Tradução feita pelo DeepSeek
Em São Paulo, Brasil, fugitivo provavelmente se sentiu protegido pelo anonimato oferecido por uma cidade de 12 milhões de habitantes… uma população maior que a de muitos países. Germano Euclides Paciência, 48 anos, parecia apenas mais um sujeito comum. Vestia uma camiseta vermelha, shorts azuis e um boné branco. Mas por trás dessa fachada, escondia-se um estuprador que estava foragido desde 2018, após ser condenado a oito anos de prisão.
Paciência foi identificado na sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025. Ele atravessava um viaduto em direção a um posto de saúde municipal quando uma câmera escaneou os rostos dos transeuntes. Utilizando um mecanismo de inteligência artificial, a câmera comparou instantaneamente essas imagens com um banco de dados de foragidos. Bingo! O alerta disparou em um prédio no centro de São Paulo, coração do vasto sistema de videovigilância que transformou a cidade mais populosa do hemisfério sul em um colossal "Big Brother".
A gigantesca rede — com cerca de 25 mil câmeras (algumas delas escondidas) filmando dia e noite — é batizada de Smart Sampa. Seis meses após sua implementação, o prefeito Ricardo Nunes está entusiasmado com os resultados. Até sexta-feira, 25 de abril, 1.044 foragidos foram presos — incluindo assassinos, estupradores, ladrões de celular, um membro da máfia chinesa, etc. — enquanto 2.289 criminosos foram pegos em flagrante. Além disso, 60 pessoas desaparecidas foram localizadas. E tudo isso, enfatizou Nunes em uma entrevista recente, ocorreu "sem um único tiro" e "sem um único erro".
O Smart Sampa é o xodó de seu segundo mandato. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, o principal objetivo de Nunes é combater o crime e gerir a segurança pública, que é a principal preocupação dos paulistanos.
A prisão de Paciência ilustra como o sistema funciona. Assim que o alerta é acionado na sede, a polícia confirma que o mandado de prisão é válido e comunica-se por rádio com as viaturas mais próximas do suspeito. Neste caso, três agentes da Guarda Civil Municipal apareceram no posto de saúde 16 minutos após a chegada do foragido. Os policiais — um deles com a arma em punho, mas quase escondida — atravessaram uma sala de espera sob o olhar de várias mulheres com bebês no colo, de acordo com imagens gravadas dentro do posto. Em menos de um minuto, saíram com o suspeito detido, cercado, mas sem algemas.
O sistema é gerenciado por um consórcio de empresas brasileiras. Essas empresas utilizam um software movido a inteligência artificial chamado FindFace, da empresa russa Ntechlab. Cada prisão é registrada no "prisômetro", um painel eletrônico instalado em frente à sede do Smart Sampa, no centro histórico de São Paulo.
Na sala de operações do Smart Sampa, o prefeito explica que se inspirou nas experiências de cidades como Londres, Buenos Aires e Miami, que reduziram drasticamente o crime com uma tríade de medidas: mais agentes, orçamentos maiores para segurança e tecnologia aprimorada. Ele diz que, já tendo adotado as duas primeiras, partiu para a terceira:
"Quando eu tenho o Comando Vermelho, Amigos dos Amigos (ADA), o PCC aqui..." — ele suspira, listando poderosas facções criminosas — "...além de uma situação em que um grande número de foragidos circula pela cidade impunemente, é impossível a polícia prender todo mundo. A única forma de tirá-los de circulação para proteger a sociedade — e colocá-los onde [o sistema de justiça] decidiu que eles devem estar — é através da tecnologia."
Após relutância inicial, a equipe do prefeito enfatiza que, para evitar erros, adotou um protocolo rigoroso em que o alarme só é acionado quando a correspondência (entre as características do transeunte e do foragido) ultrapassa 92%.
Pouco a pouco, o reconhecimento facial se infiltrou na vida de milhões de brasileiros. Primeiro, apareceu nas entradas de prédios altos nas grandes cidades, em nome da inovação e da redução de custos. Da noite para o dia, substituiu os porteiros tradicionais. Depois, chegou aos bancos. E, em pouco tempo, posar para uma câmera e deixar o documento na recepção tornou-se rotina para entrar em muitos edifícios.
Em São Paulo, a Prefeitura já monitora postos de saúde, centros comunitários e áreas externas de escolas. E começou a instalar câmeras em ônibus municipais.
"Assim, se um passageiro importunar uma mulher, nós o detemos", observa o prefeito.
Empresas privadas estão aderindo cada vez mais ao sistema, integrando suas câmeras à rede municipal. Nunes comemora que a Associação de Supermercados, com 7.300 unidades na cidade, acabou de oferecer colaboração. E, em seu gabinete, ele recebe regularmente prefeitos que querem entender os meandros desse chamado "Big Brother".
