O encerramento do Festival de Ideias na Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, nesta quinta-feira (20/06), foi marcado por um ato de resistência do coletivo Estudantes da Universidade Estadual de Campinas em Solidariedade a Luta do Povo Palestino (Espp Unicamp) para pressionar o governo brasileiro e a faculdade a romper relações e colaborações com Israel.
“Não nos calaremos diante do genocídio. Nós queremos ações do governo Federal e da Unicamp em relação ao genocídio e à injusta, cruel e brutal ocupação da Palestina, que já dura muitas décadas. É insuportável o que está acontecendo lá”, entoou uma das estudantes em direção ao palco dos participantes da Plenária Final, no Teatro de Arena, um dos principais pontos do campus.
Segundo uma das organizadoras do ato e membro do Espp, Juliana Begiato, a intervenção tinha como objetivo questionar o governo brasileiro e a Unicamp sobre as relações que ambos mantêm com Israel.
“A gente vem se mobilizando há bastante tempo”, comenta Begiato a Opera Mundi, referindo-se ao acampamento pró-Palestina realizado pelo Espp em maio passado. “Nossa luta é para que o Brasil e a Unicamp não tenham mais relações com Israel”, declarou.
Considerando que o ato foi “bom e forte”, a estudante de Ciências Sociais afirmou que o protesto foi feito para “escancarar, diante da esquerda mundial, que o governo Lula ainda mantém as relações militares com Israel”.
Gleisi Hoffmann
O governo do presidente Lula, representado no evento pela presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, é pressionado para que revogue os acordos militares assinados com Israel durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Durante sua fala na plenária, Hoffmann expressou solidariedade ao povo palestino e afirmou que Israel “deve responder ao processo na Corte Internacional de Justiça”, promovido pela África do Sul pelo massacre que já deixou mais de 37 mil palestinos mortos na Faixa de Gaza.
A presidente do PT ainda aplaudiu a intervenção do Espp e parabenizou o ato, mas evitou comentar sobre os acordos militares que o governo Lula, apesar de pressionado por políticos brasileiros e entidades de direitos humanos, ainda mantém com Tel Aviv.
Já a Unicamp, segundo relatou o Espp a Opera Mundi, mantém um contrato secreto com o Instituto de Tecnologia de Israel, Technion, firmado no final de 2023. Os estudantes já solicitaram acesso ao documento, mas obtiveram retorno de que o mesmo estava sob sigilo.
Também não houve resposta da universidade sobre a pressão dos estudantes no evento para que o contrato com a Technion seja revogado. No entanto, Begiato reitera a perseguição que a reitoria da Unicamp, sob administração do professor Tom Zé, promove contra os alunos que no final de 2022 realizaram uma manifestação contra a realização de uma feira de universidades israelenses em abril de 2023.
Plenária Final
Com uma faixa mostrando as frases “15 mil crianças mortas em Gaza”; “Lula e Unicamp mantêm relações com Israel”; e “rompimento das relações já”, o comitê interrompeu a abertura da Plenária Final do evento para realizar o protesto.
Enquanto a mediação do painel fazia as apresentações dos participantes, os alunos entraram com o cartaz em frente ao palco, em direção ao público nas arquibancadas gritando “Palestina livre!”. Os espectadores se uniram ao grito, também batendo palmas.
Ao posicionarem-se, os estudantes pró-Palestina também entoaram “Estado de Israel, Estado assassino, e viva a luta do povo palestino!”. Virando-se em direção ao palco com os participantes, os alunos ainda cantaram “viva, viva a Palestina”.
Além de Hoffmann, a Plenária Final do Festival de Ideias na Unicamp contou com as participações de: Alberto Garzón, ex-ministro do Consumo da Espanha; Rander Ismael Peña, vice-ministro para a América Latina e vice-Presidente para os Assuntos Internacionais do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV); Marco Enríquez-Ominami, fundador do Grupo de Puebla; Samuel Andrés Pérez Álvarez, membro do Congresso da Guatemala pela bancada do Movimento Semente; Lindbergh Farias, deputado federal (PT-RJ); Paula Coradi, presidente do PSOL; Esperanza Martínez, senadora no Paraguai pelo Partido de la Participación Ciudadana e ex-ministra da Saúde Pública; Leticia Bartholo, secretária de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde; e Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Organizado pela Internacional Progressista (IP), Transforma-Unicamp e Phenomenal World, o evento debateu internacionalismo e multipolaridade com lideranças políticas, militantes e pesquisadores de todo o mundo.