O Vale+
A comunidade O Vale+ é destinada ao público LGBTQIAPN+ aqui dentro do Lemmy Brasil. Sinta-se em casa!
Aviso de conteúdo: reducionismo de gênero, assimilacionismo, exclusionismo multi e monossexismo reproduzido, apagamento assexual, menções a termos obsoletos, menções a retóricas e concepções cissexistas e diadistas, contém ironias, contém links externos.
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Caper in the Castro foi o primeiro jogo LGBTQIA+, em 1989 ele inovou com uma protagonista lésbica e tratou de temas que raramente eram abordados na época.
Lendo essa matéria algo que me chamou muito a atenção foi a licença CharityWare do jogo, que sugeria uma doação a uma caridade de combate à AIDS, em uma época que a epidemia estava fazendo muitas vítimas na comunidade queer.
Compartilho aqui um texto sobre altersexo, um termo importante pra discutir corporalidades que não se encaixam em padrões diádicos que também não se encaixam na definição de intersexo. 🌈
(Não marquei como conteúdo "NSFW" porque o máximo de linguagem explícita que aparece na postagem está nos termos estigmatizados usados para descrever certos corpos.)
Nascida em 24 de agosto de 1981 na Inglaterra, Charlie Christina Martin é uma piloto profissional trans que utiliza do destaque resultado de sua carreira para conscientizar o público acerca dos direitos LGBTQ+.
Charlie começou a competir em 2006 no Hill Climb Leaders Championship, e já passou por diversas outras equipes e competições desde então. Em 2014, na European Hill Climb Championship; em 2017, na Trophee Tourisme Endurance, na qual conquistou o terceiro lugar, e na Race of Remembrance, em que garantiu o segundo lugar. Todas essas competições, que possuem grande visibilidade, acrescentaram em sua trajetória e a levaram para o ponto de destaque que se encontra hoje.
Em 2018, durante o Desafio Ginetta GT5 e o Campeonato British GT, ela liderou uma campanha para o mês do orgulho LGBTQ+, na qual os pilotos correram com adesivos de arco-íris em seus carros.
Em 2020, a piloto competiu no Campeonato Alemão VLN, se tornando a primeira piloto trans nas 24 Horas de Nürburgring e ficando em quarto lugar. No mesmo ano, ela participou da conferência online da FIA Fórmula E e anunciou a Race at Home Challenge, um campeonato online que teve como objetivo arrecadar para a UNICEF.
Sua carreira e vida giram ao redor do ativismo, e a atleta frequentemente está envolvida com ações beneficentes. Ela foi anunciada como a primeira embaixadora de esportes da Stonewall, uma ONG de direitos LGBTQ+ no Reino Unido, e também na Mermaids, na Athlete Ally e na Racing Pride, em 2019.
Em suas redes sociais, Charlie Martin atua como voz ativa acerca dos direitos LGBTQ+, especialmente o das pessoas trans. Em entrevista para a Motor Sport, site de notícias sobre automobilismo, ela afirmou que “As pessoas vão dizer que não deveria ser uma grande coisa o fato de existir uma piloto transgênero, mas eu acho que é importante que pessoas nessas posições tenham visibilidade. Pessoas da comunidade LGBTQ+ estão nos esportes e em todas as áreas da vida, e elas inspiram e encorajam outras”.
Há anos, Charlie fala sobre o seu objetivo de ser a primeira piloto trans na 24 Hours of Le Mans, e em junho de 2024 ela alcançou o segundo lugar na competição. Em uma postagem no Facebook, ela expressou “Com toda a negatividade e descriminação contra pessoas trans nos esportes e na sociedade em geral, estar de pé no podium de um dos maiores eventos de automobilismo no mundo, agora assumidamente e orgulhosamente como uma mulher trans, me enche de emoção!”.
Mesmo com o avanço das discussões acerca do conceito de gênero, sexualidade e tudo o que engloba a comunidade LGBTQ+, muitas vezes a informação chega incompleta, errada ou nem chega. O que algumas pessoas consideram o básico, outras consideram totalmente novo e confuso, e por isso é necessário descomplicar os assuntos desde o início.
A dúvida que ronda a diferença entre gênero e sexualidade se faz presente desde sempre. Socialmente, homens cis gays são considerados menos homens, e mulheres cis lésbicas são consideradas menos mulheres. Quando pessoas trans se assumem, é comum que algumas pessoas cis não-ligadas na causa LGBTQ+ entendam que elas sejam homossexuais, como se o gênero e a sexualidade estivessem inerentemente ligados. No entanto, não estão.
O conceito de gênero está diretamente ligado à pessoa e às suas identificações pessoais, e não se afeta necessariamente por questões externas como nome, pronomes ou como a sociedade enxerga este indivíduo. As identificações de gênero mais conhecidas são homem, mulher e não-binárie, mas existem diversas identidades de gênero dentro do guarda-chuva não-binário, como agênero, demigêneros, gênero-fluído, pangênero etc.
Já o conceito de sexualidade, melhor posto como orientação, diz respeito às relações românticas, sexuais, queerplatônicas e que envolvem atração em um geral. Ele se conecta diretamente ao gênero, de modo que a orientação de uma pessoa varia de acordo com o próprio gênero e com o gênero com o qual ela tem interesse em se relacionar de alguma forma.
Por exemplo, um homem que se relaciona apenas com homens é denominado gay, enquanto um homem que se relaciona apenas com mulheres é denominado hétero, e um homem que se relaciona com pessoas de todos os gêneros é multissexual, podendo ser bi, pan etc. Mas, se estamos falando de uma mulher e não de um homem, os termos também não são os mesmos: uma mulher que se relaciona apenas com homens é hétero, e uma mulher que se relaciona apenas com mulheres é lésbica.
O conceito de gênero e o de orientação (sexualidade) se cruzam de acordo com o papel de gênero, isto é, com as expectativas que a sociedade cisheteroallonormativa impõe sobre cada gênero. O gênero masculino, por exemplo, é visto como sendo composto de força, dominância, virilidade e heterossexualidade, e os homens que não apresentam esta característica são vistos como não inteiramente homens, mas sim algo à parte (“bicha”). Apesar disso, apenas a própria pessoa pode denominar seu gênero e sexualidade.
Há ainda muito trabalho a ser feito em relação à desconstrução dos estigmas sobre gênero, sexualidade e todos os assuntos relacionados. A disseminação de informação é um dos principais caminhos para que a sociedade deixe o preconceito de lado e abrace a diversidade, o respeito e a igualdade.
A primeira coisa que precisa ser destacada ao pensarmos em não monogamia lésbica é que a monogamia nunca se aplicou a homens. Eles nunca foram cerceados de seus desejos e nunca tiveram suas vidas ameaçadas, de forma estatisticamente comprovada, ao não compactuar, em algum grau, com essa posição; pelo contrário, este reconhecimento majoritário do gênero masculino como monogâmico tem servido e ainda serve amplamente como uma ferramenta de dominação patriarcal que, juntamente com outros mecanismos, é estruturante da sociedade.
A monogamia garante, também, a supremacia dos maridos sobre suas esposas, pela exploração do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos, pela alienação do direito ao aborto, pela exclusão da mulher dos espaços públicos e encarceramento nos espaços privados, pela dependência emocional e financeira a que a sociedade submete o gênero feminino, entre outros.
Porém, mesmo se observamos relações monogâmicas entre casais lésbicos, veremos que o panorama é diferente. Ainda que essas adotem a exclusividade, não é correto afirmar que elas reproduzem as mesmas estruturas de opressão heteronormativa. Tendo em vista que a monogamia, tal como é definida no contexto heterossexual, está profundamente enraizada em uma lógica de controle patriarcal sobre as mulheres. Nas relações entre mulheres, essa dinâmica é subvertida, já que não há a presença masculina como agente controlador, o que possibilita que a escolha pela exclusividade tenha um significado menos opressor.
