this post was submitted on 08 Mar 2025
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Bate-Papo

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Uma comunidade para discussões gerais que não se encaixam nas previstas em outras.

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submitted 3 weeks ago* (last edited 3 weeks ago) by obbeel to c/batepapo
 

Eu acho que ao usarmos o inglês para nos conectar com o mundo, acabamos atraindo muito a América do Norte e reforçando esse domínio que a América do Norte tem sobre o debate internacional, principalmente através da tecnologia.

Esse não é um problema muito brasileiro, já que vejo poucos brasileiros gravando material em inglês para alcançar o mundo, mas sim um problema mais europeu e indiano. Como vocês acham que é possível ultrapassar essa barreira no caso brasileiro? Gravar em espanhol afastaria os brasileiros do conteúdo, mas mesmo assim é necessária uma integração com a América Latina.

Como desfazer a posse que o inglês e a América do Norte tem sobre a cultura mundial (e da Internet)? Estou cansado das mesmas gírias e debates tão particularmente estadunidenses. Aprendi inglês para me comunicar com o mundo e hoje conheço a maioria das capitais dos EUA, mas tão pouco sobre o resto da América.

Finalmente, como ampliar esse debate além das Big Techs (também estadunidenses) para termos uma solução verdadeiramente soberana? O Google pode disponibilizar transcrições e traduções no seu conteúdo e nos vídeos do Youtube, mas como tomar posse dessa tecnologia para um debate além dos Estados Unidos? O que vocês acham?

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[–] qyron@sopuli.xyz 7 points 3 weeks ago (1 children)

Olá, pessoal.

Perdoem o sequestrar a vossa conversa mas já que se está a falar em português, deixem-me acrescentar os meus dez tostões.

É verdade que o inglês se tornou a língua franca de facto quer pela imensa influência cultural exercida pelos EUA através do cinema e outra produção artística e cultural, quer pela influência económica e política, mas também porque é uma língua fácil de adquirir. Não ajuda eles terem feito muito do desenvolvimento tecnológico em que o mundo moderno assenta.

Alternativas? Em termos de discurso, sequestrar o idioma e falar nos nossos temas na língua deles. Usar a língua o mais formalmente possível e evitar calão e acrónimos. Contrariar activamente a narrativa. Uma linguagem deve servir para expressar o seu utilizador. E criar mais no nosso idioma e divulgar e difundir. Em Portugal, estamos a receber imensas séries de origem espanhola, turca, italiana e francesa. Produção cultural brasileira já é um dado adquirido há muitos anos, por cá.

Não devemos recear sermos nós mesmos, mesmo que usando outra língua para o fazer.

[–] obbeel 1 points 3 weeks ago (1 children)

Eu acho que a apropriação do inglês não funciona tão bem quanto a apropriação de uma linguagem em um país anteriormente colonizado porque o cidadão não vive aquela língua. Diferentemente de um país anteriormente colonizado, a língua não é falada com seus compatriotas no próprio solo, permitindo que a língua seja transformada e adequada sem a influência de terceiros. Lógico, há uma certa pressão estrutural, como por exemplo a existência de uma gramática normativa que, sem dúvidas, tem a influência dos outros países lusófonos. Mas no caso de se apropriar do inglês, não há a mesma conversa entre os países num nível tão intenso quanto se fala no solo de um país que precisa do uso da língua formal para sobreviver. A língua está sujeita a modificações, mas no uso do inglês em um ambiente digital, essa conversa sempre passa pelos EUA - isso é especialmente verdadeiro dado o controle da informação por empresas estadunidenses. Como se apropriar do inglês nesse cenário? Não acho que seja possível.

Talvez devamos nos atentar à possibilidade de fazer com que a tecnologia traduza a linguagem para entender a comunicação em outros países ao invés de ficarmos presos em uma comunicação não-natural no inglês. Na Europa, acho que o francês e o alemão tem pegadas (analogia com pegada digital) interessantes na linguagem. Acho que é possível falar diversas línguas, especialmente se esse processo for acelerado por tecnologia (exemplo: falar romeno na Romênia). Falar inglês na Europa me parece ter uma característica colonial até mesmo para os europeus.

[–] qyron@sopuli.xyz 2 points 3 weeks ago

Considero-me uma pessoa minimamente culta e admito que depois de várias leituras e algum tempo de reflexão a única opinião que levanto desta resposta tão eloquentemente composta é algaraviada.

Língua e linguagem são ferramentas do seu utilizador, servem-no, melhor ou pior quanto o seu domínio sobre elas.

A emergência do inglês como língua franca de facto terá a sua ligação a um pós guerra em que um país orientou de forma mais preponderante a política mundial e difundiu a sua cultura e produção cultural e tecnológica mais alargadamente mas é apenas pragmático adoptar uma língua que facilita o intercâmbio de ideias.

Se outras línguas se permitiram abastardar com estrangeirismos, venderam a sua identidade por nada.