Geopolítica

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Geopolítica é a congruência entre demasiados grupos de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território, e anexar a geografia cotidiana com a história. Desta forma, Geopolítica é um campo de conhecimento multidisciplinar, que não se identifica com uma única disciplina, mas se utiliza principalmente da Teoria Política e da Geologia e Geografia ligado às Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas.

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Shigeru Ishiba, indicado na semana passada por seu partido, tornou-se oficialmente, nesta segunda-feira (01/10), primeiro-ministro do Japão. Ele pretende convocar eleições legislativas antecipadas no final do mês, mas começa o mandato enfrentando uma série de desafios econômicos, políticos e internacionais.

Ishiba, de 67 anos, pai de dois filhos, tornou-se oficialmente o novo primeiro-ministro do Japão após votação no Parlamento. Ele deve anunciar em breve a composição de seu governo, que terá a tarefa de lidar com uma série de desafios econômicos, políticos e internacionais. Essa votação no Parlamento, onde a coalizão no poder detém uma confortável maioria, era apenas uma formalidade após a vitória de Ishiba na eleição de sexta-feira (27/09) para liderar o Partido Liberal Democrata (PLD, de direita conservadora).

Em 2012 e 2017, Ishiba foi derrotado para assumir a liderança do partido, sempre enfrentando seu grande rival, Shinzo Abe. O mesmo cenário de derrota se repetiu na tentativa anterior de chegar ao poder, em 2020, diante de Fumio Kishida. O ex-ministro da Defesa e da Agricultura é bem visto pela opinião pública japonesa, mas sempre enfrentou a falta de popularidade entre os parlamentares.

Shigeru Ishiba, líder do conservador Partido Liberal Democrata (PLD), é empossado novo primeiro-ministro do Japão no lugar de Fumio Kishida Envelhecimento da população Entre os diversos desafios nos planos econômico, político e na cena internacional, Ishiba terá que enfrentar a baixa no consumo das famílias japonesas e o baixo crescimento dos salários, que são obstáculos ao crescimento econômico do país. Shigeru Ishiba apoia a normalização monetária iniciada pelo Banco do Japão em 2024, uma posição que fez o iene subir na sexta-feira e provocou a queda da Bolsa de Tóquio na segunda-feira, com os investidores temendo, também, um possível aumento dos impostos corporativos.

A preocupante queda na taxa de natalidade no Japão – que tem a população mais envelhecida do mundo, atrás apenas de Mônaco – também deverá estar entre suas prioridades. Ishiba pretende lidar com os problemas relacionados à quantidade de horas de trabalho e fortalecer o apoio financeiro às famílias. Ele também terá de enfrentar a desconfiança dos eleitores em relação ao seu partido, após uma série de escândalos político-financeiros que abalaram a sua popularidade e a de Fumio Kishida.

Aliança militar regional

No cenário internacional, o novo líder também terá que lidar com as tensões regionais. Seu antecessor havia se comprometido a dobrar os gastos com defesa e a fortalecer os laços com os Estados Unidos e outros países preocupados com o crescimento do poder da China, além do comportamento da Rússia e da Coreia do Norte.

Ishiba, que visitou Taiwan em agosto, é favorável à criação de uma aliança militar na região, seguindo o modelo da OTAN e seu princípio de defesa coletiva.

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Equanto Israel se prepara para uma invasão terrestre no Líbano, o Hezbollah disse nesta seguinda-feira (30) estar preparado para combater o invasor e prometeu prosseguir sua luta em "apoio a Gaza", apesar da morte do seu líder Hassan Nasrallah.

"Se o inimigo vier por terra, nossos gurrilheiros estão prontos para resistir a eles", disse o número dois do movimento islamista libanês, Naim Qasem. Ele afirmou que o grupo escolherá "o mais rápido possível" o sucessor Nasrallah, que morreu na sexta-feira (27) em um bombardeio israelense nos subúrbios do sul de Beirute.

Fontes militares israelenses ouvidas pelo jornal dos EUA Washington Post afirmaram que Israel está planejando uma operação terrestre limitada no Líbano que pode começar em breve. Já o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que a "próxima fase da guerra contra o Hezbollah começará em breve e permitirá que os moradores do norte retornem para casa".

Para o cientista político e professor de relações internacionais Bruno Beakini, a invasão terrestre do Líbano pode ser a única possibilidade de ampliar o cenário do conflito, "considerando que as perdas do lado sionista serão muito grandes".

"A intenção de fundo é atrair o Irã para uma guerra total e também aproveitar esse período antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Sinceramente não creio que uma invasão por terra seja vitoriosa para o apartheid, mas de fato pode incendiar ainda mais todo o cenário da região. Além das forças da resistência libanesa, é possível contar com 40 mil voluntários que entrariam através de Golã e ajudariam a defesa do território", disse ele ao Brasil de Fato.

Ele considera que uma eventual invasão do Líbano por terra demonstra confiança excessiva por parte do gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, após os ataques realizados contra o território libanês nas últimas semanas.

"Em geral o Estado sionista realiza bombardeios de saturação e destruição ampliada antes de entrar por terra. O que pode ocorrer é a extrema confiança de que teriam sabotado as comunicações do Hezbollah e isso aumenta a confiança de que, havendo uma invasão terrestre, sairiam vitoriosos."

O Exército israelense iniciou na última semana uma campanha de bombardeios em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, após um ano de confrontos na fronteira, com o objetivo de enfraquecer a milícia libanesa e restabelecer a segurança no norte do país. O ministro israelense Gallant, afirmou que a morte Nasrallah é um "passo importante, mas não é o final"."Para garantir o retorno das comunidades do norte de Israel, utilizaremos todas as nossas capacidades", declarou Gallant durante uma visita a soldados na fronteira entre Israel e Líbano.

Ao exaurir recursos do Hezbollah, o analista Beakini aponta que "o genocídio em Gaza e a limpeza étnica na Cisjordânia - já ultrapassam os 11 mil presos desde outubro de 2023 - vão continuar". Ele considera que Netanyahu pretende "celebrar" um ano de política genocida em Gaza, para "chocar o mundo ainda mais."

Irã descarta enviar tropas

O Irã, um aliado essencial do Hezbollah, descartou a possibilidade de enviar combatentes ao Líbano e para Gaza. "Não é necessário enviar forças auxiliares ou voluntárias iranianos", declarou o porta-voz da diplomacia do país, Naser Kanani, antes de acrescentar que o Líbano e os combatentes nos territórios palestinos "têm a capacidade e o poder necessários para enfrentar a agressão do regime sionista".

A Arábia Saudita, ator importante na região, pediu respeito à "soberania e integridade territorial" do país e expressou "grande preocupação" com a intensificação do conflito entre Hezbollah e Israel, enquanto a ofensiva israelense prossegue na Faixa de Gaza.

O Hamas anunciou nesta segunda-feira que seu líder no Líbano morreu em um ataque aéreo no sul do país, onde a imprensa estatal relatou um bombardeio contra um campo de refugiados palestinos. "Fatah Sharif Abu al Amine, o líder do Hamas no Líbano e membro da direção do movimento no exterior, morreu em um bombardeio contra sua casa no campo de Al Bass, sul do Líbano", afirma um comunicado do movimento islamista. A organização informou que ele morreu ao lado da esposa, do filho e da filha no que chama de "assassinato terrorista e criminoso".

Bombardeio no centro de Beirute

Após vários bombardeios nos últimos dias contra os subúrbios do sul de Beirute, reduto do Hezbollah, o Exército israelense atingiu nesta segunda-feira um edifício no centro da capital libanesa, pela primeira vez num ano de escalada militar. A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), um grupo secular de esquerda, afirmou que três integrantes do movimento morreram no ataque.

Uma fonte das forças de segurança libanesas afirmou que ao menos quatro pessoas morreram no ataque israelense com drones contra um apartamento do Jamaa Islamiya, grupo islamista sunita libanês que apoia o Hezbollah em suas operações. Mohamed al Hos, morador da região, foi acordado por um "barulho enorme" e saiu correndo para a rua de pijama. "As pessoas gritavam e dava para ver a poeira subindo do prédio. Estamos sendo atacados injustamente por algo com o qual não temos nada a ver. Nosso país não tem recursos para entrar em guerra", declarou à AFP. O prédio em que ele mora também sofreu danos.

Mais de mil mortes e 100 mil deslocados

Mais de mil pessoas morreram no Líbano desde meados de setembro na ofensiva de Israel, segundo as autoridades. Além disso, o primeiro-ministro libanês Nayib Mikati afirmou que o país tem quase um milhão de deslocados, o que representaria o maior deslocamento populacional da história da nação.

A ONU afirmou que quase 100 mil pessoas – cidadãos libaneses e sírios – fugiram do Líbano para a Síria devido aos bombardeios. Na madrugada desta segunda-feira, o Exército israelense anunciou que atacou dezenas de alvos do Hezbollah na região do Bekaa, leste do Líbano e conseguiu "interceptar um projétil aéreo que entrou no território do país procedente do Líbano".