Por outro lado, a não monogamia na comunidade lésbica, especialmente no Brasil, tem emergido como uma prática política e ética de resistência contra o patriarcado. Para muitas lésbicas, a prática da não monogamia é uma maneira de subverter as normas heteronormativas que ditam que o amor romântico e os relacionamentos só podem existir dentro de um modelo exclusivo e hierárquico. Essa perspectiva é particularmente relevante em contextos de luta por liberdade sexual e afetiva, onde a não monogamia é vista como uma escolha deliberada para romper com os padrões impostos pelo patriarcado.
Comparação com a comunidade lésbica internacional
Globalmente, o debate sobre não monogamia na comunidade lésbica reflete desafios similares, mas com nuances culturais. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, por exemplo, estudos recentes indicam que cerca de 30% das lésbicas em alguns círculos aderem a algum tipo de relacionamento não monogâmico consensual, buscando formas de amar que enfatizem a autonomia individual e a rejeição às estruturas patriarcais de controle. Esses comportamentos são amplamente discutidos em espaços acadêmicos e ativistas feministas, especialmente em países onde movimentos queer e feministas são mais estabelecidos e influentes. A não monogamia, nesse contexto, é frequentemente associada à liberdade sexual, ao rompimento de normas de gênero e à criação de redes afetivas amplas e solidárias.
No Brasil, a realidade é marcada por uma relação mais complexa com a não monogamia.
Embora essa prática também esteja em crescimento, principalmente entre mulheres lésbicas mais jovens e ativistas feministas, a discussão sobre o tema ainda enfrenta resistência em certos setores da comunidade LGBTQIA+. Além disso, o conservadorismo social e religioso que permeia o Brasil influencia a forma como a não monogamia é vista, muitas vezes sendo interpretada como imoral ou desviada, dificultando a adoção desse modelo por algumas mulheres.
Por outro lado, em países onde os direitos LGBTQIA+ são mais amplamente protegidos, como na Suécia, no Canadá ou na Nova Zelândia, a não monogamia dentro da comunidade lésbica tem sido abraçada com menos resistência. Nesses lugares, a proteção legal e o suporte social permitem que as lésbicas explorem modelos relacionais mais fluidos sem as mesmas consequências negativas enfrentadas em contextos em que o conservadorismo social ainda é forte.
O papel político da não monogamia na resistência lésbica
Em ambos os contextos, porém, a prática da não monogamia entre lésbicas não se limita a uma mera preferência relacional. Ela é uma escolha política que visa desmantelar as estruturas de poder que controlam as mulheres. Ao questionar a monogamia compulsória, as mulheres lésbicas estão também questionando uma das principais ferramentas do patriarcado: o controle sobre os corpos e as emoções femininas. Nesse sentido, a não monogamia lésbica é, por si só, um ato de resistência contra o patriarcado e a heteronormatividade.
No entanto, é fundamental reconhecer que a não monogamia, embora subversiva, não deve ser imposta como única alternativa viável. Para muitas mulheres lésbicas, especialmente aquelas em situações de vulnerabilidade, a escolha pela exclusividade pode ser uma forma de garantir segurança e estabilidade. Isso mostra que, no contexto das relações lésbicas, a liberdade afetiva e sexual pode se manifestar de diferentes formas, sem que uma anule ou sobreponha a outra.
Pessoalmente eu não me identifico como mulher, pessoa feminina nem como "não-mono".
Não acredito que o ato de você abrir o relacionamento vai desmantelar o sistema.
Não gosto do fato de ê autore do texto utilizar como referência artigos do site QG Feminista que é conhecido por pregar transfobia e possuir uma visão condescendente, para dizer o mínimo, das trabalhadores sexuais. Acredito que elu poderia ter recorrido a melhores fontes.
Mas apesar da minha crítica pessoalmente acho que isso pode ser uma boa referência para uma discussão sofre a comunidade sáfica e a não-monogamia.
Nesta quinta-feira (17), o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento sobre a adoção, por parte do governo federal, de medidas que visam garantir o acesso de pessoas trans e travestis ao serviço de saúde pública de acordo com o gênero com o qual se identificam.
As medidas devem ser incluídas pelo Ministério da Saúde. São elas:
Adaptar os sistemas de informação do Sistema Único de Saúde, de forma a garantir a marcação de exames e consultas em todas as especialidades independentemente do registro do sexo biológico;
As alterações devem ser feitas em todos os sistemas do SUS, para que a população tenha pleno acesso à saúde, em condições de igualdade;
Informar as mudanças às secretarias estaduais e municipais e ajudar as gestões locais a adaptar seus sistemas;
Alterar o formato da Declaração de Nascido Vivo, para incluir as categorias parturiente/mãe (de preenchimento obrigatório) e responsável legal/pai (de preenchimento facultativo). A DNV é o primeiro documento que identifica o recém-nascido.
O julgamento se deu a partir de uma representação do Partido dos Trabalhadores (PT) apresentada em 2021, em que alegava que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era omisso em relação ao atendimento de pessoas trans e travestis no SUS.
O Brasil registrou 225 pessoas LGBT+ eleitas nessas eleições municipais, sendo três delas para prefeituras. O número representa um aumento de 130% em relação ao registrado no pleito de 2020, sendo um recorde, de acordo com um levantamento da organização não governamental VoteLGBT.
Os dados mostram que as 225 pessoas foram eleitas em 190 municípios, de 22 estados e de 19 partidos políticos. Nessas cidades, 28 foram eleitas em capitais, no Legislativo e no Executivo. PT, PSD e Psol lideram o ranking, com 61, 26 e 18 pessoas eleitas, respectivamente.
Nas prefeituras de Alpinópolis e Santa Bárbara do Tegurio (MG), foram eleitos prefeitos gays. Já Bonito (BA), segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), elegeu um homem cis assexual. O número de pessoas trans eleitas chega a 39 em todo o país.
Nas capitais, foram eleitas 28 pessoas, das quais 22 são mulheres, incluindo cinco que se autodeclaram trans e travestis. No total, 17 eleitos são negros, sendo 15 mulheres. Porto Alegre (RS) foi o município com o maior número de eleitos LGBT+, com cinco pessoas. São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Natal (RN), Belo Horizonte (MG) e Fortaleza (CE) elegeram três pessoas LGBT+ cada.
Gui Mohallem, da direção do VoteLGBT, afirma que "o Brasil não possui um programa de educação voltado para a diversidade, o que resulta em um acesso muito desigual ao entendimento dessas identidades e termos, especialmente nos interiores do país".
Ainda assim, "mais que dobramos o número de pessoas LGBT+ eleitas em comparação às eleições municipais de 2020. Nas capitais e grandes cidades, onde os dados são mais precisos, vemos mulheres negras LGBT+, muitas delas trans, liderando as votações entre os partidos de esquerda", afirma Mohallem.
Em 2024, pela primeira vez foi possível registrar a orientação sexual e a identidade de gênero nas candidaturas das eleições brasileiras. Os dados fornecidos pelo TSE ampliaram o alcance dos mapeamentos que historicamente eram conduzidos pela sociedade civil. No entanto, ainda é necessário um processo de verificação das informações sobre identidades LGBT+ produzidas pela justiça eleitoral, de acordo com a análise de Mohallem.
Edição: Martina Medina
Há 92 anos, nascia a escritora Cassandra Rios. Notabilizada como a pioneira da literatura lésbica no Brasil, Cassandra foi um fenômeno do mercado editorial entre as décadas de 50 e 70. Ela se consagrou como uma das escritoras mais populares do país e foi a primeira brasileira a vender mais de um milhão de exemplares de livros.
Cassandra também foi a autora mais perseguida pela ditadura militar brasileira (1964-1985), tendo 36 de seus 59 livros censurados pelo regime.
