados para defesa antiaérea.

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A polícia do território ultramarino francês da Nova Caledônia prendeu mais de uma dezena de pessoas nesta quarta-feira (19/06), incluindo um dos líderes do movimento de independência CCAT, acusado de ter papel central nos episódios de violência que sacudiram o arquipélago nos últimos meses.

Ao menos 11 prisões foram realizadas como parte das investigações lançadas em 17 de maio, dias após o início de uma onda de distúrbios que evoluíram para conflitos armados, saques, incêndios e outros atos de violência em partes da capital, Nouméa.

As revoltas na Nova Caledônia – localizada a 1.300 quilômetros da Austrália e a 16.500 de Paris – surgiram após uma reforma constitucional aprovada recentemente pelo Parlamento francês que estendeu o direito ao voto nas eleições regionais a cidadãos franceses que vivem há mais de dez anos no arquipélago.

Até então, além da população originária, esse direito era reservado apenas a imigrantes que viviam no território desde antes de 1998 e aos filhos deles. Ou seja, os residentes que chegaram da França continental ou de qualquer outro lugar nos últimos 25 anos não têm o direito de participar das eleições locais.

O movimento pró-independência teme que a inclusão de tantos novos eleitores dilua seu próprio peso político. Opositores da lei dizem que ela vai beneficiar políticos pró-França e marginalizar a etnia kanak, que no passado sofreu sob políticas rigorosas segregacionistas e discriminação.

Contudo, após o presidente francês, Emmanuel Macron, dissolver o Parlamento francês e convocar novas eleições parlamentares na esteira do mau desempenho dos governistas na eleições europeias, no inicio do mês, o governo decidiu suspender as reformas eleitorais no território ultramarino.

Líder pró-independência detido

O promotor público da Nova Caledônia, Yves Dupas, afirmou que entre os detidos está o líder pró-independência do CCAT Christian Tein, acusado por autoridades da França de ser um dos responsáveis pela violência que eclodiu no inicio de maio em meio a protestos contra as reformas eleitorais. Os outros dez presos ainda não haviam sido identificados.

A revolta levou o governo francês a declarar estado de emergência no arquipélago e enviar reforços às forças policiais locais, que foram rapidamente superadas pelos revoltosos. Os atos de violência deixaram nove mortos, incluindo dois policiais, e causaram a destruição de várias lojas, comércios e residências.

Dupas afirmou que as prisões eram parte de investigações sobre uma ampla gama de crimes que teriam sido cometidos, incluindo cumplicidade em homicídios e tentativas de homicídio, roubos à mão armada, ataques incendiários e participação em uma organização que preparou atos de violência.

As pessoas detidas podem permanecer sob custódia policial por períodos de até 96 horas. Após esse prazo, um juiz poderá decidir se a polícia possui informações suficientes para a abertura de processos formais na Justiça contra os suspeitos.

Com o arrefecimento dos protestos, as autoridades no território reduziram em duas horas a imposição do toque de recolher, que será válido a partir das 20h, e não mais das 18h. O aeroporto internacional, que fora fechado há mais de um mês para voos comerciais, pôde ser reaberto.

Demandas contínuas por independência

Desde a década de 1970, a Nova Caledônia tem feito contínuas reivindicações de independência, que são apoiadas por grande parte do povo kanak. As Nações Unidas também apoiaram essas demandas e, em 1986, a Assembleia Geral da ONU reinscreveu a Nova Caledônia em sua lista de “territórios não autônomos”. Em 1988, a França concordou em conceder mais autonomia à Nova Caledônia.

Mas a maioria da população – especialmente os descendentes de colonialistas franceses – quer que a Nova Caledônia continue fazendo parte da França.

Um dos motivos é econômico: de acordo com o governo da vizinha Austrália, os 1,5 bilhão de euros que a Nova Caledônia recebeu de Paris em pagamentos de orçamento direto em 2020 representaram cerca de 20% da produção econômica geral do território naquele ano.

Nos referendos de independência realizados em 2018 e 2020, apenas 43,6% e 46,7% dos participantes votaram a favor, respectivamente. Já em 2021, um novo referendo foi boicotado pelos partidos de independência, levando a um resultado distorcido de quase 97% contra.

Interesses geopolíticos e econômicos

A França, que é uma potência nuclear com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, continua se vendo como uma potência global. Suas forças armadas têm bases aéreas e navais na Nova Caledônia, que são de importância geopolítica.

Além disso, os recursos naturais do arquipélago são de grande importância econômica. Em 2021, 190 mil toneladas de níquel foram extraídas do território, de acordo com estimativas dos Estados Unidos. No mundo, somente a Indonésia, as Filipinas e a Rússia produziram mais.

O movimento pró-independência da Nova Caledônia também recebeu apoio de um aliado inesperado, a ex-república soviética do Azerbaijão, que a França acusou de interferência.

Em um artigo recente, o veículo americano Politico disse que Philippe Gomès, ex-chefe de governo da Nova Caledônia, acusou o Azerbaijão de “financiar ativamente a Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista”. O ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, fez alegações semelhantes. A França é um aliado tradicional da Armênia, rival histórico do Azerbaijão Além disso, a França ainda é base uma grande comunidade migrante armênia.

O Azerbaijão rejeitou as alegações de que está por trás dos recentes distúrbios na Nova Caledônia.

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