Mais de um terço dos 212 milhões de brasileiros estão potencialmente sendo monitorados por sistemas de reconhecimento facial em nome da segurança pública. Isso ocorre por meio de 376 projetos implementados por cidades em todo o Brasil, segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). Ainda assim, mesmo nesse contexto, o Smart Sampa representa um marco devido à escala colossal da rede.
Para o pesquisador do CESeC Pablo Nunes,
"A ideia do prisômetro e essa espetacularização da vigilância por meio de tecnologia de reconhecimento facial é muito nova. Isso levanta a questão de saber se será um ponto de virada na narrativa de projetos futuros."
Estádios de futebol e grandes aglomerações carnavalescas têm sido laboratórios para uma tecnologia que já apresentou falhas notáveis. Pablo Nunes (sem parentesco com o prefeito) preocupa-se com os erros que o reconhecimento facial comete com pessoas negras e outros grupos sub-representados ao analisar o material usado para treinar os algoritmos. Ele cita um estudo realizado nos EUA que revelou como as taxas de erro do reconhecimento facial são inferiores a 1% para homens brancos, mas chegam a 34% para mulheres negras. O pesquisador ressalta que menos de 1% da vasta população monitorada representa milhares de pessoas identificadas erroneamente.
O prefeito Nunes responde com desdém a qualquer menção às preocupações de organizações da sociedade civil:
"Essas entidades não têm legitimidade: 98% dos 12 milhões de moradores [de São Paulo] aprovam o Smart Sampa. Isso tem muito mais peso do que qualquer organização que reúne meia dúzia de pessoas para criticar [essa rede]."
Ele acrescenta que o sistema é supervisionado pelo Ministério Público e que há um conselho gestor.
As imagens gravadas pelas câmeras do Smart Sampa são armazenadas por 30 dias. O sistema também serve para localizar pessoas desaparecidas, veículos roubados e carros cujos proprietários são procurados. Pode auxiliar mulheres agredidas que solicitaram medidas protetivas ou mobilizar bombeiros quando uma tempestade tropical derruba árvores. Custa cerca de R$ 10 milhões por mês (aproximadamente US$ 1,7 milhão) para ser mantido.
São Paulo está longe de ter os piores índices de violência do Brasil, porque não há conflito entre facções criminosas: o território da metrópole é dominado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Mas os roubos diários de celulares e vários assaltos de grande repercussão em bairros tranquilos — alguns dos quais terminaram em assassinatos — alimentaram o medo. Essa é uma das razões pelas quais a privacidade tem importância secundária para a maioria das pessoas.
Porém, Rafael Zanatta, codiretor da ONG Data Privacy Brasil, enxerga vários riscos que podem não ser imediatamente aparentes. Ele explica que o Brasil oferece matéria-prima excelente para treinar inteligência artificial, pois tem uma população enorme com um nível de diversidade étnica difícil de encontrar em outros lugares. Brasileiros podem parecer alemães, nigerianos, coreanos, marroquinos ou portugueses.
"E, em uma metrópole como São Paulo, o número de comportamentos que ocorrem em espaços públicos é enorme: um vendedor [de cachorro-quente], uma mãe que perdeu o filho, um assediador à caça de mulheres, um exibicionista, alguém vendendo drogas em uma esquina ou [uma pessoa] esperando alguém. Há muitos comportamentos humanos disponíveis para serem catalogados. E esse é o negócio: tecnologia preditiva."
"Essas empresas estão de olho no mercado de 2035", acrescenta, referindo-se a empresas como a Edge Group, dos Emirados Árabes, que acaba de fechar contrato com o governo do estado de São Paulo para realizar videovigilância. Por enquanto, os sistemas estadual e municipal operam de forma independente, mas a Data Privacy Brasil alerta que uma hipotética integração poderia abrir as portas para empresas privadas lucrarem com a valiosa matéria-prima obtida para fins de segurança pública.
O mantra municipal é que "quem não cometeu crime não precisa se preocupar". Para o secretário de Segurança de São Paulo, Orlando Morando,
"As pessoas já aprenderam a viver" com a videovigilância. "[Só criminosos e ladrões] têm medo", afirma enfaticamente. "Estou convencido de que os bons cidadãos ficam felizes em ser filmados e monitorados."
Morando propõe uma nova versão do slogan que acompanha tantas câmeras em elevadores e shoppings:
"Sorria, você está sendo protegido."
O prefeito de São Paulo, enquanto isso, sonha em quadruplicar o número de câmeras para 100 mil até o final de seu mandato, em 2028.