O Ministério da Saúde libanês afirmou que seis socorristas do Comitê Islâmico da Saúde, vinculado ao Hezbollah, morreram em um ataque israelense no Vale do Bekaa.

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A Rússia realizou na última segunda-feira (26) um dos maiores ataques à Ucrânia desde o início da guerra. Foram 15 regiões atingidas, diversas cidades ficaram sem luz e ao menos cinco pessoas morreram em um bombardeio massivo no qual foram utilizados mais de 100 mísseis e mais de 100 drones.

O ataque foi uma reação de Moscou à intervenção na região russa de Kursk por parte da Ucrânia, que assumiu o controle de vários assentamentos nas áreas fronteiriças em uma operação sem precedentes dentro do território russo.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o pesquisador Pérsio Glória, doutorando da Universidade Estatal de São Petersburgo, aponta que, no atual cenário, "é bem provável que outros ataques dessa magnitude ocorram". Segundo ele, pode até haver uma escalada de tensões e a Rússia aumentar cada vez mais esse tipo de pressão, “utilizando de uma certa vantagem nessa questão dos ataques de longo alcance, de superioridade aérea que a Rússia ainda detém”.

Um dos objetivos da intervenção em Kursk, reconhecido por autoridades ucranianas, é de forçar a Rússia a sentar à mesa de negociações em condições mais justas para a Ucrânia.

O próprio presidente russo, Vladimir Putin, ao comentar o início da operação ucraniana em Kursk, afirmou que o ataque foi uma tentativa da Ucrânia de "melhorar a sua posição de negociação no futuro, de travar o avanço dos militares russos e também de semear o pânico na sociedade".

Ao mesmo tempo, acusando as forças ucranianas de atacar civis em território russo, Putin rechaçou a possibilidade de realizar negociações com a Ucrânia nestas condições. "Mas sobre que tipo de negociações podemos falar com pessoas que atacam indiscriminadamente civis, infraestruturas civis ou tentam criar uma ameaça às instalações de energia nuclear?", concluiu Putin.

Na última quarta-feira (28), a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakahrova, reforçou a impossibilidade de diálogo na atual conjuntura, afirmando que é justamente a ofensiva ucraniana em Kursk que faz com que a Rússia descarte qualquer possibilidade de negociações com Kiev no atual momento.

Ao Brasil de Fato, o cientista político Ivan Mezyukho afirma que em meados de junho o presidente Vladimir Putin chegou a anunciar uma proposta para pôr fim à guerra, sob a condição de que a Ucrânia abrisse mão dos territórios do leste do país – Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye - anexados pela Rússia. Segundo o analista, agora esta iniciativa fica ultrapassada.

"Se analisarmos a empreitada de Kursk do ponto de vista geopolítico, nesse sentido o regime de Kiev conseguiu que a iniciativa de paz de Putin, anunciada na véspera da 'cúpula de paz' na Suíça, agora seja menos atual. Apesar de que, ao atingir a profundidade do território russo, o regime de Kiev contava com o fato de que isso poderia entrar em um processo de negociação com o nosso país partindo de uma posição de força. Mas isso é uma representação ingênua da política russa", afirma.

Futuro dos EUA é futuro da Ucrânia

Ao mesmo tempo, há uma pressão da conjuntura internacional que impõe uma certa "corirda contra o tempo" ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que a Ucrânia consiga dar continuidade ao fluxo de ajuda financeira e militar do Ocidente: as eleições presidenciais dos EUA.

O cientista político Ivan Mezyukho aponta que é uma “situação geopolítica que se dificulta” para a Ucrânia, pelo fato de que "Zelensky faz o cálculo de que ele precisa ao máximo conseguir negociar a tempo os recursos financeiros do Ocidente para produção de armas e munições até a data das eleições presidenciais dos EUA". Segundo ele, "independente de quem vença nas eleições dos EUA, a estratégia de Washington sobre a Ucrânia será alterada". "Não falo de uma mudança fundamental, mas pelo menos taticamente, isso acontecerá", completa.

Nesta sexta-feira (30), a Rússia realizou um novo forte bombardeio na região ucraniana de Kharkov, atingindo áreas residenciais. Segundo as autoridades locais, ao menos quatro pessoas morreram e 28 ficaram feridas. Ao comentar o ataque em Kharkov, Zelensky reforçou o apelo para que o Ocidente autorize o uso dos seus armamentos para ataques ao território russo de longo alcance.

"Este ataque foi de uma bomba guiada russa. Um ataque que não teria acontecido se as nossas Forças de Defesa pudessem destruir aeronaves militares russas onde estão baseadas", escreveu Zelensky em seu canal do Telegram. Atualmente, os Estados Unidos e outros países ocidentais restringem a autorização aos ataques das Forças Armadas Ucranianas em território russo apenas contra áreas próximas à fronteira.

Já o pesquisador Pérsio Glória, concorda que parte da estratégia ucraniana é "demonstrar ao Ocidente que a Ucrânia tem capacidade de manter a guerra para continuar o fluxo de recursos, de armamentos". Ao mesmo tempo, ele observa que é justamente essa dinâmica que pode levar a uma escalada ainda mais grave na guerra.

"Eu acho que o Ocidente tem a capacidade de incrementar a posição de armamentos, enviar mais armas, recursos. É claro que depende do apoio popular, mas eu acho que a influência midiática ocidental consegue manter de certa forma esse apoio por bastante tempo. Então eu diria que há uma questão perigosa, porque os russos também não vão recuar, vão também aumentar a escalada", argumenta.

Ofensiva em Donbass

Outro objetivo da Ucrânia em seu ataque a Kursk era dispersar o poder de fogo da Rússia ao longo do front de batalha e fazer com que Moscou fosse forçada a frear a sua ofensiva em Donbass, no leste da Ucrânia, onde vem conseguindo avanços desde o fim de 2023.

Na última quarta-feira, no entanto, o próprio presidente ucraniano reconheceu a dificuldade de suas tropas diante da operação russa em uma das regiões do leste do país.

"Houve um relatório do Comandante-em-Chefe. [A situação em] Pokrovsky e outras áreas na região de Donetsk é extremamente difícil. Os principais esforços russos e um grande número de forças estão concentrados lá. E é muito, muito importante agora a estabilidade de cada uma das nossas divisões, a nossa capacidade de destruir o ocupante", declarou.

Bombeiros ucranianos trabalham para extinguir um incêndio em uma casa após um ataque com mísseis em Myrnograd, região de Donetsk, em 21 de agosto de 2024. / Genya Savilov/AFP

As cidades de Pokrovsk e Mirnograd, no leste ucraniano, são as últimas grandes cidades da região de Donetsk que ainda estão sob o controle da Ucrânia. O avanço das tropas russas nesta semana já chegou aos arredores de Pokrovsk, ficando a 10 km do centro da cidade e colocando em risco um importante reduto das Forças Armadas da Ucrânia no leste do país.

Para o pesquisador da Universidade Estatal de São Petersburo, Pérsio Glória, os objetivos ucranianos eram de “tentar forçar uma parada da ofensiva russa em Donbass, para eles realocarem tropas, recursos e equipamentos para Kursk”, conquistando territórios em pontos estratégicos como o ponto de transferência de gás e a usina nuclear de Kursk. “Nesse sentido eu diria que o resultado para a Ucrânia não foi tão bom, porque a Rússia continua mantendo a ofensiva, está avançando de forma considerável em Donbass”, disse Glória.

Assim, de um lado da linha de frente, a Ucrânia busca ampliar a sua capacidade de atingir os territórios russos nas zonas fronteiriças perto de Kursk, já ao sul do front, a Rússia mantém a sua ofensiva em Donbass e não dá sinais de arrefecer os avanços nesta direção.

De acordo com Pérsio Glória, as evidências no campo de batalha indicam que essa transferência de tropas russas de Donbass para Kursk não aconteceu. "O que houve foi uma utilização das reservas russas para estabilizarem as frentes e, claro, com apoio técnico-militar, utilizando artilharia, o aparato aéreo", explica.

Se nas últimas semanas a reação russa ao ataque em Kursk ainda era uma incógnita, agora a estratégia de Moscou fica mais clara: conter maiores perdas de seu território - mas sem tanta urgência de recuperá-los - e dobrar a aposta ao sul da linha de frente, conquistando áreas estratégicas na região de Donetsk, se aproveitando, inclusive, do deslocamento que a Ucrânia teve que fazer das suas forças para Kursk

"Os ucranianos tiveram que mover as artilharias que estavam dentro do território para mais próximo da fronteira. Esse movimento de equipamento também dá uma vantagem para a Rússia, porque eles estão fazendo uma incursão que não está na parte ofensiva, então você vai ter desvantagem", afirma o analista.

Front em Kursk é um ‘novo normal’ da guerra?

A estratégia russa de manter certa cautela e não tomar medidas drásticas em Kursk e, ao mesmo tempo, intensificar o ritmo da ofensiva em Donbass, indica que a avaliação do Kremlin é de que é possível administrar e dar continuidade à operação militar na Ucrânia, mesmo com a presença de tropas ucranianas em território russo.