Cassandra Rios era o pseudônimo adotado por Odette Pérez Ríos, nascida em 3 de outubro de 1932, no bairro de Perdizes, em São Paulo. Era filha de Damiana Pérez e Graciano Fernández Ríos, um casal de imigrantes espanhóis.
Odette se interessou pela literatura desde muito jovem. Aos 14 anos, ela venceu o concurso “O Conto do Dia”, promovido pelo jornal O Tempo. Nos anos seguintes, publicou uma série de poemas, contos e crônicas nos jornais paulistanos.
bAos 16 anos, já reconhecendo-se como lésbica, Odette escreveu seu primeiro livro — A Volúpia do Pecado, uma história de amor entre as adolescentes Lyeth e Irez. A jovem escritora procurou todas as editoras de São Paulo, mas nenhuma aceitou publicar o seu romance.
Ela lançou então o livro de forma independente, com dinheiro emprestado por sua mãe. Foi nessa ocasião que utilizou pela primeira vez o pseudônimo “Cassandra Rios” — evocando a profetiza da mitologia grega que previu a Guerra de Troia, mas foi ignorada por todos e rotulada como louca.
A Volúpia do Pecado foi o primeiro romance da literatura brasileira a trazer duas lésbicas como protagonistas. Mesmo ignorada pelas editoras, a obra foi um sucesso de vendas — a ponto de ter sido reeditada nove vezes em uma década. Seu conteúdo, entretanto, também gerou incômodo no público conservador, rendendo críticas ácidas à autora.
bCassandra não se intimidou. Em 1949, ela persistiria na temática, lançando o livro Eudemônia. O romance trazia como protagonista uma mulher internada em uma clínica psiquiátrica por ser lésbica — antecipando em décadas a crítica da patologização da homossexualidade.
Aos 18 anos, visando escapar dos questionamentos e da pressão de sua família, Cassandra se casou com Eugênio — um amigo gay, com o qual concordou em manter um relacionamento de fachada. O acordo possibilitou que ela saísse da casa dos pais e pudesse dar continuidade à sua carreira de escritora de romances homoeróticos femininos.
A predileção pela inovação e o desembaraço em abordar tabus seriam características marcantes da produção literária de Cassandra. A autora abordou diversos assuntos que raramente eram tratados — da homossexualidade masculina à transexualidade. Mas foram as obras abordando o amor lésbico que lhe renderam destaque no mercado editorial.
A maneira franca com que Cassandra falava sobre o desejo feminino — rompendo com a perspectiva masculina, predominante na literatura erótica — era uma novidade que fascinava o público.
Cassandra também se destacou por sua representação positiva do amor e do desejo lésbico. Suas personagens não se resumiam ao papel de figuras marginais ou caricaturais, limitadas pela narrativa do pecado e do crime. Ao contrário: eram protagonistas dotadas de complexidade psicológica e contextualizadas a partir de narrativas humanizadas — ora problematizando os conflitos internos e os estigmas impostos pela sociedade, ora enfatizando a autoafirmação da homossexualidade feminina.
O estilo literário de Cassandra contribuiu muito para a popularização dos seus livros. Suas obras denotam a influência da linguagem popular dos folhetins, sendo marcadas pela escrita acessível e moldadas para o consumo das massas.
Não obstante, a temática do lesbianismo, a linguagem explícita e a descrição detalhada dos atos sexuais escandalizaram boa parte do público — e fizeram com que Cassandra se tornasse um alvo frequente das autoridades.
Cassandra enfrentaria a primeira condenação ainda em 1952, durante o governo de Getúlio Vargas. Acusada de atentado contra a moral, a escritora foi sentenciada a um ano de prisão domiciliar. Em 1959, no governo de Juscelino Kubistchek, as autoridades proibiram a montagem a peça de teatro “A mulher proibida”, inspirada no livro Eudemônia.
Já em 1962, no governo de João Goulart, oito dos 10 livros publicados por Cassandra foram censurados, sob a justificativa de que “ofendiam os valores familiares”.
A despeito da censura governamental — e do fato de ser uma autora de um nicho visto com maus olhos pelos setores conservadores da sociedade — Cassandra conseguiu se firmar como uma das escritoras mais populares do Brasil.
Entre 1960 e 1970, ela desbancou todos os campeões de venda do período, incluindo Jorge Amado, Clarice Lispector e Érico Veríssimo. Seus livros eram onipresentes nas livrarias e bancas de revistas e chegavam a atingir tiragens superiores a 300 mil exemplares. Em 1970, Cassandra se tornou a primeira autora brasileira a vender mais de um milhão de livros.
O sucesso editorial permitiu que Cassandra se tornasse a primeira escritora brasileira a viver exclusivamente da venda de livros, sem jamais ter exercido outra profissão. Ela acumulou casas e automóveis, comprou um sítio em Embu das Artes e montou sua própria livraria. Três de seus livros foram adaptados para o cinema.
A “Safo de Perdizes”, como ficou conhecida, era um fenômeno sem precedentes. A popularidade de Cassandra havia chegado até na caserna — como evidenciado pelo fato do livro A Lua Escondida, publicado pela autora em 1952, ser um dos mais procurados na Biblioteca do Exército.
O fato de que a escritora mais lida do Brasil era uma autora de romances homoeróticos femininos incomodou enormemente a ditadura militar instaurada em 1964. O regime julgava que o movimento em prol da liberação sexual estava intimamente ligado aos movimentos de contracultura e ao pensamento de esquerda.
Cassandra não era vista apenas como uma pornógrafa que atentava contra a moral e os bons costumes, mas também como uma subversiva.
A autora passou a ser vigiada e perseguida pela ditadura militar. Suas obras foram rotuladas como “moralmente degradantes”, voltadas a “aliciar o leitor” à homossexualidade. Somente o livro Eudemônia rendeu a abertura de 16 processos judiciais contra Cassandra. A escritora foi detida e conduzida ao DOPS para interrogatórios inúmeras vezes.
A perseguição se agravou ainda mais após a promulgação do AI-5, em 1968. Além de suspender os direitos políticos e as garantias individuais, o decreto forneceu instrumentos para que o regime ampliasse a censura contra obras de arte. Cassandra logo se converteu na escritora mais censurada pela ditadura militar. O regime baniu 36 de seus 59 livros.
A editora CBS, que publicava as obras de Cassandra, foi fechada pelos militares. Além de proibir a comercialização dos livros, o regime ordenou que os exemplares já produzidos fossem retirados de circulação. Os agentes eram instruídos a confiscar os livros da autora nas livrarias, nas bibliotecas e acervos públicos. Em seguida, os livros eram incinerados.
A campanha foi tão massiva que, a despeito de ter sido uma das escritoras mais prolíficas do Brasil entre as décadas de 1950 e 1970, as obras de Cassandra raramente são vistas nos sebos e livrarias até hoje.
A perseguição acabou por levar Cassandra à falência. A escritora teve de fechar sua livraria e perdeu quase todos os seus bens. Ela passou a trabalhar como ghost writer e a colaborar com artigos e colunas de jornal. Para tentar burlar a censura, ela passou a publicar seus livros eróticos usando pseudônimos masculinos (em especial “Oliver Rivers”).
Aproveitando-se da situação, as editoras pararam de oferecer a participação nas vendas, remunerando a escritora apenas pela cessão dos direitos autorais.
Curiosamente, os livros publicados por Cassandra sob pseudônimos masculinos não eram censurados. A autora comentou sobre o perfilamento praticado pelo regime em uma entrevista: “a ditadura me persegue por eu ser lésbica, mulher e por vender muitos livros. Se o homem escreve, ele é sábio, experiente. Se a mulher escreve, é ninfomaníaca, tarada. A censura é machista e burra e não se conforma com uma mulher escrevendo explicitamente cenas de sexo entre mulheres, e com tiragens imensas de livros”.
