O massacre promovido pelas forças militares de Israel contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza completou nove meses no último domingo (07/07) e o debate sobre essa tragédia ganhou novas luzes após a publicação de um artigo científico no qual três acadêmicos asseguram que o número total de vítimas fatais é muito maior que os pouco mais de 38 mil civis registrados pelos números oficiais do Ministério da Saúde local.
O artigo foi publicado pela renomada revista científica The Lancet, com o título “Counting the dead in Gaza: difficult but essential” (“Contagem dos mortos em Gaza: difícil mas essencial”), e traz um estudo que estima as mortes indiretas causadas pelo conflito, que não estão identificadas pela contagem oficial das autoridades palestinas, e calcula que, “em uma projeção conservadora”, a quantidade total de mortes civis provocadas pela ação militar israelense em Gaza poder ser de até 186 mil.
“O número de mortes registradas é provavelmente subestimado. A organização não governamental Airwars efetua avaliações pormenorizadas de incidentes na Faixa de Gaza e constata frequentemente que nem todos os nomes de vítimas identificáveis estão incluídos na lista do Ministério da Saúde”, afirma o texto publicado pela revista.
O artigo é assinado pelo pesquisador britânico Martin McKee, que é membro do conselho editorial do Israel Journal of Health Policy Research e do Comitê Consultivo Internacional do Instituto Nacional de Investigação sobre Políticas de Saúde de Israel, com colaboração da jornalista libanesa Rasha Khatib e do médico indiano-canadense Salim Yusuf.
Em outro trecho, a matéria apresenta o conceito de “mortes indiretas” geradas por um conflito armado, devido às “implicações para a saúde causadas pela destruição das infraestruturas de cuidados de saúde; a grave escassez de alimentos, água e abrigos; a incapacidade da população de fugir para locais seguros; entre outros fatores”.
“Em conflitos recentes, essas mortes indiretas variam entre três e 15 vezes o número de mortes diretas. Aplicando uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por cada morte direta às 38 mil vítimas oficiais registadas, não é absurdo estimar que até 186 mil pessoas podem ter morrido durante o atual conflito em Gaza”, analisam os autores.
No mesmo artigo, com base em números da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) que estabelecem que a população da Faixa de Gaza em 2022 era de 2,38 milhões de habitantes, calcula-se então que, se estimativa de 186 mil mortes civis está correta, isso significaria que a ofensiva israelense iniciada em outubro passado já eliminou entre 7% e 9% dos residentes da região.
No final do artigo, o grupo responsável pela revista The Lancet afirma “adotar uma posição neutra no que diz respeito a reivindicações territoriais”, assegurando que o conteúdo do artigo não reproduz uma opinião da publicação sobre os temas de fundo relativos ao conflito na Faixa de Gaza.