Isso representaria um redesenho da linha de frente – que ainda está em formação —, e um horizonte de retomada destes territórios fronteiriços em um ritmo mais lento. O pesquisador Pérsio Glória concorda que, do ponto de vista militar, a incursão em Kursk realmente criou uma “uma nova normalidade”, pois colocou um pedaço do território russo no mapa do front.

No entanto, no plano político e social, ele observa que a incursão em Kursk é um tema sensível e ainda em disputa. "Existe toda uma sacramentalidade em relação ao território do Estado, a sobrevivência do Estado. Eu acho que a reverberação disso ainda está ocorrendo a nível social. Em termos militares e estratégicos, sim, [Kursk] se tornou uma parte do front. Então é um 'novo normal' na questão militar, porque no político eu diria que não", explica.

De acordo com ele, "é bem distinta a questão do conflito em Donbass e a questão do conflito em Kursk", que pois esta é uma região russa, que "também tem um histórico das lembranças da Grande Guerra Patriótica, da batalha de Kursk”. “Isso tudo pode ser instrumentalizado na questão da identidade nacional, na utilização dessas memórias históricas. E isso pode ou não servir como um fator de aumento da mobilização popular. A gente ainda está vendo as reverberações disso na sociedade", completa.

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O governo da Rússia voltou a criticar nesta sexta-feira (12/07) o comunicado final da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), realizada em Washington, e alertou que o envio de mísseis norte-americanos de longo alcance para a Ucrânia constitui uma “escalada perigosa” do conflito.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, apontou que os dispositivos bélicos fornecidos pela OTAN a Kiev “já estão sendo usados para atacar a Rússia”, mas os planos de implantação de mísseis de longo alcance, anunciados recentemente pelos Estados Unidos, podem agravar a situação.

“Estes mísseis já estão atingindo o nosso território. Trata-se de pura provocação, uma nova e muito perigosa escalada de tensão”, afirmou o porta-voz durante uma conferência de imprensa.

Questionado pelos jornalistas, Peskov desmentiu que a inteligência russa tenha preparado um plano para assassinar Armin Papperger, diretor-geral da empresa alemã Rheinmetall, que fornece armas à Ucrânia.

“Tudo isso é apresentado no estilo de notícias falsas, por isso elas não podem ser levadas a sério”, criticou o russo. “É muito difícil para nós comentarmos informações midiáticas que não contenham argumentos sérios e sejam baseadas em fontes anônimas”.

Na quinta-feira (11/07), a emissora norte-americana CNN relatou que os Estados Unidos e a Alemanha frustraram, neste ano, um suposto projeto costurado pelas autoridades russas para assassinar o chefe da fabricante de armas alemã.

Segundo a veículo, o plano fazia parte de uma série de projetos articulados por Moscou descobertos pela inteligência norte-americana e que consistiam em assassinar líderes da indústria de defesa europeia envolvidos no apoio à Ucrânia contra a Rússia.

As declarações de Peskov desta sexta-feira refletem a tensão gerada após a cúpula da OTAN, cujo comunicado final define o apoio bélico norte-americano no território europeu, uma possível adesão de Kiev à aliança como “irreversível”, e ainda acusa a China de fornecer apoio “material e político” à Rússia.

No dia anterior, o governo russo ameaçou que a decisão de fornecer dispositivos bélicos de longo alcance terá uma “resposta militar à altura” por parte das forças armadas do país euroasiático.

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Em comunicado do Centro Palestino de Informação (PIC, por sua sigla em inglês), publicado nesta sexta-feira (12/07), o gabinete político do Hamas defendeu a constituição de uma coalizão “nacionalista e apartidária” para assumir simultaneamente a administração da Faixa de Gaza e da Cisjordânia após um possível cessar-fogo permanente no conflito que persiste na região desde outubro passado.

O texto da proposta é de autoria de Husam Badran, membro do gabinete político do Hamas. Em sua argumentação, ele ressalta que o grupo de resistência palestino “não discutirá o dia seguinte à guerra em Gaza com nenhuma parte externa”.

Segundo o canal Al Jazeera, do Catar, os representantes do Hamas nas mesas de diálogo realizadas no Cairo, capital do Egito, a iniciativa desse governo de coalizão “nacionalista e apartidário” será uma das condições do grupo nas negociações de paz mediadas por representantes egípcios, cataris e norte-americanos.

“Apelamos à comunidade internacional para que exerça pressão sobre o partido que está obstruindo as negociações e o obrigue a pôr termo à agressão contra Gaza”, afirmou Badran, de acordo com o comunicado do PIC.

A proposta apresentada por Badran consistiria na instalação de um governo que administraria tanto a Faixa de Gaza quanto a Cisjordânia, algo que não aconteceu nos últimos anos.

Desde 2005, os territórios palestinos possuem governos diferentes: a Cisjordânia é administrada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e reconhece Mahmoud Abbas como presidente; já a gestão da Faixa de Gaza está nas mãos do Hamas.

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta sexta-feira (12/07) que tanto Israel quanto o Hamas concordaram com seu plano para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, mas ressaltou que “ainda há trabalho a ser feito”.

“Há seis semanas, apresentei um quadro abrangente sobre como conseguir um cessar-fogo e trazer os reféns para casa. Ainda há trabalho a ser feito, e essas questões são complexas, mas esse quadro agora tem a aprovação tanto de Israel quanto do Hamas. Minha equipe está fazendo progressos e estou determinado a concluir isso”, escreveu o mandatário em rede social.

O plano apresentado pelo líder norte-americano no fim de maio é dividido em três etapas. No fim, ele levará a uma trégua total, libertação de reféns israelenses, soltura de prisioneiros palestinos detidos em Israel e facilitação de acesso à ajuda humanitária no enclave.

O projeto também prevê a retirada das tropas israelenses de Gaza e inclusão de investimentos para a reconstrução do território palestino, sobretudo escolas e hospitais destruídos ao longo de nove meses de intensas operações israelenses.

No dia anterior, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, havia sinalizado que a autoridade norte-americana via “possibilidade” de Israel e Hamas chegarem a um consenso sobre o acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns.

“Vemos progresso. Vemos a possibilidade de chegar a um acordo. Obviamente, não posso garantir isso porque há muitos detalhes a serem resolvidos. Achamos que as questões restantes podem ser resolvidas, devem ser resolvidas, e vamos continuar pressionando até conseguirmos um acordo”, afirmou Sullivan, à margem da cúpula da OTAN em Washington.

Negociação paralisada

Inicialmente a proposta delineada pelos Estados Unidos propunha, logo em sua primeira etapa, um cessar-fogo de seis semanas, durante o qual o exército de Tel Aviv garantiria sua retirada das áreas povoadas de Gaza. Reféns, incluindo idosos e mulheres, seriam trocados por centenas de prisioneiros palestinos. Além disso, civis também deveriam retornar ao enclave, enquanto 600 caminhões transportariam ajuda humanitária diariamente.

No entanto, as negociações ficaram paralisadas por semanas em decorrência da recusa de Israel, o que levou o Hamas a abandonar provisoriamente sua exigência de cessar-fogo na primeira fase do acordo.

O grupo palestino acusou, no início desta semana, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de criar obstáculos sobre o plano enquanto intensifica as operações militares em todo o enclave, chegando a ameaçar retroceder negociações à estaca zero.

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El Salvador pode ser um exemplo palpável de para onde confluem e se evidencia a rivalidade EUA-China, em especial no plano comercial e de influência na América Latina. O chamado Polegarzinho da América mostra hoje um cenário onde coexistem as políticas de Washington e de Pequim. Há concorrência entre as duas potências mundiais, que disputam de diferentes formas o controle dos mercados latino-americanos, o primeiro combinando o militar com a pressão econômica e o segundo com grandes investimentos econômicos para benefício social.

Enquanto os chineses financiam a construção de obras de benefício social como a recém inaugurada Biblioteca Nacional, o Estádio Nacional, um pequeno porto para pesca artesanal no Pacífico e infraestruturas no lago Ilopango para fornecer água à capital, entre outras, os estadunidenses combinam ajudas econômicas com regalias ao aparato militar do país. Isto é um exemplo da rivalidade geopolítica entre Estados Unidos e China na América Latina, que tem uma vistosa demonstração no acionar da generala Laura J. Richardson, atualmente a 32ª Comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, que exibe seu poder e influência sobre a região latino-americana.

Richardson, além de militar, é uma funcionária bem preparada que, entre outros títulos, possui um mestrado em Estratégia de Recursos Nacionais pela Escola Dwight D. Eisenhower de Segurança Nacional, e Estratégia de Recursos da Universidade Nacional de Defesa, que fazem dela uma ponta de lança para retomar posições na América Latina. É dolorosamente irônico ouvir uma comandante militar estadunidense falar da necessidade de boa vizinhança com a América Latina, uma região que Washington passou a maior parte dos últimos 200 anos invadindo, ocupando, saqueando e, quando é necessário, derrubando governos, segundo os críticos.