Cassandra também sofreu com o preconceito dos intelectuais progressistas. Em 1977, por exemplo, o seu nome foi retirado do chamado “Manifesto dos Intelectuais” — um abaixo-assinado direcionado ao Ministério da Justiça, produzido por 1.046 escritores, artistas e acadêmicos, reivindicando o fim da censura contra autores brasileiros e estrangeiros.
A despeito de sua enorme presença no mercado editorial, Cassandra foi ignorada pela academia e pela crítica especializada, que consideravam que seu estilo popular, análogo ao dos “folhetins de banca de jornal”, não era digno de atenção. Jorge Amado foi um dos poucos que reconheceram o valor da arte de Cassandra, defendendo que a escritora era uma “mestra no ofício do romance”.
Ainda em 1977, Cassandra lançou sua primeira autobiografia, chamada Censura – Minha Luta, Meu Amor, onde defendeu seu legado. No ano seguinte, a autora publicou A Santa Vaca – uma resposta à vilanização que sofreu nas mãos do regime militar. “Tanto me acusaram de fazer pornografia que eu resolvi fazer esse livro [para chocar]”, explicou.
Em 1980, Cassandra lançou Eu Sou Uma Lésbica, discorrendo sobre os preconceitos e desafios ainda presentes na sociedade brasileira.
Após a redemocratização, Cassandra se filiou ao PDT de Leonel Brizola. Ela concorreu ao cargo de deputada estadual no pleito de 1986, mas não conseguiu se eleger. Nos anos 90, apresentou um programa na Rádio Bandeirantes e participou pontualmente em alguns programas de televisão.
A autora publicou uma segunda autobiografia no ano 2000, intitulada Mezzamaro, Flores e Cassis: o Pecado de Cassandra. No livro, ela critica o apagamento de sua obra pela crítica especializada: “é corretíssimo que prestigiem e deem troféus aos grandes clássicos, mas que não se honre apenas os escolhidos pelas igrejinhas. Que também respeitem o que é mais popular, em vez de diminuí-lo e massacrá-lo, só porque foi um best-seller que não permitiriam classificar como bestwriter”.
Cassandra Rios faleceu dois anos depois, em 8 de março de 2002, aos 69 anos, vitimada por um câncer. Seu status de perseguida política da ditadura foi postumamente reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade.
O legado de Cassandra tem sido objeto de iniciativas de valorização nos últimos anos, mas a maioria de seus livros ainda segue fora de catálogo, sem previsão de relançamento.
Centenas de milhares de mulheres lotam as ruas da capital Argentina todos os anos em manifestações feministas, antifascistas, pela legalização do aborto, pela memória dos torturados e desaparecidos da ditadura, contra o feminicídio, contra a homofobia, a transfobia, contra a atual política econômica e a ascensão de ideologias neonazista. Em diversos países, nas avenidas fechadas da América Latina, ressoam, durante os protestos, palavras de ordem musicadas por mulheres e ritmadas a muitas mãos. Artistas como Sara Hebe, Krudas Cubensi, Ana Tijoux e Fémina, viram na última década suas músicas ativistas ganharem novas intérpretes e seu som feminista aquecer as ruas. Suas letras lambem as calçadas feito labaredas atiçadas e a cena musical urbana se modifica, no mesmo ritmo acelerado em que mudam também as cidades.
Aos mais atentos, nos toca perceber que assim como é possível organizar as emoções e as angústias humanas em torno de um beat, é necessário traçar a luta política a partir do movimento frenético dos corpos que experienciam as vicissitudes, as mazelas e as delícias de uma metrópole dos nossos dias. É imperativo compreender o que mobiliza estes corpos e neste quesito, a rapper argentina Sara Hebe tem muito a nos ensinar e inspirar.
Suas canções, retumbantes nas efervescentes encruzilhadas de Buenos Aires, ultrapassaram os limites das casas de shows e das plataformas digitais, tomaram as ruas durante as mobilizações feministas da última década na Argentina, no Chile, na Colômbia e romperam fronteiras até mesmo entre os gêneros musicais, o que por vezes parece desagradar a indústria e colocar a artista em posição de representar com cada vez maior propriedade a luta por liberdade e justiça social na criação de algo novo.
Nascida em 1983, em Trelew, na Patagônia argentina, territorialidade também marcada em sua construção histórica pelos horrores da ditadura militar. Ao mudar-se para Buenos Aires, lá nos idos 2007, foi que iniciou oficialmente sua carreira musical entre o Rap, o Hip-hop e o Dance hall, emprestando a eles uma atitude punk e desbravando novas possibilidades estéticas para a música latina. Lançou seu primeiro álbum em 2009, La Hija del Loco, um tremendo sucesso, provando já a partir dali sua particular habilidade de traduzir a pungência da vida urbana na riqueza do encontro entre a consciência social e a expressão artística singular, independente, múltipla, contagiante e autêntica. Seja na batida do hardcore punk, do rock, do reggaeton, na cumbia antifascista, na música eletrônica, na levada do trap, do hip-hop, do funk ou na viagem estética pelo hyperpop, a expressão musical de Sara Hebe atravessa e movimenta muitos corpos, inclusive corpos políticos. Sua música traz a sensualidade e o frisson das ruas, é contemporânea e atemporal, arrojada e livre. Seu som convida o corpo à catarse ao mesmo tempo em que convida o ouvinte a questionar sua própria maneira de existir no mundo.
Almacén de datos; Puras Wachas; Jove; Histórika; Hulk; Movimiento Social el Deseo; Teta; FCK the PWR; Un cambio e La Bronca são só algumas das músicas que você precisa ouvir para entender a potência e a complexidade da poesia urbana de Sara Hebe.
Tendo 5 discos de sucesso, com músicas altamente políticas e vibrantes, sendo uma enorme referência na atual cena musical urbana latino-americana, aos 40 anos recém completados e em meio a mais uma turnê internacional, a artista vem ao Brasil pela primeira vez a convite do bar latino-americano Sol y Sombra, para uma apresentação icônica que vai acontecer no dia 19 de julho, no Bixiga, em São Paulo e concede esta entrevista especial à revista Jacobina e ao Brasil de Fato por ocasião e em virtude de sua presença tão aguardada no nosso pedaço de América Latina.
JV No último dia 9 foi seu aniversário. Como você se sente nesse momento da sua vida? O que celebra do passado e que desejos tem para o futuro?
SH Me sinto bem. Não tenho muitos problemas com a idade. Estou em um momento um pouco mais tranquilo, sustentando este trabalho que é manter uma banda. Celebro do passado tudo o que fui, tudo o que fiz e o que trabalhei, todos os cenários onde estive e meus desejos para o futuro são de mais amor e paz para todo mundo, mais razão para todo o mundo. Um milagre desejo… um milagre! Que mude os rumos de intenções muito malignas que vejo que estão aflorando em toda América Latina. Outro desejo é saúde, para todo o planeta, para todas as pessoas do planeta! Claro, sobretudo para minha família, minha mãe, minhas irmãs e sobrinhos, para os meus amigos, mas desejo saúde… amor e saúde mental para todo o planeta.
“Creio que o que fez minha música irromper as ruas foi o fato de que havia uma combinação entre uma mensagem explícita e panfletária no princípio.”
JV Você é parte e referência da luta transfeminista. Sempre fala de justiça social e de gênero, tanto nas tuas letras, quanto em outras plataformas pelas quais você se expressa. É curioso, e está genial, que a tua própria obra musical não imponha fronteira entre os gêneros. Qual é o preço e quais são as implicações de ser uma artista que se permite criar com esta (e por esta) liberdade?
SH Muito bem, eu gosto dessa pergunta sobre transfeminismo, e quando me perguntam eu sempre digo que me considero transfeminista porque pra mim foi uma grande inspiração, uma escola e um exemplo de luta o movimento das trabalhadoras sexuais, das travestis, dos coletivos LGBTQI+, dos homens trans, das mulheres trans.
