A Reuters dimensionou na semana passada a contribuição direta dos EUA no genocídio em Gaza, registrando que o governo Biden enviou a Israel mais de 14.000 bombas de quase 1 tonelada – usadas contra uma das áreas de maior densidade populacional do planeta -, 6.500 bombas de 250 kg, 3.000 mísseis guiados Hellfire e 1.000 bombas destruidoras de bunkers, além de 2.600 bombas de pequeno diâmetro, são números fornecidos por autoridades norte-americanas falando sob anonimato à agência britânica.
Assim, pode-se dizer que o sangue de cada um dos mais de 37 mil palestinos mortos em Gaza pelos bombardeios coloniais israelenses, ou dos mais de 85 mil feridos, está indelevelmente marcado nas mãos de Biden e de seus principais auxiliares no Pentágono e na política externa.
Cada uma dessas 14.000 bombas de 1 tonelada, quando lançada em um quarteirão de uma cidade, danifica quase todos os edifícios dali, o que explica as fotos que mostram a devastação na Cidade de Gaza, Rafah ou Khan Younis.
São bombas que podem rasgar aço e concreto espessos. O raio de explosão desse artefato é de até 150 metros, sendo altamente letal até 75 metros. Em alguns casos, elas podem ser letais a até 1.200 metros de distância. Um dos usos mais notórios dessa classe de arma foi ataque de 31 de outubro que destruiu o campo de refugiados de Jabalia, matando ou ferindo mais de 400 pessoas.
O fato de que os EUA deram a Israel mais bombas de 1 tonelada do que todos os outros tipos de bombas e mísseis combinados evidencia que o objetivo de Washington era arrasar Gaza até o chão, como fez Netanyahu. Em janeiro, segundo a BBC, mais da metade dos prédios de Gaza haviam sido destruídos ou danificados, o que só se alastrou desde então.
A revelação do mix de bombas e mísseis fornecidos por Biden expõe a fraude completa das alegações da Casa Branca de que se oporia a “bombardeamentos indiscriminados contra civis”.
Bombas arrasa-quarteirão, lançadas contra bairros apinhados de gente, só servem para isso, para perpetrar carnificina.
Na realidade, as débeis alegações só foram feitas para servir de álibi para Biden caso a investigação da Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU sobre o genocídio prospere.
O “esclarecimento” sobre o fluxo de armas dos EUA para Israel teve, aparentemente, como motivação os reclamos de Netanyahu de que Biden estaria segurando as bombas, por causa do bombardeio a Rafah. De acordo com a agência britânica, os totais sugerem que não houve queda significativa no apoio de Washington ao genocídio, apesar do apelo mundial para limitar a entrega de armas.
A reportagem da Reuters foi publicada um dia após o debate presidencial, no qual os dois candidatos se esforçaram para se pintar como os maiores defensores do regime sionista. Com Biden declarando fornecer a Israel “todas as armas de que eles precisam e, quando eles precisam”, acrescentando que os EUA são “o maior produtor de apoio a Israel no mundo”. Já Trump chamou a deixar Netanyahu “terminar o trabalho” – isto é, o genocídio. Achando pouco tudo o que Biden já fez em prol do genocídio, o biliardário ex-presidente xingou-o de “palestino ruim”.
O debate ocorreu no mesmo dia em que o portal norte-americano Axios informou que o governo Biden liberará iminentemente um carregamento de 1.700 bombas de meia tonelada, cuja entrega havia sido postergada, para não coincidir com a ofensiva israelense contra Rafah apinhada de gente deslocada de suas casas, e possibilitar o plano de “cessar fogo” de Biden, em que Israel não se comprometia com a retirada, nem como o Estado Palestino, nem com nada que pudesse resultar numa paz justa e duradoura.
A notícia de que o governo Biden dará sinal verde para o envio de mais bombas a Israel ocorreu após as reuniões do ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, com altos funcionários do governo Biden em Washington na semana passada. Em maio, o promotor do Tribunal Penal Internacional acusou-o – ao lado de Netanyahu – de “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”. Tornou-se tristemente famosa a autoincriminação de Gallant, ao anunciar o bloqueio à entrada de comida, água, remédios, combustível e eletricidade em Gaza e chamando os palestinos de “animais humanos”.
Como em paralelo ao envio dessas bombas o Congresso dos EUA aprovou a entrega de US$ 14 bilhões para a “ajuda militar a Israel”, é concebível que Washington não apenas envia as bombas do genocídio, como paga por elas.