EUA e os assuntos internos dos outros países

Washington ainda hoje se imiscui regularmente nos assuntos de outros países americanos, inclusive o México, seu vizinho direto ao sul, além da Venezuela, Bolívia e Argentina, entre outras nações. Richardson não oculta que uma das principais razões para seu país mostrar um renovado interesse pela América Latina é devido aos abundantes recursos naturais da região, inclusive o petróleo pesado e leve, a Amazônia com 31% da água doce do mundo, 60% do lítio, ouro, cobre, 50% da soja mundial, mais de 30% do açúcar e do milho.

Em uma entrevista no ano passado ao Atlantic Council, um think tank neoconservador, a militar explicou que uma das principais missões do Comando Sul que ela dirige é encontrar formas para evitar que os principais adversários de seu país, China e Rússia, possam comprar recursos estratégicos na América Latina e no Caribe. Qualquer intervenção nos assuntos políticos das Américas por parte de potências estrangeiras era um ato potencialmente hostil contra os Estados Unidos. Agora está aplicando esta doutrina a China e Rússia.

Em seu confronto com a China e a Rússia em menor medida, a Casa Branca pulsa os cenários latino-americanos. Assim, o governo de Javier Milei, na Argentina, anunciou planos para que o Comando Sul implante pessoal militar em uma base situada na Terra do Fogo, perto da Antártida. Também assinou um acordo, por meio da Autoridade Portuária Geral, para que o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos tenha presença ao longo da via navegável e cumpra as tarefas de assessoramento sobre a gestão de portos e rotas. Isto poderia ser uma resposta de força, visto que a China constrói em Chancay, no Peru, um porto que diminui o tempo de seus navios em 10 dos 45 dias atuais, o que lhes permitirá o deslocamento de cerca de 18 mil contêineres. Seria uma explosão comercial.

Equador e as bases dos EUA na América Latina

Outro exemplo é o Equador, transformado em uma base gigante dos Estados Unidos, com a presença de milhares de militares supostamente ajudando a combater o narcotráfico e o terrorismo, ainda que muitos garantam que o objetivo principal é dominar regiões ricas em recursos, na América Latina.

Analistas estudam as projeções das duas potências. O acionar de Estados Unidos e China como modelos das relações internacionais nos anos recentes dá origem a debates estratégicos sobre as dinâmicas políticas, militares e econômicas reais, com alta probabilidade de que esta situação continue durante algum tempo.

Esta situação torna-se, cada vez com mais frequência, a lente através da qual atores veem e predizem acontecimentos importantes da geopolítica mundial. Assim o entende a pesquisadora Yamileth Arteaga Alcívar, do Instituto Superior Universitário Japão-Quito, em uma análise publicada na Revista Multidisciplinar Desenvolvimento Agropecuário, Tecnológico, Empresarial e Humanista (Dateh).

China, abertura econômica e outras dinâmicas

A abertura econômica da China propiciou uma mudança na dinâmica do comércio internacional. É uma das razões pela qual os Estados Unidos etiquetaram Beijing como um competidor estratégico. As relações chino-estadunidenses passaram da cooperação ao confronto, especialmente quando Pequim começou a investir mais em infraestrutura física por meio dos Brics, afirmou.

Na América Latina, Estados Unidos e China são considerados os atores econômicos externos mais destacados da região, devido a interesses e objetivos geopolíticos superpostos que giram em torno a aspectos da concorrência entre grandes potências. Entre seus propósitos figuram confrontar a influência de seus rivais, projetar poder na área e, especialmente, interesses econômicos variados, explicou Arteaga.

Isso não quer dizer que a concorrência entre as duas nações ou mesmo a rivalidade entre as grandes potências em geral determine todos os demais problemas e conflitos internacionais, esclareceu. Se bem ambas as potências sejam consideradas os atores econômicos externos mais destacados da região, os Estados Unidos são os únicos que têm interesses relacionados com a proteção da segurança interna devido à proximidade geográfica com a América Latina; então pode-se considerar que este possui o conjunto de interesses mais amplo na zona.

China e sua influência na América Latina

Por outro lado, a influência da China na América Latina está remodelando a dinâmica comercial, no que se destaca o Brasil, com seu comércio focado na agroindústria e no minério de ferro, para o qual o gigante asiático constitui o principal mercado. A relação econômica do Brasil com a China se intensificou nos últimos anos; as exportações do país sul-americano para o gigante asiático chegaram a alcançar em 2022 a cifra de 90 bilhões de dólares, tornando-se um fornecedor chave de produtos agrícolas para Pequim, inclusive de carne bovina.

Este padrão comercial ilustra a cada vez maior influência do país asiático na América Latina, o que reflete a dinâmica comercial atual e as políticas econômicas. Retornando ao Polegarzinho da América, há uma evidência palpável. El Salvador experimentou uma queda em suas exportações de 13,7% interanual no primeiro trimestre de 2024, aprofundando a contração em relação à média de 2023 (–8,7%), explicado principalmente pelo menor comércio com os Estados Unidos e o Canadá, detalhou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Enquanto se vislumbra uma queda das vendas salvadorenhas para alguns mercados, o informe observou um incremento dos envios para a China, ainda que as exportações para a região asiática em seu conjunto tenham diminuído 49,8% em um ano.

Sem dúvida, a China bate à porta das nações da América Latina com o comércio e abre seu mercado aos produtos da região, algo preocupante para Washington que busca manter hegemonia com componentes militares como os que emprega a general Richardson.

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A Nova Frente Popular, que venceu as eleições legislativas na França no domingo passado, repeliu na quinta-feira (11) a recusa do presidente Emmanuel Macron de nomear um primeiro-ministro procedente das fileiras da coligação que elegeu maior número de deputados.

Em uma carta publicada na imprensa francesa na quarta-feira (10), desde Washington, para onde foi para participar da cúpula de guerra da Otan, Macron fez a acintosa declaração de que “ninguém venceu” as eleições de domingo, instando as “forças republicanas” a construírem “uma maioria sólida para o país”, enquanto recusava a demissão do primeiro-ministro macronista, Gabriel Attal.

Macron exigiu implicitamente que a maior força da NFP, a França Insubmissa, fosse excluída do governo a ser formado.

Uma manobra cínica, tentando virar a mesa e dividir a NFP, que além de ter ficado em primeiro lugar, foi também quem teve a iniciativa política e amplitude capaz de deter o ascenso da extrema-direita, aliás, inflado pelo neoliberalismo de Macron, com medidas como a elevação da idade mínima de aposentadoria, e por sua sabujice aos EUA, à guerra e às sanções.

Aliás, foi manobra anterior de Macron, ao ser fragorosamente derrotado nas eleições para o Parlamento Europeu, de antecipação das eleições legislativas que ocorreriam naturalmente em 2027, que colocou a França à beira de ser governada por Marine Le Pen e seus partidários xenófobos e racistas.

“VETO AO SUFRÁGIO UNIVERSAL”, ALERTA MÉLENCHON

O líder socialista Olivier Faure acusou o presidente de não “respeitar o voto dos franceses”, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, denunciou que Macron “se recusa a reconhecer o resultado das urnas, que coloca a Nova Frente Popular na liderança em número de votos e mandatos (…) É o retorno do veto real ao sufrágio universal”.

A principal central sindical francesa, a CGT, convocou os franceses a irem às ruas em 18 de julho, dia da primeira sessão da Assembleia Nacional, “para que o resultado da eleição seja respeitado”.

“Temos a impressão de ver Luís XVI preso em Versalhes”, disse sua líder, Sophie Binet, referindo-se ao monarca guilhotinado em 1793 durante a Revolução.

“Não se pode ganhar e perder ao mesmo tempo”, disse a líder dos ambientalistas, Marine Tondelier, acusando Macron de ignorar os resultados das eleições, em prejuízo da democracia e do país.

Até mesmo madame Le Pen chamou a carta de Macron de “circo vergonhoso”.

“MAU PERDEDOR”, DIZ LIBÉRATION

A manobra de Macron também foi desancada pelos jornais franceses, que o chamaram de “mau perdedor” e “arrogante” ao pretender “ignorar” o resultado das urnas.

“Emmanuel Macron é um mau perdedor” é a manchete do jornal progressista Libération, que afirma que o presidente “tenta se manter no centro do jogo, apesar da derrota de seu time”.

Em editorial, Libé afirma que no último domingo os eleitores da França passaram uma clara mensagem que não aguentam mais o macronismo, que temem a extrema direita e que há uma “tímida” vontade de ver a esquerda de volta ao poder, registrou a RFI.

Segundo o texto, ao invés de acalmar a crise política, o presidente lançou “uma nova granada” em forma de carta apelando pela formação de uma maioria que, diante das divisões entre os grupos parlamentares, é impossível de ser alcançada.

Para o jornal conservador Le Figaro, “Macron tentou, mais uma vez, virar a mesa”. Em editorial, o diário reitera que, desde as eleições europeias, em 9 de junho, a França demonstra uma “poderosa rejeição” da postura do chefe de Estado, considerado “muito arrogante”.