Para mim, temos que falar e valorizar muito o transfeminismo, o trabalho e a luta de todas essas pessoas que são as mais vulneráveis nas ruas. O preço e as implicações disto? Não sei… talvez a indústria castigue um pouco, ou talvez te vire a cara. Talvez não sejam os circuitos comerciais que se abram para você quando se é tão explícita nestes temas. Mas não me importa. Isto é o que me comove e é sobre isto que falo.
JV Pela demanda de uma indústria musical, especialmente em sua era digital, muitos artistas se despolitizam, se plastificam, trabalham para os algoritmos… como você aponta em Almacén de Datos, em Hulk e outras músicas mais. Você costuma falar, e demonstrar que é possível “mudar a estética e manter a ética”. Qual é esta ética de que você fala? E o que você acredita que te mantém tão comprometida com as causas sociais e com a sua integridade artística?
SH Sim, nestes temas falo um pouco de toda essa cena puramente estética. Falo basicamente de uma ética que significa sustentar acima da estética os valores, a sensibilidade, o registro do humano, de como ele está, de como está sendo a distribuição de dinheiro nas nossas pequenas empresas. Não sei se estou tão comprometida, mas estou muito comovida e entristecida pelo presente, pela atualidade. E com o que sim, me comprometo, é ir tocar, sempre que posso, em lugares onde isto faz falta.
Que não sejam somente os cenários das capitais, ou das cidades onde o público pode vir me ver. É claro, tento tocar o meu negócio que é o que sustenta a minha vida. Mas não sei se isto se aplicou ao que te dizia… Falo da ética dos valores, da ética dos direitos e falo da ética em si mesma. Do que é certo.
“Pego muitas coisas que escuto por aí e depois a música volta às ruas e pode ser trilha sonora de mobilizações.”
JV Com as múltiplas linguagens musicais que você explora, você acredita que atinge públicos diferentes? Quem são as pessoas que assistem aos seus shows e que se identificam com a sua música?
SH Sim, levo pessoas diferentes, é muito diverso o público. Mas sim, a maioria que assiste meus espetáculos é de mulheres, de maricas, de gente queer. Mas majoritariamente mulheres. Gente que me escuta desde pequena, porque sua mãe já me escutava. As mães vêm e as meninas, que já me escutavam aos 14 e agora já tem 24 anos às vezes vem também. E sim, creio que tem razão, são muitas as linguagens musicais que exploro e vou seguir explorando.
JV Sua música está feita para mover o corpo e suas letras, suas canções, são entoadas nas ruas para mobilizar lutas sociais, ou seja, para mobilizar um corpo político. Você costuma dizer que gosta de “escrever música e não panfleto”. Mas este é um fenômeno raro. O que você acredita que fez a sua música irromper as ruas de forma tão orgânica?
SH Creio que o que fez minha música irromper as ruas foi o fato de que havia uma combinação entre uma mensagem explícita e panfletária no princípio. Quando escrevia era mais desse modo e logo tentei fazer poesia, que é uma poesia muito urbana, o que acredito que ressoa com muita gente. Então essa música vem das ruas, está escrita nas paredes. Pego muitas coisas que escuto por aí e depois a música volta às ruas e pode ser trilha sonora de mobilizações.
“Creio que uma maneira de ser antifascista é não se tornar polícia e tratar de fazer uma expansão do coração, da forma de criação, que seja cem por cento amorosa.”
Acredito que há uma ida e volta e que é isto o que acontece. Gosto da ideia da minha música mobilizar um corpo político, mas também é para fazer dançar qualquer corpo. Não quero fazer recortes. Quero fazer música para todo mundo. Fazer música só para uma questão específica ou para um único setor tornaria um pouco “fascista” o meu modo de fazer música e creio que uma maneira de ser antifascista é não se tornar polícia e tratar de fazer uma expansão do coração, da forma de criação, que seja cem por cento amorosa. Queria fazer música que chegasse a qualquer um e não me importa quem a dance. Mas sim, é para um corpo político e minha música sempre vai ter sua mensagem. Uma mensagem sensível e amorosa. Uma mensagem direta contra os abusos do poder.
JV A situação política e econômica da Argentina foi de mal a pior. No Brasil, tampouco temos enfrentado ventos favoráveis nestes quesitos. A extrema direita vem se fortalecendo em todo o mundo. Qual você acredita ser o papel da música urbana em tempos tão obscuros?
SH Veja, o papel da música creio que está muito cooptado pelas indústrias monstruosas e admiro muito os artistas da música urbana, mas não creio que seja uma obrigação, por parte dos artistas, de opinar ou dar sua palavra acerca do tema. Muita gente não tem uma opinião formada e não creio que isto seja algo ruim. Acho que existem muitos artistas muito jovens na música urbana. Me parece lindo quando dizem algo, quando podem se pronunciar a favor dos direitos humanos, das ações democráticas, da liberdade de expressão, é muito lindo. Mas não julgo os que não o fazem.
“Creio que seria importante que aqueles que tem suas vozes amplificadas, porque estão na indústria e no mainstream, se posicionassem e dissessem o que está acontecendo, porque vivemos em países onde uma enorme parte das pessoas passa fome e frio.”
Por outro lado, me encantaria que fossem mais responsáveis todos, que sentissem que as coisas estão bastante tristes, porque a mensagem do governo é delirante e me parece a mensagem de um extermínio, de uma homofobia, de uma xenofobia e de uma apatia com o humano que são aterrorizantes. Então sim, creio que seria importante que aqueles que tem suas vozes super amplificadas, porque estão na indústria e no mainstream, se posicionassem, que dissessem o que está acontecendo, porque vivemos em países onde uma enorme parte das pessoas passa fome e frio. Acho que há muitos artistas e muitas mulheres artistas que tem essa consciência e talvez não lhe seja fácil falar disto, mas espero que com o tempo possam se pronunciar.
JV Se você tivesse que eleger apenas uma causa social, qual te pareceria mais ‘Urgente Hoy’?
SH Não poderia escolher uma única luta social. Há uma urgência de tudo porque o sistema é extremo, a produção é extrema e, portanto, a miséria é extrema. Há cada vez mais pobres. Cada vez mais crescem a Amazon, o Mercado Livre… não sei… creio que urgente hoje seria deixar de consumir, o que, por sua vez, percebo impossível, porque os monstros industriais seguem crescendo. Não sei. Defender a liberdade de expressão e de manifestação nas ruas que se veem tão avassaladas hoje em dia, sobretudo na Argentina. Me parece urgente acompanhar a luta de anos das avós e mães de maio, como for possível. Isto é o que me parece urgente.
JV O que podemos esperar do show de 19 de julho em São Paulo?
SH O que podem esperar do 19 de julho em que vamos estar no Sol Y Sombra é um show efusivo. Vou com todas as ganas porque para mim é uma honra ir ao Brasil. Adoro a sua cultura e adoro essa possibilidade que tenho com o pessoal do Sol Y Sombra que é sempre um amor comigo e que fez muito para que a minha música estivesse também tocando em São Paulo, em um lugar tão charmoso, em um ambiente que já imagino maravilhoso de imigrantes latino-americanos no Brasil. Vou com todas as ganas! Vou tocar músicas antigas, do início da minha carreira e alguns temas novos. Vamos dançar e explodir em uma noite brilhante!
Aqui tem uma playlist para que você se contagie pela poesia urbana politicamente engajada, que fala de amor e de luta, e para que conheça a potente face transfeminista da música latino-americana que emana das ruas.
Fica também o convite para que você venha bailar este corpo latino e tomar uns tragos de felicidade e rebeldia ao som de Sara Hebe no Sol Y Sombra, onde o movimento revolucionário dos quadris é sempre garantido. O show é na próxima sexta-feira e nós te esperamos por lá.
Sobre os autores SARA HEBE é uma rapper argentina. O gênero dominante no trabalho dela é o rap, mas ela também tem músicas na fronteira do funk, punk rock, reggaeton e cumbia.
JÉSSICA VIANNA" é escritora, editora, comunista e carioca.
O Parlamento da Geórgia, república pós-soviética do Cáucaso do sul, aprovou na semana passada, em primeira instância, com os votos da bancada governista e a negativa da oposição em participar, um projeto de lei que restringe os direitos da comunidade LGBT+, pouco numerosa nessa região.
Reverência do governo à Igreja Ortodoxa georgiana, é um documento calcado da legislação da Rússia, que proíbe a propaganda de relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero, o casamento de indivíduos do mesmo sexo, as operações de redesignação sexual, a adoção por casais homossexuais e um longo etcétera de anulações de conquistas civis que, após o colapso da União Soviética, deixaram de ser vistas como pecado.
As semelhanças da lei sobre “os valores da família e a defesa dos menores de idade” e as emendas a 18 disposições com a legislação russa – e com o fato de que, junto com as controvertidas medidas para regular a transparência da influência estrangeira também aprovadas há pouco tempo, é a segunda que se gestou no Parlamento de Moscou – fazem com que a oposição diga que ambas são uma imposição do Kremlin para afastar a Geórgia do caminho para sua adesão à União Europeia.
O partido governante Sonho Georgiano já havia anunciado no ano passado sua intenção de reformar a Constituição para enaltecer a homofobia, mas abandonou a ideia ao não contar com maioria qualificada de 113 dos 150 votos dos deputados.
Agora, a poucos meses das eleições legislativas, a adoção da lei com maioria simples mais parece uma arriscada tentativa de captar o voto dos setores mais conservadores da sociedade desse país, cuja intolerância atinge quase 90% de rejeição à homossexualidade, segundo pesquisas recentes.
O risco se deve ao fato de que mais de 80% da população georgiana, novamente dizem as pesquisas, anseia ingressar na União Europeia e, como já advertiu Bruxelas, as medidas restritivas contra a comunidade LGBT+ são incompatíveis com seus valores. As urnas, em outubro, decidirão quão acertado para se manter no poder foi para o Sonho Georgiano arremeter contra lésbicas, gays, transgêneros, transexuais, bissexuais, intersexuais e demais identidades e orientações possíveis.
O 1º Encontro LGBTQIA+ Indígena Guarani Kaiowá, realizado no final de junho, indicou cinco encaminhamentos para enfrentar as violações de direitos contra essa população. Eles envolvem a criação de oficinas de diálogo com os jovens nas próprias comunidades, a formação de agentes de saúde e de professores que atuam dentro das aldeias, o fortalecimento da rede de proteção abrangendo diferentes órgãos e instituições públicas, a elaboração de materiais informativos para distribuição nas aldeias e a construção de uma casa de acolhimento.
O encontro, que ocorreu na cidade de Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, buscou fortalecer a identidade e a auto-organização da etnia, promover a visibilidade e a valorização da diversidade sexual e de gênero dentro das aldeias, construir estratégias de autoproteção contra a homofobia e a transfobia e discutir políticas públicas para garantir de direitos dessa população. Nesta sexta-feira (28), comemorou-se o Dia Internacional do Orgulho LGBT.
O balanço é positivo na avaliação de Alessandro Santos Mariano, chefe de gabinete da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
"Foi um espaço de muita escuta sobre as violações de direitos e também um espaço de formação dos sujeitos em relação aos seus direitos. O encontro esteve também muito conectado à cultura e organização dos indígenas. Todas as mesas começavam com as falas dos indígenas", disse, em entrevista à Agência Brasil, na qual abordou os resultados do evento. Ele acrescentou os momentos ligados à espiritualidade das comunidades, na abertura e no encerramento dos trabalhos.
A organização do encontro foi uma demanda que partiu da população Guarani Kaiowá, etnia que se concentra principalmente em Mato Grosso do Sul. Os indígenas, alinhados à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), conseguiram viabilizar o encontro em articulação com o MDHC, com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e com o coletivo Distrito Drag.
Igualdade
"O evento se configura como um marco na luta pela igualdade e pela visibilidade dos indígenas LGBTQIA+ Guarani Kaiowá, através do diálogo intercultural, da construção de redes de apoio e da incidência política, buscando garantir os direitos e a dignidade da comunidade. A união e a mobilização social são essenciais para construir um futuro mais justo e inclusivo para todos os povos indígenas", avaliou a Apib em nota divulgada em seu portal. O texto aponta o encontro como um espaço seguro para diálogo e troca de experiências, com vistas à construção de estratégias de autoproteção contra discriminação.
Durante o encontro, o MDHC coordenou mesas para discutir questões relacionadas ao direito das populações LGBTQIA+ no Brasil, como o casamento homoafetivo e o nome social. Também promoveu debates em torno da compreensão em relação à identidade de gênero e orientação sexual. A pasta realizou ainda uma apresentação do serviço do Disque 100, responsável pelo recebimento de denúncias envolvendo violações de direitos humanos.
Outros órgãos do poder público também foram envolvidos. O Ministério da Saúde realizou oficinas sobre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. A Defensoria Pública da União (DPU) abordou a questão das violências e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoveu conversas sobre saúde mental.
Houve ainda diferentes espaços de escuta, nos quais os indígenas puderam apresentar queixas e relatos envolvendo todos esses temas. Alessandro indica que o direito ao território foi um tema bastante abordado pelos participantes. "Uma das questões que a gente pode apontar a partir desse encontro é a necessidade dessa população ter o seu direito de ser LGBT na sua comunidade", afirmou.
Ele lembra que, nos últimos três anos, houve três homicídios de indígenas LGBTQIA+ em aldeias guarani kaiowá ou próximas a elas. De acordo com Alessandro, como são crimes ainda não solucionados, não se sabe se os autores pertencem à comunidade ou se são invasores. Ele disse também que, além dos assassinatos, há outros casos registrados de violência contra indígenas LGBTQIA+ e os alvos são majoritariamente jovens.
"Possuem 15, 17, 18 anos. Como não se encaixam naquilo que é tido como padrão, pois têm uma característica de expressão de gênero que é diversa e que se manifesta por exemplo no cabelo, nos gostos, no jeito de se vestir, se tornam vítimas de violência. No encontro, a gente pôde escutar isso. Há uma dificuldade da família e da comunidade em entender e também quando saem da aldeia são alvos de violência na cidade, nas escolas e em outros espaços", especificou.
Encaminhamentos
De acordo com Alessandro, o MDHC está comprometido em promover articulações com outros órgãos e instituições para levar os cinco encaminhamentos adiante. Ele explicou, por exemplo, que o fortalecimento da rede de proteção precisa envolver o Ministério Público e estruturas municipais, as quais devem ser capazes de dar atenção às denúncias e acompanhar os casos.
Em relação à casa de acolhimento, Alessandro disse que a ideia é que ela possa receber, abrigar e dar suporte às pessoas em situação de vulnerabilidade, que inclui LGBTQIA+ que saíram de casa ou que sofrem algum tipo de perseguição na aldeia.
Ele avaliou, porém, ser preciso uma união de esforços que permita não apenas tirar o projeto do papel, mas também pensar a gestão do espaço. Em sua visão, uma estrutura como essa deveria contar com a participação, por exemplo, do Ministério da Saúde, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do governo estadual.
O encontro também marcou a inauguração do programa Bem Viver+, criado pelo MDHC para enfrentar a violência e promover os direitos das pessoas LGBTQIA+ nos territórios do campo, das águas e das florestas. "Estamos iniciando nesse ano com foco nas populações indígenas. O objetivo é dar sequência a um processo de formação", contou Alessandro.