Segundo Le Figaro, a resposta de Macron não é a de um árbitro que se coloca acima da confusão, mas de “um chefe jupiteriano ditando suas condições e a conduta a ser respeitada pelas forças políticas, esperando governar sob autoridade”.

Nenhum partido ou coligação obteve maioria absoluta, de 289 deputados, na nova Assembleia Nacional. A aliança de esquerda NFP ficou em primeiro lugar com entre 190 e 195 assentos, a aliança centrista de Macron com cerca de 160 e a extrema-direita com mais de 140.

COABITAÇÃO JÁ

Mas, como já observara Mélenchon, na tradição política francesa os governos de coabitação – quando o presidente é de um partido e o primeiro-ministro é da oposição – cabe à coalizão vencedora indicar o nome para encabeçar a formação de governo, não ao presidente derrotado.

A NFP anunciou que irá definir seu nome para primeiro-ministro até o final de semana. A França e seu povo têm pressa em que seu programa antineoliberal e antifascista tire o país da crise e da ameaça de guerra e de fascismo.

Essa empreitada de Macron inclui ainda o presidente do Senado, Gérard Larcher, que diz que a formação do novo governo pode ser adiada até o “início de setembro”. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, que também foi reeleito, disse à CNews que poderia apoiar um “primeiro-ministro de direita”.

Pelas redes sociais, a jovem deputada Clémence Guetté, considerada uma aposta de Mélenchon para o cargo de primeiro-ministro, assinalou que “mais sozinho do que nunca, Emmanuel Macron maltrata. Jogou a França nos braços da extrema direita, nós evitamos isso. Agora a Nova Frente Popular deve governar”.

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O Hamas alertou na noite de segunda-feira (08/07) que as últimas operações militares na Faixa de Gaza e as recentes medidas tomadas pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu podem dificultar as negociações de cessar-fogo e libertação de reféns, colocando as discussões “de volta à estaca zero”.

“Enquanto o movimento Hamas demonstra flexibilidade e positividade para facilitar a obtenção de um acordo para deter a agressão sionista, Netanyahu está colocando obstáculos adicionais no caminho das negociações ao escalar sua agressão e crimes contra nosso povo”, afirmou o movimento palestino, em comunicado pelo Telegram.

A declaração foi dada após as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) intensificarem suas ofensivas na Cidade de Gaza e ordenarem uma evacuação massiva de civis em direção à região central do enclave, em Deir al-Balah. De acordo com a agência de notícias Reuters, trataram-se de ataques “mais pesados em nove meses de conflito”, que resultaram em bombardeios e dezenas de mortes.

As esperanças de um avanço nas negociações aumentaram na semana passada, quando o Hamas flexibilizou suas exigências para a implementação de um cessar-fogo. No entanto, o grupo palestino acusou que, mesmo com concessões, Netanyahu criou novos “obstáculos” ao estabelecer que qualquer acordo tivesse que incluir a retomada de operações militares em Gaza.

O ataque na segunda-feira aconteceu enquanto altos funcionários dos Estados Unidos estavam pressionando por um cessar-fogo, conforme relatado pela Reuters.

Segundo o grupo palestino, a nova ofensiva israelense teve como objetivo “atrapalhar as negociações” e pediu uma intervenção dos mediadores dos EUA, Egito e do Catar para impedir “os truques de Netanyahu”.

“[O ataque] pode trazer o processo de negociação de volta à estaca zero. Netanyahu e seu exército terão total responsabilidade pelo colapso deste caminho”, alertou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh.

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Em meados de junho, a Geórgia ficou marcada por protestos contra a nova lei do parlamento que exige que as ONGs se registrem como “agentes estrangeiros” se mais de 20% de sua renda vier do exterior.

Em algumas ocasiões, houve protestos ferozes do lado de fora do parlamento quando a lei foi apreciada e então aprovada com grande maioria. O ponto crucial da questão é a relação da Geórgia com o imperialismo estrangeiro – de um lado, o imperialismo russo, do outro, o imperialismo dos EUA e das grandes potências europeias.

Dezenas de milhares de manifestantes na capital Tbilisi exigiram que o projeto de lei fosse retirado. Eles vêm protestando há um mês, e o NRK [monopólio de imprensa norueguês] descreve que as manifestações podem ser as maiores no país desde a queda da União Soviética em 1991. Foi o partido no governo, Georgian Dream, que propôs a nova lei em abril contra a “influência estrangeira”. A Rússia aprovou uma lei semelhante em 2012.

O monopólio NRK diz: “Na versão georgiana, fica declarado que organizações não-governamentais e mídias que recebam mais de 20% de seu orçamento de fontes estrangeiras devem se registrar como ‘agentes estrangeiros’.” Em um dos casos sobre a chamada “lei dos agentes”, a NRK entrevistou Mariam Tokhadze, que dirige o think tank Center for Strategy and Development (CSD). Com 16 funcionários, eles trabalham para promover a “integração em direção ao Ocidente”, e recebem todo apoio do exterior, incluindo 14,8 milhões NOK [sigla da coroa norueguesa, moeda oficial do país, e equivalente a R$ 7.6 milhões] do governo da Noruega desde 2020.

Frações na Grande Burguesia da Geórgia

A Geórgia é uma presa para os imperialistas. Em dezembro do ano passado, o país ganhou status de candidato a membro da União Europeia, um novo passo no caminho para a adesão. Ao mesmo tempo, o imperialismo russo ainda exerce uma grande influência em sua antiga colônia. O partido governista Georgian Dream foi fundado pelo oligarca russo Bidzina Ivanishvili em 2012, o qual teria um patrimônio de mais de 50 bilhões NOK [R$ 25.8 bilhões] em negócios na Rússia e, portanto, está diretamente ligado ao imperialismo russo.

Ivanishvili declarou que “um ‘partido do ocidente pró-guerra mundial ‘ está tentando tomar o controle do país”. Ele disse que a nova lei ajudará a evitar que “organizações não governamentais” (ONGs) sejam usadas por agências de inteligência estrangeiras para levar seus lacaios ao poder.

Atualmente, as potências europeias estão depositando sua confiança na presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, que prometeu vetar esta lei. Zurabishvili nasceu na França em 1952, de uma família que mudou para o país em 1921, depois que a Geórgia se tornou parte da União Soviética. Ela estudou em universidades de elite na França e nos Estados Unidos e começou a trabalhar no serviço estrangeiro francês em 1974.

Zurabishvili então trabalhou em várias embaixadas e na delegação francesa da ONU, antes de se tornar embaixadora da França na Geórgia em 2003. Após a “Revolução das Rosas” em 2003, ela logo obteve a cidadania georgiana e foi por um curto período ministra das Relações Exteriores antes de se juntar ao partido Way of Georgia e tentar a eleição para o parlamento. Candidatou-se à presidência em 2018 com apoio do partido Georgian Dream e renunciou à sua cidadania francesa para concorrer às eleições. Ela venceu a eleição e seu oponente Grigol Vashadze depois alegou que a eleição foi fraudada. Ambos os candidatos eram, de qualquer forma, apoiadores da adesão da Geórgia à União Europeia (UE) e à OTAN.

A UE declarou que a nova lei na Geórgia será um obstáculo à filiação à UE, e a situação está agora bastante tensa. O Ministro das Relações Exteriores dos EUA, Antony Blinken, declarou que “aqueles responsáveis” pela [elaboração da] lei estarão sujeitos a restrições de visto – o que significa que terão problemas para entrar nos EUA.

A burguesia georgiana, assim como em outras nações oprimidas, se divide em duas frações: uma fração compradora e uma fração burocrática. Estas em partes fluem de uma para a outra – ambas frações pertencem à mesma classe: a grande burguesia burocrático-compradora – mas também pugnam em uma batalha feroz pelo poder no governo. A fração compradora tem a sua riqueza derivada principalmente de sua cooperação econômica com o imperialismo estrangeiro, enquanto o poder da fração burocrática repousa no aparato estatal e nas empresas estatais. Essa rivalidade é a base dos conflitos políticos nesses países – entre eles Ucrânia e Geórgia.

Os imperialistas exercem influência no exterior mas proíbem-na em casa

Os EUA têm mais ou menos a mesma lei que a Geórgia e com quase o mesmo nome desde 1938 (!) – a “Foreign Agents Registration Act” (§§611-621; FARA). Esta lei exige que indivíduos e organizações que possuam laços com potências estrangeiras se registrem no Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A lei ganhou nova relevância quando foi usada contra a administração Trump. A UE, por sua vez, baniu a mídia russa, como a Russia Today e a Sputnik.

Em 2021, o governo Solberg começou a trabalhar para proibir a influência estrangeira na Noruega e, em janeiro de 2024, a Ministra da Justiça Emilie Enger Mehl apresentou projetos de lei para dar ao Serviço de Segurança Policial a oportunidade de intervir contra a “influência estrangeira”. Ela declara que as autoridades norueguesas estão particularmente preocupadas com a influência da Rússia e da China.