Está prevista para setembro a realização de um encontro com indígenas LGBTQIA+ em Salvador. Todas as ações no âmbito do programa são planejadas em diálogo com as comunidades e entidades indígenas e com outras estruturas do poder público.
Você já ouviu falar em queernejo?
Queernejo é um termo que combina as palavras “queer” (termo usado para representar as pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os gêneros) e “sertanejo” (gênero brasileiro que vem do country) para descrever uma subcultura na música sertaneja. O movimento busca criar um espaço seguro e inclusivo dentro do gênero musical, que é tradicionalmente dominado por representações heteronormativas.
O movimento surgiu a partir do desejo de artistas LGBTQIAPN+ em promover um acolhimento para outras pessoas que, apesar de gostarem do sertanejo, não veem suas narrativas e vivências representadas.
Conheça os precursores do Queernejo:
Reddy Alor
Uma das precursoras do queernejo, iniciou sua carreira musical em uma dupla sertaneja com o seu irmão, até ambos decidirem trilhar seus próprios caminhos de forma solo. A drag queen Reddy Allor venceu o reality show “Queen Stars” e hoje inova ao unir elementos do sertanejo com a cultura drag.
Clique aqui para ouvir o trabalho desse artista!
Gabeu
Filho do cantor Solimões, da dupla com Rionegro, Gabeu cresceu cercado pela sonoridade do sertanejo. No entanto, sem se sentir acolhido pelo gênero, resolveu investir em uma vertente mais inclusiva, inspirado pelo trabalho da drag queen Reddy Allor. Seu primeiro álbum, “Agropoc”, foi indicado ao Grammy Latino na categoria melhor álbum de música sertaneja.
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Gali Galó
Trazendo a representatividade não binárie para o movimento, Gali Galó expressa sua experiência queer misturando o sertanejo com o brega, dentre outros ritmos brasileiros. Seu álbum “Homônimo” foi considerado um dos melhores discos de 2023 pela Folha de São Paulo.
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Alice Marcone
A primeira cantora transsexual no sertanejo mistura os instrumentais clássicos do ritmo com elementos do pop. Alice Marcone canta sobre sofrência, amor e empoderamento.
“Somos artistas LGBTQIAPN+ do interior ou de contextos urbanos, onde o sertanejo é muito forte, estamos na vontade de criar essa representação, esse imaginário, essa é a nossa estética musical. A gente vai falar sobre ser LGBT na nossa música”, disse em entrevista ao Metrópoles.
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O mês do orgulho pra mim já acabou porque eu me vi fazendo uma postagem - eterna! - sobre um dos géneros musicais que eu mais odeio - empatado com funk.
“E vocês não vão fazer nada?”. Foi esta a frase proferida por uma mulher lésbica, cuja identidade ainda não foi confirmada, e que marcou o estopim da Revolta de Stonewall, em 1969, nos EUA, pelos direitos da população LGBTQIAPN+. Era a época do auge do movimento negro pelos direitos civis com Panteras Negras e cartazes de Black Power nas ruas, além da amplificação de vozes feministas pelo direitos das mulheres.
O tijolo atirado em Stonewall foi direcionado às forças policiais ali presentes, mas ele também marca um ato de resistência contra a militarização da vida. Frequentado não apenas pela população LGBTQIAPN+, o bar também recebia pessoas latinas, imigrantes ilegais, pobres e negras.
Corpos desviantes da moral e dos bons costumes da sociedade cisheteropatriarcal branca estadunidense resistiam todas as noites contra as frequentes batidas policiais que faziam as chamadas “revistas de gênero”, cometiam espancamentos e violências, além de subornos. Isso significava que a população LGBTQIAPN+ com dinheiro poderia pagar para fugir em segurança. A revolta de Stonewall é um símbolo de uma rebelião de uma população urbana pobre considerada “marginal e perigosa”.
55 anos depois, a população LGBTQIAPN+ precisa “atirar tijolos” diariamente para garantir a sua sobrevivência. Ainda nos são negados direitos básicos e lutamos pelo direito à vida e contra a violência policial. Um dos casos mais emblemáticos é a luta de justiça por Luana Barbosa, mulher negra, lésbica, periférica, trabalhadora que não performava a chamada “feminilidade padrão” e que foi brutalmente espancada e assassinada pela polícia militar, em abril de 2016, após reivindicar seu direito de ser revistada por mulheres. Ela estava levando seu filho para o curso quando sofreu a abordagem e, mesmo levantando sua blusa, para afirmar que era mulher, sofreu espancamento. E, em vez de ser levada para o hospital, foi encaminhada diretamente para a delegacia. Não sobreviveu e, até hoje, os movimentos sociais de lésbicas reivindicam justiça.
Após a morte de Luana Barbosa, foram inúmeras as tentativas de culpabilizar a vítima, caracterizando uma tentativa de criminalização e de violação da memória de Luana. O caso ganhou repercussão internacional quando a ONU Mulheres e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) publicaram uma nota que afirma: “a morte de Luana é um caso emblemático da prevalência e gravidade da violência racista, de gênero e lesbofóbica no Brasil”. Os movimentos sociais de lésbicas apresentaram o Projeto de Lei Luana Barbosa de enfrentamento ao lesbocídio que parte de um viés interseccional. A lei foi aprovada em Niterói pela então vereadora e hoje deputada estadual Verônica Lima e tem sido apresentada e muito rejeitada por municípios e estados de todo o país. Para além da legislação, a disputa por orçamento público para a execução de políticas específicas é fundamental, além do compromisso radical pelo fim dos genocídios e da militarização da vida.
Hoje, nós, lésbicas negras, nos amparamos no grito de quem atirou o tijolo em Stonewall e reafirmamos: “E vocês não vão fazer nada?”. Sigamos em bando e em corpo coletivo atirando pedras contra esse sistema que nos mata todos os dias.
Como romancista sáfica e pesquisadora, Olívia Pilar é uma talentosíssima autora mineira que impulsiona a representatividade no mundo literário. Sendo a mente por trás de obras como “Um Traço Até Você” e “Quando o Sol Voltar”, ela aborda o amor LGBTQIA + e dá protagonismo a mulheres negras. Indo além disso, seus livros e coletâneas de contos também dão voz a diferentes jornadas de autoconhecimento, inseguranças, violência e política, trazendo unicidade a cada personagem que escreve.
Sua carreira se inicia no mundo acadêmico, desde sua graduação ao doutorado na área da comunicação, Olívia sempre utilizou de sua voz como ferramenta de visibilidade às pessoas negras e mulheres. Assim, mostra seu comprometimento com a causa feminista e antirracista em todos seus campos de atuação.
Atualmente, recém-casada após 5 anos de namoro, a escritora traz para suas redes sociais depoimentos emocionantes sobre seu relacionamento com a também pesquisadora e professora universitária Pâmela Guimarães-Silva.
Quando a autora dá vida aos seus personagens, ela permite uma perspectiva além da luta constante das mulheres negras e dá espaço para suas histórias de amor. Com mais de 10 publicações, sendo a maioria de maneira independente, marca sua presença como figura representativa e como porta-voz da linha de romances sáficos entre mulheres negras.
Seu primeiro romance, “Um Traço Até Você”, conquistou a 19° posição no Top 20 do Prêmio Litera 2023, prêmio que conta com a votação do público via internet para eleger os melhores romances direcionados aos jovens, contando com 30 mil votos.
Um tribunal superior da Namíbia declarou inconstitucionais nesta sexta-feira (21) duas leis da era colonial que criminalizavam atos sexuais entre homens, numa vitória histórica para a comunidade LGBTQ+ no país africano.
O caso foi apresentado pelo ativista namibiano Friedel Dausab com o apoio da organização não governamental britânica Human Dignity Trust.
Dausab disse à Reuters que estava “muito feliz” após a decisão do tribunal. “É um grande dia para a Namíbia”, disse ele. “Não será mais um crime amar”.