Além disso, a Lei dos Partidos Noruegueses declara que os partidos não podem receber apoio de “doadores estrangeiros, ou seja, indivíduos privados que não sejam cidadãos noruegueses” ou “entidades legais registradas no exterior”. Em outras palavras, de acordo com essa lei, os partidos noruegueses não podem receber um único tostão de indivíduos ou organizações estrangeiras.

Ou seja, é pura hipocrisia quando políticos ocidentais se enfurecem contra a nova lei na Geórgia. Eles usam os mesmos meios que as autoridades georgianas – só é invertida a imagem do inimigo.

Aliás, a CIA tem usado por muito tempo as chamadas ONGs como uma extensão do imperialismo dos EUA e de suas atividades de inteligência e campanhas de propaganda. Organizações como a National Endowment for Democracy [NED, ou Fundação Nacional para a Democracia], fundada em 1983, e a Freedom House [ou Casa da Liberdade], que têm sido ativas na Ucrânia, têm sido repetidamente expostas como organizações de fachada da CIA.

Geórgia – uma presa para os imperialistas

O imperialismo russo ocupa hoje 20% da Geórgia – as duas regiões da Abkházia e da Ossétia do Sul – após a guerra entre Rússia e Geórgia em 2008. A Rússia considera formalmente essas duas áreas como estados independentes, o que apenas outros quatro países fazem.

Em 2003, grandes protestos na Geórgia levaram a uma mudança de governo na chamada “Revolução das Rosas”. Ela se junta à série de “revoluções coloridas” na Sérvia (2000), Ucrânia (2004), Quirguistão (2005) e Armênia (2018), e tentativas de “mudanças de regime” semelhantes em vários outros países. Não há dúvidas de que a inteligência ocidental, particularmente a CIA, operou ativamente dentro dos protestos e nas mudanças de governo que se seguiram. Embora as massas tenham levantado demandas justas, os movimentos foram amplamente cooptados para desafiar o domínio do imperialismo russo.

A presidente da Geórgia é um exemplo do quão diretamente as grandes potências agem em relação às nações oprimidas que antes estavam sujeitas à União Soviética social-imperialista. O governo da Ucrânia em 2014, após os protestos apelidados de “Euromaidan” naquele ano, teve três ministros das Relações Exteriores (provenientes dos Estados Unidos, Lituânia e Geórgia).

As atividades ocidentais nesses países estão alinhadas com a estratégia do imperialismo dos EUA de cercar o imperialismo russo. A estratégia não é apenas sobre empurrar para fora a Rússia da antiga “esfera de interesse” do social-imperialismo [soviético] na Europa Oriental, no Cáucaso e na Ásia Central, mas também sobre privar a Rússia de sua posição como superpotência atômica, construindo um “escudo anti-mísseis” em muitos dos países vizinhos da Rússia. O escudo anti-mísseis poderia tornar virtualmente impossível para a Rússia chegar aos Estados Unidos com suas armas nucleares.

Por outro lado, a Rússia está lutando quase desesperadamente para quebrar essas tentativas de cerco e consolidar sua influência nas áreas vizinhas. Este é o pano de fundo não apenas para a guerra na Ucrânia, como também para esse conflito político na Geórgia – tanto hoje como no passado. O imperialismo russo fez uma série de ofensivas táticas dentro da defensiva em que está desde 1991. Até mesmo as atividades russas na África devem ser vistas neste contexto, onde juntas militares apoiadas pela Rússia assumiram o poder em Burkina Faso, Mali, Níger, entre outros.

O partido Georgian Dream novamente se inclina mais para o imperialismo russo, e as grandes potências ocidentais, principalmente o imperialismo dos EUA, ajudam seus lacaios nesta luta doméstica. O contexto é de um conflito de longo prazo pelo Cáucaso e, em sentido mais amplo, uma rivalidade [geopolítica entre potências] na Europa Oriental, Oriente Médio e Ásia Central.

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O projeto ultraliberal encabeçado pelo presidente Javier Milei na Argentina tem alterado fortemente os hábitos alimentares dos cidadãos, e parte desta realidade foi revelada pelo relatório da Bolsa de Comércio de Rosário, publicado nesta segunda-feira (08/07), no qual se observa que o país chegou ao menor consumo médio de carne bovina nos últimos 110 anos.

O informe registrou que, nos primeiros quatro meses de 2024, os argentinos tiveram um consumo médio de carne bovina de 42 quilos por pessoa. O recorde negativo anterior foi registrado em 1922, quando se chegou a 44,5 quilos por pessoa.

Durante a pandemia, no governo de Alberto Fernández (2019-2023), também houve uma queda nos índices, que chegou até 50 quilos por pessoa em seus piores momentos. Porém, no último ano do governo peronista (centro-esquerda), houve um pequeno crescimento, até 56 quilos por pessoa.

Considerando os números do governo anterior, portanto, esse primeiro quadrimestre da gestão de Milei registrou uma queda de dois dígitos no consumo per cápita de carne bovina.

O índice da Bolsa de Comércio de Rosário foi criado justamente em 1914. Portanto, este é o menor nível de consumo de carne na Argentina desde que existe essa medição.

Além da carne bovina, o leite também registrou uma diminuição acentuada em seu consumo por parte dos argentinos, chegando a 169 litros por pessoa – novamente, com números bem abaixo dos apresentados durante o governo de Fernández, que mostrou um crescimento do comércio desse item, de 182 para 194 litros per cápita durante os quatro anos de gestão.

O relatório da Bolsa de Comércio de Rosário estima que, se essa tendência se mantiver até o final do ano, os argentinos deverão consumir 9% a menos de proteína animal durante 2024, em comparação com o ano anterior, podendo atingir a taxa mais baixa já registrada neste século.

Prioridade para as exportações

Os números se tornam ainda mais impactantes ao se considerar que a Argentina é um dos maiores produtores mundiais tanto dos dois itens: a carne bovina e o leite.

No caso da carne, o país sul-americano é o quinto maior produtor mundial – atrás de Estados Unidos, Brasil, China e União Europeia, nessa ordem – e fornece 3,0 milhões de toneladas por ano, equivalentes a 5,1% da produção global, de acordo com dados de 2023 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, por sua sigla em inglês).

A Argentina também está em nono lugar entre os maiores produtores mundiais de leite e produtos lácteos, com cerca 9,8 milhões de toneladas por ano – desta vez, de acordo com o informe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos (FAO), do ano de 2022.

Uma das razões pela qual o consumo interno tem diminuído, segundo analistas do diário argentino El Destape, está no fato de que as políticas do governo de Javier Milei têm assegurado uma alta prioridade para as exportações desses produtos, atendendo às reivindicações dos grandes empresários do agronegócio local, o que gera efeitos colateriais como a escassez e a disparada de preços no mercado interno.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne nesta terça-feira (09/07) com o presidente da Bolívia, Luis Arce. O encontro está previsto para as 10h (horário local) na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra, onde Lula desembarcou na noite dessa segunda-feira (08/07). Antes, os dois presidentes participaram da Cúpula do Mercosul, no Paraguai, onde Arce formalizou a adesão da Bolívia ao bloco.

Esta é a primeira vez que Lula visita o país vizinho neste terceiro mandato. Já o presidente da Bolívia esteve no Brasil quatro vezes ao longo do último ano. A reunião restrita entre Lula e Arce será seguida de reunião ampliada com autoridades e parte da delegação brasileira que está na Bolívia. Depois, Lula participa de cerimônia de assinatura de atos e faz declaração conjunta à imprensa.

Entre os temas a serem tratados nos encontros, de acordo com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), estão o combate ao tráfico de pessoas e ao narcotráfico; o acesso de brasileiros que vivem no país vizinho aos serviços de saúde pública; uma possível mudança de cota na usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira; e a construção de uma ponte binacional em Guajará-Mirim (RO).

Na parte da tarde, o presidente brasileiro participa de encontro com empresários. “A visita reforça a proximidade de laços entre os dois países e faz parte do esforço brasileiro na reconstrução das relações bilaterais”, destacou a Secom.

“Depois de participar da Cúpula do Mercosul, no Paraguai, cheguei a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde fui recebido por lideranças de movimentos sociais. Queremos fortalecer as relações entre nossos países e também a integração regional”, escreveu Lula em seu perfil na rede social X.

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Apenas um dia após o ataque russo a um hospital infantil em Kiev, os chefes de Estado e de governo das 32 nações que compõem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se reúnem em Washington. Apesar da guerra na Ucrânia estar no centro das discussões, o objetivo do encontro é celebrar o aniversário de 75 anos da aliança.

As pautas do evento que começa nesta terça-feira (09/07) e terá três dias de duração incluem a busca por tranquilizar a Ucrânia quanto a durabilidade do apoio do grupo na defesa frente à invasão russa.

Além disso, de acordo com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, há também a intenção de construir uma ponte para a inclusão da Ucrânia como membro da OTAN.

Por isso, está incluída na agenda do presidente norte-americano uma reunião bilateral com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky

Na noite desta terça (09/07), Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden abrem a cerimônia de aniversário do Tratado, com um evento que acontece no Auditório Andrew W. Mellon, onde o documento foi assinado em 4 de abril de 1949.