A relação consensual entre pessoas do mesmo sexo é proibida em mais de metade dos 54 países africanos, de acordo com a ILGA, uma organização internacional que apoia os direitos LGBTQ+.
“Esta vitória também traz a energia renovada e muito necessária para outros esforços de descriminalização em toda a África”, disse Téa Braun, diretora executiva do Human Dignity Trust.
Os defensores dos direitos humanos dizem que, embora as condenações ao abrigo das leis sobre “sodomia” e “crimes sexuais não naturais” tenham sido relativamente raras na Namíbia, elas perpetuaram a discriminação contra a comunidade LGBTQ e fizeram os homens gays viverem com medo de serem presos.
John Nakuta, professor de direito da Universidade da Namíbia, disse que a ordem do tribunal pode ser apelada pelo governo namibiano no prazo de 21 dias.
A Namíbia herdou as leis quando conquistou a independência da África do Sul em 1990, embora os atos entre pessoas do mesmo sexo entre homens tenham sido inicialmente criminalizados sob o domínio colonial.
Desde então, a África do Sul descriminalizou a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo e é o único país do continente africano que permite que casais LGBTQ adoptem crianças, casem e entrem em uniões civis.
No ano passado, o Uganda promulgou uma das leis anti-LGBTQ mais severas do mundo, que incluía a pena de morte para “homossexualidade agravada”, apesar das condenações generalizadas do Ocidente.
Apoiadores LGBTQ reunidos em frente ao tribunal carregando faixas que diziam “Tire a lei da minha vida amorosa” e “Paz, Amor, Unidade”, disseram à Reuters que estavam radiantes.
Omar van Reenen, co-fundador do Movimento pela Igualdade de Direitos da Namíbia, saudou a decisão do tribunal e disse que a comunidade LGBTQ+ na Namíbia poderia finalmente conquistou sua cidadania.
“A mensagem que o tribunal enviou hoje é que temos todo o direito de pertencer e existir neste país e que a constituição nos protege”, disse van Reenen.
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Curiosidade: a Alemanha já praticou genocídio contra a Namíbia se não me engano.
Edit:Sim, ela cometeu.
NUNCA MAIS TRAGO NOTÍCIAS DIRETAMENTE DA CNN! Muitos anúncios. Por isso que eu só leio por feed.
A atriz Luana Piovani, que às vezes costuma usar suas redes para defender causas nobres, como, por exemplo, alertar as pessoas e divulgar o projeto de lei em discussão no Senado que visava privatizar as praias.
No entanto, Piovani esbanjou transfobia em seu perfil no Instagram ao compartilhar uma matéria sobre a atleta trans Lia Thomas, que sofreu derrotas judiciais e não poderá participar de provas de natação feminina de elite e, consequentemente, está fora das Olimpíadas.
Ao compartilhar uma matéria sobre a exclusão de Lia Thomas da competição feminina de natação nas Olimpíadas, escreveu a seguinte legenda: "Sou contra trans competirem com mulheres cis". A declaração de Piovani é um clássico da transfobia, pois não reconhece a identidade de gênero de mulheres e homens trans.
Entenda o caso de Lia Thomas
A nadadora Lia Thomas ganhou popularidade ao se tornar a primeira atleta trans a se tornar campeã universitária nos EUA nas 500 jardas livres.
No entanto, a conquista de Lia Thomas se tornou alvo de contestação por suas adversárias e pelo fato de que as outras nadadoras se recusaram a subir no pódio com Thomas.
Porém, o périplo de Lia Thomas contra a transfobia estrutural estava apenas no começo. Ela moveu um processo contra a World Aquatics (Federação Internacional de Esportes Aquáticos) para derrubar uma norma que impede que mulheres trans compitam em divisões femininas.
A ação de Lia Thomas foi rejeitada pela Corte Arbitral do Esporte (CAS), que afirmou que a atleta 'não é elegível para questionar a decisão da World Aquatics'.
O que diz a regra da World Aquatics? Somente mulheres trans que fizeram a transição antes dos 12 anos ou antes das primeiras etapas da puberdade podem competir na elite de natação. Dessa maneira, a regra não permite que mulheres que passaram pela puberdade masculina, caso de Lia Thomas, participem de competições femininas.
Obs: por favor evitem comentários transfóbicos baseados em falsas evidências científicas e anedotas fantasiosas.
Pessoas trans competen já faz um bom tempo. E isso nem chegou perto de tirar o protagonismo de mulheres cis dos esportes. Você olha a lista de atletas femininas campeãs a maiorias é cis!
Leonardo Rodrigues Nunes, de 24 anos, foi morto a tiros na madrugada da última terça-feira (12) na zona sul de São Paulo, quando saía para um encontro marcado pelo aplicativo Hornet, utilizado pelo público LGBTQIAP+. Quando noticiado o falecimento, tudo levava a crer que seria mais um caso de violência irracional causado por homofobia, mas a Polícia Civil adotou outra linha de investigação.
Alerta: a reportagem a seguir contém relatos de violência e pode impactar algumas pessoas. A Fórum reproduz por se tratar de interesse jornalístico.
Antes de sair de casa, na região central da cidade, por volta das 23h, Leonardo estava preocupado com sua segurança. Compartilhou com amigos a localização do seu aparelho celular, para que acompanhassem o deslocamento, e combinou que se não desse notícias até as duas da manhã os amigos deveriam chamar a polícia.
As horas passaram e nada de Leonardo dar notícias. Foi aí que um dos seus amigos registrou um boletim de ocorrência. A polícia então saiu à sua procura.
Ao g1, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo deu maiores detalhes da ocorrência. Contou que o jovem foi baleado e levado ao Pronto-Socorro do Hospital Ipiranga, mas não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. Na última sexta-feira (14), as autoridades solicitaram exames junto ao Instituto de Criminalística e ao Instituto Médico Legal.
Evelyn Andrade, amiga da vítima, revelou à imprensa que Leonardo conversava com o então suspeito pelo crime através do Hornet, mas que não mostrou sua foto ou nome.
O pai de Leonardo também acredita que o ódio foi o combustível para o crime.
Mas ao contrário do que acreditam os amigos e familiares, a delegada Ivalda Aleixo, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou nesta segunda-feira (17) que ainda não encontrou indícios de homofobia na motivação para o crime.
A principal hipótese da investigação é de que a vítima foi baleada ao reagir a um assalto. A delegada acredita que se trate de um caso de “golpe do amor”, quando criminosos se passam por terceiros em aplicativos de relacionamento para atrair as vítimas por meio de falsos encontros e assaltá-las.
As investigações continuam e a polícia está de posse do notebook e de um segundo celular da vítima para fazer uma devassa nas suas trocas de mensagens em busca de pistas. Também é feita uma busca nas câmeras de segurança do trajeto que Leonardo fez naquela noite: do Cambuci, onde morava no centro, até a Vila Natália, próxima ao Sacomã na zona sul, onde ocorreu o crime.
A Tailândia tornou-se nesta terça-feira (18/06) o primeiro país do sudeste asiático a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em uma histórica votação parlamentar.
A aprovação no Senado tailandês por 130 votos favoráveis, quatro contrários e 18 abstenções foi saudada como uma “vitória” pelos ativistas do país, classificando a medida como “um avanço monumental”.
O projeto prevê mudanças nas leis do casamento para permitir que casais do mesmo sexo se casem e substitui as referências a “homens”, “mulheres”, “maridos” e “esposas” por termos neutros.
Além disso, concede a eles os mesmos direitos que aos casais heterossexuais em relação à adoção e herança.
O texto, resultado de mais de uma década de discussões, será agora submetido ao rei Maha Vajiralongkorn para entrar em vigor ainda neste ano.
Com a promulgação da legislação, a Tailândia também se tornará o terceiro país da Ásia a permitir o casamento homoafetivo, após Nepal e Taiwan.
Tomara.