Na tarde de quarta-feira (10/07), Biden deve falar publicamente aos líderes da OTAN e logo em seguida haverá um jantar que, entre outros propósitos, inclui dar as boas-vindas à Suécia, que ingressou no grupo este ano.

Este será também o palco para o primeiro encontro entre Biden e o recém-eleito primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, após uma vitória arrasadora do partido trabalhista no último dia 4 de julho.

Na quinta-feira (11/07), acontecem as reuniões de trabalho do grupo, que incluem também encontros com os parceiros do Indo-Pacífico – Austrália, Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia – com o objetivo de alinhavar futuras colaborações. A jornada deve terminar com uma reunião entre a OTAN e o Conselho da Ucrânia.

Está prevista também uma declaração da OTAN condenando o apoio da China à base industrial de defesa da Rússia, já que, segundo o governo norte-americano, a maioria dos semicondutores, bem como a nitrocelulose usados em propulsores de mísseis russos, provêm da China.

Para além das decisões sobre o conflito na Ucrânia, a expectativa do dia está posta no discurso com que Biden deve encerrar o evento. Se a performance durante o debate já havia iniciado uma crise na campanha de Biden à reeleição, um artigo publicado no jornal The New York Times listando oito visitas de especialistas em Parkinson à Casa Branca, só ajudou a colocar ainda mais tensão sobre esta aparição pública do presidente.

Desafio a Biden em meio a crise em sua campanha

Biden terá uma dura missão esta semana, já que além de mostrar seu poder de liderança junto aos líderes da OTAN, ele precisa também recuperar a confiança de seus companheiros de partido em meio a crise gerada em sua campanha de reeleição após o debate.

Enquanto seu adversário, Donald Trump, tem colocado em dúvida o papel que os Estados Unidos devem ocupar junto à organização, Biden busca convencer seus companheiros do grupo de que ele é capaz de vencer as eleições de novembro e assim garantir a continuidade das políticas de defesa acordadas até aqui.

Alguns líderes europeu expressaram recentemente preocupação com a postura de Trump em relação à aliança e, de acordo com o presidente, pediram-lhe claramente que não deixe o republicano voltar à Casa Branca.

“A gravidade deste momento é maior do que o esperado”, avaliou a pesquisadora do Centro Europeu do Atlantic Council, Rachel Rizzo, em entrevista ao USA Today.

“Há uma pressão extra para que ele cumpra a agenda deste encontro de uma forma que tranquilize os aliados e também o povo americano. Que certifique que ele está apto e pronto para fazer este trabalho, não apenas até o final de sua presidência, mas potencialmente por mais quatro anos”, concluiu.

Joe Biden terá uma dura missão esta semana, já que além de mostrar seu poder de liderança junto aos líderes da OTAN, ele precisa também recuperar a confiança de seus companheiros de partido em meio a crise gerada em sua campanha de reeleição após o debate A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, garantiu aos jornalistas presentes na coletiva de apresentação do encontro que eles “estão prestes a presenciar o presidente atuando como um líder”. E lembrou ainda que “os líderes estrangeiros viram o presidente de perto e pessoalmente nos últimos três anos e sabem com quem estão lidando e quão eficaz ele tem sido”.

As chances de que Biden cometa gafes durante o evento, porém, são menores que em outras ocasiões, já que as reuniões se darão a portas fechadas. As declarações à imprensa também apresentam menos risco, uma vez que provavelmente seguirão um roteiro escrito previamente o qual o presidente poderia acessar com o uso de um teleprompter, como tem feito em suas aparições públicas após o debate.

O que é a OTAN?

A Organização do Tratado do Atlântico Norte foi fundada em 1949 por 12 nações com o objetivo de combater a ameaça à segurança europeia representada pela União Soviética durante a Guerra Fria. Lidar com Moscou, portanto, faz parte do DNA da organização.

De um modo geral, Washington é quem dita a agenda, já que os Estados Unidos são o membro mais poderoso, que gasta mais em defesa do que qualquer outro aliado.

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Passados mais de seis décadas sem relações diplomáticas, Havana e Seul, capital da República da Coreia, mais conhecida como Coreia do Sul, se preparam para abrir suas respectivas embaixadas em ambos países.

Numa surpreendente mudança, em 14 de fevereiro, Cuba e o país asiático anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas e consulares por meio de uma troca de notas diplomáticas entre as Representações Permanentes de ambos os países nas Nações Unidas.

Segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, as primeiras conversas entre as altas autoridades diplomáticas dos dois países foram realizadas em Seul em meados de junho. Tratou-se do primeiro intercâmbio desde o estabelecimento das relações bilaterais.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Chung Byung-won, reuniu-se na ocasião com Carlos Miguel Pereira Hernández, diretor geral de Assuntos Bilaterais do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, para discutir a abertura de missões diplomáticas mútuas. Desde então, os diplomatas de ambos países começaram a "estabelecer escritórios temporários", com a intenção de abrir missões diplomáticas o mais rápido possível, de acordo com as informações divulgadas.

As relações diplomáticas entre os dois países foram interrompidas após o triunfo da Revolução Cubana. No contexto da Guerra Fria, naqueles anos, Seul rompeu relações com Havana depois que Washington iniciou sua política de isolamento contra Cuba.

Em 1960, o então Ministro da Indústria do governo cubano, Ernesto Che Guevara, fez uma extensa viagem de dois meses por vários países socialistas, onde visitou a Tchecoslováquia, a União Soviética, a China, a Alemanha Democrática e a República Popular Democrática da Coreia - conhecida como Coreia do Norte. A partir desse momento, Cuba estabeleceu relações com a Coreia do Norte que perduram até hoje.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Eduardo Regalado Florido, pesquisador da equipe de Ásia e Oceania do Centre for International Policy Research (CIPI), afirma que "a abertura das relações diplomáticas busca aprofundar as relações econômicas já existentes entre os dois países".

"As relações diplomáticas favorecem o desenvolvimento de intercâmbios comerciais. O que buscamos é que as relações políticas contribuam e facilitem a expansão dessas relações econômicas. Isso é um ganho para os dois países, ainda mais na situação atual que Cuba está vivendo com o bloqueio dos EUA", disse.

Nas últimas duas décadas, ambos os países têm se aproximado de forma gradual em relação ao comércio. Em 2005, a Coreia do Sul abriu uma representação de seu "escritório de promoção de investimentos comerciais" em Havana. E em 2012, pela primeira vez em mais de 50 anos, uma delegação oficial cubana visitou a Coreia do Sul para discutir questões comerciais.

Para o ano de 2023, as exportações sul-coreanas para Cuba foram de cerca de US$ 35,67 milhões (R$ 203 milhões), segundo a representação comercial do país asiático informou à agência de notícias AFP. A maioria dessas exportações foi de autopeças, aço revestido, etc.

Essa aproximação diplomática ocorre em um contexto no qual Cuba vem implementando uma série de medidas para "atualizar seu modelo econômico". Nos últimos três anos, cerca de 10 mil empresas privadas de micro, pequeno e médio porte, conhecidas como MIPYMES, foram abertas no país, com o objetivo de expandir a presença do setor privado na ilha.

Regalado Florido afirma que essa reaproximação não afeta as relações históricas entre Cuba e a Coreia do Norte. Ele afirma que seria simplesmente uma "ampliação das relações de Cuba".

"As relações com a República Popular Democrática da Coreia são muito próximas. São relações de Estado, mas também são relações entre o Partido Comunista Cubano e o Partido dos Trabalhadores da Coreia. Essa é uma relação que não será afetada. Nosso apoio à Coreia do Norte não mudou. Estamos apenas ampliando nossas relações diplomáticas, buscando melhorar nossas relações econômicas", afirma.

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A Frente Ampla, coalizão de esquerda do ex-presidente José Pepe Mujica (2010-2015), definiu neste domingo (30) o nome de Yamandú Orsi para disputar as eleições presidenciais que acontecem em outubro no país.

O ex-prefeito de Canelones obteve 60% dos votos, de acordo com dados do Tribunal Eleitoral com 97% dos circuitos apurados, e superou as estimativas das pesquisas, que lhe davam cerca de 55% dos votos, e superou Carolina Cosse, a segunda colocada com 37,5% dos votos.

Apoiado por Mujica durante sua campanha pelas internas do partido, Orsi acompanhou o ex-presidente na coletiva de imprensa em que este anunciou estar tratando de um tumor.

Também definiram suas candidaturas neste domingo a direita com o Partido Nacional, do atual presidente Luis Lacalle Pou, e a centro-direita com o Partido Colorado, com Álvaro Delgado e Andrés Ojeda respectivamente.

De acordo com um levantamento de maio do Instituto Cifra, a Frente Ampla tem 47% de apoio no pleito presidencial, contra 32% do Partido Nacional. A eleição presidencial será realizada em 27 de outubro. Na votação também serão definidas as vagas de 30 senadores e 99 deputados.

Eleições internas

A coalizão de esquerda ultrapassou a marca dos 400 mil votos e reverteu a marca das duas últimas eleições internas, que registaram queda no comparecimento. Com 143.062 votos a mais do que em junho de 2019, quando se aproximou da marca de 260 mil votos, a coalizão de esquerda voltou ao patarmar de votação obtido em 2004 e 2009, quando obteve 455.840 votos e 441.091 votos, respectivamente.

No total, 35,3% dos uruguaios elegíveis votaram, em uma instância que não é obrigatória. Na eleição anterior, em 30 de junho de 2019, cerca de 40% do eleitorado elegível compareceu, pouco mais de 1 milhão de uruguaios. Esse número representou um aumento em comparação com a eleição anterior, em 2014, quando 37% dos eleitores votaram, mas ainda não alcançou os números da instância anterior, em 2009, quando 44% dos cidadãos elegíveis foram votar.

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As eleições presidenciais na Mauritânia, realizadas neste fim de semana, tiveram como vencedor o atual presidente do país, Mohamed Ould Ghazouani, do partido União Pela República, que foi reeleito após obter 55,82% dos votos.

Segundo o resultado anunciado neste domingo (30/06) pelo Comissão Eleitoral Nacional Independente da Mauritânia, Ghazouani superou os 50% de votos necessários para vencer já no primeiro turno.

Além disso, o atual mandatário impôs uma grande diferença sobre o segundo colocado, o reformista Biram Dah Abeid, do Partido Radical, que alcançou 22,35% dos votos.

O líder opositor mauritano se recusou a reconhecer o resultado, acusou o atual presidente de promover um “golpe eleitoral” no país e convocou manifestações em todo o país para esta semana.

A reeleição de Ghazouani significa que ele completará uma década na Presidência do país: o ex-militar foi eleito em 2019 e deve concluir este segundo mandato de cinco anos somente em 2029.

O presidente mauritano é considerado um aliado dos países do Ocidente, especialmente da França, nação que colonizou seu território entre 1885 e 1960.

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O encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenho (Celac) que reuniu cerca de 400 organizações políticas e movimentos populares das regiões e países do Sul Global, entre os dias 27 e 28 de junho repudiou, em sua declaração final, a prisão política de Daniel Jadue no Chile, de Jorge Glas no Equador, e muitos outros companheiros e companheiras em todas a região, assim como “a nova invasão imperialista do Haiti“.

Esses casos foram apontados no encontro da Celac Social como exemplos dos desafios enfrentados para que a região se consolide como uma zona de paz.

“É preciso que a Celac estimule, não como mero enunciado, Nossa América como zona de paz, que avance mais em soberania e direitos para os povos por meio de uma agenda social distributiva, política, cultural, econômica, social, sanitária, educativa, ambiental e energética comum”, diz o comunicado.

Realizada pela primeira vez em Buenos Aires, em fevereiro de 2023, a Celac Social deste final de semana aconteceu em Tegucigalpa, capital de Honduras e teve como marco os 15 anos do golpe contra Manuel Zelaya, ex-presidente do país.

Giovani Del Prete, integrante da Alba Movimientos, presente na Celac, destaca a importância de denunciar o golpe contra Zelaya e dar respaldo político ao governo de Xiomara Castro em Honduras.

“É importante estar junto com o povo hondurenho, acompanhando o governo da Xiomara Castro nesses 15 anos do golpe, que marcou o dia 28 de junho. A gente poder dar esse respaldo ao povo hondurenho nesse momento chave de resistência. É um povo que resistiu depois do golpe de 2009 até eleger a primeira mulher presidente da República de Honduras pelo Partido Livre, que é um mandato que vem desse processo das forças populares organizadas em Honduras.”

Na declaração final da cúpula, as organizações políticas e movimentos populares destacam a necessidade de fortalecer a integração regional para fazer frente ao crescimento da extrema direita, que tem como seu principal expoente o atual presidente da Argentina, Javier Milei, “uma experiência sem precedentes de destruição de qualquer vínculo social” no país.

“Nesse cenário, é mais do que justificada a necessidade de relançar uma iniciativa integracionista forte e poderosa que faça parte da recuperação de uma agenda social e popular que contribua para o enfrentamento do projeto de regressão social, política, econômica e cultural imposto pela ultradireita na região.”

Messilene Gorete, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou em sua fala durante o encerramento da cúpula neste domingo (30/06), a pressão dos movimentos populares sobre os governos para garantir que as mudanças pleiteadas pelos povos sejam atendidas.

“Nossos governos não têm a capacidade de fazer mudanças sem o acompanhamento do povo nas ruas. Nossos governos não podem ter medo da mobilização popular. Eles precisam até mesmo nos chamar às ruas para mobilizar contra a extrema direita e enfrentar o Estado burocrático burguês a fim de fazer as mudanças de que precisamos”.

Carlos Ron, vice-ministro da Venezuela para a América do Norte e presidente do Instituto Simon Bolívar para a Paz e Solidariedade entre os Povos, destacou a importância de unidade entre a esquerda a nível regional para enfrentar os retrocessos impostos pela agenda da direita ultraliberal.

“Este continente é construído com base na unidade. É fundamental que enfrentemos os desafios que temos, essa direita neofascista que quer nos amedrontar com seu lawfare, sanções ilegais e motosserras. Mas nós temos o povo nas ruas, com dignidade. E sabemos que a defesa desse projeto unido está justamente em manter essa unidade do povo viva e forte.”

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A campanha para o segundo turno das eleições legislativas começou sob fortes divisões na segunda-feira (01/07). A coligação governamental não esconde sua resistência diante da necessidade de se aliar à esquerda para formar uma frente republicana. O objetivo é barrar o avanço da extrema direita e evitar que o partido Reunião Nacional obtenha uma maioria absoluta na Assembleia Nacional.

“Emmanuel Macron está inaudível enquanto seu campo se divide”, destaca o jornal Le Monde, que evoca a dificuldade de alguns membros do governo de estender a mão à aliança de esquerda Nova Frente Popular. Na noite de domingo (30/06), após o anúncio da vitória histórica do partido de extrema direita Reunião Nacional, o presidente francês fez um apelo a uma “grande união democrata e republicana”.

Logo depois, o primeiro-ministro Gabriel Attal discursou e pediu que membros da coligação macronista abandonassem suas candidaturas em zonas eleitorais onde não têm chances de vencer a extrema direita para deixar o lugar a concorrentes de outras formações políticas, principalmente de esquerda.

Segundo um balanço do Le Monde, até a noite de segunda-feira, mais de 180 candidatos abandonaram a corrida, 121 da esquerda e 60 do campo governamental. O diário destaca que alguns membros da coligação governamental e do próprio Executivo se recusam a ceder o espaço a candidatos do partido da esquerda França Insubmissa, o qual classificam como “extremista”.

Durante uma reunião convocada por Macron na segunda-feira, ministros originários da direita defenderam um bloqueio tanto ao Reunião Nacional como à França Insubmissa, equiparando as duas legendas.

Falta de unanimidade

“Desista, prove que você resiste”, diz o jornal progressista Libération em sua manchete, estampada com uma foto de Macron. Fazendo um trocadilho com a letra de uma célebre música da cantora francesa France Gall, o diário evoca a estratégia no segundo turno para fazer frente à extrema direita, mas que parte do campo governamental tem dificuldades de seguir.

Libé afirma que diante do perigo do Reunião Nacional, candidatos da esquerda estão participando do movimento “sem hesitar”, “mas os macronistas também têm de se sacrificar”, afirma, ressaltando que a falta de adesão do campo governamental “só aumenta a confusão”.

O jornal Le Figaro diz que a ideia da “frente republicana” não é unânime entre a alta cúpula do governo, mesmo diante do fracasso da coligação de Macron no primeiro turno das eleições legislativas, que conseguiu apenas 20,76% dos votos. “É preciso dizer que as desistências da esquerda estão salvando um grande número de candidatos macronistas”, reconhece o diário.

Em entrevista ao jornal, o ministro da Economia, Bruno le Maire, diz assumir a derrota do último domingo e expressa seu desejo de evitar que a extrema direita obtenha a maioria absoluta na Assembleia Legislativa. No entanto, confirma sua oposição a uma abertura ao partido da esquerda radical França Insubmissa, que classifica de “divisório e antissemita”.

“Devemos combater o Reunião Nacional com nossos valores e nossas convicções, não com os valores do França Insubmissa”, sublinha.

Responsabilidade e compreensão

“Tempo de responsabilidade” é a manchete do jornal La Croix, que faz um apelo ao abandono de candidaturas para um bloqueio da extrema direita. Ao mesmo tempo, reconhece que o Reunião Nacional se tornou o “partido mais representativo da população francesa”.

Por isso, segundo o diário, é preciso que, não abrindo mão da defesa de valores, os governos respondam aos problemas que levam parte do eleitorado a escolher a extrema direita hoje: desemprego, baixos salários e poder aquisitivo, sentimento de abandono e a desconfiança nas promessas republicanas.

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